Natural de Mossoró, no semiárido do Rio Grande do Norte, Camillo Torquato, 34, passou a infância entre a cidade natal e Cajazeiras do Ceará, vilarejo na caatinga cearense onde a escassez de água é uma realidade constante.
Essa origem ajuda a explicar por que Camillo decidiu empreender a T&D Sustentável, uma greentech que desenvolve serviços focados no combate ao desperdício de água.
“Hoje, independentemente do tipo de empreendimento, desde um pequeno restaurante até um grande hospital, o contratante resolve todo o problema da água com a gente, pois a T&D absorve toda a gestão hídrica”
A proposta de valor da startup é ajudar companhias a economizar água sem gastar “nada” por isso. A T&D implementa seu sistema (uma “solução 360º” para a gestão hídrica) de forma gratuita; em troca, recebe 50% do valor economizado.
Ou seja: se um hospital gasta cerca de 100 mil reais em água e com a implementação do sistema passa a gastar 70 mil reais, a startup recebe 50% dessa economia: ela ganha 15 mil reais e o hospital economiza 15 mil reais. Se não houver resultado, a T&D não recebe nada.
A startup, frisa Camillo, não é a primeira a trabalhar com sistema de economia de água; empresas com propostas similares datam da década de 1980. A diferença, ainda segundo o empreendedor, é a concepção de uma tecnologia própria e o know-how em manejo de fluidos acumulado por ele e seu sócio.
Camillo cursou Engenharia Elétrica na Universidade Federal Rural do Semi-Árido, em Mossoró.
Depois, mudou-se para Macaé (RJ) e começou a trabalhar com aquisição de dados e manejo de fluidos na Halliburton, multinacional que presta serviço para a Petrobras.
“Eu avaliava a viabilidade de poços de petróleo e fazia o manejo dos fluidos: água, óleo e gás.”
Apesar de crescer na carreira, ele diz que sentia que faltava algo:
“Mesmo com um bom emprego, com um bom salário, conhecendo várias culturas, eu estava engessado – e isso me deixava muito desconfortável”
Além do cansaço mental, Camillo começou a sentir o peso do trabalho no corpo: após a crise do petróleo, em 2008, as operações nas plataformas passaram a ocorrer com equipes reduzidas.
Os anos carregando peso e trabalhando embarcado lhe causaram tendinite no punho e no cotovelo, além de duas hérnias de disco. Foi o gatilho que faltava para buscar novos rumos.
“Eu amava aquilo. Se pudesse fazer uma mudança de cultura corporativa na empresa, eu estaria lá até hoje… mas não sabia se conseguiria suportar mais quinze anos naquela intensidade.”
Em Macaé, Camillo dividiu um apartamento com Pedro Vitali, engenheiro químico. Os dois se tornaram amigos. Pedro, 33, hoje é seu sócio na T&D Sustentável,.
A ideia inicial era trabalhar com economia de energia. Porém, pesquisas apontam que havia um caminho promissor no mercado de economia de água.
Um dia, Camillo comprou uma camisa polo, bordou a logo da T&D e foi vender seu produto. Conseguiu uma reunião no Hospital Geral Dr. Beda, em Campos dos Goytacazes (RJ), e saiu de lá com um acordo para implantar o sistema de eficiência de água em 60 dias. Ele relembra, rindo:
“Eu falei que precisava importar alguns equipamentos, mas não era. Disse ‘60 dias’ porque tinha que pedir as conta na empresa”
Naquele mesmo dia, ele pediu demissão da Halliburton. “Quando larguei o emprego, éramos eu, minha esposa e uma calopsita”, conta. “A gente conversou: ‘existe a possibilidade de eu ficar no zero se isso aqui der errado… estamos alinhados?’.”
Com a demissão confirmada e o dinheiro da rescisão na mão, Camillo abriu o CNPJ da T&D Sustentável, em março de 2018.
São três os principais produtos da startup. O serviço com maior demanda é o sistema de economia de água, no qual um estabelecimento transfere sua gestão hídrica para a T&D Sustentável.
O primeiro passo é a instalação de equipamentos que geram dados de forma contínua. A partir dessas informações, é possível observar problemas como vazamentos e inconformidades na tarifação. Também é possível padronizar pressão, vazão e volume de água.
A startup realiza ainda ações de conscientização com moradores, quando o contratante é um condomínio, ou de treinamento com equipes de trabalho, quando o contratante é um hospital, um hotel ou outro tipo de empreendimento.
O modelo de precificação tem se mostrado exitoso, diz Camillo; segundo ele, com quase cinco anos de atuação, todos os clientes seguem firmes:
“A gente vem de um período de recessão econômica por causa da pandemia e todas as corporações estão buscando se reestruturar. Quando falo que a pessoa vai ter uma redução de gastos, sem pagar nada e que se não gostar eu retiro amanhã, ela fala ‘é você mesmo’”
Ele explica que as empresas que topam instalar o sistema por conta da economia financeira logo percebem outros benefícios, como a diminuição de gastos com manutenção e a possibilidade de realizar marketing sobre sustentabilidade.
“São pelo menos 15 vantagens. Se ele [o empresário] monetizar, vai ter um ganho ainda maior”, diz Camillo.
A startup ainda oferece outros dois serviços: gestão de contas individuais (para condomínios, por exemplo, onde há diversos hidrômetros); e monitoramento remoto, em tempo real, dos parâmetros hídricos de um estabelecimento.
Inicialmente, todo trabalho de vendas, implementação e administração era feito pelos sócios. Hoje, são 23 pessoas trabalhando diretamente na matriz e mais de 100 nas 36 unidades da empresa – sendo 13 franquias.
A sistematização de todos os processos realizados dentro da empresa facilita sua reprodução em novos territórios, diz Camillo:
“Fazemos parte da Associação Brasileira de Franchising porque temos processo para tudo. O que você imaginar e quiser fazer tem um manual explicando”
Nos próximos dois meses serão abertas mais quatro unidades próprias nas cidades de Brasília (DF), Volta Redonda (RJ), Taubaté (SP) e São José dos Campos (SP). A pretensão para 2023 é abrir em média duas unidades ao mês.
Até o momento, o modelo de negócios da T&D Sustentável é B2B (business to business), mas os sócios têm trabalhado no modelo B2D (business to developer). A proposta é implementar pilotos junto aos governos municipais das cidades paulistas de Barueri, Jundiaí e Osasco. O serviço nesses locais seria realizado por seis meses sem custos.
Os sócios também trabalham em uma atualização do hardware para que o sistema possa ser operado em casas de médio e alto padrão no modelo B2C (business to consumer).
“Teria uma mensalidade muito barata, cerca de 59 reais por mês, para as pessoas utilizarem na sua própria residência”, diz Camillo.
MOTIVO DE ORGULHO: A STARTUP CONQUISTOU O 1º LUGAR EM SUA CATEGORIA NA EDIÇÃO DO RANKING OPEN INNOVATION
No ano passado, a greentech foi uma das três empresas escolhidas – dentre mais de três mil startups de 27 países – para participar do BMAP 2022, maior aceleração de Portugal.
A T&D Sustentável também foi selecionada em 1º lugar para compor a comitiva nacional do Sebrae na Web Summit Lisboa 2022, maior feira de tecnologia do mundo.
A startup ganhou ainda o 1º lugar na categoria Água e saneamento no ranking da Open Innovation. Essa é a premiação da qual Camillo mais se orgulha:
“Foram seis meses de trabalho em que a gente precisou anexar todos os contratos corporativos. Esse prêmio mostra que realmente entregamos valor para as corporações”
O intuito dos sócios é acelerar ainda mais o crescimento da empresa. Para isso, diz o empreendedor, a empresa está, pela primeira vez, aberta a captação.
“A gente quer chegar em 2025 com 1 bilhão de litros economizados.”
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