ESG é uma sigla, em inglês, para Environmental, Social and Governance. Traduzindo para o português, indica um foco em questões ambientais, sociais e de governança – por isso, o termo ASG também se aplica em nossa língua.
A sigla, cada vez mais relevante, representa o compromisso e a responsabilidade de empresas em relação a:
– reduzir seu impacto ambiental, incluindo diminuir e compensar emissões de gases de efeito estufa (GEEs), adotando metas net zero;
– cuidar das pessoas que fazem parte do negócio – incluindo trabalhadores, fornecedores, clientes e comunidades onde estão instaladas;
– adotar práticas de gestão que promovam ética, diversidade e transparência.
Aderir a práticas ESG também serve como métrica para investidores e fundos decidirem em que empresas vão alocar seus recursos. Ou seja, em vez de avaliar somente o retorno financeiro, fundos ESG (também chamados de fundos verdes) levam em consideração a responsabilidade ambiental, social e de governança para incluir empresas em seu portfólio.
A expressão apareceu pela primeira vez em 2004, no relatório Who Cares Wins – Connecting Financial Markets to a Changing World (“Ganha quem se importa – Conectando o Mercado Financeiro para Mudar o Mundo”). O documento foi elaborado pelo Banco Mundial, a convite da Organização das Nações Unidas (ONU).
A intenção da ONU era criar uma base com recomendações para integrar as questões ambientais, sociais e de governança corporativa na gestão de ativos. Ou seja: conectar investimentos com a sustentabilidade.
O relatório foi assinado por 20 instituições financeiras de nove países (incluindo o Branco do Brasil). A mensagem do documento ganhou força ao longo dos anos e com a crescente relevância da sustentabilidade e do combate às mudanças climáticas no cenário global, o ESG entrou no radar da gestão das empresas.
Projetando um cenário com recursos naturais escassos, leis ambientais rígidas, e consumidores atentos ao impacto das empresas na sociedade, aderir ao ESG pode melhorar a reputação da marca, trazendo mais retorno para os negócios ao mesmo tempo em que se contribui para o desenvolvimento sustentável.
O movimento ESG ganhou ainda mais força em 2006, quando a ONU lançou os Princípios para o Investimento Responsável (PRI). Aderir ao PRI significa reconhecer publicamente o compromisso de participar do esforço global na construção de um sistema financeiro mais sustentável – mais de 4.000 organizações assinam o documento atualmente.
Desde o estabelecimento do PRI, gestores de recursos estão desenvolvendo maneiras de incorporar critérios ESG na análise de investimentos e nas tomadas de decisão. Outros movimentos se juntaram a este esforço em prol de um capitalismo sustentável sem abrir mão de uma visão corporativa: Business Roundtable, Capitalismo Consciente Brasil, Pacto Global, Sistema B Brasil, entre outras.
No âmbito ambiental:
– Redução e compensação das emissões de gases estufa;
– Não ter relação com desmatamento ilegal;
– Consumo responsável de água;
– Gestão de resíduos;
– Eficiência energética;
– Promoção e preservação da biodiversidade.
No âmbito social:
– Promoção de políticas de inclusão e de diversidade;
– Respeito aos direitos humanos;
– Cumprimento das leis trabalhistas;
– Colaboração para o desenvolvimento das comunidades em que estão instaladas;
– Combate ao trabalho infantil e análogo à escravidão;
– Gestão de privacidade e de proteção de dados.
No âmbito da governança:
– Combate à evasão fiscal;
– Critérios claros sobre remuneração e planos de carreira;
– Estabelecimento de políticas anticorrupção;
– Promoção de transparência e ética;
– Independência e diversidade na escolha de membros do conselho;
– Manutenção de auditorias confiáveis.
Além de estar mais preparadas para o futuro, companhias com melhor desempenho nas práticas ESG são mais bem vistas pela sociedade e por investidores. Logo, faturam mais ao mesmo tempo em que valorizam a própria imagem. De acordo com um estudo da McKinsey, se as práticas ESG forem bem executadas, o lucro operacional pode crescer até 60%.
A 3M é exemplo disso há mais de 40 anos, muito antes de o termo ESG existir. Desde 1975, quando lançou o programa Pollution Prevention Pays (“Prevenção à Poluição se Paga”, em tradução livre), a empresa economizou US$ 1 bilhão. O resultado, mais lucrativo e menos poluente, foi fruto da reformulação de produtos e de equipamentos, da otimização de processos de produção, e da implementação de reciclagem e reuso de resíduos.
A lucratividade atrelada a práticas ESG também está registrada nos indicadores do mercado financeiro. Dados compilados ao longo de 45 anos pelo Deustche Bank, em parceria com a Universidade de Hamburgo, mostram que há uma correlação positiva entre investir em ESG e desempenho financeiro. Ou seja, investimentos sustentáveis rendem mais do que investimentos tradicionais – e a tendência é a diferença aumentar com o decorrer do tempo.
Nos últimos 15 anos, as empresas listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) valorizaram 67% a mais do que as listadas no Ibovespa. E de 2009 a 2021, as companhias que fazem parte do índice FTSE4Good US, baseado em indicadores ESG, cresceram 50% a mais do que as participantes do pregão da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).
Por fim, de acordo com a Black Rock – maior gestora global de ativos com US$ 9 trilhões sob gestão – 94% dos índices ESG tiveram desempenho acima da média do mercado de ações nos primeiros meses da pandemia de Covid-19.
Outros benefícios de ser ESG é atrair talentos profissionais e fidelizar clientes. As novas gerações tendem a avaliar o compromisso da empresa com questões ambientais e sociais quando escolhem onde trabalhar e o que consumir.
E isso também é lucrativo: segundo Alex Edman, professor de finanças da London Business School, as empresas que chegaram à lista das “100 melhores para trabalhar” nos EUA, entre 1984 e 2011, renderam aos acionistas retornos anuais até 3,8% maiores do que as demais.
Outra pesquisa da McKinsey, desta vez com consumidores, mostrou que mais de 70% deles pagariam até 5% a mais por um produto sustentável.
Cada vez mais as empresas têm avaliado os impactos de aderir ao ESG para traçar a estratégia corporativa de médio e longo prazos.
Numa declaração assinada em agosto de 2019, a iniciativa Business Roundtable reuniu 181 CEOs das maiores corporações dos EUA em torno do compromisso de liderar suas empresas para o benefício de todos, incluindo não apenas clientes, mas fornecedores, funcionários, comunidades e acionistas.
E não basta abraçar a sustentabilidade só na fachada. A divulgação de informações sobre as práticas ESG é cada vez mais exigida, já que elas revelam o posicionamento e as práticas das companhias.
Uma comunicação transparente, com clareza e periodicidade bem definida, permite analisar o engajamento das corporações com a sustentabilidade e ajuda investidores, parceiros e clientes a escapar do greenwashing (divulgação de medidas ambientalmente corretas que não estão sendo cumpridas).
“Há uma tendência global de incorporar ESG na estratégia das empresas. É uma nova realidade, não tem volta.”
É consenso entre os especialistas no tema, contudo, que, construir um capitalismo mais consciente e ESG de verdade, é uma longa jornada. E para ela continuar avançando, é fundamental que os líderes empresariais assumam a responsabilidade de promover mudanças ambientais, sociais e de governança que irão transformar a cultura das corporações e reconstruir o futuro do planeta.
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