De acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), os biocombustíveis podem ser definidos como:
“Derivados de biomassa renovável que podem substituir, parcial ou totalmente, combustíveis derivados de petróleo e gás natural em motores à combustão ou em outro tipo de geração de energia.”
Essas fontes de energia alternativa, que reduzem as emissões de gases de efeito estufa, têm como seus representantes mais populares o etanol (que, no Brasil, é feito predominantemente a partir de cana de açúcar) e o biodiesel (obtido a partir de óleos vegetais ou de gordura animal)
Embora pareça novidade, os biocombustíveis já existem há mais de 100 anos. Em 1893, o engenheiro alemão Rudolf Diesel já trabalhava em motores que funcionavam com óleo de amendoim, usado também pelo Brasil nos anos 1920, juntamente com óleos de palma e de algodão, em testes de combustíveis alternativos.
Mas foi no início da década de 70, com o preço do petróleo subindo rapidamente, que se começou a buscar com mais afinco uma alternativa à gasolina. Nessa época se desenvolveu o álcool brasileiro e a partir daí outras fontes passaram a ser utilizadas por aqui e mundo afora.
Hoje, é possível produzir biodiesel a partir de óleo de soja (responsável por 65,5% da produção nacional), óleo de dendê (3,2%), óleo de girassol, óleo de algodão, de gordura animal, como o sebo bovino (7,2%) e até de óleo de fritura usado, entre outros ingredientes
Além de gerar biodiesel, os óleos vegetais também podem ser usados para “limpar” o diesel comum. Na linha de produção, o combustível é tratado com hidrogênio para diminuir a quantidade de enxofre. Antes de adicionar o hidrogênio, contudo, se óleo vegetal for injetado em alta temperatura e pressão, os níveis de enxofre ficam ainda mais reduzidos, gerando um diesel convencional menos poluente.
No Brasil, o etanol é produzido em massa e vendido nas bombas dos postos de combustível desde meados dos anos 1970, com o lançamento do Programa Nacional do Álcool (Proálcool). A popularidade do combustível à base de cana de açúcar cresceu tão rápido que, em 1983, cerca de 90% dos carros vendidos no país rodavam com etanol. Atualmente, cerca de 67% da frota brasileira é de carros flex, que rodam tanto com álcool como com gasolina.
Falando em gasolina, até ela tem um percentual significativo de etanol no Brasil – o que reduz as emissões de gases estufa pelo combustível. Desde março de 2015, o percentual obrigatório de etanol na gasolina comum é de 27% – em gasolinas premium, o índice é de 25%.
O biodiesel nacional, por sua vez, passou a ser misturado ao biodiesel fóssil, em caráter experimental, a partir de 2004. Em 2005, o biodiesel foi introduzido oficialmente na matriz energética brasileira e, em 2008, a legislação passou a determinar que o diesel contivesse 2% de biodiesel.
Ao longo dos anos, este percentual foi aumentando gradativamente até atingir, em março de 2020, os atuais 12% de biodiesel misturado ao diesel vendido nos postos.
Você sabia que o melhor biocombustível pode estar em algas microscópicas? Invisíveis a olho nu, as microalgas – seres unicelulares que vivem em água doce ou salgada – são uma aposta promissora como matéria-prima. Dentre as espécies estudadas estão a Botryococcus braunii, a Scenedesmus dimorphus e a Dunaliella tertiolecta – em algumas delas, 77% do peso é óleo.
Por ora, o custo para extrair o óleo ainda é alto e, por isso, não há como competir com os biocombustíveis consagrados. O potencial dessa matriz, contudo, é animador. Em um ano, um hectare de soja pode render até 500 litros de biodiesel, e o pinhão-manso, outra aposta do setor, pode render 4.000 litros. Já as microalgas podem ter rendimento de até 100 mil litros por hectare.
Outra vantagem de apostar nas microalgas é que elas são muito eficazes para mitigar o aumento do efeito estufa causado por emissões de gases. Cada tonelada de microalgas utilizadas para produzir biodiesel pode retirar até 2,5 toneladas de CO2 do ar, taxa maior que a de vegetais terrestres comumente usados para produção de biocombustíveis.
Além disso, a produção usaria recursos que o homem pouco aproveita: o meio de cultura seria a água salgada – evitando desperdício de água potável – e o adubo viria do esgoto. Pode parecer contraintuitivo, mas isso contribuiria para a produção de uma energia mais limpa.
Além das microalgas, outras fontes inusitadas para produzir biocombustível têm sido pesquisadas, como:
O bagaço de malte e a borra do café são mais valiosos do que você imagina. A cientista de alimentos Natasha Pádua fundou com o marido a Upcycling Solutions, consultoria dedicada a descobrir como transformar resíduos em novos produtos.
O descarte incorreto de redes de pesca ameaça a vida marinha. Cofundada pela oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo, a Marulho mobiliza redeiras e costureiras caiçaras para converter esse resíduo de nylon em sacolas, fruteiras e outros produtos.
Aos 16, Fernanda Stefani ficou impactada por uma reportagem sobre biopirataria. Hoje, ela lidera a 100% Amazonia, que transforma ativos produzidos por comunidades tradicionais em matéria-prima para as indústrias alimentícia e de cosméticos.