Uma plataforma para unir o produtor rural que conserva o meio ambiente e gera o ativo da conservação de florestas UCS (Unidade de Crédito de Sustentabilidade) a empresas de todos os portes que desejam adotar práticas ESG, auxiliando estratégias de políticas públicas de sustentabilidade e combate a mudanças climáticas. Essa é a proposta da govtech Tesouro Verde para transformar em riqueza as dores desses dois setores da economia.
O balanço é simples e deixa clara a relação ganha-ganha: o produtor rural preserva a mata nativa e é compensado financeiramente por isso pela empresa que compra os créditos de preservação florestal (cada UCS equivale a 1 tonelada de carbono estocado que deixou de ser emitida). Essa, por sua vez, recebe um selo ESG, respaldado por um protocolo rígido e por ciência aplicada, compensa o impacto de suas atividades produtivas e pode gozar de todos os benefícios agregados isso, como taxa de juros reduzida, garantia em linhas de crédito e outras vantagens governamentais.
Mais de 650 empresas dos mais diversos portes, como clínicas médicas, grandes bancos e mineradoras já aderiram ao Selo Sustentabilidade Tesouro Verde. Essas certificações permitiram que mais de 200 milhões de UCSs mudassem de mãos.
“Nós somos verdadeiramente um banco verde e queremos mostrar que ESG tem que ser uma prática de todos”, resume a CEO Maria Tereza Umbelino, economista e filha de produtor rural, que faz questão de frisar o aspecto inclusivo da plataforma, fundamental para o avanço das políticas climáticas.
“O Tesouro Verde atende às necessidades de micro e pequenas empresas que hoje não têm estrutura financeira para garantir uma prática ESG.”
Nada no processo abre brechas para qualquer tipo de greenwashing: o uso de blockchain tokeniza o certificado e garante o máximo de credibilidade.
PLATAFORMA TEM COMO BASE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Por trás da simplicidade do conceito do Tesouro Verde, está a expertise e o esforço do grupo Brasil Mata Viva, idealizado em 2007 pela própria Maria Tereza, que construiu, pouco a pouco, toda a estrutura necessária para que o atual cenário se concretizasse
No auge da discussão do Código Florestal, quando o debate ainda tratava de pontos básicos, como a porcentagem de mata nativa que deveria ser mantida na Amazônia, a economista identificou a oportunidade única de unir dois temas fundamentais para o país: preservação do meio ambiente e atividade rural. Se o trabalho de certos produtores poderia, sim, ser considerado atividade de conservação, por que não remunerar esses players?
“A analogia era simples”, resume Maria Tereza. “A floresta viva tem um fruto e precisávamos materializá-lo.”
Para chegar a esse fruto, a equipe liderada pela economista debruçou-se sobre pesquisas, rodou a Europa e começou a traçar estratégias, até entender que a melhor opção seria trabalhar com pagamento por serviços ambiental, mesmo que na época ainda não houvesse legislação nacional para isso.
Do lado dos produtores, o BMV passou a estimular o desenvolvimento de planos de conservação ou sustentabilidade e desenvolver, em parceria com a Unesp, a metodologia necessária para valorar esse serviço ecossistêmico. O primeiro projeto foi com produtores no núcleo do Xingu, que hoje reúne 57 propriedades, uma área de 98.967 hectares de floresta nativa e originou 78.724.387 UCS. Hoje já são cinco núcleos como esse: Teles Pires, Madeira, Arinos e Amapá.
Em 2008, o caminho foi aberto com a aprovação da primeira lei de reconhecimento de modelo de sustentabilidade e interesse público. Então vieram a UCS (Unidade de Crédito de Sustentabilidade), moeda verde para compensação da pegada ambiental, que engloba 27 serviços ambientais; o BMV Standard, padrão para analise métricas e indicadores ambientais, sociais e econômicos em regiões de Florestas que certifica a UCS (atualmente essa auditoria é feita pela conceituada SGS); a primeira Cédula de Produto Rural (CPR) Verde registrada na B3, no início deste ano, e a plataforma Tesouro Verde.
“Tudo isso graças à ciência e à tecnologia, especialmente de blockchain”, como faz questão de frisar Maria Tereza.
“Quando colocamos a UCS na prateleira Tesouro Verde e ela é adquirida, a empresa sabe está investindo em pegada hídrica, de carbono, enfim, é um combo.”
INTERNACIONALIZAÇÃO É O PRÓXIMO PASSO
Ao contrário do que vem sendo previsto no mercado, a ideia do Tesouro Verde não é ser unicórnio. “Queremos ser camelo”, garante Maria Tereza, fazendo referência às startups que têm como objetivo crescer de maneira sustentável, aproveitando as oportunidades e lidando com as adversidades do caminho sem turbulências. “Sim, escalonamos rapidamente, mas a forma com que nós financiamos foi de crescimento de receita.”
Além de seguir ampliando e consolidar seu leque de projetos e clientes no Brasil, o Tesouro Verde mira também na internacionalização, plano que ficou mais evidente com sua apresentação na COP26, no final do ano passado. Além de ser a única startup brasileira convidada, era também a única em preservação de floresta. Hoje, a empresa já tem escritório em Lisboa.
De acordo com a economista, os players internacionais estão interessados na base técnica da solução, ou seja, na plataforma em si, para lidar com seu patrimônio natural. A vantagem para eles é que, especialmente na Europa, a legislação já está mais avançada, inclusive no setor financeiro, que é quem financia as práticas, boas e ruins.
“Nós acreditamos em uma economia financiada por esse ativo ambiental: queremos continuar crescendo e eventualmente estar com o maior número possível de empresas”, diz Maria Tereza.
“Se mais produtos circulassem com um pedacinho de conservação de floresta, não teríamos o déficit que temos hoje para o nosso bem estar, de 1.2 hectares por habitante na terra.”
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