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Ele criou o Videolog.tv, primeiro site de troca de vídeos do mundo: “Quando me dizem que não vou conseguir algo, aí é que eu vou atrás”

Marina Audi e Maisa Infante - 5 out 2023
Edson Mackeenzy, palestrante, consultor e especialista em investimento e inovação (foto: Torin Zanette).
Marina Audi e Maisa Infante - 5 out 2023
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A estrada da vida profissional percorrida por Edson Mackeenzy, 41, se iniciou em uma rua precária, de terra batida, que depois foi asfaltada e hoje lembra mais uma Autobahn, uma daquelas rodovias alemãs onde o asfalto é perfeito e não há limite de velocidade.

Palestrante, consultor e especialista em investimento e inovação, Edson é filho de pais cearenses que migraram para o Rio de Janeiro. Empreende desde os 12 anos, quando começou a fornecer copos de café aos trabalhadores da construção civil, na comunidade do Rio da Prata, em Bangu, Zona Oeste do Rio, onde nasceu e morou por vários anos. Nunca mais parou de vender.

Mack, como é conhecido no mercado, começou em 1996 como operador de som e sonoplasta na rádio 94 FM. Dois anos depois, viu a oportunidade de fundar a produtora Produzindo Som Arte e Tecnologia, para fornecer spots comerciais a clientes que queriam anunciar na rádio.

Até 2006, ele se manteve vinculado a cargos CLT – na rádio Jovem Pan RJ e 98FM, Sistema Globo. No meio do caminho, porém, sua produtora de áudio passou a oferecer serviços audiovisuais e cresceu. Foi dela que, em 2004, nasceu o portal Videolog.tv, um sistema pioneiro de troca de vídeos pela internet criado um ano antes do YouTube.

O curioso é que o Videolog.tv surgiu inicialmente para resolver uma demanda da produtora: ficava muito caro mandar, por motoboy, os trabalhos para aprovação em fitas Betacam (formato profissional usado então). Em pouco tempo, o que era para ser apenas um sistema online de aprovação de vídeos conquistou 30 mil clientes que usavam o portal para publicar e trocar criações próprias.

Em 2015, o Videolog.tv foi encerrado – um momento delicado na vida de Mack. A virada veio quando ele se aproximou do mercado de investimentos e se tornou um desenvolvedor de negócios. 

Hoje, Mack se define como um executivo nômade, com base em São Paulo, de onde constrói a Equity Fund junto com João Kepler (que deixou recentemente a Bossa Invest). A holding administra 30 negócios – entre eles a Non Stop Produções, Smart Money Education, a marca de roupas Buh e a Energy Industrial. São empresas em estágio de operação e tração que entenderam a necessidade de transformação digital para ganharem escala global.

Leia a seguir a história de Edson Mackeenzy, contada por ele mesmo.

 

Quem é o Mack?
É um cara que empreendeu e a empresa dele [Videolog] quebrou. Passei muito tempo absorvendo muito conhecimento; tive altos e baixos para resolver por conta do fechamento da minha empresa. 

Depois, entrei no mercado mais como um educador, que automaticamente foi migrando para a cadeira de consultor. E, por uma grande coincidência do destino, também caí na cadeira de venture capital, só que fazendo o estágio anterior ao seed Money, então, tenho minhas empresas como investidor anjo 

Além disso, trabalhei na Bossanova Investimentos por um tempo. Fiquei lá até a venda para o banco BMG. Daí abri minha própria consultoria, Mackwave Ventures, porque eu não queria mais trabalhar como empreendedor. 

Mas paguei com a língua porque um ano depois, em 2020, fui chamado para trabalhar nos EUA, na The Venture City. Passei três anos trabalhando no fundo e, agora, trabalho no projeto da Equity Fund, que compra negócios com o que a gente chama de Brand Equity [valor de marca].

Hoje, o meu papel é mostrar para as pessoas todo o conhecimento que eu tenho, meu track record, para que na hora de elas tomarem a decisão de onde vão pegar dinheiro, optem em pegar comigo e com o meu grupo. Porque hoje o dinheiro é commodity 

Você pode ter dinheiro de qualquer pessoa. Então, é melhor pegar dinheiro de quem? De quem tem só dinheiro ou de quem tem dinheiro e conhecimento?

Você se define como um comunicador nato que decidiu empreender. Quem está de fora, porém, parece enxergar você mais como um investidor-educador ou um venture builder educador. Como essas novas definições do Edson Mackeenzy se ajustam à sua história, a tudo o que você viveu antes?
Acho que dentro dessas palavras, a que tem mais peso pra mim é educador. Sempre fui uma pessoa muito apaixonada por aprender. Também me defino como um polímata [erudito que conhece muitas ciências]. 

Amo estudar; é uma coisa que me traz uma capacidade de transformação muito grande. Só que por ser de família pobre, por vir de comunidade, por ser filho de migrantes nordestinos, na minha época de jovem a educação era algo muito distante. 

Quando falei para meus pais que eu queria estudar sobre negócios, eles responderam: “Isso é coisa de filho de gente rica. Você tem de aprender alguma coisa que vai te dar dinheiro agora, senão você não vai sobreviver” 

A orientação que sempre tive, desde muito novo, é que isso não era pra mim. Ao mesmo tempo, sou uma pessoa que gosta de quebrar paradigmas. Quando alguém me diz que não vou conseguir algo, é aí que eu vou atrás. 

Quando quis começar a trabalhar com tecnologia não existia conhecimento nessa área. Fui buscar conhecimento tradicional, só que eu me deparava com situações que não faziam sentido. 

Ao longo do tempo, tive de desenvolver um método muito próprio e particular de absorver conhecimento. E coisas muito complexas sobre tecnologia, inovação e negócios se tornaram comuns e simples pra mim. 

À medida que caminho, tenho me relacionado com outras pessoas que também precisam desse conhecimento e olham pra isso como se fosse um bicho de sete cabeças. O meu trabalho é ser um “facilitador” – uma palavra não muito conhecida no Brasil 

Mas quando fiz parte da ONG UP Global – atual [aceleradora] Techstars –, essa foi a minha principal função – ser facilitador de jornadas empreendedoras. Passei a aprender muito e meu trabalho, basicamente, é facilitar a absorção de conhecimento de temas complexos, em especial relacionados à inovação e a negócios.

Que tipo de investidor é você, Mack? Investe dinheiro ou faz mentoria em troca de equity? Em quantas empresas você já investiu como anjo – e em quantas permanece ainda hoje no negócio?
Eu nem gosto de dizer que sou investidor, porque trabalho para fundos e para investidores. Eu sou um empreendedor que fala assim: aprenda a empreender. Como investidor anjo já tive cerca de sete negócios. A metade deles quebrou, obviamente, e alguns ainda continuam de pé. 

Tenho capacidade de olhar para múltiplos mercados, mas o mercado com que mais me identifico, mais me inspira e motiva é o de educação. Além da educação, gosto muito de turismo, porque é muito parte do meu dia a dia, de mediatechs e martechs, empresas ligadas à área de mídia e à área de marketing. 

Mas tive muito mais experiência investindo dinheiro de terceiros. Eu até evitei muitas vezes fazer investimento na pessoa física, porque passei muito tempo dedicado à Bossanova [rebatizada recentemente de Bossa Invest]. Quando entrei, eles tinham 20 empresas investidas. Saí quando já tinham quase 80. 

No The Venture City fiquei três anos. Quando entrei, eles já tinham uma [startup] no portfólio. Olhamos vários negócios, em especial na área de Web 3.0, fintechs e tudo que pudesse ser tecnologia. Eu aprendi muito trabalhando com eles. Saí de lá com 14 empresas investidas 

Muito mais do que investir capital próprio, meu principal diferencial é encontrar o investidor certo para projetos certos. Quando um empreendedor vem pedir uma orientação, me aproximo dele e o oriento a como crescer. Pode não fazer parte da minha tese, mas conheço alguém que vai se conectar com ele. 

Muitos investidores também vêm falar comigo; eu os ajudo a definir uma tese em cima da experiência deles, do que sabem fazer e de quanto dinheiro têm. Meu trabalho é ser esse facilitador, conectar empreendedores com investidores. 

Eventualmente, nessas operações, acabo ganhando um carry [ou “carried interest”], que é como a gente chama um comissionamento em cima da captação do investimento. E quase sempre opto por resgatar o meu carry em ações. 

Você é defensor do bootstrapping? Por quê?
Eu sou um empreendedor bootstrapping, cresci assim. Comecei sem absolutamente nada, do negativo e aportei o meu limite do cheque especial para criar meu negócio, a Videolog. E cheguei aos 25 anos com mais de 1 milhão de reais na pessoa física, teoricamente era um milionário. 

Passei por dois grandes momentos da minha vida: a ausência completa de recursos para começar um negócio; e, depois, relacionamento e contatos para investir. 

E posso lhe garantir que esses são os dois piores momentos para se captar dinheiro: quando você não tem absolutamente nada de dinheiro – ou quando [ao contrário] você tem muito dinheiro disponível 

Sim, esta é uma crítica profunda aos modelos atuais, porque hoje a gente tem muitos investidores despreparados.

Já tive inúmeras conversas assim:  

“Estou botando muito mais dinheiro do que a empresa vale hoje.” 

“Mas é esse o grande barato de você ser um investidor de risco. É esse o risco que você está aportando agora.” 

“Como posso me proteger?” 

“Pode dizer pro empreendedor que em vez de pegar 40% do negócio, vai pegar 10%. Só que você não pode ser diluído até a empresa dele valer 10 milhões de reais.” 

“Faz sentido!”

“E você consegue se preparar juridicamente pra poder fazer isso.” 

E como empreendedor você tem três funções principais: precisa vender; ou contratar quem venda no seu lugar; e inspirar quem está vendendo. 

A minha principal recomendação para todo empreendedor é: vá vender o seu negócio! Primeiro, você vai receber um monte de “nãos”, vai aprender o que tem de melhorar. Se conseguir vender, vai ter dificuldade para entregar – então vai aprender a executar 

Se ele conseguir entregar, vai querer entregar melhor, mais barato, simples e rápido para aumentar a margem de lucro… Então, a pessoa tem muito mais vantagens em tentar vender no bootstrapping do que sair captando dinheiro. Eu sou muito contraintuitivo.

Muitas vezes, nem sou tão aceito nas rodinhas, porque não me impressiono com muito dinheiro. Conheço muita gente com muito dinheiro. O que me impressiona é vontade, capacidade e atitude. Se um empreendedor tem isso, vejo que ele consegue chegar muito mais longe.

Você não é um grande defensor das startups saírem captando loucamente… Por outro lado, é o autor de um livro intitulado Pitch Perfeito. Como a escrita desse livro se encaixa nessa sua maneira de enxergar o mercado? E por que você decidiu “entregar o ouro” no livro?
Justamente por esse posicionamento de que falei há pouco. 

Por exemplo, uma coisa que eu coloco no livro é: por melhor que você seja no seu pitch, em um evento, por pior que tenha sido o dia de um investidor, ele falou com pelo menos cinco pessoas iguais a você. Então, qual é o seu diferencial? 

Outra coisa que digo é que o maior erro de quem está captando investimento é pedir dinheiro. Se você vai com a cabeça de pedir dinheiro, provavelmente vai tomar um não 

Agora, se você vai com a cabeça de propor um negócio, a primeira coisa que você precisa saber é: o que é bom pra você; o que é bom pro outro; e por que vocês dois juntos vão fazer um bom negócio. 

Meu trabalho com esse livro não é fazer com que você ganhe mais, tanto que o subtítulo é: “Um guia prático para captar investimento e vender o seu negócio”. Meu trabalho é mais te ajudar a vender o seu negócio do que captar investimento.

Você trouxe a técnica da narrativa – introdução, desenvolvimento, clímax e gatilho – para o universo do pitch empresarial. Como você chegou a esse insight de trazer o gancho de novela, como você diz, para contar uma história e vender num negócio?
Sempre fui apaixonado por comunicação. Minha mãe é nordestina, a gente era muito pobre, não tinha TV e ela ouvia muito rádio. 

Cresci ouvindo [o radialista carioca] Antônio Carlos. Na igreja em que eu fazia parte [São Judas Tadeu, em Bangu, Zona Oeste do Rio] criou-se um grupo de teatro. Estudar roteiro e narrativa foi parte da minha infância. 

Ao longo do tempo, fiz muitos cursos, inclusive palhaçaria e meditação. Fui muito fundo estudando esse mercado e como eu poderia aprender a me comunicar melhor. 

E, ao longo do tempo, já me questionei: qual é o superpoder do ser humano? Somos frágeis, morremos fácil, ficamos doentes à toa… A nossa grande habilidade é nos comunicarmos 

Desde que aprendi a me comunicar melhor, entendi que essa era a principal via de compartilhamento e multiplicação do meu conhecimento, que não adianta nada eu só absorver conhecimento e não saber ensinar. 

É uma habilidade transversal a todas as profissões, independentemente do seu cargo. Não importa se você é estagiário ou presidente de uma grande corporação: você precisa saber se comunicar. 

No passado, eu dizia que eu era responsável pelo que eu falava e não pelo que você entendia… A maturidade, os problemas, as dores me fizeram entender que [na verdade] sou muito mais responsável pelo que você entende do que pelo que eu digo 

Hoje, digo aos empreendedores que quanto mais eles se comunicam, se aprofundam, mais eles aprendem a se comunicar. Mesmo que eles recebam negativas, conseguirão absorver isso e tirar um grande aprendizado. Sempre falo que eu nunca perco. Ou estou ganhando, ou estou aprendendo.

Além de apaixonado pela comunicação, você se envolveu muito com o mercado de tecnologia e foi estudá-lo. Como você equilibra essas duas vertentes – a tecnologia e a comunicação?
Gosto de dividir os seres humanos em dois grandes grupos: pessoas lógicas e pessoas criativas. 

Quando você pergunta a uma pessoa lógica “como chego à padaria?”, ela responde: “segue por aqui por um quilômetro; vire à direita; ande 300 metros; e você chegará”. Quando você pergunta a mesma coisa a uma pessoa criativa, ela diz: “segue aqui toda vida; quando vir um muro amarelo, vire à direita e pergunta lá na frente”. 

As duas pessoas vão chegar no mesmo lugar, cada uma do seu jeito. O mais importante aqui é aprender sobre a diversidade. Hoje, fala-se muito de diversidade, só que as pessoas confundem diversidade com relações de gênero. Pra mim, diversidade é entender que tem gente que acorda cedo e tem gente que só funciona de tarde – e está tudo bem. 

Depois de tanto estudar, descobri que a minha cabeça é um caos. E o que me fez mudar foi quando li o livro Chaordic e entendi que a gente precisa colocar ordem no caos. A primeira coisa que eu aprendi foi organização e método dentro da minha criatividade. 

Ao organizar a minha bagunça, me descobri caórdico. Sou uma pessoa altamente criativa que usa a criatividade para estudar lógica. Consigo discutir e falar sobre lógica, porque encontrei uma lógica dentro da minha criatividade

A primeira coisa que eu falo pras pessoas lógicas que conheço é: estude sobre criatividade, faça um curso de criatividade, teatro, dança… toque um instrumento. 

Perceba que os maiores matemáticos e desenvolvedores são músicos. Por quê? A música também é caórdica, trabalha com cadência, ritmo, com quiálteras [divisão irregular de um ou mais tempos]. Então, as pessoas mais incríveis e lógicas que conheço têm alguma veia artística. 

Não acredito no equilíbrio que é “uma coisa ou outra”. Eu acredito na fluidez entre uma coisa e outra. Se eu seguisse o modelo Gabriela “eu nasci assim, eu cresci assim, vou morrer assim”, não seria absolutamente nada. Não teria saído de onde saí; não teria sentado nas mesas que sentei; e não iria para onde estou indo.

Quando seus pais chegaram ao Rio de Janeiro, eles montaram um comércio, um bar. Você tinha de trabalhar no bar, mas não gostava dali. Quando percebeu que ter um negócio podia ser legal?
Eu tenho uma má formação congênita, nasci com o pé torto. Quando criança, sofri muito bullying e aquilo me incomodava. Como eu usava botinha, não podia sair muito de casa. 

Meus pais, pra sobreviver, abriram um boteco, que era em um cômodo na nossa casa, e eu ficava o dia inteiro ali. Mas eu queria muito mudar a minha realidade, aquilo não fazia sentido pra mim. 

Minha rua não era asfaltada. Quando começaram a asfaltá-la, os operários me pediam para pegar café pra eles e me davam um dinheirinho. Passei a levar garrafa de café e eles me pagavam. Aprendi a vender com 12 anos de idade

Quando acabaram de asfaltar a minha rua, o dinheirinho parou de existir e minha mãe me ensinou que pra eu conseguir dinheiro, teria de trabalhar. Fui pra porta do supermercado carregar bolsa de senhoras – mas eu devolvia no final do trajeto! 

Depois, minha mãe fazia cocada e eu vendia na rua. Quando ela se cansou, ia numa lanchonete, comprava empadinha e vendia na feira como ambulante. Vender sempre foi muito parte do meu dia a dia.

Minha cabeça começou a mudar pra ter um negócio quando meu pai viajou para a cidade natal dele e eu, com 14 anos, virei “gerente do bar”. Comecei a incrementar – chamei um cara que vendia churrasquinho e botei na porta. Em um mês que meu pai ficou fora, tripliquei o faturamento do boteco 

Achei que ele ficaria com muito orgulho de mim, só que ele ficou muito chateado e quase me deu uma surra. Ele disse: “Você trouxe esse monte de gente ‘mauricinha’ pra cá e os meus amigos não estão aqui!”

Foi aí que entendi o que era um lifestyle business. Aquilo não era um negócio pra ele. Era uma forma que ele tinha de se relacionar com os amigos. Fiquei muito chateado e fugi pra igreja. 

Daí, me envolvi com o teatro… e do teatro virei radialista, porque o meu grupo foi pra rádio criar um programa de rádio-teatro. Só que eu nunca fui um bom ator, então virei o sonoplasta. E um dos meus amigos que trabalhava na rádio me chamou pra trabalhar junto com ele.

A gente criou uma produtora de áudio para vender spots comerciais para os próprios contatos [vendedores] da rádio. Depois, essa produtora de áudio virou uma produtora de vídeo – que, depois, virou Videolog.

Pouco tempo depois que você e o Ariel Alexandre criaram a produtora de vídeo, houve o estouro da bolha da internet. Mais adiante, vocês queriam resolver o problema de logística de entrega de trabalhos através da internet, que estava totalmente desacreditada… Seguir pelo caminho de criar um produto para e através da internet, o Videolog.tv, teve um desafio a mais além de “apenas” achar a tecnologia certa de upload para a troca dos vídeos? O quanto aquele momento de mercado também foi um fator a ser superado?
Hoje, posso dizer que sou um designer de negócios, ou como se fala nos EUA, um BizDev, business development. Essa é a minha principal atribuição. O Ariel é um cara altamente criativo que continua a ser um dos meus melhores amigos há mais de vinte anos. 

Eu também sou muito criativo e a gente não chegaria a lugar nenhum assim. Então, abdiquei da minha criatividade por muitos anos pra me tornar um cara de lógica. E aí o meu trabalho era discutir com ele. “Cara, a gente precisa ter um diferencial, precisa ganhar mais e gastar menos”

Comecei a perceber que 30% do nosso custo era de motoboy. Como o Ariel já dominava o FTP [protocolo de transferência de arquivos entre computadores], ele sugeriu colocar os vídeos para aprovação dos clientes em uma pasta virtual e mandar um link por e-mail. 

Só que o nosso cliente não sabia executar aquele link, porque tinha que abrir no Windows Media Player pra poder tocar o vídeo. 

Aí o Ariel pensou em mandar a foto de um botão de player no e-mail e quando a pessoa clicasse nele, rodaria um script que aplicaria um executável para abrir automaticamente o Windows Mídia Player, como se fosse um robô. 

Criamos um sisteminha pra fazer isso e, sem saber, criamos o primeiro portal de troca de vídeos do mundo

Dali pra frente foi, literalmente, muito estudo. Na época, estava em ascensão o MP3, que deixa o arquivo mais compacto. E o Ariel pensou em fizer isso com o vídeo. Contratamos um desenvolvedor pra fazer, mas não ficou tão bom. 

Aí conhecemos uma empresa nos EUA chamada On2, que fazia exatamente esse protocolo que a gente queria. Eles estavam começando e deu muito certo. Para encurtar a história, dois anos depois a On2 foi comprada pelo YouTube. 

Quando começamos com o Videolog, tivemos 30 mil usuários de uma hora pra outra e um executivo da Embratel procurou a gente. Eles estavam lançando um portal chamado Click 21 e fizemos uma parceria para entender como a gente começava a mexer com a internet

Eles botaram servidor, nos ajudaram a entender como poderíamos desenvolver aquilo ali da melhor forma possível. Depois, o portal Oi Internet, que na época estava crescendo muito, fez uma proposta de comprar o nosso inventário de mídia e mais um dinheirinho pra gente poder sobreviver. E aí fomos pra Oi internet. Esse contrato durou três anos e só saímos de lá pra ir pro UOL.

Quando já estavam operando o Videolog.tv, a certa altura, em 2007, vocês se aproximaram do Myspace.com – rede social que já foi a mais popular do mundo e permitia também troca de músicas e vídeos. Como foi isso?
O UOL permitia que nos conectássemos com muitas empresas. Existia um projeto de ad network [rede de anúncios] da Microsoft, da qual nos aproximamos para poder receber publicidade de mercados internacionais, porque não existia mercado interno. 

Foi assim que conseguimos alguns bons patrocinadores lá de fora. Eram basicamente parcerias de troca de mídia. Ficamos lá por quatro anos e foi durante esse período que a gente conseguiu se aproximar de grandes portais 

A aproximação com MySpace foi através de agências internacionais. Quando o Antonio Guerreiro foi criar o R7 em 2009, nos chamou para sermos parceiros deles. Não aceitamos no início, mas depois fomos e ficamos quase quatro anos no R7, desenvolvendo toda a plataforma de vídeo deles.

Quando nosso contrato acabou, acabei fazendo uma parceria com a Batanga Media, empresa que foi dona do Grupo Bolsa de Mulher, a plataforma fundada por Andiara Peterlle.

A respeito da quebra do Videolog.tv, já ouvi gente argumentando que o mercado brasileiro não tinha, na época, volume de dinheiro suficiente para investir num negócio B2C com essa proposta. Você, por outro lado, já assumiu publicamente a responsabilidade pelo fim da empresa… Olhando para trás, você acha que de fato a falta de investimento por ser um negócio B2C foi crucial? E como você superou a dor de ser o fundador de uma empresa que rodou durante dez anos e teve que ser encerrada?
Hoje, depois de muita terapia e muita atividade física, estou bem melhor. Mas fiquei deprimido, cheguei a pesar 140 quilos e ter mais de meio milhão de reais em dívida na pessoa física. Ainda hoje eu pago uma coisa ou outra que aparece de vez em quando. 

Primeiro de tudo, minha cabeça mudou depois que trabalhei com os americanos. Passei muito tempo envergonhado, porque aqui no Brasil quando você quebra uma empresa, por conta da nossa legislação, o fundador é responsabilizado na pessoa física. Enquanto nos EUA, se você abre um negócio e ele não dá certo – fim, acabou. 

A segunda coisa é que no Brasil a gente tem uma síndrome de cucaracha [“barata” em espanhol]. A pergunta que mais respondi foi: “Por que a gente usa vocês e não o YouTube? O Videolog.tv é o YouTube brasileiro?” Eu respondia: “Não. O YouTube é o Videolog americano!” Isso me irrita muito… a gente não valoriza as nossas coisas. 

Eu me lembro de um dia em que estava no Uber conversando com o motorista e ele disse que adorava startup: “Você sabia que o primeiro portal de vídeos do mundo foi brasileiro? Esses caras devem estar muito ricos!” Eu estava no meio da minha depressão e respondi: “Ou então se mataram, né, porque o YouTube é muito maior do que os caras” 

Foi muito difícil pra mim perder o meu sobrenome… porque eu não era o Edson Mackeenzy. Eu era o Mack do Videolog. Fiquei muito tempo sendo Mack de algum lugar. Pra você ser respeitado no Brasil, ou pra dar uma palestra, precisa: ser muito bom tecnicamente; se comunicar muito bem; e representar uma marca. 

Se você não representa uma marca, precisa ter esses outros dois pontos muito aguçados. E eu cansei de representar uma única marca. Eu não quero ser e não sou uma marca. Eu sou muito maior do que isso. 

Foi muito difícil voltar a caminhar, recomeçar. Comecei a superar a depressão escrevendo. Tenho outros dois livros como coautor, antes do Pitch Perfeito, e vai sair um em breve pela editora Gente – uma parceria minha com João Kepler, o cara com quem já trabalhei e em quem mais me inspiro.

Logo depois de encerrar o Videolog você foi para o iMasters. Começou a descobrir que você era um business dev ali dentro? Ou depois, na The Venture City? Quando isso ficou claro pra você? Foi um caminho lógico ou um caminho mais criativo, cheio de curvas?
Quando minha empresa quebrou em janeiro de 2015 eu precisava procurar emprego desesperadamente. Eu tinha aquela coisa de carioca de não querer mudar para São Paulo. Eu já era conselheiro do Tiago Baeta, ele já tinha o iMasters e estava começando o e-commerce Brasil [projeto de fomento ao comércio eletrônico]. 

Eu o ajudava muito no desenvolvimento desse novo negócio. Ele me disse que se nada desse certo era pra eu ir trabalhar com ele. E foi lá que eu comecei a entender essa minha função de organizar – criar estrutura, departamentos. Comecei a aplicar as coisas que eu sabia das startups lá 

Só saí de lá porque recebi um convite de um grande amigo para trabalhar na Code Fellows, que era uma empresa de educação e de tecnologia. Nesse período também aprendi mais sobre tecnologia e minha função era Desenvolvedor de Negócio para Expansão Latino-americana. 

Eu perguntei pro meu chefe o que significava BizDev. Ele respondeu: “É o que você faz. Tudo que a gente precisar, pede pra você e você desenvolve o negócio pra gente”. Desde então, assumi essa cadeira, essa figura que, no Brasil, é pouco popularizada.

É fato que existe um gap enorme de conhecimento sobre tecnologia entre as pessoas que são experts e aquelas que não são. E você tem uma frase ótima: “As empresas deveriam parar de contratar as pessoas pelo que elas sabem e passar a contratar as pessoas pela capacidade de aprender”. Essa frase me leva a crer que você é otimista em relação à superação desse gap. É isso mesmo? Ou você na verdade acha que ainda temos um árduo caminho?
Eu sou um apaixonado utópico em relação à educação. E a educação é uma indústria, é um mercado. As pessoas, cada vez mais, usam as fragilidades do outro para ganhar dinheiro. Pode ser de maneira honesta, pode até não ser ilegal, mas é imoral. 

Eu só consegui mudar a minha realidade com a educação. Então, acredito que a educação é um trabalho que precisa ser recompensado – até porque eu vivo disso, sou pago pra educar. Mas a qualidade do que eu falo gratuitamente na internet não é nada diferente da qualidade do que eu falo no privado, um a um. 

Acredito que quanto mais as pessoas pararem de olhar a educação como mercado e passarem a vê-la como um ativo, a gente vai mudar a realidade de muitas pessoas. Ninguém sabe absolutamente nada nesse mercado de inovação. Vamos admitir isso e aprender juntos? Aí entraremos num novo ambiente 

Se você pode sonhar, você pode fazer qualquer coisa. Costumo terminar minhas palestras com a frase: “Não importa quanto conhecimento você tenha, quantos livros você tem na sua prateleira, o que importa é o quanto de conhecimento você consegue assimilar, praticar e compartilhar no final do dia”. 

 

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