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“Não adianta valorizar a sustentabilidade se os líderes não estiverem engajados”, diz Carolina Zwarg, diretora da Porto

Maisa Infante - 21 set 2022
Carolina Zwarg, Diretora de Pessoas e Sustentabilidade da Porto. Foto: Fernando Martinho
Maisa Infante - 21 set 2022
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Se uma empresa é feita por pessoas, elas precisam ser valorizadas. E quando o assunto é a estratégia ESG da companhia, essa valorização não pode ficar só no discurso: ela deve contemplar uma formação ampla em sustentabilidade. Pelo menos é assim que pensa a Porto, segundo Carolina Zwarg, Diretora de Pessoas e Sustentabilidade da companhia. 

“Neste ano, a Porto assinou o Pacto Global da ONU e precisávamos ter todo mundo com essa consciência de sustentabilidade na veia. Foi aí que criamos a Temporada da Sustentabilidade, uma jornada crescente de conhecimento para os nossos líderes e colaboradores. Porque sem formação não adianta achar que as pessoas vão conseguir, já que não fomos educados para isso.”

A temporada foi pensada a longo prazo, integra os conteúdos do dia a dia da companhia, e segue, inclusive, o planejamento estratégico da empresa, que é renovado a cada cinco anos. Assim, essa temporada vai até 2025. “Desta forma, ela está totalmente atrelada ao objetivo estratégico do negócio”, diz Carolina, que trabalha há seis anos na empresa. Assumiu o cargo de Diretora de Pessoas e Sustentabilidade em 2019, e sua principal meta é fazer com que o ESG esteja cada vez mais integrado na cultura e na rotina das lideranças, e de todos os 13 mil funcionários da Porto.

Com 75 anos de atuação no Brasil, a companhia passa por um momento de renovação desde que divulgou, no início do ano, a nova marca da holding, em que deixou de ser Porto Seguro para ser apenas Porto. Assim, as 3 verticais de atuação da companhia – seguros, saúde e financeiro -, passaram a ter atuações mais independentes, além de marcas próprias: Porto Seguros, Porto Saúde e Porto Seguro Bank.

Na entrevista a seguir, Carolina explica como a empresa trabalha com suas lideranças e colaboradores para ter a sustentabilidade cada vez mais no centro do negócio.

NETZERO: Você é Diretora de Pessoas e Sustentabilidade. Como esses dois temas se relacionam?

CAROLINA ZWARG: Não acreditamos que seja possível trabalhar com sustentabilidade sem pessoas. Nessa caminhada, temos criado produtos e formas de atuar com ESG olhando muito para a questão de sustentabilidade nos negócios, mas também como uma oportunidade de formação das pessoas no assunto. Queremos que isso esteja presente na vida dos nossos colaboradores. Então, juntar essas duas áreas fez muito sentido. Porque não existe só uma área de sustentabilidade. A nossa ideia é que as pessoas tenham esse pensamento em cada uma das suas áreas de atuação. 

Como a Porto está implementando o tema ESG dentro da corporação? Quais ações práticas têm sido feitas?

Temos uma área de sustentabilidade há mais de 15 anos, muito antes do termo ESG se tornar tão estratégico para o mercado. E estamos evoluindo na forma de incorporar esse tema de forma cada vez mais transversal e intensodentro do ambiente de trabalho, com esse olhar de como formar indivíduos que tenham o conceito de sustentabilidade cada vez mais vivos na companhia. Por isso, criamos uma Temporada de Sustentabilidade com iniciativas de educação socioambiental para o público interno por meio de uma série de conteúdos que proporcionam o entendimento dos princípios do ESG e as possíveis aplicações no negócio. 

Queremos que, cada vez mais, quando um produto for lançado, em vez da nossa área ir atrás das áreas falar sobre a oportunidade de transformar esse produto em algo mais sustentável, isso venha delas, das próprias áreas de negócio. 

Temos um ambiente virtual com as trilhas de aprendizagem sobre os conceitos de sustentabilidade e ESG, promovemos lives, vídeos e podcast para contar um pouco do que é o ESG e como a gente pratica isso no dia a dia. Queremos que, cada vez mais, isso esteja vivo para os nossos colaboradores. 

O que a Porto faz para ter líderes cada vez mais capacitados em ESG?

O ESG já está muito enraizado na nossa cultura organizacional. Para quem já está aqui, é algo natural participar como voluntário ou olhar para os produtos e áreas e ver quais são as oportunidades de contribuir com uma Porto mais sustentável. Para os novos colaboradores e líderes que chegam, fazemos uma ação de sensibilização, trazemos para perto, convidamos essas pessoas a verem o que é feito e qual o impacto do nosso trabalho na vida das outras pessoas. Quando levamos um líder para conhecer o espaço da Renova Ecopeças (empresa da Porto que faz a reciclagem de peças automotivas) ou o Instituto Porto, ele vê que tem uma empresa ali dentro e isso vai voltando como um impacto positivo no nosso trabalho. O líder é embalado pela nossa cultura. 

É uma prática comum no mercado as empresas atrelarem os bônus das lideranças às metas ESG. A Porto tem isso também?

Ainda não temos, mas estamos discutindo, a partir do ano que vem, olharmos para as metas ligadas a ESG. Este foi um ano de acompanhar os indicadores, checar a consistência deles e aí, a partir de 2023, a gente possivelmente já implementa metas ligadas à remuneração.

Hoje, as soft skills são muito valorizadas nas lideranças, além das habilidades técnicas. 

A Porto trabalha com liderança antroposófica desde 1998 e todos os líderes passam por um programa de formação bastante consistente, totalmente ligado a soft skills. 

Temos uma balança muito equilibrada e nossas competências são divididas entre pensar, sentir e querer. Uma das nossas competências que está no sentir é coragem, que tem a ver com soft skills. No querer, tem foco no cliente e solução de problemas, que são mais hard skills, se formos separar dessa forma. 

Então, para a gente, o soft é tão importante quanto o hard. E estamos investindo no desenvolvimento desses líderes desde 1998 com um olhar muito especial para que essa liderança consiga, de fato, olhar para o ser humano como um ser integral pois acreditamos que, desta forma, conseguimos formar líderes mais sensíveis, inclusive a temas de meio ambiente e ações sociais. 


Qual a principal dificuldade para engajar um grupo de 13 mil funcionários nos desafios ESG?

Um dos principais pontos de atenção é o “walk the talk” (mostrar pelo exemplo). Qual o sentido de falar que é uma empresa que valoriza a questão do voluntariado, por exemplo, e não ter líderes voluntários? 

Há poucas semanas voltamos com o projeto Hora do Recreio, que abre os jardins da nossa sede para que crianças do bairro possam brincar no horário do recreio. Eu estava lá no primeiro dia porque, se a gente não está, não conseguimos mostrar. Lançamos a temporada de sustentabilidade com uma palestra para as lideranças e agora estamos descendo para os 13 mil colaboradores, mostrando o quanto cada um fazendo a sua parte impacta um meio gigantesco. Porque uma ação de 13 mil pessoas não é só 13 mil, já que cada um sempre tem mais alguém em casa. E aí começamos a levar essa cultura para os lares dos nossos colaboradores também. 

De que forma a escuta é importante dentro da sua área e como a Porto faz para ouvir o que os colaboradores têm a dizer?

Não adianta trazer um pacote pronto e dizer ‘eu acho que funciona’, quando você não está sentindo aquilo na pele. E a Porto é uma empresa que escuta muito. Temos um café da manhã com os colaboradores a cada dois meses com uma média de 100 pessoas por café. Em cada uma das mesas tem sempre um diretor e um gerente. Partimos de uma provocação que é, ‘que bom, que pena e que tal’. Que bom que isso está acontecendo, que pena que não está acontecendo, e que tal a gente fazer tal coisa. 

Tudo que vem desse café a gente estratifica, monta um material, e compartilha no encontro com os nossos gerentes e coordenadores, porque é aí que começamos a encaminhar os assuntos. Dentro do Juntos, nosso programa de diversidade e inclusão, saíram do último café 40 sugestões de ações e, destas, já temos 20 encaminhadas. Óbvio que dentro de tudo isso tem coisas que são possíveis e coisas que não são possíveis. Mas sempre damos uma resposta para os grupos. 

Tem que ter grupo de escuta e agir a partir disso. O que temos feito é escutar, agir, e voltar pra escutar se é isso mesmo. Quando falamos de cliente no centro é isso. E os clientes da área de pessoas e sustentabilidade são os nossos colaboradores e os líderes. 

A Porto acabou de se reposicionar no mercado com uma nova marca, deixando de ser Porto Seguro para ser Porto. Como essa mudança impactou nestas estratégias?

Não impactou necessariamente na estratégia, mas acho que impactou positivamente quando olhamos para a nossa estrutura. Criamos grandes consultores de sustentabilidade focados no negócio de seguros, no negócio de saúde e no negócio de produtos financeiros. São pessoas dedicadas que pesquisam sobre cada um desses mercados e buscam oportunidades ESG para o negócio. Isso foi uma mudança importante porque, antes, a gente tinha uma área olhando para a sustentabilidade como um todo. E com a verticalização, conseguimos verticalizar também a nossa estrutura com esse olhar consultivo para os negócios. 

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