No passado recente, muita gente que adquiriu o hábito de separar o lixo aprendeu que embalagens sujas deveriam ser descartadas com os restos orgânicos quando não pudessem ser lavadas.
Mas já tem algum tempo que a tecnologia de reciclagem está evoluindo. Plástico, papel e alumínio — mesmo com restos de produtos — podem ser descartados no lixo reciclável.
E uma prova disso está na matéria-prima que compõe as novas bandejas do Bob’s.
“Somos um grande gerador de resíduos de uso único, e essa questão nos incomoda”, diz Marcelo Batista, diretor de Supply Chain. Fundada em 1971, no Rio de Janeiro, o Bob’s é hoje a terceira maior rede de fast food do país, com mais de 1 mil lojas, sendo 900 delas administradas por franqueados. Anualmente, a empresa fatura cerca de 1,3 bilhão de reais.
“Dentro da nossa estratégia de sustentabilidade, buscamos reduzir nossa pegada ambiental. Estudando as opções, descobrimos que há restrições sanitárias em utilizar produto reciclado em contato direto com alimentos – por isso entendemos que a bandeja era viável”
Essa é a novidade: em parceria com a Boomera Ambipar, o Bob’s desenvolveu uma bandeja fabricada com sachês usados. Sim, aqueles sachês de ketchup, maionese e mostarda que a gente descarta depois de lambuzar hambúrgueres e batatas fritas.
POR QUE OS SACHÊS DE KETCHUP E MOSTARDA SÃO TÃO DIFÍCEIS DE SE RECICLAR
Embalagens flexíveis laminadas são aquelas que misturam plástico e alumínio na composição.
A camada metálica permite conservar alimentos que sem essa tecnologia teriam de ser mantidos refrigerados. Além dos sachês de condimentos, esse material é usado para armazenar café, molho de tomate e salgadinhos.
O problema é que a mistura de plástico e alumínio torna essa categoria de embalagem uma das mais complexas de se reciclar.
E é aí que entra a Boomera. Parte da Ambipar, multinacional brasileira de soluções ambientais, a empresa encontrou uma solução economicamente viável para reciclar esse tipo de embalagem – engajando sua rede de 380 cooperativas de reciclagem (que reúnem mais de 8 mil catadores em 83 cidades pelo Brasil), o Bob’s e sua fornecedora de bandejas.
Até o momento, 7 mil bandejas foram fabricadas com o plástico reciclado, reaproveitando quase 3 toneladas de resíduos, e devem ser disponibilizadas nas lojas até o final do ano.
Matéria-prima para reciclagem não vai faltar. Cada bandeja precisa do plástico de cerca de 800 embalagens individuais. E só nas lojas do Bob’s são consumidos, por ano, cerca de 8 milhões de sachês.
A META É AMPLIAR O PORTFÓLIO PARA ALÉM DA BANDEJA
O desenvolvimento do produto foi pago pela Ambipar (que é livre para utilizar o método com outros clientes); mesmo assim, as bandejas recicladas custam um pouco mais caro para o Bob’s se comparadas às que usam o plástico virgem.
Guilherme Brammer, fundador da Boomera e head de economia circular na Ambipar Group, afirma:
“A ideia é ampliar o portfólio para, além da bandeja, utilizar o material em outros produtos e criar uma demanda de longo prazo para reciclar as embalagens flexíveis que estão em todo o mercado”
Fundada em 2012, a Boomera já é conhecida dos leitores do Draft. Apareceu aqui pela primeira vez em 2014, ainda com o nome antigo, WiseWaste.
Três anos mais tarde, revisitamos essa história para mostrar como a empresa tinha adquirido uma fábrica própria e adotado o novo nome. E, em 2021, a Boomera teve 50,01% do negócio adquirido pela Ambipar.
Mais de 90% dos plásticos produzidos atualmente no mundo são derivados de matérias-primas fósseis virgens, de acordo com a Fundação Ellen MacArthur, uma organização sem fins lucrativos com foco na economia circular.
E as embalagens flexíveis, quase sempre de uso único (como é o caso dos sachês de ketchup e mostarda), são a categoria de embalagens plásticas que mais cresce no mercado.
E isto é um problema porque a decomposição os torna microplásticos – partículas microscópicas de até 5mm que estão no ar que respiramos, na água que bebemos e, consequentemente, na nossa circulação sanguínea, nos nossos pulmões e até na placenta de mulheres grávidas.
De acordo com uma pesquisa da Universidade de Newcastle, na Austrália, ingerimos cerca de cinco gramas de plástico por semana, o equivalente a um cartão de crédito de plástico – 52 por ano. Sim, é isso mesmo que você acaba de ler.
A pesquisa tomou como base outros 52 estudos e revelou que nenhum lugar do mundo está ileso — até o gelo derretido no Ártico apresentou microplásticos. A quantidade da poluição varia conforme o local. Na água de torneira dos Estados Unidos, 94,4% das amostras continham fibras plásticas, e na Europa, o microplástico apareceu em 72,2% das amostras de água.
A maior parte destes microplásticos transportados pelo ar e pela água provém há décadas da fragmentação de embalagens usadas por poucos minutos e, logo em seguida, descartadas.
O desafio é tão sério que a Organização das Nações Unidas está organizando um tratado para acabar com a poluição plástica que, como o Acordo de Paris, deverá contar com o compromisso de países-membros da organização, bem como da iniciativa privada.
No primeiro momento, o estoque de 7 mil bandejas recicladas será usado para abastecer as novas lojas do Bob’s – e, nas unidades, já em funcionamento, repor as bandejas atuais (vermelhas, de plástico) conforme a necessidade.
Na média, a rede tem 25 bandejas por ponto de venda, e repõe de 7 500 a 8 500 bandejas por ano. Desta forma, a empresa estima que levará cerca de 3 anos para substituir todas as bandejas da rede pela versão reciclada.
As novas bandejas se diferenciam por preservar a cor original (um cinza nem sempre uniforme) da resina que resulta da mistura processada. O objetivo é facilitar sua reciclagem no futuro, explica Guilherme:
“Colocar cor no plástico dificulta a reciclagem. Um exemplo emblemático do Brasil é as marcas colocarem cor na garrafa de água mineral – rosa, azul – para tornar o produto ‘premium’, mas isso dificulta a reciclagem mecânica nas cooperativas – e o valor desse plástico [colorido] para reciclagem é muito menor que o transparente”
Alguns nós logísticos ainda representam desafios ao projeto. O primeiro é o fato de que a coleta seletiva é precária ou simplesmente não existe em muitas das cidades onde o Bob’s está presente. Apenas 32% dos municípios brasileiros têm coleta seletiva, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente.
A segunda dificuldade está na triagem dos sachês nas cooperativas. Até então os catadores não haviam recebido um pedido como este e não costumavam separar os sachês. Ou seja, esse tipo de resíduo, quando encontrado nas cooperativas, era encaminhado para aterros sanitários, onde na sua decomposição emite gases de efeito estufa, além de poluir o solo, a água e o ar.
“Estamos criando a demanda, e também tangibilizando para os consumidores a importância de fazer o descarte correto”, diz Guilherme.
Para além da estratégia de sustentabilidade da companhia, reciclar parte das embalagens que utiliza é uma obrigação prevista na Lei Nacional dos Resíduos Sólidos, de 2010. Cada empresa tem responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos que fabrica ou utiliza e precisa fazer a logística reversa.
No caso das embalagens, o acordo setorial definiu que as empresas precisam recolher 22% das embalagens que colocam no mercado – no Bob’s, os sachês de temperos são uma pequeníssima parcela disso.
A rede de restaurantes está trabalhando em outras frentes. Para além de determinar a reciclagem e o tratamento dos resíduos sólidos, como o plástico, a lei também tem como objetivo a não geração, a redução e a reutilização dos rejeitos. Segundo o diretor de Supply Chain do Bob’s:
“Estamos com uma série de projetos, como o de canudos e embalagens de papel, envolvendo unidades de pesquisa de outros parceiros para desenvolver outras fontes vegetais de plástico, que possam ser biodegradáveis”
Por enquanto, a empresa não adianta informações sobre essas outras iniciativas, mas Marcelo conta que um dos projetos visa melhorar a gestão de resíduos dos restaurantes. “Nosso objetivo é reduzir ao máximo a destinação de resíduos para aterros.”
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