Qual o sabor que você mais gosta? E qual o sabor que você mais consumiu nos últimos meses?
Pesquisas da indústria de alimentos e bebidas não costumam ser assim tão objetivas, já que comer e beber, para além da nutrição, envolve emoções e memórias afetivas.
A Planta pretende, justamente, trazer mais objetividade a essa conversa. A startup de inteligência de mercado acaba de lançar uma plataforma digital que utiliza inteligência artificial e social listening – a análise de mensagens-chave em redes sociais – para acompanhar postagens na internet e entender os sentimentos de diferentes grupos populacionais e como eles se traduzem nas escolhas de consumo envolvendo a alimentação.
A primeira cliente a usar a ferramenta (batizada de Top Insights) é a proprietária da Planta – uma empresa industrial, quase centenária, de um segmento em que a demanda por inovação é constante.
A Duas Rodas é líder na fabricação de matéria-prima para sorvetes e de aromas para indústria de alimentos e de bebidas, além de fabricar outros ingredientes para comidas industrializadas, como emulsificantes, estabilizantes, condimentos, extratos, desidratados e aditivos, que combinados formam texturas.
“A ideia da plataforma surgiu quando fizemos um projeto para uma gigante da alimentação em que uma das tecnologias de big data que usamos foi o social listening”, diz Paulo Mokarzel, Gestor da Planta e Diretor de Marketing da Duas Rodas. Ele continua:
“Percebemos que poderíamos beneficiar muito mais empresas, de todos os portes, desde quem está começando hoje até as gigantes, para que as empresas consigam utilizar informações que muitas vezes estão à disposição delas, mas de forma desorganizada”
Fundada há 97 anos por um casal de imigrantes alemães em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, a Duas Rodas hoje exporta para mais de 40 países.
Além da matriz, na cidade catarinense, mantém fábricas nos estados de São Paulo e Sergipe, no Chile, na Colômbia e no México, além de um centro de distribuição na Argentina e escritórios nos Estados Unidos e na China.
A Duas Rodas encomendou à Planta uma pesquisa sobre o sabor do ano de 2023. Os resultados são úteis para que a empresa ofereça amostras aos clientes de aplicações diversas do sabor, como biscoitos e recheio de sorvete, e assim consiga aumentar o volume das encomendas.
Ansiedade, estresse, insegurança e a busca dos brasileiros por um estilo de vida mais equilibrado resultaram no maracujá, como o sabor do ano de 2023.
A empresa oferece, além das amostras, estudos sobre o maracujá, para os clientes que estiverem adquirindo outros sabores também comprem o sabor do ano.
Além da leitura das tendências entre os consumidores, a pesquisa da Planta com a nova plataforma leva em conta características com as quais o cliente se vê associado (no caso da Duas Rodas são brasilidade, naturalidade e sabores marcantes).
Para descobrir o sabor do ano, além da plataforma Top Insights, a Planta utilizou o formato de pesquisa de perguntas e respostas que chama de Voz do Consumidor, a partir de uma comunidade online que construiu no Facebook ao longo dos últimos sete anos, desde que a startup foi fundada.
Outras pesquisas já foram realizadas para empresas de diferentes portes. Por exemplo, uma companhia que está investindo em alimentos à base de plantas (plant based) adquiriu uma pesquisa sobre os diferentes perfis de consumidores deste produto.
O relatório incluiu as características dos clientes flexitarianos, vegetarianos e veganos, quais fatores orientam suas escolhas, quais influenciadores eles seguem, quais veículos de imprensa acompanham, entre outros aspectos. Segundo Mokarzel:
“Assim a empresa pode escolher um nicho ou vários nichos para investir, pode também determinar como se comunicar da melhor forma com cada grupo consumidor, e entender como desenvolver o produto”
Além do executivo, que divide seu tempo entre as duas empresas, a equipe da Planta conta com cinco pessoas de dedicação exclusiva – coordenador de inovação, analista de marketing, analista de inovação, vendedor e estagiária, com especializações em inovação, marketing, design de experiências e engenharia de alimentos.
A leitura das pesquisas também conta com quatro mentores fixos e outros contratados conforme a necessidade, especializados em nutrição, nutrologia e netnografia – profissionais especialistas em um tipo de pesquisa para compreender diferentes culturas e comportamentos de grupos sociais específicos, utilizando dados de comunicações na internet, como fóruns, grupos de notícias, blogs, redes sociais, entre outros.
Os achados das pesquisas rendem conteúdo para nutrir a comunidade de seguidores da startup nas redes sociais – produto que a companhia chama de Planta Educação, disponibilizado gratuitamente também no site da Planta. É uma forma de retribuir às pessoas que costumam responder aos questionários gratuitamente (alguns levam uma hora ou até mais para a conclusão).
“Há casos de clientes ou indivíduos que usam o Planta Educação na empresa deles, às vezes implementando novidades”, diz Mokarzel. “Mas muitas vezes, inspirados nesses achados, contratam outros serviços da Planta.
Outro serviço da Planta está ainda mais conectado aos negócios da Duas Rodas: o catálise, que tem o objetivo de transformar os insights gerados nas pesquisas em protótipos, materializando as descobertas no tipo de produto que os clientes precisam.
A Planta pode chegar a sugestões que a Duas Rodas não tem hoje no portfólio, ou que não conseguiria desenvolver dentro do tempo que o cliente precisa. De qualquer forma, indica outras soluções e empresas – sejam elas startups de qualquer parte do planeta, bem como tecnologias, maquinário e ferramentas que podem ser utilizadas em diferentes fases do projeto.
“Com frequência é uma indústria buscando uma startup, ou uma startup buscando uma fábrica para produzir. Mas também tem empresa que está com a capacidade ociosa e outra que está com a capacidade esgotada… Ou pode ser um profissional liberal — por exemplo um nutricionista, — que quer criar um produto, mas não tem maquinário ou dinheiro, ou não quer investir numa fábrica própria”
Em conjunto, Planta e Duas Rodas também facilitam a adaptação dos clientes às mudanças de mercado. Novas normas sobre rotulagem nutricional entraram em vigor no Brasil em outubro de 2022, com o objetivo de auxiliar consumidores a realizar escolhas alimentares mais conscientes e facilitar a comparação de produtos.
Entre outras questões, a mais inovadora das novas regras é o símbolo de lupa na parte da frente do rótulo, padronizado para ser facilmente capturado pelo olhar, que passa a ser obrigatório para alimentos e bebidas com alto teor de açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio.
“Faz muitos anos que a Duas Rodas está oferecendo serviços para os nossos clientes de redução de açúcar, gorduras, sódios, calorias. Embora no Brasil, a caloria não tenha entrado nessa nova regulamentação, no México entra, por exemplo”, diz Mokarzel.
Em 2021, 80% dos lançamentos da Duas Rodas foram de zero açúcar adicionado, ou de reduzido açúcar adicionado. Anualmente, em média 23% do faturamento de 1,5 bilhão de reais da companhia vem de produtos recém-lançados.
O faturamento da Planta ainda é contabilizado junto com o da Duas Rodas, mas a companhia tem planos de fazer um spin-off quando a startup conseguir se manter com as próprias receitas.
Por enquanto, o resultado do investimento na startup é o fortalecimento da reputação da Duas Rodas como empresa inovadora.
“Hoje a Planta traz um valor intangível muito grande para a Duas Rodas, muito maior do que o investimento que fazemos nela. Nossa meta para 2024 é que ela seja autossustentável, para que aí consigamos começar a pensar no spinoff”
Para que ambas empresas continuem crescendo e reduzindo os riscos, é preciso que novas políticas ambientais, sociais e de governança entrem mais fortemente em seus planejamentos e práticas.
De acordo com a companhia, um relatório de sustentabilidade é realizado e divulgado internamente. Ainda não há compromissos públicos, por exemplo, com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para 2030, como a redução de emissões de gases de efeito estufa, consumo de energia e uso da água, ou melhoria de saúde e bem-estar da população, nem metas vinculadas à remuneração dos funcionários.
Mesmo assim, o executivo afirma que o ESG é um tema cada vez mais presente na companhia – e estratégico, bem como inovação e tecnologia.
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