Lixo é algo inerente à vida humana. Todos nós geramos lixo. Seja pelo aumento da população, por nossos hábitos e estilo de vida, o volume tem aumentado no mundo todo. Isso traz alguns problemas porque o famoso “jogar fora” não existe. O fora é sempre um lugar.
Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), 46 milhões de toneladas de resíduos foram encaminhadas para aterros sanitários no Brasil em 2020.
No aterro, inevitavelmente, o lixo produzido por cada um de nós vai virar gases de efeito estufa, principalmente o metano, que retém o calor na atmosfera e também está envolvido na formação de ozônio no nível do solo, que polui o ar e é prejudicial à saúde humana. Os aterros sanitários são os terceiros maiores emissores de metano, depois da agropecuária e da geração de energia, segundo a Climate Watch.
Uma das soluções para mitigar esse problema é capturar o gás metano e transformá-lo em biogás utilizado na geração de energia elétrica, que pode ser oferecida a consumidores no sistema de Geração Distribuída.
Em maio, foi inaugurada uma planta de biogás com geração de energia elétrica dentro da Lara Central de Tratamento de Resíduos, em Mauá, que recebe cerca de 3.500 toneladas/dia de resíduos de diversos municípios da grande São Paulo. O projeto é uma parceria da Eva Energia e da Aggreko.
Dentre os consumidores da energia gerada por essa planta estão a operadora de telefonia Oi, a rede de academia Bluefit e a rede de lavanderias Omo. Pelas regras da Geração Distribuída, essas empresas fazem um contrato com a Eva que, ao fim do mês, contabiliza quanto de energia foi injetada na rede e quanto desse total corresponde ao contrato de cada empresa. A Enel, por sua vez, não cobra esse valor das empresas porque elas já pagaram para a Eva.
De forma geral, essas empresas gastam menos com a conta de luz do que gastariam consumindo a energia comum. Porém, segundo Eduardo Lima, CEO da Eva Energia, esse não é o foco dos contratantes e nem o apelo de venda da Eva.
“Nosso foco não é o desconto, mas sim contratar empresas que tenham foco em ESG. Esse movimento já vinha crescendo de dois anos pra cá e, agora, com essa questão da guerra da Ucrânia, acelerou de maneira absurda.”
Neste aterro de Mauá foram instaladas duas usinas de 2,5 MW, e o compromisso da Aggreko – responsável pelos geradores – é entregar 5 MW/mês. Para garantir isso, uma sala de comando computadorizada acompanha em tempo real o funcionamento dos geradores.
“Fazemos os acompanhamentos dos percentuais de contaminantes a cada 150 horas porque se o nível estiver elevado, precisamos antecipar a manutenção dos geradores. Os siloxanos (compostos de sílica que resultam do processo de decomposição em aterros), por exemplo, podem acabar com o motor”, explica Sidnei Vital Guimarães, gerente de desenvolvimento de negócios na Aggreko e responsável pelo setor de bioenergia.
Juntas, a Eva e a Aggreko já operam uma planta de biogás em Seropédica, no Rio de Janeiro, e o plano é expandir o serviço para outros lugares.
Um dos desafios é que esse modelo de geração de energia a partir de aterro sanitário só se justifica em grandes núcleos urbanos, onde a geração de lixo é grande. Para municípios menores, a solução deve passar pelos biodigestores, que recebem o lixo orgânico diretamente e produzem um tipo de fertilizante natural, além do biogás.
No infográfico a seguir, você pode entender o passo a passo da transformação do lixo que vai para aterros sanitários em energia elétrica.
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