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Na contramão do greenwashing, a Natura quer reduzir drasticamente suas emissões de carbono até 2030. E conta com a ajuda de startups

Aline Scherer - 27 jun 2024
Maria Eduarda de Sá Cavalcanti, diretora de Novos Negócios e Open Innovation da Natura &Co América Latina.
Aline Scherer - 27 jun 2024
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Desde 2023 vêm pipocando notícias negativas que põem em xeque a credibilidade do mercado de carbono voluntário (o único hoje disponível no Brasil). Neste mês de junho de 2024, por exemplo, a Polícia Federal deflagrou a Operação Greenwashing para investigar a venda irregular de créditos por meio da grilagem de terras da União na Amazônia Legal.

Na contramão dos escândalos e da ilegalidade, a Natura &Co se tornou, também em junho, a segunda empresa do mundo (atrás apenas da consultoria Bain&Company) a receber uma certificação global atestando a alta qualidade dos projetos de compensação dos quais adquire seus créditos de carbono. O selo, concedido pela Voluntary Carbon Markets Integrity Initiative (VCMI), se refere às negociações de 2022 e reflete o esforço da Natura em mitigar seu impacto ambiental. 

Esse esforço se traduz no escopo do Natura Innovation Challenge, que em sua terceira edição tem como foco soluções para compensação e redução de carbono. Organizado em conjunto com a Ace Cortex, o programa selecionou quatro startups – VerdeNovo, Canopy, Bioverse e LandPrint – que serão aceleradas pelos próximos cinco a seis meses. A iniciativa ganha relevância estratégica com a proximidade da COP 30, agendada para 2025, em Belém (onde a Natura mantém um núcleo de inovação).

“As startups selecionadas estão alinhadas à nossa estratégia de negócio, promoção da diversidade nas equipes e atuação com comunidades na Amazônia, além de estarem abertas ao aprendizado e à colaboração com a Natura &Co”, diz Maria Eduarda de Sá Cavalcanti, diretora de Novos Negócios e Inovação Aberta da Natura &Co América Latina.

Segundo Maria Eduarda, a Natura está aberta a fazer investimentos e joint ventures (em 2023, adquiriu a Singu, aplicativo que conecta clientes e prestadores de serviços de beleza). Na Natura há 14 anos, ela entrou como trainee, galgou posições e comandou a operação nos Estados Unidos antes de assumir a diretoria de Novos Negócios e Inovação Aberta.

Leia a seguir a entrevista:

 

O que a Natura Startups estava procurando e quais indicadores e características a empresa avaliou nos candidatos?
Essa é a nossa terceira edição do Natura Innovation Challenge, nosso programa de aceleração de startups dentro do grupo Natura &Co. 

Na primeira edição, um desafio global, falamos de circularidade. Ano passado, fizemos a temática de bem-estar para nos ajudar a endereçar o tema da mulher cansada junto com a marca Tododia

Neste ano, buscamos startups e empreendedores para nos ajudar em todas as nossas jornadas, com soluções que possam endereçar prioritariamente redução e compensação de carbono em comunidades agroextrativistas da Amazônia, que possam gerar impacto social e ambiental 

A gente tem esse norte de endereçar desafios socioambientais e, ao mesmo tempo, gerar oportunidades de negócios. Mas o interessante desse desafio é que estamos muito abertos a diferentes tipos de startups: agritech, edutech, legaltech, cleantech, greentech… Todos que têm soluções que podem nos apoiar em qualquer fase da jornada de mitigação e redução de carbono. 

Esperamos que esses empreendedores nos ajudem a endereçar nossas metas, e também construir esses negócios, esses modelos disruptivos nessas soluções.

Quais são as principais fontes de emissão de CO2 na Natura? E como esse desafio das startups pode se conectar com a COP 30, no ano que vem no Pará, na Amazônia, onde a Natura tem atividades há muitos anos?
A gente compensa carbono há mais de 10 anos. A Natura é uma referência em monitoramento das emissões, e em se comprometer com metas públicas específicas para cada um dos escopos 1, 2 e 3, que estão no nosso relatório anual. 

A gente se desafiou ainda mais nessa revisão do Compromisso 2030, com metas baseadas na ciência, para fazer uma redução absoluta de 42% das nossas emissões até 2030 

Existem diversas fontes de geração de carbono nesta cadeia. Mas, ao mesmo tempo, existem fontes de compensação de carbono. O nosso próprio modelo de negócio já estabelece vários projetos que já compensam essas emissões. 

O mapeamento da nossa cadeia produtiva, fornecedores, a nossa atuação nas comunidades agroextrativistas na Amazônia e os nossos projetos de regeneração na Amazônia – tudo isso está contando nessas nossas metas de redução. Isso está vinculado não só aos compromissos públicos, mas também o que vai ser bastante discutido no ano que vem na COP e o que já vem sendo discutido. 

A Natura fala de sustentabilidade há mais de 30 anos, faz parte, de fato, do nosso modelo de negócio. Mas a sustentabilidade não é mais suficiente para o momento que a gente está vivendo no mundo, porque é sobre manter ou não impactar negativamente 

O que a gente precisa e já vem falando é de regeneração, ou seja, ter impactos mais transformacionais no mundo, além de só sustentar ou não impactar mais. 

Regeneração vale para tudo: a forma como a gente produz, se relaciona com a nossa cadeia. Por exemplo, pegar uma área que já está devastada na Amazônia e a regenerar através de um processo produtivo em parcerias com as comunidades locais.

Essa lógica de não só não impactar, mas começar a regenerar é o norte desse ciclo estratégico e é por isso que conecta tanto com esse desafio do Innovation Challenge, porque não é trivial. 

Para assumir esse desafio, vamos precisar de muita inovação e muita parceria externa também, como já fazemos com as startups, no Natura Startups, e com as universidades e institutos de pesquisa, no Natura Campus 

Temos artigo científico assinado em conjunto; temos patentes assinadas em conjunto com estudantes e com universidades. Tem um número bem alto nos últimos 20 anos que a gente constrói através de parcerias com campus. 

Fornecedores também fazem parte dessa jornada junto com a gente, nesse compromisso mais amplo. Quando falamos que vamos reduzir 42% de todas as emissões, estamos considerando reduzir [inclusive] dos próprios fornecedores. E fazemos projetos para endereçar isso também.

A Natura está carbono neutro há mais de 10 anos, por meio do mercado voluntário. O que pode ter de novidade nesse processo de compensação de carbono? Havia alguma expectativa sobre o que viria de soluções?
A gente tem alguns desafios. Pode ter [por exemplo] startups que nos ajudem na própria gestão, junto com as comunidades agroflorestais. 

Algumas agritechs podem nos apoiar nessa relação com as comunidades: como é que a gente compensa e constrói uma relação, onde a gente também distribui para as próprias comunidades essa geração positiva de impacto…

Até na área jurídica, podemos ter novidades importantes, porque a gente precisa validar todo esse trabalho que está sendo feito lá na ponta. E existe um desafio burocrático para isso. 

Quando pensamos na jornada inteira, temos oportunidade de compensar carbono na floresta, na comunidade, no transporte, na forma como a gente se relaciona, na forma como a gente remunera… Tem várias oportunidades.

Como funciona o programa? O que a Natura oferece às empresas?
Damos mentorias com nossos profissionais, conhecimento técnico, em parceria com a Ace Cortex. Tem toda uma jornada de treinamentos específicos. 

E também a construção de testes, as chamadas Provas de Conceito (PoCs) junto com o time da Natura. Dependendo da PoC, a gente pode ir à Amazônia fazer um teste junto com os nossos colaboradores locais, na nossa sede.

Tem uma oportunidade dos empreendedores, de fato, testarem uma solução de forma prática dentro de um modelo de negócio que já é estabelecido, que já tem uma lógica sustentável – e testar o impacto diretamente junto com a gente, nesse ambiente de teste, já com essa estrutura montada

Temos um Ecoparque na Amazônia, pertinho de Belém: é uma fábrica onde a gente produz sabonetes, referência em práticas sustentáveis. E todo esse ecossistema da Natura montado ao redor da temática de regeneração vai estar a serviço dos empreendedores, assim como os nossos especialistas.

Que tipo de resultado prático essas duas primeiras edições de Innovation Challenge trouxeram para o negócio?
A nossa primeira edição foi global, sobre circularidade e soluções especialmente para embalagem, para reduzir o impacto. Foram mais de 570 soluções apresentadas de 37 países, e quatro startups selecionadas – duas brasileiras e duas estrangeiras, inclusive uma fundada por uma mulher – para desenvolver soluções com o nosso time de P&D.

A do ano passado, com foco em bem-estar, foi só no Brasil. Aceleramos três startups, e duas nos acompanharam para um teste financiado. Desenvolvemos produtos digitais com foco no bem-estar das mulheres: a Wilu e a Lia, startups que continuam parceiras nossas. 

A Lia desenvolveu uma jornada do sono para as mulheres – em parceria com um produto novo que lançamos da marca Tododia, com foco na qualidade do sono. Quando a gente combina o produto físico, que já tem benefícios tangíveis, com uma jornada de bem-estar digital, a gente potencializa ainda mais a eficácia do produto 

E a Wilu construiu um produto digital chamado Durma Tranqwilu. Ambos estão disponíveis na App Store. O programa durou sete meses, terminamos no finzinho do ano passado. 

A linha de cosméticos com foco na saúde do sono já tinha sido lançada, sendo que estendemos a experiência para um ambiente digital. Esses dois produtos digitais ajudaram a tangibilizar mais a proposta de valor de bem-estar do produto, que se tornou um dos best-sellers.

Temos alguns resultados muito práticos de relacionamento com startups. Como o Natura Startups existe desde 2016, mais de 6 mil startups já passaram pelo programa. Fizemos parcerias de soluções com mais de 130, e hoje estamos se relacionando com em torno de 50. 

Tem uma startup californiana, a Mango Materials, pioneira no desenvolvimento de materiais com impacto positivo. Ela desenvolveu uma saboneteira para uma linha que lançamos no ano retrasado, a Biome, de produtos sólidos. 

Essa saboneteira é produzida através de uma tecnologia que captura o gás metano que sai do lixo [25 vezes mais tóxico para o aquecimento global que o CO2] e transforma isso numa bioresina, que pode ser, por exemplo, utilizada para cosméticos como uma saboneteira 

Esse gás potencialmente nocivo se torna compostável e biodegradável. A gente acessou essa tecnologia e desenvolveu esse projeto em parceria com a startup – um caso de inovação aberta com o time de P&D.

Essa startup californiana não estava em um concurso como o Innovation Challenge. Ela apareceu em uma busca realizada pela Natura Startups?
Exatamente, e junto com o time de P&D. 

A gente indica que as startups se cadastrem no natura.com.br/startups para fazer parte do nosso banco de dados. E normalmente entramos em contato quando entendemos que aquela solução faz sentido para se conectar com algum desafio ou projeto. Ou quando a gente faz eventos. 

Mas também fazemos buscas ativas de startups quando temos um desafio específico. Acionamos os ecossistemas de inovação e convidamos as startups para participarem junto nos desafios do negócio e fazerem esses testes, partindo do pressuposto que é uma relação de construção 

A gente apoia os empreendedores, quer que eles cresçam, se desenvolvam, desenvolvam o negócio deles, e usem o ecossistema da Natura para isso. Assim como contamos com eles para endereçar desafios importantes e estratégicos tanto do nosso negócio, quanto dos nossos compromissos socioambientais. 

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