Formada em enfermagem pela USP, iniciei minha carreira no Hospital Sírio Libanês, onde vivenciei na prática os desafios e as recompensas da profissão.
Sempre tive um espírito empreendedor, o que me levou a fundar minha própria empresa de internação domiciliar, em um momento em que essa modalidade de cuidado ainda era incipiente no Brasil.
Movida pela convicção de que o conforto e o apoio familiar são essenciais para a recuperação dos pacientes, lutei para transformar essa ideia em realidade e auxiliar pessoas em um momento delicado de suas vidas
A vida pessoal também me presenteou com grandes alegrias e desafios. Casei-me e tive dois filhos maravilhosos, Laura e Luca, que se tornaram a prioridade absoluta da minha vida.
A gravidez da minha filha Laura foi marcada por dificuldades. Tive placenta prévia e perdi sangue, mas sempre soube que ela seria uma guerreira. E assim foi: Laura nasceu forte e saudável.
Com minha bebê já andando, um dia, enquanto estava agachada, esperando-a caminhar, senti uma dor intensa na barriga. Como sou enfermeira, sabia que não era uma dor comum e rapidamente pedi ajuda
Entre a porta do hospital e a sala de cirurgia, passaram-se apenas 14 minutos. A urgência era evidente.
Durante a cirurgia, o plantonista constatou que se tratava de uma gravidez tubária e, na aspiração, acabou aspirando parte do meu ovário e da trompa.
Após essa cirurgia, o médico foi claro ao me informar que minha chance de ter filhos novamente era praticamente nula.
Como tinha sofrido muito na primeira gravidez, disse a ele no momento que estava tudo bem. No entanto, um mês após o diagnóstico, descobri que estava grávida do meu filho, Luca.
Meus hormônios ainda funcionavam e, naquele finalzinho de ovário, um óvulo gerou esse bebê. Eu tinha 30 anos. Após o nascimento de Luca, entrei na menopausa precoce
Em meio a todos esses desafios, descobri outro problema de saúde. No verão, enquanto me preparava para as férias, notei que o biquíni tamanho P estava um pouco folgado. Decidi então colocar silicone para me sentir mais confiante.
No mesmo dia, achei um médico e fiz os exames pré-operatórios. Foi durante esses exames que descobri um nódulo no seio.
Na sexta-feira, recebi o diagnóstico de câncer maligno e, na terça-feira seguinte, já estava operada, com um quadrante da mama removido.
Em seguida, iniciei todo o tratamento necessário.
Foi um choque. Vivi um medo avassalador de não poder acompanhar o crescimentos dos meus filhos. Era como se tudo tivesse acabado, como se o futuro se fechasse em minhas mãos
O primeiro pensamento foi: “Um ano, talvez dois, lutando contra essa doença, e depois… o fim”. Mas logo essa escuridão deu lugar à determinação. Não havia plano B. Eu precisava viver, precisava ser feliz para meus filhos.
Tive a sorte e a imensa gratidão de ter condições de correr atrás do meu tratamento. E acreditem, foi esse empenho, essa luta, dia após dia, que fez a diferença.
Hoje, olho para trás e vejo o quanto crescemos juntos. Meus filhos, agora mais velhos, me acompanharam nessa jornada árdua, me fortaleceram com seu amor incondicional
E eu, renascida a cada dia, aprendi que a vida é um presente precioso a ser vivido com intensidade e amor.
A falta de informação e apoio nesse momento foi frustrante. Sentia-me perdida, sem saber o que esperar ou como lidar com os sintomas físicos e emocionais que me acometiam.
A menopausa ainda é cercada de tabus, raramente discutida abertamente entre as mulheres. No meu caso, ela chegou cedo demais, aos meus 30 anos, enquanto a minha mãe, com 55, apenas começava a sentir os primeiros sintomas.
Ser uma mulher jovem em menopausa era algo inesperado e solitário. Não tinha amigas com quem me identificar, nem alguém que me entendesse. Minha mãe, apesar de estar próxima, ainda não compreendia completamente o que eu estava passando
Há um preconceito que associa a entrada na menopausa à perda da fertilidade e ao fim da vida. No entanto, o fim da vida só ocorre quando morremos, não quando não podemos mais ter filhos.
Eu mesma, desde os 30, já não podia ter filhos, mas isso não significou o fim da minha vida.
Os piores sintomas foram calorões insuportáveis, aumento de peso e celulite por todo o corpo! Em apenas três semanas, eu me sentia completamente diferente.
Além das mudanças físicas, a minha mente também ficou um caos, faltava foco. Eu me perdia no meio das frases, esquecendo o que estava falando ou para onde ia. Era como se meu cérebro tivesse entrado em pane.
Precisava fazer algo. Foi aí que comecei a buscar soluções naturais. Para os calores, descobri o chá de folhas de amora. Fazia uma garrafa enorme pela manhã, super concentrada, e tomava até a noite
Nessa mesma época, também me deparei com os óleos essenciais. E foi aí que a minha vida mudou. Comecei a usar o óleo de peppermint para aliviar os calores, outro para melhorar a concentração e mais um para o foco. Os efeitos foram incríveis.
Além disso, descobri a meditação e o mindfulness, que me ajudaram com as mudanças de humor. Para completar, me joguei nos exercícios físicos. Fiz muito aeróbico e me sentia bem melhor com a endorfina liberada.
Em fevereiro deste ano, descobri que o SUS passou a oferecer tratamento para essa fase da vida da mulher.
Um projeto de lei, PL 3933/2023, reconheceu a menopausa e o climatério como condições que devem ser tratadas gratuitamente pelo sistema público de saúde.
Esse fato me inspirou a criar um projeto com o intuito de ressignificar o câncer e a menopausa, tratando abertamente sobre esses temas para que todas as mulheres tenham acesso a informação e apoio
Junto com minha amiga Maria Laura Babikian e meu irmão José Augusto de Paula, fundei o projeto Vênus Talks. Buscamos democratizar o acesso à informação de qualidade sobre a saúde feminina e promover o autocuidado, para que as mulheres possam planejar sua longevidade de maneira ativa, com qualidade, saúde e acolhimento.
O primeiro evento do projeto, Vênus Day Talks, aconteceu no dia 21 de maio no hotel Rosewood, em São Paulo.
Reunimos 300 mulheres e um grupo de médicas para levar importantes conhecimentos e cuidados para essa fase da vida. O dia de palestras foi encabeçado pelas médicas Dra. Adriana Vilarinho, Dra. Flávia Fairbanks, Dra. Carmita Abdo e Dra. Ana Priscila Soggia.
A proposta do Vênus Talks, além de fomentar a troca de informação e conhecimento, é tornar-se uma grande fonte de dados sobre a menopausa para colaborar com a indústria farmacêutica e a classe médica
Já estamos prevendo mais dois outros encontros para o segundo semestre de 2024 e uma edição especial em que os ingressos servirão de fundo para um evento beneficente.
Acredito que o conhecimento é a chave para a prevenção e o tratamento de doenças. E que todas as mulheres merecem ter acesso a ferramentas que as ajudem a tomar decisões conscientes sobre sua saúde.
Renata de Paula é formada em enfermagem e design de interiores. Integrou o board do El Museu del Barrio, em Nova York, e é patrona do Museu de Arte de São Paulo (MASP) e do Museu de Arte Moderna (MAM), de São Paulo. É CEO do Instituto Ybi, que apoia projetos com foco em responsabilidade social, cultura e educação, e cofundadora do Vênus Talks.
Lettycia Vidal empreendeu a Gestar para combater a violência obstétrica, mas esbarrou na escassez de investimentos em negócios fundados por mulheres. Ela conta o que aprendeu nessa jornada — e fala sobre sua nova etapa profissional.
Câncer era um tema cercado de tabus quando a médica radiologista Vivian Milani se iniciou na profissão. Ela fala sobre sua trajetória e o projeto itinerante Mulheres de Peito, que só neste ano já realizou mais de 15 mil mamografias gratuitas.
Na infância, Marina Amaral teve de mudar a alimentação e se exercitar para lidar com o ganho de peso devido ao hipotireoidismo. Adulta, ela deu uma guinada na carreira e desenvolveu o Lia, uma plataforma para fortalecer o bem-estar feminino.