Em 2012, a paisagem de Pina, bairro em Recife, mudou. Uma área de 295 mil m², onde no passado funcionava uma fábrica de bebidas, deu lugar ao Shopping RioMar, empreendimento do Grupo JCPM com 380 lojas, que nasceu com a ideia de ser sustentável desde a obra até a operação de varejo do dia a dia.
“A grande ideia na construção desse empreendimento era ter um shopping que atendesse a 3 pontos principais: vida útil mais longa, menor demanda de recursos para manutenção e operação e integração com a comunidade do entorno. Queríamos um projeto inovador, que pudesse trazer as melhores tecnologias para garantir essas três premissas”, explica Thayara Paschoal, Gerente de Sustentabilidade do Grupo JCPM.
A construção levou três anos e teve, segundo estimativas do próprio empreendimento, um custo 15% maior do que se tivesse sido feita da maneira convencional, ou seja, sem privilegiar algumas escolhas mais sustentáveis. Tais escolhas começaram ainda na obra, que utilizou estrutura pré-moldada e metálica, eliminando a necessidade de formas de madeira e escoramento, o que ajuda a reduzir perdas e a produzir uma estrutura limpa.
Outra iniciativa foi o reaproveitamento dos resíduos gerados pela obra na pavimentação, o que evitou 7 mil viagens de caminhão que levariam esse material para descarte.
“O impacto disso vai além da emissão de gases de efeito estufa e reutilização dos resíduos, porque tem também todo um impacto na comunidade. Imagina um bairro conviver com 7 mil viagens de caminhão passando ali durante um período longo e o quanto isso impacta na convivência com aquelas pessoas”, avalia Thayara.
CONFORTO TÉRMICO COM ECONOMIA ESTÁ NO CENTRO DA ESTRATÉGIA
O projeto arquitetônico do shopping privilegiou dois pontos que influenciam diretamente na operação diária do empreendimento: luz natural e revestimentos e tecnologias que colaboram com o equilíbrio térmico.
O uso de domos de vidro e clarabóias ajudam a reduzir a necessidade de iluminação artificial entre as 10h e 17h. Além disso, estes vidros possuem uma tecnologia chamada Low-e, que evita a troca excessiva de calor.
Os revestimentos externos também foram escolhidos para ajudar nesse equilíbrio térmico, já que Recife é uma cidade quente. O material empregado consegue reduzir em 30% a transmissão de calor por condução, resultando em menor esforço do sistema de ar-condicionado e demandando menos energia para atingir a temperatura ideal dentro do shopping, definida em 24 graus.
Além disso, o sistema de ar-condicionado se autorregula levando em conta três fatores: a necessidade de temperatura ambiente, a carga de umidade e a renovação de ar por índice de CO2. Isso também faz com que a eficiência do sistema seja melhor, já que ele vai trabalhar mais apenas quando houver necessidade, em geral nos horários em que o empreendimento está mais cheio.
A água gerada na condensação destes aparelhos é reaproveitada diariamente para o resfriamento dos ambientes nos períodos de maior demanda energética. Esse resfriamento acontece por meio de duas tecnologias – piso e vigas frias – que permitem a circulação de água gelada sob as superfícies do empreendimento, ajudando a reduzir a temperatura e melhorar a climatização.
“Tudo isso gera uma economia muito relevante porque o ar-condicionado pode representar até 30% do consumo de energia total de um empreendimento como este. Com esse sistema, temos um consumo de energia 41% menor e conseguimos evitar 76% de emissões quando comparado a um sistema convencional de ar condicionado”, explica Thayara.
Nos banheiros, além das já conhecidas torneiras automáticas, foram instaladas descargas a vácuo que, segundo a gerente, usa no máximo um litro de água para cada acionamento contra os 3 litros necessários para a menor vazão dos sistemas tradicionais.
Tem ainda a captação de água da chuva no telhado, que é conduzida para um tanque e alimenta vasos sanitários, mictórios e ajuda na irrigação do jardim, uma área com 40 mil m² que inclui cerca de 2 mil árvores de espécies nativas da região plantadas pelo shopping.
“O jardim ajuda a melhorar o conforto térmico e, principalmente, a ampliar a faixa de proteção do mangue que fica no entorno.”
CENTRAL DE RESÍDUOS INTERNA AJUDA COOPERATIVAS
Outro aspecto de sustentabilidade contemplado pelo shopping foi o gerenciamento de resíduos. Para isso, a principal iniciativa foi implantar uma Central de Resíduos dentro do empreendimento, operada por duas cooperativas parceiras: Pro-Recife e Coopagres.
O espaço é equipado para que os cooperados possam fazer a triagem e prensagem dos resíduos e encaminhá-los para a indústria. O shopping não cobra nada das cooperativas e todo o valor levantado com a venda desses resíduos fica para os cooperados.
Em 2021, o Shopping RioMar gerou 2.600 toneladas de resíduos. Desse montante, 559.653 kg foram reciclados, o que dá um índice de reciclabilidade de 18%.
“Estamos trabalhando para adotar processos que vão ajudar a aumentar a quantidade de resíduos que chegam para a cooperativa e melhorar a triagem. Também estamos conversando com os lojistas para que utilizem mais materiais com potencial de reciclagem.”
Para o lixo eletrônico, o shopping fez uma parceria com a Green Elétron, que instalou coletores no empreendimento para que as pessoas possam deixar os seus resíduos eletrônicos. Em um ano de operação foram coletadas cerca de 2 toneladas de produtos.
COMO ENVOLVER A COMUNIDADE DO ENTORNO COM SUSTENTABILIDADE
A estratégia de sustentabilidade da obra ao varejo também incluiu iniciativas sociais, principalmente um trabalho de capacitação de moradores do entorno para trabalhar na construção e operação do empreendimento.
No primeiro momento foi feita uma parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que ajudou a preparar e capacitar as pessoas para trabalhar na obra. Houve, inclusive, pescadores da região que participaram das qualificações. Cerca de 2 mil pessoas foram capacitadas e incorporadas à obra ao longo de três anos.
A segunda etapa foi feita em parceria com o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), para qualificar moradores a trabalhar na operação do empreendimento, tanto como funcionários do condomínio como das lojas. Esse trabalho foi coordenado pelo Instituto JCPM e beneficiou 4 mil pessoas.
Hoje, o Instituto JCPM mantém uma unidade dentro do Shopping RioMar que atende aos jovens do entorno, entre 16 e 24 anos, em projetos de educação e qualificação para entrar no mercado de trabalho, seja em funções dentro do empreendimento ou em empresas da região. Até julho, o instituto apoiou a inserção de 3 mil jovens no Recife.
O DESAFIO DO ENGAJAMENTO
Não basta ter um empreendimento com tecnologia e características sustentáveis. Para que isso funcione, é importante que todos os envolvidos na operação diária do local estejam engajados.
Quando um lojista entra para o RioMar, o funcionamento do condomínio é apresentado, incluindo as dinâmicas adotadas e que guardam relação com a sustentabilidade, como a reciclagem e a possibilidade de contratar moradores do entorno. Porém, não é feito um acordo formal paralelo para que esse lojista tenha uma ação específica. A adesão à reciclagem, por exemplo, é voluntária. Mas, segundo Thayara, não existe muita resistência dos lojistas às questões de sustentabilidade.
“Temos o desafio de tornar a comunicação sobre a sustentabilidade cada vez mais simples e qualificada para que a pessoa entenda o porquê, o quanto isso impacta, a diferença que isso faz. É preciso qualificar essa forma de comunicar para que a pessoa se sinta cada vez mais parte do processo.”
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