A gestação é um período de grandes transformações, não só no corpo, mas em todas as esferas da vida: emocional, financeira e social. E para passar por essa jornada de novas emoções e exigências, é importante poder contar com apoio e acesso a informações baseadas em evidências científicas.
É justamente esse ponto que a femtech Eva Saúde busca suprir, com um streaming de cursos voltados para pessoas tentantes (quem está tentando engravidar), gestantes e puérperas.
“A gente entra para devolver às mulheres as rédeas dos cuidados com a sua saúde e do seu bebê. Ela não vai decidir exatamente tudo sobre o parto, vai contar com uma equipe médica, mas as escolhas que fará com base em informações resultarão em uma gestação mais saudável e uma experiência de parto e puerpério melhores”
Quem diz isso é Nathália Tôrres, cofundadora da plataforma ao lado da obstetra Samanta Schneider, ambas de Porto Alegre.
A femtech começou a operar há pouco tempo, em março de 2024. E agora, com as enchentes no Rio Grande do Sul, tenta levar voluntariamente o suporte oferecido no ambiente online e doações para mães e crianças que estão em abrigos da capital do estado.
Nathália, 35, construiu sua carreira no mundo corporativo tendo passado por empresas como Fiat (hoje parte do grupo Stellantis), Ambev e C&A. Nesta última, começou a intraempreender, cuidando principalmente de projetos vinculados à sustentabilidade.
Mas foi durante e após a gestação de Cecília, hoje com 3 anos, que a possibilidade de empreender ganhou força. Nathália descobriu a gravidez em maio de 2020, logo nos primeiros meses da pandemia da Covid-19.
“Me vi naquele momento longe da família, pela questão do isolamento social, e sem saber o que fazer depois que o teste deu positivo”
Ela mandou mensagem para o seu ginecologista, que por sorte atua como obstetra com uma visão humanizada.
“Ele foi indicando outros especialistas, como uma fisioterapeuta pélvica, que me ajudou a lidar com um problema na lombar sem remédios durante a gestação.”
A partir de sua própria vivência, Nathália entendeu como era importante ter uma rede especializada ao seu lado para apontar caminhos.
Outro fator que a levou a pensar em empreender a Eva Saúde foi a quantidade de informações conflitantes na internet.
“Eu via muita coisa que se contradizia. Uma vez, por exemplo, comecei a sentir uma dor no baixo ventre e fiz uma pesquisa em que encontrei informações totalmente diferentes — e que me apavoravam”
Mais do que apavorar, diz Nathália, a falta de acesso a informações confiáveis pode levar à violência obstétrica.
“Além de xingamentos ou outros tipos de más condutas da equipe médica durante o parto, a realização de procedimentos sem que a gestante dê consentimento, como a episiotomia, ou a omissão de informações configuram violência obstétrica.”
Ela entendeu então que seria nesse recorte, facilitando o cuidado e o acesso a informações validadas por especialistas, que gostaria de atuar com seu empreendimento.
Assim que Cecília nasceu, Nathália começou a se preparar para essa transição de carreira.
Fez um MBA em gestão e inovação em saúde e, ao voltar da licença maternidade ficou na C&A por mais um ano no intuito de fazer uma reserva financeira.
“Precisei sair da minha zona de conforto. Eu trabalhei 15 anos no mundo corporativo e a minha vida toda estava formatada para esse modelo, com um salário fixo, um plano de carreira definido, bônus etc. Abrir mão daquilo que parecia ser o mais seguro para me jogar em algo que não sabia se e quando daria certo foi desafiador”
Ao pedir demissão, ela ainda decidiu passar pela experiência como funcionária de uma startup antes de fundar a sua. Ficou seis meses na edtech Conquer até, enfim, se sentir preparada para focar no planejamento da Eva Saúde.
Natural de Porto Alegre, Nathália estava vivendo em São Paulo há nove anos. Quando começou a planejar a Eva Saúde, decidiu voltar para o Sul com o marido e a filha para estar mais próxima da sua rede de apoio.
Lá, ela iniciou as pesquisas de mercado entrevistando gestantes e ao pedir a elas indicações de obstetras humanizadas chegou ao nome de Samanta Schneider.
Na hora, reconheceu a profissional, com quem tinha estudado na época do vestibular em um cursinho preparatório (ela pensava em fazer medicina)
Nathália entrou em contato pelo Instagram com a médica, marcou um café e logo as duas se tornaram sócias.
A partir das entrevistas, a dupla começou a pensar em uma plataforma de saúde que focasse no cuidado individualizado, conectando as gestantes a médicos e especialistas.
“Mas durante o processo, entendemos que seria preciso dar um passo atrás para trabalhar primeiro o nível de conscientização, porque muitas vezes a mulher que está entrando nesse ciclo ou está tentando nem sabe a dimensão das mudanças que vão acontecer na gestação e depois do parto”
Assim surgiu a ideia da plataforma de cursos gravados, que conseguem atingir também a rede de apoio dessas gestantes. Para estruturá-la, as sócias contaram com os aprendizados de duas acelerações, da B2Mamy e do Instituto Caldeira.
Hoje, a plataforma conta com dez trilhas, com duração entre 50 minutos e uma hora, divididas em vídeos curtos, de cinco a oito minutos.
Todas são conduzidos por profissionais que trabalham diariamente no cuidado materno infantil e trazem dados e recomendações baseados em evidências científicas. Atualmente as 15 especialistas da plataforma são mulheres que atuam com a femtech no modelo de parceria. Elas entram com o conteúdo e a Eva Saúde com a divulgação.
O primeiro curso lançado chama-se “Engravidei, e agora?”, conta com cinco módulos que abordam do primeiro semestre do bebê ao parto e é apresentado pela própria Samanta, 35. Nathália explica:
“Trazemos informações que por vezes não são discutidas na consulta por falta de tempo e compreensão ou que são faladas, mas precisam ser reforçadas”
Ela complementa: Falamos de calendário vacinal, exames, sexualidade da gestante, sinais de trabalho de parto, o que é uma indução de parto, o que é prematuridade etc.”
Os cinco módulos enfocam do primeiro ao terceiro trimestre até o parto e o curso é oferecido de maneira gratuita pela Eva Saúde.
Para acessar os outros, como por exemplo o de saúde mental da gestante, conduzido por uma psicóloga perinatal, ou o de yoga, é preciso fazer uma assinatura mensal que dá acesso a todos os conteúdos da plataforma e à uma comunidade onde podem se conectar com outras gestantes e tirar dúvidas. O custo é de R$ 49,99.
E não apenas temas relacionados à saúde física e emocional são abordados nas trilhas.
“Temos um curso com uma advogada que atua em saúde e fala muito dos direitos da mulher e dos direitos da gestante, não só os sociais, como fila preferencial, mas o trabalhistas e também direitos específicos, como as leis do acompanhante, da doula e do plano de parto”
“Também temos um curso com uma economista, no caso eu, em que orientamos como fazer um enxoval completo gastando menos, quais são as escolhas mais sustentáveis do ponto de vista econômico.”
Em abril, a Eva Saúde participou da Batalha das Startups, competição promovida pelo Gramado Summit em parceria com a aceleradora Ventiur. Foram 67 startups inscritas e 20 selecionadas para estar no evento.
“Entre os dez negócios finalistas que apresentaram com a gente, a grande maioria era liderado por homens. E a banca era composta também apenas por homens. E havia o desafio de conseguir passar essa dor pra quem não se encaixa no nosso nicho”
Elas saíram como vencedoras da competição e receberão um investimento da Ventiur.
O aporte já tem destino certo. As empreendedoras querem passar para a próxima fase, lançando a plataforma de cuidado individualizado no formato de marketplace que conectará especialistas às gestantes. O projeto já está em fase de desenvolvimento tecnológico.
“Já fizemos um MVP de como isso seria, fornecendo manualmente o contato das profissionais e 20% das mulheres já agendaram consultas.” Além de profissionais de saúde, as cofundadoras pretendem facilitar a conexão com laboratórios, clínicas e hospitais.
E ainda criar um modelo B2B2C, já em fase de testes no formato de um clube de benefícios em que empresas parceiras oferecem descontos nos seus produtos e serviços. Entre as marcas parcerias estão Cicatri Bem e uma startup de moda circular para bebês.
“O que a gente quer com esse modelo é trazer para perto das gestantes as marcas que realmente conseguem ajudá-las nesse momento.”
Com as duas fundadoras nascidas no Rio Grande do Sul e com boa parte das pesquisas para a criação da startup tendo sido feitas em Porto Alegre, não tinha como a Eva Saúde estar de fora das ações de apoio às vítimas das enchentes.
Assim que a crise se instalou, Samanta passou a trabalhar na linha de frente, em Canoas, atendendo as pessoas desabrigadas (não só as gestantes). E Nathália criou uma campanha, junto com a Benditas Mães, de arrecadação de itens para mães e bebês que estão em abrigos e maternidades que atendem o SUS.
Entre os pedidos estão roupas, lenços umedecidos, pomadas para assaduras, fraldas infantis, absorventes, mamadeiras, leite em pó, fórmula infantil, mantas, macacões, entre outros. Os produtos podem ser entregues em um ponto de coleta (Av. Cel. Lucas de Oliveira, 1118) ou os interessados em ajudar podem fazer um PIX através da chave ([email protected]).
“Quando estouraram aquelas denúncias sobre os abusos em abrigos, passamos a apoiar a criação dos abrigos exclusivos para mulheres e crianças. Já tem cinco aqui em Porto Alegre com esse foco, e muitas das nossas doações estão voltadas para eles. Também estamos fazendo um trabalho junto aos hospitais, entregando kits de maternidade para as mães. Muitas chegaram lá de helicóptero, apenas com a roupa do corpo”
As empreendedoras já planejam outra ação. Pretendem levar in loco nos abrigos que são exclusivos o atendimento que até então era feito online em sua plataforma:
“A Eva Saúde se posiciona como um pré-natal complementar e a gente faz isso através de tecnologia”, diz Nathália. “Nesse momento, em que as mulheres não têm nem o celular nem acesso à internet, a gente quer entender as necessidades das gestantes e puérperas e prestar um atendimento multidisciplinar local. Vamos entregar também conteúdos impressos, no formato de cartilhas.”
“Passamos três noites sem dormir para criar essa solução”: Luciano Lorenz, fundador da WebMed, conta os bastidores do desenvolvimento de uma plataforma online que conecta médicos voluntários e vítimas das enchentes no Sul.
De artigos de decoração a bonecas de pano e pijamas para crianças, uma plataforma só com marcas graciosas e unidas pelo compromisso socioambiental: essa é a proposta da Stellar, fundada pelas amigas Emily Perry e Renata Reis.
Distrair os filhos com o tablet é fácil, mas nada saudável. Em vez disso, Carol Moreira decidiu construir uma cozinha em miniatura para a pequena Sofia. Assim nascia o Ateliê Materno, um e-commerce de brinquedos de madeira.