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Com projetos que tiram qualquer um do sério, a turma do Clube do Minhoca quer criar um império e ser a “Disney da comédia” brasileira

Leonardo Neiva - 13 jul 2023
Patrick Maia, cofundador da Banca e diretor artístico do Clube do Minhoca (reprodução Instagram).
Leonardo Neiva - 13 jul 2023
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Por que não transportar as piadas do palco para as páginas, conquistando uma nova audiência através do riso? 

Foi esse comichão que levou, em 2020, os comediantes do Clube do Minhoca, célebre casa de stand-up na Consolação, em São Paulo, a investir num tipo diferente de projeto: uma revista de humor, batizada de MinhocaZine

Com o sucesso da publicação mensal, que já vendeu mais de 40 mil exemplares, o grupo decidiu expandir a iniciativa. E assim nascia, em 2021, a Banca do Minhoca

Capitaneada pelo trio de sócios-humoristas Patrick Maia, Bruno Romano e Nando Viana, a editora publica apenas livros de humor, canalizando a criatividade da turma de comediantes ligados ao clube — desde iniciantes até gente já estabelecida, como Igor Guimarães e Afonso Padilha. 

Padilha, por sinal, é o autor de um dos primeiros títulos da Banca, O Evangelho Segundo um Humorista. Cofundador da Banca e diretor artístico do Clube, Patrick Maia conta:

“No mês do lançamento, vendemos mais de 8 mil exemplares. Na época, a gente estaria em primeiro nos mais vendidos da [revista] Veja, mas a editora não tinha registro para que o nome aparecesse na lista. A gente ainda estava aprendendo como fazer tudo”

Hoje, entre as porcarias para ler e colecionar — como a própria editora define suas produções —, estão livros de humoristas como Thiago Ventura, Babu Carreira e Igor Guimarães, além de pelúcias dos personagens Pastorzinho Dinossauro e Demerval. 

Há também um divertido calendário sensual ilustrado com fotos de comediantes como vieram ao mundo, numa parceria com a ONG SP Invisível, em que todo o lucro é destinado ao instituto.

AO TENTAR PUBLICAR UM LIVRO ILUSTRADO E OUVIR VÁRIOS “NÃOS”, UM DOS COFUNDADORES DA BANCA TEVE A IDEIA DE CRIAR UMA EDITORA 

“A revista impressa era uma ideia bem corajosa”, diz Daniel Sartório, editor-chefe da MinhocaZine. A gente brincava que era a Netflix de papel.”

A publicação ajudou a deslanchar a editora. A ideia da Banca do Minhoca, segundo Patrick, foi anterior à revista, e surgiu a partir de uma vontade sua de lançar um livro de ilustrações – e da série de recusas que ouviu das editoras já estabelecidas no mercado:

“Estava desenhando o livro e, quando vi que tinha o suficiente para lançar, fui atrás de algumas editoras. O máximo que consegui foi um ‘não’, porque a maioria nem respondeu”

Patrick resolveu que o melhor era publicar por si mesmo. Começou a estudar todo o processo, desde a diagramação até como fazer o registro da obra. Sua intenção era produzir uma tiragem de 500 livros, comercializando logo de cara uns 200 e mantendo os restantes para vender em seus shows de stand-up.

Desde 2018, quando finalmente foi publicado, Entendeu ou Quer que Eu Desenhe? já vendeu mais de 10 mil cópias. Mais tarde, Patrick lançaria, também por conta própria, outro livro centrado num personagem cômico: Demerval, o Pirata do Pau de Pau.

“Esse projeto levantou 120 mil reais em 30 dias”, diz Patrick. “Vender esse valor todo de um livro que vem de uma ideia original, sem ser franqueada nem enlatada lá de fora, é algo expressivo.”

“TODO MÊS FICA TODO MUNDO EM CASA TENDO IDEIAS IDIOTAS”: DA REVISTA À EDITORA, A PRODUÇÃO É 100% COLETIVA E COLABORATIVA

Aproveitando a experiência com a revista, o coletivo finalmente tirou a Banca do Minhoca do papel, em maio de 2021. 

Se hoje a editora conta com um portfólio consistente de títulos e um marketplace mais definido, o caminho até aqui foi tortuoso. Bruno Romano, um dos sócios da Banca, revela:

“Ela não nasceu como as editoras convencionais, que fazem o registro e só depois começam a produzir… Nós primeiro botamos em prática um monte de coisas, e era tudo muito autoral”

A meta era levar para a editora a lógica coletiva da MinhocaZine, que reúne hoje cerca de 200 colaboradores regulares e ocasionais, todos comediantes. 

Como diz Nando Viana, também sócio do Clube, todo mês “fica todo mundo em casa tendo ideias idiotas”. Então, uma vez a cada 30 dias, o grupo faz uma reunião editorial, um dia de brainstorming para botar as propostas na mesa — e dar boas risadas. 

“O Daniel vai selecionando as matérias”, diz Nando. “Quando a gente vê, já está com uma revista pronta em tempo recorde.” O editor-chefe reforça:

“A gente cria um ambiente em que qualquer comediante consegue chegar com uma ideia e a gente vê como produzir. Nosso hub de comediantes é bem expressivo, ninguém escreve mais comédia que a gente. Queremos criar esse selo de confiança”

Um exemplo de como funciona o processo colaborativo na editora é a gênese da HQ Vovó Roqueiro Airfryer. A obra surgiu da vontade da equipe de fazer um produto em parceria com o comediante Igor Guimarães. Porém, por estar muito atarefado, Igor acabou enviando suas ideias à editora em vários áudios explicativos. 

A partir deles, a Banca entrou em contato com o ilustrador Edegar Agostinho, que também trabalha com comédia e topou botar a história no papel. “Virou um livro que já é sucesso de vendas”, diz Daniel. Hoje, no site, a edição consta como esgotada. 

O TIME DA EDITORA SABE RIR DOS PERRENGUES, MAS ENTENDEU QUE PRECISAVA DE UM PROFISSIONAL PARA ORGANIZAR AS FINANÇAS

Esse formato de organização coletiva, evitando a estrutura mais tradicional de uma empresa ou editora, também já gerou problemas financeiros. 

Cientes das dificuldades de organização e planejamento, os sócios contrataram em 2022 um profissional experiente no mercado gráfico e editorial para supervisionar a parte financeira da empresa. “Nosso adulto 100% responsável”, brinca Patrick.

Uma das primeiras descobertas do recém-chegado era que a conta da revista MinhocaZine não batia — o grupo estava perdendo em média R$ 3,50 a cada unidade vendida. Então, a publicação, cuja assinatura mensal custava R$ 19,90, incluindo o frete, passou a sair por R$ 29,90.

Patrick com sua criação, Demerval, o Pirata do Pau de Pau (reprodução Instagram).

Em janeiro de 2023, o site da Banca, que era um tanto amador, também trocou de plataforma para se tornar um e-commerce mais prático e funcional.  

Na mudança, a plataforma que antes servia quase só como meio de pagamento, se tornou uma nova vitrine para os produtos da editora, unificando num mesmo site a assinatura e venda da MinhocaZine.

Na transição, algumas das assinaturas da revista acabaram ficando para trás, e o grupo teve que refazê-las manualmente. Patrick, que diz sempre enxergar o copo meio cheio, na época até fez graça com a situação. 

“Ele tentou vender como algo positivo para nós… Como estávamos perdendo R$ 3,50 por assinante, foi bom deixar para trás 200 pessoas porque íamos economizar 700 reais”, lembra Nando, aos risos. 

PRESENTE NA CCXP 2022, A EDITORA APROVEITA O CLUBE DE STAND-UP COMO UM CANAL DE VENDAS (E NEGOCIA COM AUTORES CASO A CASO)

Atualmente, a equipe comercializa os produtos da editora tanto de forma física, na lojinha localizada dentro do Clube do Minhoca, quanto no site e no Instagram, hoje o principal ponto de lançamento e venda para a empresa. 

No Clube, o grupo aproveita a atmosfera das apresentações de stand-up para que os humoristas consigam vender produtos próprios e também os produzidos pela Banca.

Segundo Patrick, os royalties pagos aos autores são negociados caso a caso — mas o humorista reforça que as margens costumam ser maiores que a média do mercado editorial. Ele explica:

“Às vezes depende da margem que o cara quer. Ele pode querer vender mais, então abre mão. Se for um livro mais caro de fazer, a margem é menor do que se for uma tiragem simples. Depende de cada acordo e do estoque que a gente vai fazer”

Para evitar o problema de gastos que muitas editoras enfrentam com tiragens maiores, mas que não vendem como esperado, a Banca vem realizando pré-lançamentos para ter uma ideia prévia da demanda e dos valores mais adequados. 

“Como a gente tem pouca perda e consegue produzir as coisas de acordo com o tamanho do lançamento, o encalhe é menor”, afirma Nando.

Em dezembro de 2022, a Banca do Minhoca marcou presença na CCXP, maior evento de cultura pop e nerd do Brasil (a feira marcou, inclusive, o lançamento do calendário sensual). Segundo os sócios, a participação foi um sucesso de vendas e de visibilidade para a marca. 

“Tínhamos coisas mais atrativas que qualquer outro stand”, diz Nando. Quem adquiria os livros, pelúcias e demais itens ainda levava tudo numa sacola com a inscrição “Gastei dinheiro com porcaria” – um dos lemas da empresa.

É PRA RIR? A AMBIÇÃO DO CLUBE DO MINHOCA É SER NADA MENOS DO QUE “A DISNEY DO HUMOR” NO BRASIL

Para Nando, o Clube do Minhoca evita recair na questão do humor ofensivo e hoje possui uma marca interessante inclusive para ações patrocinadas, seja em eventos especiais ou ocupando espaços na MinhocaZine. 

“Às vezes [o humor] pode sim ser ofensivo, mas não é só isso. A gente consegue fazer coisas muito legais para marcas, sem ofender o intelecto de ninguém nem se tornar uma coisa imbecil e vazia”

Daniel aponta que existe uma preocupação em manter um núcleo criativo diverso na revista e no próprio dia a dia do Clube, com grande presença feminina, negra e de comediantes LGBTQIA+ – tendência que deve ser transportada para a editora. “De acordo com o que precisa, a gente reúne essa turma e faz.”

A inspiração para o atual modelo do Clube não é nada modesta: apenas a Disney. Claro que nas devidas proporções, os sócios consideram que estão no caminho de montar um pequeno império comercial de humor no Brasil. 

Assim como a gigante estadunidense, que tem tradição no cinema, nas HQs, em parques de diversões e brinquedos, Patrick quer que todos os negócios em torno do Clube sejam vistos como uma coisa só.

“Nosso parque é o Clube do Minhoca, a Disney Studios é a nossa produtora de vídeo, a Não Existe Produções, e a Banca agora se junta a tudo isso assim como a divisão de quadrinhos deles”

A estratégia é continuar investindo na expansão do catálogo com produtos imaginativos e que tenham apelo com o público, aproveitando o recente boost de tecnologia na plataforma de vendas como forma de reforçar essa visão unificada do projeto. 

A POLÊMICA ENTRE UM COMEDIANTE E UM CANAL DO YOUTUBE É O COMBUSTÍVEL DO TÍTULO MAIS RECENTE DA BANCA DO MINHOCA

Recentemente, a empresa lançou o selo Adubo Mental, que aborda temas técnicos e narrativos. Além de Bora Produzir, do produtor-executivo e empresário de artistas de stand-up Guilherme Araújo, a editora está lançando pela coleção o livro História & Roteiro, de autoria do roteirista e professor Thiago Fogaça.

Além disso, o grupo ainda pretende retomar iniciativas hoje em pausa, como o podcast Minhoca Rádio Show, que em breve deve se unir a essa gama de projetos. E, em breve, expandir a comercialização física de livros e produtos personalizados para outros pontos espalhados pelo Brasil.

Patrick fala sobre o processo criativo do time da Banca do Minhoca – e o momento atual da editora:

“Temos ideias com base no que está acontecendo. Cada um de nós tem uma carreira, então a Banca estava sempre em segundo plano. Agora, com gente para liderar o dia a dia da empresa, ganhamos velocidade e conseguimos focar só em criar”

Hoje em pré-venda, o projeto mais recente da Banca é o livro Desmascarando a Metáfora, do comediante Tiago Santineli. A obra tira sarro de uma polêmica recente entre ele e o canal do YouTube Metaforando, que moveu um processo contra o humorista. 

A ideia não surgiu do próprio Tiago, e sim dos colaboradores da Banca, que depois levaram a iniciativa ao comediante para pensar na melhor forma de viabilizar o projeto. Desmascarando a Metáfora já esgotou seu primeiro lote, todo composto por volumes autografados.

“A gente se diferencia de outras editoras por oferecer aos autores algo que ninguém mais faz: o trampo pronto. Temos planos de estar nos dez maiores clubes de comédia do país, divulgando nossas revistas e publicações. Esse é o próximo passo.”

 

DRAFT CARD

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  • Projeto: Banca do Minhoca
  • O que faz: Editora que produz e publica livros de humor
  • Sócio(s): Patrick Maia, Nando Viana e Bruno Romano
  • Funcionários: 5 fixos (além de mais de 200 colaboradores ocasionais)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2021
  • Investimento inicial: Não teve (foi uma extensão dentro do Clube do Minhoca)
  • Faturamento: R$ 1,3 milhão (2022) - juntando a Banca, o Clube e a Não Existe Produções
  • Contato: [email protected]
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