Rir com um verdinho entre os dentes não é motivo de constrangimento para as sócias da Olga Ri.
Cristina Sindicic, 32, e Beatriz Samara, 36, têm orgulho da trajetória que construíram vendendo saladas por delivery, bowls e sopas. E sujar os dentes comendo faz parte da jornada!
As arquitetas por formação não estão sozinhas nesta história, que começou em 2016. Na verdade, foi Bruno Sindicic, 31, irmão de Cristina, quem teve a ideia de criar a foodtech. Na época, ele trabalhava no mercado financeiro e não podia se dedicar com exclusividade ao negócio, mas tinha certeza que ali havia um mercado. Segundo Cristina:
“Meu irmão e eu sempre tivemos muito prazer em comer saladas, mas naquela época não existia uma marca de delivery com foco neste tipo de produto. Era um mercado mal abastecido. Geralmente, as saladas de alguns poucos players existentes eram super caras e pequenas”
Cristina nunca tinha empreendido antes, mas topou abraçar a ideia, como CMO, e chamou a amiga Beatriz para reforçar a sociedade como CPO da foodtech.
Ela, por sua vez, conta que começou ainda na infância a ter experiência com negócios:
“Desde criança, eu inventava de bordar chinelos e vender na praia. Aí, não dava conta e colocava toda minha família para fazer junto! Na faculdade, vendia brigadeiros. Sempre gostei de colocar a mão na massa, ir atrás dos clientes. Depois, tive um escritório de arquitetura.”
Já Bruno foi tocando o negócio como um misto de CEO e conselheiro à distância até 2019, quando entrou de fato na operação. Foi ele, aliás, que ajudou a Olga Ri a receber seu primeiro aporte, de 6 milhões de reais, quando a empresa já tinha crescido o suficiente e estava com 30 colaboradores — hoje são cerca de 200.
Depois, vieram mais duas rodadas. A segunda, diz Cristina, teve entre os investidores um nome de peso no cinema e também no ativismo ambiental:
“Para a gente foi especial ter a entrada do cineasta Fernando Meirelles, o que reforçou toda a nossa parte de ESG, porque ele é um super ativista. Foi um acréscimo muito legal para a Olga Ri ver ele acreditando em tudo o que a gente estava e está construindo”
A terceira e última rodada foi anunciada em junho de 2022, no valor de 30 milhões de reais, e liderada pela Kaszek. Hoje, a Olga Ri conta com cinco dark kitchens em São Paulo e, com o investimento mais recente, abriu outra em Botafogo, no Rio de Janeiro.
Juntas, essas unidades atendem 1 600 pedidos por dia. As sócias não abrem o faturamento do último ano (2022), mas contam que, em 2021, alcançaram 21 milhões de reais.
A mãe de Bruno e Cristina já tinha uma cozinha pequena na Vila Olímpia, Zona Sul de São Paulo, onde faz até hoje conservas para restaurantes e alguns supermercados.
O nome da marca dela chama-se Buon Gusto. Quando tiveram a ideia de vender saladas foi ali que os empreendedores começaram a produção, com o investimento de 30 mil reais –10 mil de cada sócio.
Resolveram também aproveitar o embalo do nome para a empresa nascente, batizando o negócio de Casa Buon Gusto.
Olga Ri, na verdade, só surgiu em 2020, a partir de um rebranding. “A gente já tinha bem claro quem eram os nossos consumidores: pessoas jovens, bem descoladas, de 25 a 35 anos”, diz Cristina. “Então, queríamos criar um nome forte, feminino e criativo, que se conectasse com essa geração Z e os millennials.”
Os empreendedores também queriam que fosse um nome que se diferenciasse dos concorrentes internacionais, que seguem a linha “green” ou “fresh” no nome. Assim, surgiu o nome Olga Ri, que para os empreendedores é mais um “estado de espírito”, que se reflete também no logo da marca, um sorrisinho ou um bowl.
Nestes primeiros dias da empresa, o volume de vendas ainda era pequeno. O que motivava Cristina a seguir em frente era não fazer feio diante da clientela:
“Queria fazer muito bem feito o que a gente tinha se proposto para não passar vergonha com os nossos amigos, porque quando começamos, vendíamos cinco a dez saladas para nossos amigos, pessoas do escritório do Bruno, para a família da Bia”
No começo, aliás, eram as próprias empreendedoras e mais um funcionário, o Aguinaldo (até hoje na equipe), que colocavam a mão na massa — ou melhor, no “mato”.
Os sócios sempre ficaram responsáveis pela elaboração do cardápio. Cristina admite que nunca entendeu muito de cozinha. “Seis anos depois, sei um pouco mais”, brinca.
Já Beatriz se animou desde o primeiro dia em ter um negócio gastronômico:
“Sempre foi meu hobby, fiz vários cursos de culinária. Então, foi um prazer poder trabalhar com comida e, diferente do que era com o brigadeiro, mudar o estilo de vida das pessoas com as saladas”
Mas elas contam que, para começar, precisavam de uma primeira receita de salada com frango grelhado muito gostosa para chamar a atenção do público. “As outras coisas eram mais simples e a gente ia fazendo de acordo com nosso repertório, o que a gente gostava e via lá fora”, diz Cristina.
A solução encontrada para chegar a essa receita mais elaborada foi uma permuta:
“Trocamos o projeto de arquitetura para um chef dono de um restaurante por uma receita de frango e de molho pesto. Foi uma espécie de consultoria”
No mais, além de colocar no cardápio o que elas mesmo gostavam, as empreendedoras iam acrescentando no menu o que os clientes pediam. “Neste começo, tudo o que vinha de feedback, a gente conseguia se movimentar muito rápido para atender”, diz Beatriz. Hoje, afirma, o cardápio é alterado quatro vezes ao ano, de acordo com as estações.
“Olhamos muito a questão da sazonalidade dos produtos e o perfil dos clientes, o que também nos garante comprar melhor, com preços mais baratos, sem respingar no consumidor. O que queremos é sempre ter novidades.”
Atualmente, são oito opções de salada pronta. Entre elas a Burrata Mediterrânea (salada de mix de folhas, fusili integral, tomate sweet, azeitona preta, manjericão, amêndoa e burrata), que custa R$ 51,80; e a Frango Pesto Parm (salada de mix de folhas, quinoa quente, tomate sweet, brócolis assado picante, parmesão em lascas, amêndoa, frango bio grelhado em cubos quentinho), que sai por R$ 43,80. Há ainda opções veganas, sem proteína e outros produtos de origem animal.
Dentre os bowls, são seis opções (para atender quem não curte tanto folhas, mas quer comer uma salada), como o Da Terra (quinoa quente, abóbora assada, batata doce assada, brócolis assado picante, castanhas de caju e do pará e cogumelos assados quentes), por R$ 39,80; e o Salmão Shroom (couscous marroquino, vinagrete de manga, edamame, tomate sweet, brócolis assado picante, cogumelos assados quentes e salmão defumado), a R$ 51,70.
Além disso, o cliente também pode montar sua salada do jeito que quiser, escolhendo duas bases mais quatro complementos e um molho (R$ 33,90). No inverno, a Olga Ri também entra com opções de sopas no cardápio.
Para além de uma alimentação equilibrada, as sócias da Olga Ri afirmam que seu foco é gerar impacto em outras esferas — ambiental e social.
Desde outubro de 2022, o negócio trocou os bowls de plástico por uma versão biodegradável.
“Foi um caminho longo para viabilizar essa mudança”, diz Cristina. “A gente acredita muito nessa pauta, mas ainda assim a conta precisava fechar, pois essa opção custa quatro vezes mais.”
Enquanto ainda não tinham conseguido implementar os bowls biodegradáveis, elas deram um jeito de compensar o impacto negativo da operação. “Fizemos uma parceria com o selo eureciclo em que retirávamos do meio ambiente o dobro do plástico e do papel que gerávamos.”
O cuidado com os recursos naturais se estende à cozinha. Durante a produção, os funcionários da Olga Ri são orientados a tentar utilizar 100% dos ingredientes. Beatriz conta:
“É um movimento que chamamos de ‘até o talo’… Num cenário normal, em que um restaurante não usaria talo de brócolis, a gente hoje usa picadinho e bem temperado ou ele vira um caldo de legumes. No inverno, nossas sopas também são feitas com ingredientes até o talo”
A empresa ainda busca fornecedores alinhados com seus valores, tentando priorizar pequenos produtores, com itens de agrofloresta e orgânicos, e comprando ovos de fazendas em que as aves são criadas livres e que criam frangos sem antibióticos.
Caso haja desperdício na operação de alimentos próprios para consumo, diz Cristina, a Olga Ri faz a doação diária do que seria descartado para algumas iniciativas, como Infineat e Comida Invisível.
Por fim, na parte ambiental, acrescenta a empreendedora, o negócio também se preocupa com a gestão de resíduos.
“Temos uma parceria com a Musa e nada vai para aterro sanitário. Os orgânicos viram adubo. Rejeitos, como papel de cozinha e banheiro, vão para a indústria, para geração de energia, e o que é reciclável, para a cadeia de reciclagem”
Outro compromisso da empresa é estimular a diversidade da equipe. Segundo as sócias, hoje mais de 85% do time de quase 200 pessoas, entre colaboradores e lideranças, fazem parte de grupos historicamente sub-representados, como mulheres, negros e LGBTQIAP+.
“Temos funcionários trans que fizeram a transição aqui dentro e vale falar que mais de 70% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres”, diz Cristina.
Apesar do foco no delivery, as vendas da Olga Ri foram impactadas negativamente no começo da pandemia de Covid-19, mesmo com o isolamento social.
Cristina conta que, em março de 2020, quando o coronavírus chegou ao Brasil, os pedidos de salada caíram quase 30%. Ela sugere uma hipótese:
“As pessoas ainda estavam entendendo o que estava se passando… E quando escolhiam pedir delivery, preferiam algo na linha mais comfort food”
Depois dos primeiros três meses, porém, Cristina diz que os consumidores voltaram a pedir saladas e comidas que já faziam parte da sua rotina. Por outro lado, a Olga Ri perdeu uma leva de clientes que ficavam em escritórios, já que muitos migraram para o trabalho remoto. “Mas também ganhamos outros que inseriram o delivery no jantar, por exemplo.”
O fechamento de muitos escritórios obrigou a Olga Ri a se reinventar. “Passamos a aceitar pagamento online, lançamos um aplicativo… Enquanto empresa, evoluímos muito.”
Agora, no pós-pandemia, Cristina afirma que a Olga Ri está vivendo uma nova “ressaca”, já que as pessoas naturalmente estão querendo voltar a sair, ir a restaurantes, reduzindo assim pedidos no delivery. “Mas tudo vai se equilibrando, porque agora também voltamos a ganhar escala nas empresas.”
A jornada empreendedora, afinal, é feita desses altos e baixos. Segundo Cristina:
“Se você não aprender a lidar com isso, nem levanta do primeiro tombo. As coisas mudam toda semana”
O que não muda é a paixão do trio por saladas. Cristina encerra com um lembrete:
“Não precisa estar de dieta para ‘viver de salada’! Tudo o que a gente fala é justamente o contrário desse tipo de pensamento. Salada é gostoso, e a gente consegue provar isso.”
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