Desde criança, meus pais e professores destacavam algumas das minhas habilidades, como a criatividade, a curiosidade e a inquietude, com um interesse peculiar pela ciência e ensino.
Constantemente meus pais eram surpreendidos com pedidos de presente “inusitados” de aniversário e Natal, como microscópios, telescópios e livros
Gostava de brincar de ser professor ou cientista, sem nem saber o que era fazer ciência nem mesmo entender que o que eu acreditava ser ciência, na verdade, era inovação — algo bem diferente, porém interligado.
Junto com essas habilidades, pude também desenvolver novas aptidões, como a comunicação e a escuta ativa. Comecei a me encantar por ouvir histórias. E a partir disso, comecei a construir a minha.
Foi através da união de todas essas características que descobri meu fascínio pelo ser humano e todas as histórias que ele poderia contar. Decidi, então, que seria médico.
Em 2013, iniciei a faculdade de Medicina e entendi, no meio de toda ciência e conhecimentos técnicos da área, que meu propósito era aliviar o sofrimento das pessoas, seja ele físico, mental ou emocional.
Comecei uma longa jornada para me tornar um bom médico, passando por todas as grandes áreas da profissão com muita atenção e dedicação, com um leve direcionamento do interesse para a área cirúrgica.
Mas foi no final da graduação que pude entender que minha admiração pela cirurgia, frente a outras áreas da medicina, vinha do desconhecido.
A curiosidade de saber o que me aguardava apenas no momento da cirurgia me encantava. Eram tantas possibilidades, variações dentro da própria anatomia, que acabei direcionando o final do curso ao conhecimento da cirurgia do trauma
Depois de uma passagem pelo SAMU, onde cada ocorrência era uma novidade, sem saber o que o paciente tinha e sua gravidade, necessitando de um raciocínio lógico e certeiro, confirmei meu ímpeto pela falta de rotina e a incerteza.
Em 2017, em busca de um diagnóstico para uma doença que meu melhor amigo enfrentava, fomos eu, ele e outros amigos de carro de Belo Horizonte até São Paulo, para o Congresso Internacional do Câncer.
Diante dessa outra incerteza que a vida colocou em meu caminho, sobre o futuro do nosso melhor amigo, iniciei uma reflexão sobre o presente.
Perguntas como “o que eu estou fazendo aqui?” e “qual é o meu propósito?” surgiram — todas sem respostas.
A rotina da Faculdade de Medicina, em período integral e repleta de avaliações e responsabilidades, tinha ofuscado o meu real objetivo na profissão: de aliviar o sofrimento
Foi então que a busca pelas respostas nos levou ao Movimento Empresa Júnior e, depois, a fundarmos, os quatro amigos juntos, o que hoje é a maior referência em Empresa Júnior de Medicina no mundo, a Medic Jr. Consultoria em Saúde.
Eu estava aliviando o sofrimento das pessoas e inspirando outros jovens inquietos, como eu, a buscarem os seus propósitos.
A resposta veio com o insight de que eu também era bom em outra habilidade: a de aproximar pessoas e gerar conexões.
Comecei a trabalhar essa nova habilidade. E foi lendo o livro Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie (presente do meu melhor amigo – que está vivo e muito bem, sem o câncer), que entendi que o networking era mais do que uma habilidade, era a evolução do meu propósito.
É difícil aceitar que um propósito possa mudar. Custei a notar que eu poderia ajudar as pessoas gerando conexões
A partir daí, comecei a perceber que eu sempre fui alguém que transitava de um grupo para o outro, que sempre apresentava as pessoas.
Dessas apresentações surgiram namoros, grandes amizades e negócios. Restava agora gerar a minha própria conexão.
Caminhando para o final da faculdade, guiado pelo poder que o networking proporcionava e, depois de ler a Teoria dos Seis Graus de Separação, que fala que estamos a seis pessoas de qualquer pessoa do mundo, decidi que eu queria estudar em Harvard.
Foi a partir da certeza de que eu poderia me conectar a qualquer pessoa no mundo que escrevi um e-mail a um professor da universidade.
Contei a minha história e mostrei a esse professor que eu conseguiria auxiliá-lo em seus projetos. E, pouco tempo depois, recebi a resposta com a aprovação para acompanhá-lo.
Tudo aconteceu perfeitamente, mas ainda faltava um ponto muito importante: o dinheiro para a viagem
Criei uma vaquinha e usei minha rede para arrecadar 16 mil reais. Mas ainda não era o suficiente para pagar a passagem e estadia em Boston…
Entendendo o poder das conexões, busquei outras formas de arrecadar dinheiro. Foi então que eu e alguns amigos participamos de três hackathons, criando projetos vencedores em todos eles.
O que eu não esperava era ganhar 10 mil reais com essas competições e que os demais finalistas, sensibilizados pela minha história, me doassem mais 10 mil
Foi com a ajuda de dezenas de pessoas que pude realizar uma das minhas maiores conquistas profissionais. Além da passagem por Harvard, fui apresentado ao universo da inovação, participando de diversas competições.
De volta ao Brasil, depois de vivenciar toda tecnologia de Harvard, em centros cirúrgicos com robôs e inteligência artificial, tomei uma grande decisão.
Decidi trocar a assistência médica pela gestão e inovação. Comecei uma longa jornada — repleta de preconceitos no meio médico, por não fazer nenhuma prova de residência
Passei a estudar gestão em saúde a partir de livros e experiências acompanhando colegas médicos donos de clínicas, diretores de hospitais e empresas.
Tentando aproveitar o final da faculdade, fui em busca de eventos de gestão e inovação. Apesar do desejo pela incerteza, que sempre guiou minha trajetória, era um caminho difícil, sem muitos exemplos na minha profissão.
A partir dessa busca, conheci o maior prêmio de empreendedorismo do mundo, o Hult Prize, que dava todos os anos 1 milhão de dólares a uma equipe vencedora, em uma cerimônia na ONU, em Nova York.
Fiquei encantado e quis participar. O que me encantava não era nem o prêmio, mas a possibilidade de me conectar a pessoas de mais de 120 países participantes. Só não esperava descobrir que o Brasil não competia…
Lembrando dos ensinamentos de Dale Carnegie em seu livro, enviei um e-mail para a organização do Hult Prize, para entender o motivo de não atuarem no nosso país.
Nessa troca de mensagens, me ofereci para organizar a etapa por aqui. Foi assim que me tornei diretor regional, organizando uma etapa local em minha universidade, e depois escalando o prêmio para todo o Brasil.
Este era o grande momento de fazer conexões. Pela primeira vez uni as três coisas que me guiavam como profissional: medicina, empreendedorismo e inovação.
Na final do Hult Prize, na ONU, pude conhecer o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e também o Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, além de fazer dezenas de amigos de vários países e culturas diferentes.
Em minha primeira ida a ONU, fazendo inovação, pude me reconectar com o Rafael Kenji médico. Passei a estruturar como poderia, com todo conhecimento técnico de seis anos de faculdade, aliviar o sofrimento das pessoas, gerando conexões e fazendo inovação
Capaz de correlacionar o desmatamento com doenças parasitárias, a poluição e doenças respiratórias, ou até mesmo geopolítica e economia comportamental, passei a ser reconhecido por associar discussões de diversas áreas com a saúde.
Surgiram fóruns de sustentabilidade, meio ambiente, liderança e inovação. Em minha sexta participação na ONU, estive presente em um fórum de Alta Política em junho de 2023, para discutir a Agenda 2030.
Atualmente, utilizo a inovação para impactar mais pessoas e conectar histórias e propósitos, como CEO da FHE Ventures
Lidero um fundo com mais de 70 outros médicos investidores, com 14 startups no portfólio. Juntos, esses negócios somam mais de 40 milhões de reais em valuation, com produtos e serviços que impactam milhões de vidas.
Continuo médico, porém agora utilizando a tecnologia e a inovação para gerar escala em minhas ações e, principalmente, ao meu propósito.
Rafael Kenji, 28, natural de BH, é médico, investidor-anjo e CEO da FHE Ventures, uma venture builder com tese em saúde e educação vinculada à FCJ Venture Builder. Speaker do TEDx FCMMG, diretor regional do Hult Prize, fundador da Academy Abroad, também é professor do MBA de Gestão em Saúde 4.0 do BBI of Chicago.
Bruna Ferreira trilhava uma carreira no setor financeiro, mas decidiu seguir sua inquietação e se juntou a uma amiga para administrar um salão de beleza. Numa nova guinada, ela se descobriu como consultora e hoje ajuda empresas a crescer.
Movida pelo lema “siga sua paixão”, Letícia Schwartz foi viver nos EUA e fez sucesso com livros sobre gastronomia. Até que se apaixonou pela educação e fundou uma consultoria que ajuda alunos a ingressar em faculdades americanas.
Criado no interior gaúcho, Alsones Balestrin fez do seu doutorado na França um trampolim para voos mais altos. Foi secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS e hoje capacita empreendedores por meio da edtech Startup Academy.