Todo produto pode sempre ser mais sustentável. Até mesmo o grande case brasileiro, a latinha de alumínio, que hoje carrega cerca de 80% de conteúdo reciclado. É com essa mentalidade que a Novelis, fabricante global de laminados feitos com o metal, dá a largada em um projeto de pesquisa e desenvolvimento para aumentar ainda mais esse número. A ideia é concentrar os esforços na tampa, onde, por incrível que pareça, a matéria-prima reaproveitada não soma nem 30%.
A empresa acaba de inaugurar um hub tecnológico, chamado Centro de Soluções ao Cliente (CSC), em São José dos Campos, voltado para a inovação em soluções de sustentabilidade do alumínio. Foram R$ 20 milhões investidos num espaço de 3 mil m2, cujo objetivo é buscar, por meio de tecnologia de altíssima geração, novas formas de produção de um alumínio cada vez mais “verde” para latinhas de bebida.
Os laboratórios equipados com tecnologias de ponta, sala de treinamento e estações de trabalho encaram neste momento o desafio da tampa da latinha. A parte superior da lata, incluindo o anel de abertura, é produzida com um tipo de liga de alumínio diferente do resto, que garante sua resistência. Para isso, demanda alumínio primário, cujo processo de produção libera mais gás carbônico no meio ambiente.
“Como a indústria sempre focou no corpo da embalagem, que representa sua maior parte, historicamente a composição da tampa se manteve inalterada, mas agora é hora de repensarmos isso”, afirma Augusto Nogueira, vice-presidente comercial da Novelis.
“Dá para ser ainda mais sustentável e nossa meta é chegar a 100%.”
“A sociedade enfrenta grandes desafios ambientais, e as empresas precisam pensar e desenvolver novas formas de criar seus produtos. Ao aumentar ainda mais o conteúdo reciclado das latinhas, tanto a Novelis quanto nossos clientes, os produtores de bebidas, dão mais um passo para reduzir sua pegada de carbono.”
PROXIMIDADE COM OS CLIENTES
Além de promover ideias sustentáveis, o recém-inaugurado Centro de Soluções ao Cliente (CSC), pretende também estreitar ainda mais os laços com os clientes. “Nossa relação já é estimulada com treinamentos sobre uso eficiente do alumínio e projetos de desenvolvimento específicos realizados dentro da fábrica, mas sentimos que era importante tornar esse processo independente e mais exclusivo para os clientes”, diz Nogueira.
Formado por um conjunto de quatro laboratórios de inovação, o CSC conta com a experiência de um time de nove profissionais especialistas em desenho e análise de lata, técnicos de laboratório, engenheiros com formação em alumínio, todos com longo tempo de casa.
“Criar processos e produtos realmente sustentáveis como uma latinha com maior conteúdo reciclado demanda conhecimento técnico, pesquisa e muitos testes. Para chegar a uma receita de chapa de alumínio que funcione, é preciso desenvolver uma nova liga, trabalhar na produção, avaliar, voltar ao início, fazer projeções e simulações. Os laboratórios do CSC serão o espaço modelo para tudo isso, com equipamentos de ponta que agilizam o desenvolvimento”.
“E por que incluir o cliente nessa fase? Porque é ele que produz a latinha e precisa entender a composição funcional da matéria-prima – esse é um trabalho conjunto.”
O prédio que abriga o CSC já tem também espaço reservado para a segunda fase de implementação, que incluirá uma linha de produção piloto capaz de ir além e fabricar a latinha por completo em menor escala. Dessa forma, em vez de desenvolver a chapa metálica e entregar para o cliente testá-la em sua linha de produção normal, ocupando espaço e tempo de fábrica, a Novelis conseguirá completar todo o ciclo ali dentro.
FONTE DE IDEIAS
Além do desenvolvimento da latinha com maior conteúdo reciclado, que deve levar cerca de dois anos, o CSC já começou a trabalhar na abertura de novas frentes e oportunidades em paralelo, como testes de vernizes, que também podem ser mais sustentáveis, apesar de o Brasil ser um dos poucos países que já usa base de água.
Outros projetos envolvem a atualização de materiais e processos para reduzir peso e, consequentemente, o consumo de alumínio e outros recursos e simulações para enlatar outras bebidas além de cerveja e refrigerante, como sucos, energéticos, vinho e água. “Cada líquido tem demandas específicas de compatibilização e essas simulações até então só podiam ser feitas fora do país”, conta Nogueira.
“Quando se tenta reciclar matérias-primas atualmente, a única que se paga é a lata de alumínio, que já conta com uma estrutura formada, uma cadeia que funciona, enfim todas as condições de viabilidade econômica necessárias. Em todos os outros casos, o consumidor ou o fabricante precisam entrar com dinheiro. Mas estamos aqui para transformar isso ainda mais. Agora as ideias são infinitas.”
O bagaço de malte e a borra do café são mais valiosos do que você imagina. A cientista de alimentos Natasha Pádua fundou com o marido a Upcycling Solutions, consultoria dedicada a descobrir como transformar resíduos em novos produtos.
O descarte incorreto de redes de pesca ameaça a vida marinha. Cofundada pela oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo, a Marulho mobiliza redeiras e costureiras caiçaras para converter esse resíduo de nylon em sacolas, fruteiras e outros produtos.
Aos 16, Fernanda Stefani ficou impactada por uma reportagem sobre biopirataria. Hoje, ela lidera a 100% Amazonia, que transforma ativos produzidos por comunidades tradicionais em matéria-prima para as indústrias alimentícia e de cosméticos.