A 40 quilômetros de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, o casal de agrônomos Laura Vicentini e Rodrigo Spina desenvolveu uma cachaça que ganhou o mercado internacional.
A SôZé, que homenageia o avô de Rodrigo, carrega o título de “Sustainable Cachaça” por estar inserida em uma cadeia de produção sustentável e ser feita a partir do resíduo gerado pela Spinagro, produtora de mudas pré-brotadas de cana-de-açúcar e primeiro empreendimento do casal. Laura conta:
“Quando retiramos as gemas dos toletes para fazer a muda geramos um resíduo inicial que são os toletes grandes. A gente usava para alimentar o gado, o que é um destino pouco nobre. Aí o Rodrigo começou a me desafiar a processar esses toletes para fazer cachaça”
Especialista em cana-de-açúcar, mas não em cachaça, Laura foi atrás de pesquisas, universidades e pessoas ligadas à indústria para entender sobre a produção da bebida e descobriu um setor que vem se profissionalizando cada vez mais.
“No Brasil temos curso de sommelier de cachaça, algo que eu desconhecia até entrar nesse mercado”, diz Laura. “Temos também uma seleção de degustadores e especialistas em produção de cachaça, como Valdirene Neves [VN Consultoria], Jairo Martins [O Cachacista] e Aline Bortoletto [InovBev], que tem profissionalizado muito o mercado de produção e educado o consumidor da bebida, visando enobrecer, como merece nossa cachaça, sua degustação.”
Entre equipamentos, treinamentos, estrutura e campo, houve um investimento de 3 milhões de reais na nova empreitada. Ela também trouxe para o time a mestre alambiqueira Roberta Fernandes para ajudar no controle de qualidade do processo produtivo.
Em 2021 foi produzida a cachaça teste e enviada para análise em laboratório, o que ajudou a definir o futuro internacional do produto.
“Mandamos essa cachaça para análise e recebemos o feedback de que era ótima para exportação porque tinha praticamente zero contaminantes, como o carbamato de etila”
A tolerância a essa substância, que tem potencial carcinogênico e resulta naturalmente da fermentação de alguns produtos e da destilação de bebidas, é de 210 ug/L (microgramas por litro) na legislação brasileira. A SôZé teve um resultado de 9 ug/L.
Esse resultado aliado ao fato de ter sido feita com o resíduo da Spinagro e carregar os selos Bonsucro (plataforma global de sustentabilidade para a cana-de-açúcar), IBD (Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural), 2030Today (certificação de alinhamento da operação aos ODS) e CAS+ (contabilidade ambiental do solo positiva) fez a SôZé ganhar o mercado internacional.
“Lá fora eles compram pela sustentabilidade e os selos agregam muito. Aqui no Brasil ainda estamos montando esse mercado”
As 80 mil garrafas produzidas anualmente são vendidas para Estados Unidos, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal.
Agora, a cachaça produzida com a safra de 2023 está descansando em toneis de inox para ser envasada e exportada em meados de 2024.
A história da SôZé está totalmente integrada à história da Spinagro, fundada em 2017.
Apesar de ter sido criada em uma fazenda produtora de cana-de-açúcar em Serra Azul (a 45 quilômetros de Ribeirão Preto) e viver em uma região onde a cana é a cultura predominante, Laura não sonhava em trabalhar nessa área. Pensava, na verdade, em atuar com café.
“Quando entrei na faculdade, eu não gostava de cana, mas fiquei apaixonada porque é uma cultura que dá muita oportunidade. Hoje temos bioplástico, energia verde, todo esse sequestro de carbono, além da oportunidade de empregabilidade, mesmo que a gente tenha a mecanização galgando de maneira bem acelerada”
Ela não se apaixonou apenas pela cana na faculdade. Se apaixonou também por Rodrigo, que é natural de Batatais, onde a família tem propriedade rural.
Enquanto ela seguiu trabalhando em usinas e multinacionais como a Monsanto (onde atuou na divisão CanaVialis, que fazia o melhoramento genético da cana-de-açúcar e foi encerrada em 2015), ele foi realizar o sonho de ser piloto de helicóptero. Até que resolveram tirar do papel o sonho antigo de empreender.
“Quando começamos a pensar em um negócio nosso, a gente tinha duas opções: a aviação ou a cana”, diz Laura. “Como a aviação passou por um declínio por conta do petrolão [escândalo de corrupção na Petrobras que afetou o preço dos combustíveis] e a cana estava em ascensão, escolhemos a cana. E como a CanaVialis tinha dado esse passo atrás, que era sair do mercado de oferecer novas variedades, limpar as mudas e fazer uma limpeza genética dos materiais, tinha um nicho de mercado aberto.”
Eles escolheram trabalhar com mudas pré-brotadas, forma de multiplicação da cana-de-açúcar que faz a germinação a partir das gemas retiradas dos toletes (a CanaVialis, por exemplo, fazia a multiplicação por meio da clonagem).
A brotação das gemas é feita em câmaras de brotação e leva entre sete e dez dias. Depois, elas crescem em estufas fechadas por cerca de 28 dias e, em seguida, vão para a rustificação em campo aberto. O processo todo leva cerca de 60 dias.
Método criado no IAC (Instituto Agronômico de Campinas) de Ribeirão Preto, as mudas pré-brotadas oferecem mais produtividade e um custo menor de plantio, além de serem menos suscetíveis a pragas.
Na forma convencional (quando a cana é cortada em pedaços de 40 cm e enterrada) 1 hectare de muda rende de 3 a 4 hectares de cana. Já com as mudas pré-brotadas, 1 hectare de muda pode render até 10 hectares de planta.
Hoje, a Spinagro produz cerca de 5 milhões de mudas por ano de 37 variedades diferentes que atendem aos mais diversos usos, desde alimentação de ruminantes até a industrialização.
O olhar de sustentabilidade da Spinagro, que foi levado para a produção da cachaça SôZé, começou logo no início do negócio. A área escolhida para a lavoura de cana fica na propriedade da família de Rodrigo, em Batatais, arrendada para produção de cana convencional.
Porém, entre as terras disponíveis estava uma área de 12 hectares que não era bem aproveitada pela empresa que arrendou por ser de difícil acesso, cercada por mata e dificultar a mecanização.
“A gente pegou uma área que a usina abominava, tinha cobra e mato, fica no meio de mata fechada, o que dificulta tratar, usar herbicida, entrar pra colher. Pra gente era o paraíso na terra, primeiro porque eu via com muito bons olhos o manejo integrado de pragas, que é a minha especialização, e gostaria de usar cada vez menos produtos”
Se aquela mata em volta era um obstáculo à presença da usina, aos olhos de Laura trazia a vantagem de servir como uma barreira de proteção natural. “Tiramos essa área do contrato de arrendamento e instalamos a empresa lá. E aí a sustentabilidade bateu na porta”.
Hoje, a Spinagro planta 15 hectares. Desde 2018 todo o manejo é orgânico, embora as certificações só tenham começado a sair há dois anos (e são as mesmas certificações da cachaça).
Todos os insumos usados para cuidar da lavoura são biológicos, a fazenda tem captação de água da chuva e a energia é gerada com placas fotovoltaica.
Além disso, os rejeitos são compostados, unificados com a cama de frango, resíduo de um aviário localizado dentro da mesma propriedade, e vira um adubo usado no canavial para dar origem a novas mudas que vão recomeçar o ciclo.
“Vai fazer três anos que eu não compro 1 ponto de potássio. Quando veio a guerra da Ucrânia, que é o maior provedor de potássio do mundo, o mercado aumentou o preço e eu não precisei colocar a mão no bolso pra comprar. Isso também é sustentabilidade financeira”
Todo esse processo honra o nome da cachaça, SôZé, uma homenagem a José Augusto Tomazella, avô de Rodrigo. Foi ele, seu Zé, que adquiriu a fazenda onde as mudas e a cachaça são produzidas.
“O senhor Zé Tomazella era um amante da natureza, preservava as minas e nascentes da fazenda com afinco, numa época em que nem se falava em sustentabilidade”, diz Laura. “O produtor rural, que depende do campo, sabe naturalmente que a preservação ambiental, a manutenção da fauna e flora nativas de suas áreas e o equilíbrio entre natureza e lavoura são o segredo de qualquer negócio. E o senhor José sabia disso há mais de meio século.”
Família proprietária da Fazenda das Palmas, onde fica a sede da produção da Pindorama, investiu R$ 3 milhões na revitalização de um alambique histórico e no plantio da cana-de-açúcar em sistema agroflorestal.
Linha Reconforto utiliza apenas seis componentes em sua fabricação, é feita com cores neutras, que requerem um processo mais simples de tingimento e evitam a poluição da água, além de reduzir sobras de couro e tecido.
A rapidez é crucial para conter o fogo e salvar florestas e plantações. Entenda como funciona o sistema de detecção automática de focos de incêndio da Sintecsys, que monitora áreas produtivas e de mata nativa, ajudando empresas a evitar prejuízos e a reduzir emissões de CO2.