Imagine uma menininha levando uma agulha de tricô na mochila da escola para tricotar durante o intervalo das aulas! Essa menina fui eu!
Prazer, eu sou Amanda Ansaldo, hoje tenho 40 anos, e o artesanato sempre esteve presente na minha vida.
Aos 8 anos, já vendia colares de miçangas para as amigas do colégio
Mas fazer disso uma profissão rentável para o meu futuro não era uma opção… pelo menos, eu achava que não.
Filha de professores, sempre me interessei pela área acadêmica. Estudei Jornalismo e fiz três pós-graduações na área: Criação de Imagem e Som; Gestão; e Direção para Vídeo e TV, sendo esta última realizada pela ECA/USP.
Essas especialidades me abriram muitas portas no mercado da Comunicação. Ainda na faculdade, comecei trabalhando na AllTV, uma TV online
No início dos anos 2000, esse tipo de mídia era a grande tendência, afinal havia uma convergência de mídias: a transmissão era na internet com uma linguagem de rádio e com imagem de TV.
Comecei trabalhando como repórter e, na sequência, fui produtora e apresentadora.
O que as pessoas chamam de live hoje já existia na AllTV, com um chat ao vivo. Ganhamos, inclusive, o Prêmio Esso como melhor contribuição ao telejornalismo.
Após essa experiência, trabalhei na Band News FM, fazendo a coordenação do conteúdo ao vivo. Trabalhava no horário de pico de audiência da programação.
Sempre fui um tanto workaholic, como uma boa capricorniana. Quando eu estava trabalhando em hard news, por exemplo, com aquelas notícias mais pesadas, chegava dez horas da noite em casa para dormir e sentia tremedeira na cama de tanto nervoso
Alguma coisa precisava mudar, até mesmo para melhorar a minha saúde mental. Ainda adquiri experiências em outras áreas da comunicação: trabalhei como assessora de imprensa em uma grande agência e em uma empresa que produzia conteúdos para outras TVs, atuando como diretora de conteúdo.
Mas aí uma “palavrinha mágica”, que transforma a vida de muitas mulheres, mudou a minha também: a maternidade.
Como eu poderia viver nesse ritmo de trabalho intenso, tendo que cumprir horários, sendo mãe?
Eu queria ser aquela mãe presente, que leva os filhos para a escola, acompanha as lições e que tem flexibilidade para atendê-los em qualquer imprevisto.
No entanto, também queria continuar trabalhando, me sentindo ativa, criando – isso é vida para mim!
E diante desse cenário, comecei a fazer a minha transição de carreira.
Lembra daquela menininha que adorava artesanato? Pois bem, eu dei vida para ela! Na verdade, fazer artes manuais nunca saiu de cena.
Na adolescência, sempre tricotava, como hobby, mas adorava fazer. Já no Jornalismo, quando tínhamos que fazer uma produção com cenário e a verba era reduzida, colocava a mão na massa e também ajudava a criar.
Contudo, não quis fazer essa transição da noite para o dia. Fui fazendo aos poucos e com planejamento.
Quando “quebramos a ponte” de supetão, ficamos muito desesperadas, pois o novo gera medo e receio, ainda mais quando se é mãe.
Por isso, ao mesmo tempo que estava no jornalismo, dava aulas de Scrapbook, e assim fui sentindo o mercado e me desapegando
Apesar de ter percorrido diferentes técnicas artesanais, elegi a Costura Criativa como ponto alto do meu próprio negócio.
Se você ainda não sabe, essa técnica mistura diferentes estampas de tecido para formar peças versáteis e úteis, como nécessaires, artigos para casa – jogos americano, panos de prato, almofadas – e até bolsas.
Se essa transição foi fácil? Ah, não foi. Ouvi muitas frases desmotivadoras no início, tais como:
“Ah, você está costurando agora, mas ainda trabalha, não é?” ou “Ah, que legal… Você está costurando, que bonitinha”, com aquele tom de “É sério mesmo?”.
Como empreendedora, aprendi que essas críticas só começam a desaparecer quando a gente se posiciona.
Seja como artesã ou até mesmo como ser humano, precisamos mostrar os resultados, um plano de ações e falar com firmeza até que as pessoas percebam que a coisa é séria mesmo.
Confesso que foi difícil para algumas pessoas entenderem no início. Com a minha máquina de costura, eu transformo o tecido em peças artesanais.
Contudo, algumas vezes as pessoas batiam na porta da minha casa para falar: “Você que faz ajuste de roupas aqui?”.
Respeito e considero muito válida essa função, mas trabalho com artesanato e, aos poucos, fui mostrando do que se trata o meu negócio.
Equilibrar tudo ao mesmo tempo não foi – e ainda não é – uma tarefa simples. Filhos, marido (mesmo que seja muito independente!), casa, trabalho… É suado equilibrar tudo! Por isso, o ateliê no meio da sala me pareceu a melhor opção.
Minha mãe faleceu quando eu tinha 20 anos, então não tive esse grande apoio. A única ajuda que tinha na época era uma pessoa que cuidava da faxina da casa uma única vez na semana!
Para completar, quando comecei a empreender, também cuidava da minha avó, que já tinha mais de 90 anos. Ela morava comigo e tinha um problema de posicionamento de órgãos. Estive com ela até o final.
Refletindo, vejo que ter o ateliê no meio da sala também foi uma forma de não deixá-lo esquecido. Ele estava ali o tempo todo: mesmo em meio a tantas tarefas, eu via a máquina, os tecidos — e precisava fazer!
Então, eu colocava meu filho para ver TV e corria para costurar um pouquinho. Já na hora do almoço, ficava olhando os tecidos e já imaginando as melhores combinações.
Talvez se eu tivesse feito o meu ateliê de costura em outro cômodo da casa, em que eu fechasse a porta, de repente ele teria ficado para trás…
Aos poucos, as coisas começavam a ficar mais estruturadas e foi aí que decidi dar mais um passo importante: ter uma loja física de aviamentos.
Além de vender materiais para costura, também vendia peças prontas, como avental “Mamãe e Filhinha”, nécessaire infantil em formato de casinha, capas de livro e Bíblia, faixas de cabelo etc. Vendia muita coisa!
No entanto, com o passar dos anos, percebi que a loja física não atendia os meus objetivos.
Queria passar mais tempo com os meus filhos e ter a flexibilidade necessária para ser uma mãe presente, porém a loja implicava em muita demanda
No princípio da transição, pensava que ter algo físico me traria mais estabilidade, mas aprendi, na prática, que não.
Meu objetivo era ter meu negócio de sucesso, porém em casa, próxima a meus filhos. Por isso, decidi fechar a loja.
Acredite, tudo acontece no momento que tem que acontecer.
Eu sempre atuei também com trabalho voluntário.
Ainda no colégio, participava do Projeto Missões: íamos a comunidades carentes; cheguei a ir para o interior do Paraná ajudar crianças que viviam em condições de vida precárias; visitávamos acampamento de sem-terra; também demos apoio para crianças da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Um trabalho muito bonito e gratificante!
E por que estou contando isso agora? Para você entender outro passo que foi importantíssimo no meu negócio.
Já na fase adulta, em um trabalho voluntário que fazia, recebi um direcionamento de um mentor que eu poderia fazer um trabalho muito maior para contribuir com a saúde mental das pessoas.
Aquilo ficou na minha cabeça e, para completar, nesse mesmo período muitas pessoas no trabalho voluntário me perguntavam sobre dicas de costura.
Foi aí que tive a grande ideia de dar essas orientações na internet. Por que não ajudar muito mais pessoas com a costura? Sim, eu iria mesclar todo o meu conhecimento na área de comunicação com o artesanato!
Assim nasceu a minha empresa Passo a Passo Criativo. Agora, além de vender peças de costura criativa, iria ensinar a fazê-las.
Meu objetivo era atingir três grupos de pessoas: aquelas que faziam do artesanato um hobby; aquelas que precisavam como uma atividade terapêutica para minimizar sintomas de depressão ou ansiedade, por exemplo; e aquelas que precisam aprender para ganhar dinheiro.
Desde o início, sempre tive essa concepção: se uma mãe assistir a um vídeo meu, fizer uma peça para vender e comprar 1 quilo de feijão para colocar na mesa, já consegui fazer a minha parte e atingir o meu propósito
O meu primeiro vídeo postado no YouTube foi em 7 de julho de 2015. Se a ideia deu certo? Muito!
Atualmente, no Instagram, tenho mais de 670 mil seguidores. São mais de 2 660 postagens, sendo que a maioria refere-se a passo a passo gratuito de peças e dicas de costura. Fora Facebook e TikTok.
Já no meu canal do YouTube, são 360 mil inscritos com mais de 400 aulas completas.
Além do conteúdo gratuito – que é essencial na minha empresa –, há os produtos Premium, que são pagos e fazem minha empresa monetizar ainda mais.
Hoje também estou à frente da Escola de Costura Criativa Amanda Ansaldo, uma plataforma online de aprendizado de peças vendedoras, além de orientações de empreendedorismo que adquiri ao longo desses anos.
Como possuo grande engajamento nas redes sociais, muitas marcas também me procuram para usarem seus produtos.
Após testá-los e gostar do resultado que podem gerar, indico a utilização. Sou paga por essas empresas, mas também sei que gero muito retorno para elas.
Estou muito feliz com as minhas conquistas até hoje, e sobretudo por saber que ajudo muitas mulheres a empreenderem.
Mas o céu é o limite! No Brasil, há mais de 200 milhões de habitantes e ainda posso alcançar muito mais pessoas que façam da costura algo transformador.
Além disso, olho para meus filhos e me sinto orgulhosa por estar presente. Hoje, minha filha, que já é adolescente, participa do Projeto Missões, o mesmo trabalho que fiz quando tinha a idade dela
Isso são valores que você só consegue passar aos filhos estando por perto… E eu, felizmente, ainda consigo estar.
Apesar de ter vivido uma trajetória “alucinante”, na qual enfrentei medos e até preconceitos, hoje sou uma Amanda mais completa, com um olhar muito mais atento ao mundo.
Se você chegou ao término deste artigo e também tem a vontade de mudar, ouse, planeje-se e dê o primeiro passo!
Jornalista, Amanda Ansaldo decidiu fazer uma transição de carreira e abrir o seu próprio negócio com a Costura Criativa. Desde 2015, está à frente do Passo a Passo Criativo, além de ter fundado a Escola de Costura Criativa Amanda Ansaldo.
Bruna Ferreira trilhava uma carreira no setor financeiro, mas decidiu seguir sua inquietação e se juntou a uma amiga para administrar um salão de beleza. Numa nova guinada, ela se descobriu como consultora e hoje ajuda empresas a crescer.
Movida pelo lema “siga sua paixão”, Letícia Schwartz foi viver nos EUA e fez sucesso com livros sobre gastronomia. Até que se apaixonou pela educação e fundou uma consultoria que ajuda alunos a ingressar em faculdades americanas.
E se você só tivesse 40 segundos para evitar uma tragédia? Voluntário do Centro de Valorização da Vida, Thiago Ito fala sobre o desafio de criar um mini doc que viralizou nas redes com uma mensagem de esperança em favor da saúde mental.