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Beatriz mergulhou de cabeça numa missão: transformar estudantes em empreendedores. Conheça o movimento das empresas juniores

Simone Tinti - 31 jan 2023
Beatriz Nascimento, presidente da Brasil Júnior.
Simone Tinti - 31 jan 2023
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A potiguar Beatriz Nascimento tem 22 anos e, apesar da juventude, experiência de certa forma digna de uma veterana.

Após um ano de uma gestão encerrada agora em janeiro de 2023, Beatriz está deixando a presidência-executiva da Brasil Júnior. A instituição representa as empresas juniores (EJs), associações sem fins lucrativos geridas por graduandos que, no ambiente universitário, conseguem expandir o ambiente da sala de aula e resolver problemas diversos, de micro até grandes empresas. 

Em 2022, foram contabilizadas 1 622 EJs, presentes em 337 instituições de ensino superior de todo o país (a grande maioria em federais e estaduais), reunindo 33 mil empresários juniores, assim chamados os jovens que atuam voluntariamente no movimento. 

A Brasil Jr é a maior organização representativa do tipo e a que define as diretrizes e o planejamento estratégico para a atuação das empresas juniores no país. É formada por uma diretoria executiva (da qual Beatriz faz parte), conselho administrativo, time BJ e os núcleos regionais, que atuam de maneira mais aprofundada com as EJs em seus estados. 

A veia empreendedora de Beatriz despontou ainda menina. Em 2018, com o objetivo de juntar dinheiro para um tão sonhado mochilão e curso de inglês na Europa, ela vendia brownies no colégio. A iniciativa deu resultado e, uma semana após fazer 18 anos, ela viajou, sem ter fluência no inglês nem ter viajado sozinha antes disso.

“No intercâmbio, tive de crescer e ser responsável de forma bastante acelerada. Foi essencial o suporte dos meus pais, sempre entendendo que, por vezes, estariam com o coração apertadinho pela distância, mas sabiam que eu estava realizando meu sonho”

Ela estudou inglês em Brighton, Inglaterra, e depois viajou por alguns países. Na volta, começou a cursar administração de empresas na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), onde teve contato com o universo das empresas juniores. 

Foi então que Beatriz deu início à experiência que a ajudou a desenvolver uma série de habilidades, como gestão de projetos, liderança de equipes, planejamento de negócios, capacidade analítica e negociação. Ou seja, características de bons líderes e empreendedores. 

A seguir, ela fala ao Draft sobre o impacto dessa experiência em sua trajetória pessoal e a importância do movimento para a vida do país:

 

De que maneira o ambiente da universidade, e o fato de estudar administração, ajudaram você em sua trajetória?
Estudar administração com certeza pode ser um divisor de águas na vida de empreendedora, pois durante toda a jornada é possível enxergar a amplitude de nuances que existem nos negócios. 

Acredito que nesse ambiente nós reiteramos a experiência com a empresa júnior, que, para mim, foi uma grande escola, a maior. Tenho profunda gratidão pelo movimento, por colocar os alunos no lugar de executores e “resolvedores” todos os dias. 

As EJs são regidas pela lei 13.267/16 e precisam ter formalizada sua relação com as universidades. Conte um pouco sobre esse vínculo com as universidades e com o professor – tem um orientador que acompanha as EJs?
As EJs, para serem assim consideradas, precisam de reconhecimento formal da instituição de ensino e ter formalizada essa relação, com um documento que é renovado todos os anos. 

Também é necessário ter um professor orientador que vai acompanhar a empresa júnior, o que se dá em níveis diferentes de profundidade, seguindo um acordo entre professor e a EJ. 

Além disso, o plano de trabalho tem que responder ao curso do qual faz parte. Uma empresa júnior de engenharia civil, por exemplo, não pode atuar com projetos de mecânica. 

As EJs oferecem consultorias, apoio em projetos de gestão, construção de conteúdo e até criação de produtos. Grande parte está nas engenharias, mas também atuamos com área de negócios, ambiental, administração, entre tantas outras

Eu fui de uma empresa júnior de administração da UFRN e lá executei projetos como estruturação de RH e na área de telecomunicações, entre outras atividades.

No que se refere a produtos, vale citar um exemplo de Santa Catarina, em que a EJ criou uma esteira ergométrica que responde melhor ao tratamento dos pacientes cardiológicos. E já estão até negociando com a Unimed. É uma atuação tipo B2B2C, voltado, no final, ao consumidor, ao paciente.

Em geral, as empresas chegam com um “problema” e a EJ debate para chegar a uma solução?
Exato. Mas também realizamos prospecção ativa. Olhamos para as empresas, realizamos um diagnóstico, vemos as problemáticas e, com base em nosso pilar de colaboração, se determinada EJ não pode atender, avaliamos qual outra da rede poderia. 

Considerando desafios e oportunidades, que balanço faria da Brasil Júnior durante sua gestão?
A Brasil Júnior com toda certeza foi a experiência mais desafiadora até então que tive. Pude entender o que é o Brasil de forma mais profunda, o ensino superior e suas nuances. 

Um dos grandes desafios que carregamos é alcançar todo o Brasil: o trabalho em rede que realizamos está nas 27 unidades federativas, mas ganhar profundidade em todas as regiões, entendendo suas particularidades, é um desafio ainda vivenciado

Pela organização ser uma instituição nacional, ela te abre muitas portas, para criar e conhecer pessoas que podem ser grandes amigos – e sócios no futuro. As conexões que pude desenvolver na Brasil Júnior espero poder levar para a vida.

Qual a importância das empresas juniores, de forma geral, em nosso país?
São uma forte ferramenta de transformação social por formar todos os dias lideranças comprometidas e capazes com um Brasil mais ético, colaborativo, competitivo, educador e diverso – características que são os pilares do movimento. 

As EJs têm o poder de alavancar a inclusão produtiva, a educação empreendedora e a competitividade do nosso país.

As mulheres são mais da metade das lideranças na Brasil Júnior. A que você acha que se deve esse dado?
Uma das razões pela qual acredito que tenhamos tantas mulheres liderando é o ambiente inclusivo e respeitoso que aqui se desenvolve. 

Por entendermos que o Brasil mais empreendedor perpassa um país que inclua, respeite e valorize todas as pessoas, fomentamos mais lideranças diversas todos os dias

Infelizmente, ainda não é um retrato do país, entendendo que não há equivalência com o cenário de mulheres em cargos de liderança em todas as esferas. 

Ao observar cargos gerenciais e C-level em corporações, ainda há caminho a ser trilhado.

E como esse cenário se conecta a sua experiência pessoal?
O MEJ (Movimento Empresa Jr) entrou na minha vida enquanto ainda era uma menina, entrando no primeiro semestre da universidade.

Saio agora, após cinco anos de movimento, como uma mulher, responsável, comprometida e capaz de participar da mudança que enxergo necessária no país 

A empresa júnior me deu repertório, aprendizado e resiliência. Sou grata por essa experiência que mudou minha vida.

Em 2022, as empresas juniores faturaram, ao todo, 88,4 milhões de reais. No entanto, as EJs são consideradas empresas sem fins lucrativos. Comente um pouco sobre esse modelo e o que ele representa.
Desde 2018 a Brasil Júnior segue alavancando resultados, com cada vez mais EJs milionárias. 

Hoje, a BJ totaliza mais de 20 EJS que faturaram mais de 1 milhão de reais. Durante esse período de crescimento até o presente momento, foram estímulos diretos voltados para o faturamento, o que serviu de impulso para a maior execução de projetos complexos entre as EJs

Todo o valor faturado é reinvestido em auxílios, bolsas, capacitações, infraestrutura e gastos diversos dos empresários juniores. Dessa forma, a gente consegue se enquadrar em um regime de voluntariado, de “estou ali porque quero contribuir com a causa”. 

E qual é a causa? Formar lideranças comprometidas e capazes de formar o país empreendedor.

Esse modelo também contribui para a acessibilidade e diversidade às pessoas da rede. Senão, de outra forma, não conseguiríamos ter pessoas de situações econômicas mais vulneráveis vivenciando o ambiente empresarial 

Então, podemos afirmar que a vivência empresarial foi viabilizada por esse faturamento, além de pautas voltadas para o trabalho em equipe, vendas, disciplina e gestão de projetos. 

O seu mandato na presidência executiva termina agora no fim de janeiro. Já tem planos para depois disso?
Para esse cargo, eu tranquei a faculdade, saí de Natal e vim para São Paulo. 

Agora, estou com duas opções: ou fico em São Paulo, ou vou para Florianópolis – cidade pela qual me apaixonei durante as minhas viagens pela Brasil Júnior. Estou tentando transferir meu curso para lá.

Minha ideia também é adquirir a experiência de morar sozinha, pois em São Paulo eu divido uma casa com outros integrantes da Brasil Jr, ou seja, é como uma república de estudantes. E em Natal eu morava com meus pais. 

Então, quero ter a experiência de morar sozinha de fato pela primeira vez.

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