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Como metas ambiciosas de redução nas emissões de carbono levaram a Klabin a um seleto grupo global de empresas sustentáveis

Renato Essenfelder - 1 nov 2021
Júlio Nogueira, gerente corporativo de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Klabin: "Não é só uma onda".
Renato Essenfelder - 1 nov 2021
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“O ano de 2021 será crucial na luta contra a mudança climática.” As palavras, do secretário-geral da ONU, António Guterres, às vésperas da nova Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), ilustram a importância do evento que neste ano acontece em Glasgow, na Escócia.

“O mundo segue distante do objetivo do Acordo de Paris”, diz ele, sobre o compromisso de manter o aquecimento global a 1,5 grau em relação à temperatura da era pré-industrial. “Precisamos de mais ambição: mais ambição na mitigação, ambição na adaptação e ambição no financiamento”, conclama.

Estabelecer metas e compromissos concretos e mais ousados de descarbonização da economia mundial é o principal desafio da cúpula, que acontece em meio à pandemia do novo coronavírus e às preocupantes notícias de eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e ondas severas de frio e de calor.

A Klabin, maior produtora de papel e celulose do Brasil, teve reconhecidos seus esforços no combate ao aquecimento global: ela foi a única empresa brasileira convidada para integrar o seleto fórum COP26 Business Leaders, que reúne dez executivos da iniciativa privada em todo mundo.

E o recado é claro: não só não há mais tempo a perder como não bastam mais ações isoladas. Afinal, “uma andorinha só não faz verão”, como enfatiza Júlio Nogueira, gerente de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Klabin, que, com a participação na COP26, fica responsável por difundir para América Latina as diretrizes do evento.

“Está na nossa estratégia há muito tempo o esforço de buscar a descarbonização.”

IMPACTO NETZERO E A CORRIDA CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL

Urgência e união são justamente dois importantes pilares da mais recente iniciativa da empresa para promover o enfrentamento concreto às mudanças climáticas. Batizada de Impacto NetZero, a iniciativa conclama pessoas físicas e jurídicas de todos os portes a estabelecerem metas efetivas de redução de emissões de gases-estufa.

O Impacto NetZero é herdeiro de outras duas iniciativas que apontavam para a mesma direção. O embrião é o Race to Zero, um megaesforço global lançado em 2019 por dois empreendedores sociais que gozam do status de “High Level Climate Champions” (uma distinção criada durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas sediada em Paris, em 2015): o britânico Nigel Topping e o chileno Gonzalo Muñoz.

O Race to Zero, ou “corrida para o zero”, é uma campanha global criada para estimular empresas, cidades, regiões, investidores e instituições variadas a tomar medidas rigorosas e imediatas para cortar pela metade as emissões de carbono até 2030 e para atingir o zero, o almejado valor de zero emissões, até 2050. Hoje, o Race está em 120 países e mobiliza cerca de 4.500 empresas, além de centenas de investidores, escolas, universidades e hospitais, entre outros.

A Klabin aderiu ao Race to Zero em fevereiro de 2021. Entusiasmada com a proposta, decidiu lançar, apenas um mês mais tarde, a versão nacional do projeto: Race to Zero Brasil. O projeto chamou a atenção no mercado e em junho a iniciativa ganhou o apoio da Rede Brasil do Pacto Global, ligada à ONU, e foi rebatizada para Impacto NetZero.

REDUÇÃO VERSUS COMPENSAÇÃO: O DEBATE GANHA FORÇA

O conceito de “net zero” é simples e ambicioso: perseguir um resultado líquido igual a zero no balanço de emissões de carbono de uma empresa ou indivíduo qualquer – afinal, o Impacto NetZero também está aberto à adesão de pessoas físicas.

A tarefa é hercúlea, mas a própria Klabin é exemplo de que é possível. Entre 2003 e 2020, conta Júlio Nogueira, a empresa reduziu em 64% suas emissões especificas de carbono. Hoje, a matriz energética da companhia é composta por 90% de fontes renováveis, como biomassa (casca, galhos e ponteiras de árvores) e o chamado “licor preto”, uma substância gerada durante o cozimento da madeira para a produção da celulose e que posteriormente é queimada para gerar energia. Nada é desperdiçado.

Nogueira lembra que o mais importante hoje no combate às mudanças climáticas é a redução das emissões em busca do “zero líquido”, e não apenas a chamada compensação ambiental.

A diferença entre essas abordagens é importante. No caso das reduções, o compromisso é o de repensar todos os processos produtivos e logísticos para gerar menos gases de efeito estufa, no limite do mínimo possível.

No segundo caso, o das compensações, a empresa não faz mudanças estruturais, mas busca equilibrar as emissões por meio da compra de créditos de carbono ou pelo estímulo direto a iniciativas “verdes”, como o plantio de árvores que façam a captura e fixação do gás carbônico, por exemplo. Assim, uma empresa muito poluente poderia continuar a ser muito poluente, desde que patrocinasse uma reserva florestal, por exemplo.

Esse modelo, que esteve em voga nos últimos anos, já soa insuficiente. O mundo inteiro está de olho e é preciso fazer mais. “Quem não se deu conta disso vai ficar para trás”, pondera Nogueira.

EMPRESA JÁ RETIRA MAIS CARBONO DO OXIGÊNIO DO QUE PRODUZ

A Klabin fala com conhecimento de causa. A empresa hoje é carbono positivo, ou seja, sequestra mais carbono da atmosfera do que produz.

“De um lado está o nosso processo produtivo, emitindo carbono, e de outro está a floresta, retirando carbono da atmosfera e liberando oxigênio.”

O saldo dessa equação, que opõe as 24 unidades industriais da companhia aos 578 mil hectares de florestas plantadas ou conservadas, é altamente positivo. Entre emissões e captações, a empresa consegue retirar 4,5 milhões de toneladas de carbono da atmosfera a cada ano.

Ou seja, em vez de comprar créditos de carbono para compensar emissões, a Klabin está na posição de poder oferecer esses créditos no mercado, para venda.

CRITÉRIOS TÉCNICOS NA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

Em tempos de críticas à ciência, a Klabin enfatizou, no desenho do projeto Impacto NetZero, a importância da aprovação e acompanhamento das metas de redução de emissões por meio de rigorosos critérios técnicos.

Nogueira explica que quem aderir ao movimento automaticamente se compromete a buscar a aprovação da Science Based Targets initiative (SBTi). A iniciativa é fruto de uma parceria entre uma série de entidades preocupadas com o clima (a ONG Carbon Disclosure Project, o Pacto Global das Nações Unidas, o World Resources Institut e o WWF) e oferece critérios científicos para avaliar emissões, metas e ações concretas de redução de gases-estufa.

É uma forma de filtrar quem está realmente preocupado com a questão ambiental e quem está ainda só no discurso. O processo para obter a aprovação do SBTi é rigoroso.

“A metodologia da SBTi é séria, baseada em ciência, com verificação de dados, trocas de documentos, muito diálogo. Nós aderimos ao SBTi em março de 2019, submetemos nossa meta em dezembro de 2020 e fomos aprovados em abril de 2021.”

A meta estabelecida pela Klabin é de reduzir em 25% as suas emissões até 2025, chegando a 49% de redução até 2035. O ano base de comparação para ambas as metas é o de 2019.

O caminho foi longo, mas compensador. Após o processo, a Klabin se tornou a primeira indústria brasileira de grande porte a ter o selo de aprovação de uma entidade internacional que atesta que o compromisso da empresa com a redução de emissões é sério e efetivo no combate ao aquecimento global, e que será acompanhado de perto por uma metodologia científica internacionalmente testada.

Sobre as metas para o próprio Impacto NetZero, Nogueira evita falar em números, mas reforça que está otimista. Diz que o mundo nunca esteve tão consciente como agora sobre a importância de mitigar as emissões e o aquecimento global – que não é mais um problema das gerações futuras.

“Muitas empresas já vieram nos procurar, já acessaram o sistema do Impacto NetZero. Mas se eu souber que a gente estimulou uma única empresa a ir atrás da aprovação do SBTi e que conseguiu estabelecer metas baseadas em ciência, já vou ficar muito feliz”, pondera.

“Esse movimento veio para ficar. Não é só uma onda.”

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