Oferecer acesso e atendimento facilitado a médicos e profissionais por meio da tecnologia. Essa é a proposta da Alice.
Os sócios Matheus Moraes (ex-CEO da 99), André Florence (ex-CFO da 99) e Guilherme Azevedo (cofundador da Dr. Consulta) definem a empresa como uma gestora de saúde. Uma categoria nova, que se distingue das operadoras tradicionais, segundo Matheus:
“Acreditamos que o modelo atual não é o suficiente para entregar saúde do jeito que as pessoas precisam. Chamamos de gestão de saúde porque a gente de fato gerencia a saúde das pessoas.”
Lançada em junho de 2020, a Alice informa que tem hoje 600 funcionários, 11 mil clientes (dos quais 10% vêm do setor empresarial), e parcerias com os principais hospitais e laboratórios de São Paulo, como o Hospital Albert Einstein, o Hospital Oswaldo Cruz e os laboratórios Fleury.
Por uma mensalidade fixa, o cliente tem acesso ilimitado a consultas e exames, seja por aplicativo ou presencialmente na Casa Alice, com duas unidades físicas em São Paulo.
Por enquanto, os planos individuais estão disponíveis somente para a capital paulista; os empresariais são vendidos em São Paulo com cobertura nacional.
“Entre crescer expandindo para outras regiões ou prestar um serviço de altíssima qualidade em São Paulo, optamos pelo segundo caminho”, diz Matheus.
A crise que vem abalando a saúde das startups e provocando demissões em massa também atingiu a healthtech. Ao longo do ano passado, a Alice demitiu 176 funcionários, sendo 63 em junho e 113 em dezembro.
A seguir, Matheus Moraes fala sobre os desafios de empreender no setor de saúde, os modelos que inspiram a empresa e as perspectivas para o futuro:
Nenhum dos três sócios vem da área da saúde ou teve formação específica na área. Por que decidiram empreender no setor?
Cada um de nós tem uma motivação pessoal para ter começado a trabalhar com saúde, mas começamos o negócio porque achávamos que havia um grande problema para ser resolvido.
Algo que não era óbvio só para a gente: o fato de que o Brasil precisa de um desenvolvimento grande na área da saúde, um negócio que qualquer um conseguiria perceber.
Para as pessoas, essa dor vem na forma de falta de acesso e falta de coordenação de cuidado. Então criamos um produto individual para justamente aumentar o acesso a plano de saúde, que hoje no Brasil só 23% da população tem
Queríamos entregar saúde de verdade para as pessoas, deixá-las mais saudáveis. E o jeito que encontramos de fazer isso foi com coordenação de cuidado, que é o que a gente faz com o nosso time de saúde.
Onde vocês buscaram as inspirações para criar o modelo da Alice?
Nosso objetivo é tornar um mundo mais saudável. E para fazer isso a gente precisava de um modelo extenso, longitudinal, que olhasse a pessoa de ponta a ponta. Encontramos referência em vários lugares do mundo, China, Estados Unidos.
Mas o que mais nos inspirou foram os sistemas de saúde públicos bem-sucedidos: o sistema norueguês, o canadense, o inglês, que têm a atenção primária e atenção secundária coordenadas… No Brasil, temos o SUS, que é uma mega inspiração em termos de modelo
A gente se propôs a criar um sistema de saúde privado, e para isso precisou criar um modelo de atenção primária próprio e um meio de contato de forma digital. Mas também com acesso ao hospital, laboratório, médico especialista, que funciona a partir do plano de saúde.
É interessante vocês buscarem inspiração no SUS, que apesar dos percalços ainda é um sistema gratuito, universal e de fato um exemplo mundial de acesso à saúde. Por que criar algo novo em vez de tentar melhorar o que já existe
Até já pensei em entrar para vida pública, mas a minha esposa falou que é melhor eu ficar no setor privado por um tempo.
O SUS, como se trata de uma organização a nível federal, compete à gestão pública. E eu acho que temos gente preparada para liderar o modelo do SUS.
O que fazemos como iniciativa privada é assumir a nossa responsabilidade – de cidadão, de sociedade civil e sociedade empresarial – e conseguir ajudar a atender pessoas que podem pagar por um serviço de saúde. Assim tiramos, em alguma medida, a sobrecarga do SUS
Um dado legal é que o SUS é o sistema com maior número de usuários do mundo, em termos de saúde pública. E fazer a gestão de uma população tão grande é super desafiador.
Hoje existem pessoas que recorrem ao SUS por não terem acesso ao sistema privado simplesmente por falta de opção, não por falta de condições financeiras. O que a gente faz como empresa é conseguir dar acesso a mais pessoas.
No futuro, quem sabe como vai ser a distribuição e o uso da tecnologia? Quem sabe em algum momento a gente não consiga também alavancar um sistema público de saúde?
Além do SUS, temos no Brasil uma variedade de planos de saúde, empresas grandes e consolidadas nesse mercado. Que estratégias a Alice adota para competir com essas gigantes?
A primeira coisa foi tentar criar algo diferente, que a gente sentia falta na indústria. Sempre senti falta de ajuda quando precisava cuidar da minha saúde.
Nenhuma outra operadora oferece atenção primária coordenada como a Alice, e foi justamente pela falta desse serviço que a gente criou o nosso modelo. Por isso não queremos ser chamados de “plano de saúde”, porque de fato oferecemos um serviço diferente
Eu não existo só para te cobrir financeiramente quando você tem um caso de saúde, que as operadoras nacionais chamam de sinistro. Estou aqui genuinamente para medir e, junto com você, ajudar a melhorar a sua saúde.
Na definição da Organização Mundial da Saúde, saúde é um bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doenças. E para a Alice, o que significa saúde?
As pessoas falam que ou você está correndo uma maratona, ou você está doente. Isso não é verdade. Saúde é um estado permanente na sua vida.
Antes de você nascer, do planejamento familiar até o dia que você deixa a sua família, a sua saúde vai variar entre momentos melhores e piores. E, independentemente da sua condição, seja você a pessoa mais saudável tecnicamente falando, ou a pessoa que precisa de ajuda, queremos estar lá com você tentando te levar para um nível melhor.
O que significa em termos práticos? Você é membro da Alice e chegou com hipertensão, diabetes, colesterol alto: a gente quer deixar você mais saudável. Você chegou gestante: queremos garantir que a sua gestação seja incrível
E o que é legal? A parte filosófica e também técnica, elas coincidem, é dizer o seguinte: saúde não é só o seu estado de espírito, mas é aquilo que a medicina baseada em evidência prega que é saúde.
Acreditamos que o conceito de saúde é um conceito técnico – e que conseguimos ajudar as pessoas independente do seu estado.
Sem formação técnica na área, como vocês garantem que aquilo que vocês sonharam e planejaram de fato está saindo do papel?
Para empreender, ninguém tem uma formação específica. Até quem fez administração de empresas fala que ele não foi preparado para empreender.
Então, a verdade é que temos competências complementares para entregar a missão da Alice, e contamos com a ajuda e a participação de gente muito incrível nesse processo de construção.
Temos um conselho médico da Alice, formado por profissionais da medicina de altíssima qualidade, pessoas titulares de universidade, que trabalham nos melhores hospitais do Brasil. Temos como conselheiro-executivo, que ajuda a gente no dia a dia, o Leandro Fonseca, ex-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Além disso, o Gui [Azevedo, sócio da Alice e cofundador da Dr. Consulta] já tinha empreendido em saúde por mais de sete anos.
Então embora a gente não tenha formação em nenhuma área específica da saúde, para construir um sistema de saúde não necessariamente você precisa dessa formação, desde que seja acompanhado por pessoas técnicas muito boas.
Mas não é um setor simples, ainda mais se vocês realmente se propõem a ser um sistema de saúde. Quais são os principais desafios de se empreender num ecossistema tão complexo?
Revolucionar alguma coisa, ser transformacional, sempre vai ser um desafio. Acho que ninguém que conseguiu transformar alguma coisa de verdade, que mexeu o ponteiro no mundo, fez isso de um jeito fácil.
Pensando em saúde especificamente, para além dos profissionais de alta qualidade, a gente acredita muito que a tecnologia é capaz de nos ajudar a escalar. A tecnologia é uma ferramenta de democratização de serviços e de acesso.
Para dar um exemplo muito simples: hoje, se você quiser falar com um profissional de saúde da Alice, você consegue fazer isso com dois cliques no seu celular. Você abre o aplicativo da Alice, clica e começa a falar com um ser humano
Isso aumenta a nossa capacidade de escala em múltiplas vezes. A gente consegue usar esses dados de atendimento para identificar condutas que são padronizadas e encontrar os melhores caminhos para ajudar as pessoas.
A tecnologia hoje associada a expertise técnica profissional em saúde nos ajuda não só a escalar, mas escalar entregando saúde de qualidade e de forma extremamente eficiente para as pessoas.
A Alice foi regulamentada e lançada durante a pandemia. Como isso impactou no negócio?
A pandemia foi desafiadora em todos os sentidos. Tivemos que repensar como se lança um produto de saúde como o nosso com todo mundo preocupado. Mas as pessoas adotaram a tecnologia de forma muito rápida, o que nos ajudou a levar o nosso serviço a elas.
Antes da pandemia as pessoas não tinham muita familiaridade com acessar um médico, um profissional de saúde, por aplicativo. Não era comum, era tudo presencial. E aí, como as pessoas não podiam sair de casa, elas precisavam de uma solução tecnológica
E como viemos com o objetivo de entregar a saúde do jeito que as pessoas precisam, já nascemos com o Alice Agora, nosso aplicativo. Isso ajudou a acelerar a adoção, por exemplo, da telemedicina.
Ao mesmo tempo, a pandemia provocou uma reflexão. As pessoas começaram a ter mais consciência da necessidade do cuidado com a própria saúde.
Para uma empresa como a nossa, que busca gerar mais saúde nas pessoas, acabamos vendo um fluxo de pessoas que querem se cuidar.
Levando em consideração que o setor de tecnologia vem passando por crises, com empresas demitindo funcionários, como vocês planejam os objetivos da Alice no curto, médio e longo prazo? Contextos econômicos desafiadores sempre existiram, e a gente tem que ter capacidade de se ajustar e se adequar a esses momentos mesmo que eles não sejam os mais previsíveis.
Dito isso, o momento atual é de garantir que a gente preste um serviço de altíssima qualidade para as pessoas de forma sustentável. Esse é o objetivo de curto prazo. E eu diria que em se tratando de uma empresa de tecnologia, também é um objetivo de médio prazo
No longo prazo, queremos ser a maior empresa de saúde do Brasil, quiçá do mundo. E para conseguirmos isso, temos que ser capazes de entregar saúde para milhões de pessoas.
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