Eu sempre fui uma pessoa muito decidida. Por isso, a escolha por fazer direito quando tinha 17 anos me pareceu óbvia e natural.
Claro, eu adorava as simulações de Mini ONU no colégio, arrasava nas matérias de humanas e tinha um carinho especial pela escrita.
No entanto, o que não te contam quando você tem 17 anos é que você só descobre exatamente o que é uma profissão quando… você começa a trabalhar
Quando comecei a faculdade, eu era daquelas alunas insuportáveis que no primeiro período já falava que queria trabalhar com direito societário, na área consultiva. Dizia que eu ia trabalhar com fusões e aquisições e ajudar grandes empresas na sua estratégia de crescimento.
E foi o que fiz. Fui aprovada em um estágio no melhor escritório societário da minha cidade, fiz cursos fora do país sobre governança corporativa e criei a base para ter uma excelente carreira como advogada societária.
No entanto, ao longo de um ano e cinco meses trabalhando na área, eu fui percebendo que eu amava a equipe que eu trabalhava, eu amava o escritório, mas… eu não amava o meu trabalho.
Foi a primeira vez que eu contemplei uma transição da carreira. Mas o que não te contam sobre transição de carreira é que muitas vezes você não sabe exatamente o que você quer fazer, você só sabe o que você não quer.
Nisso, eu já estava no oitavo período da faculdade de direito e resolvi completar o curso e tirar minha OAB.
Ao mesmo tempo, comecei um processo bastante introspectivo sobre o que eu gostava, com o que eu queria trabalhar, quais carreiras existem no mundo e como eu faço para sair do ponto X (direito) para o ponto Y (seja lá o que eu decidisse fazer)
Foi aí que percebi que a minha formação em direito me trazia algumas limitações.
Eu não tinha muitas habilidades quantitativas; não entendia como empresas funcionavam fora da área jurídica. E o mercado em geral era bem fechado para contratar advogados para cargos que não têm nada a ver com o direito.
Foi aí, também, que eu entendi que sim, eu gostava das simulações de Mini ONU e de escrever — mas também amava acompanhar revistas de moda, coberturas de tapete vermelho, desfiles das fashion weeks.
Comecei a perceber que “criativa” e “comunicativa” eram os dois adjetivos que eu mais usava para me descrever. E passei a me sentir interessada por uma carreira na moda
Mas eu não queria ser estilista ou diretora criativa de alguma marca.
Eu queria trabalhar na parte estratégica das marcas de moda, ajudando as marcas a tomarem decisões importantes sobre como aumentar as vendas, como responder à competição, como otimizar seus processos etc.
Com um pouco de pesquisa, vi que o trabalho de consultoria poderia ser a ponte perfeita entre a minha formação acadêmica e a área em que eu queria atuar.
Entrar para uma empresa de consultoria renomada seria um ótimo primeiro passo para ter uma experiência na indústria, entender melhor o mercado, e ver como várias empresas do segmento atuam, sem necessariamente me comprometer em trabalhar para uma delas.
Eu sabia que um dos melhores jeitos de conseguir ingressar em uma consultoria estratégica era através de um MBA, então esse era o meu “grande novo objetivo”
Pouco antes de me formar, consegui ser aprovada como trainee em uma renomada empresa multinacional na área de consultoria tributária (que já me deixava um pouquinho mais perto do meu objetivo de consultoria).
Enquanto estava lá, acabei criando um projeto para fomentar o protagonismo e liderança femininos no mercado de trabalho, o Girls Board.
Através desse projeto, organizamos eventos para que mulheres pudessem fazer networking, conversar sobre as dificuldades que enfrentam e aprender umas com as outras. Foi o meu primeiro contato com empreendedorismo
Depois de muitas horas de estudo, fazer e refazer minhas redações para as universidades, e participar de entrevistas, fui aprovada no meu MBA na Universidade de Chicago (Chicago Booth).
Após ter sido aprovada no meu MBA — mas antes das minhas aulas começarem —, eu me casei e fui para a minha lua de mel.
Eu estava indo viajar para dois lugares muito diferentes (praia e deserto), mas por restrições de companhias aéreas só podia levar uma mala de 23 quilos.
Fiquei literalmente cinco horas (!!!!) arrumando essa mala, e fazendo um quebra-cabeça complexo de como otimizar combinações de roupas.
Foi aí que tive a ideia de usar a tecnologia para me ajudar a gerar combinações e maximizar o números de looks que eu pudesse fazer com o mínimo de peças possível
Aqui é importante fazer um adendo: eu tinha uma experiência limitada com tecnologia — na consultoria tributária, atuava em projetos de auditoria de qualificação das empresas para o incentivo fiscal da lei da informática, e também em algumas due diligences de startups.
Mas eu não sabia programar, não entendia nada de inteligência artificial — e não tinha experiência em criar e lançar um aplicativo.
Por “sorte”, eu estava prestes a ingressar em um mestrado numa das melhores universidades do mundo.
Estava decidida que ia usar meu tempo em Booth para validar a ideia da minha startup, ganhar as habilidades que faltavam no meu currículo, e aproveitar todos os recursos possíveis para tirar a minha ideia do papel da melhor forma possível.
E foi o que eu fiz.
Em Booth, aprendi o básico de programação, aprendi em profundidade sobre arquitetura de algoritmos de inteligência artificial, aprendi sobre estratégia, marketing, dinâmicas de competição entre plataformas e também sobre contabilidade e finanças
Foi também por causa da Universidade que consegui o investimento inicial para a Zelia, através da minha participação na competição da startups de lá e também da aceleradora de startups da universidade.
Durante meu tempo de MBA acabei conhecendo minha sócia, que na época estava cursando seu mestrado em ciência da computação na Universidade de Chicago.
Mas o que exatamente eu acabei construindo?
O Zelia é um aplicativo que usa inteligência artificial para te dar recomendações de looks tanto com peças que você tem no armário, quanto com recomendações hiper-personalizadas de compra.
A gente gosta de falar que é uma personal stylist e personal shopper gratuita que cabe no seu bolso e está acessível 24 horas por dia.
Desde o lançamento, já acumulamos mais de 50 mil usuários registrados, trouxemos 14 marcas para o nosso projeto piloto e temos mais de meio milhão de roupas na nossa base de dados e mais de 17 mil acessórios
Também temos uma newsletter semanal que é o xodó das nossas leitoras e fala sobre moda, tendências, celebridades e esse mundinho que a gente ama.
Participamos da maior aceleradora de startups pre-seed do mundo, o Techstars NYC e ficamos quatro meses morando em Nova York recebendo mentorias, conhecendo investidores e refinando nosso modelo de negócios.
Falando assim parece que desde que a empresa começou a gente teve apenas sucessos, mas o que eu acho que muita gente esquece de falar é do tanto de “nãos” que a gente tem que aturar no meio do caminho.
Já cometemos erros no produto que fizeram a gente perder usuários, contratamos uma pessoa errada para a equipe, aplicamos para várias aceleradoras antes de conseguir passar no Techstars e estamos diariamente na luta para trazer mais marcas para a plataforma.
Acho importante falar sobre essas coisas porque muitas pessoas têm uma ideia romantizada sobre o que é empreender — e a realidade pode ser um pouco diferente, rs.
De toda forma, quando penso na minha trajetória eu me considero uma pessoa de sucesso. Isso porque nunca estive tão feliz fazendo o que faço
Eu amo meu trabalho, as pessoas da minha equipe estão entre as minhas favoritas entre todas, e acredito muito no que estamos fazendo — e em como vamos impactar a vida e o consumo das pessoas.
Então, mesmo se as coisas não saem exatamente como o planejado, sei que estamos no caminho certo. Porque eu não trocaria isso por nada neste mundo.
Formada em direito e com um MBA pela Chicago Booth School of Business, Laura Mattos, 28, é fundadora e CEO do Zelia App, uma plataforma que utiliza inteligência artificial para criar looks personalizados.
Bruna Ferreira trilhava uma carreira no setor financeiro, mas decidiu seguir sua inquietação e se juntou a uma amiga para administrar um salão de beleza. Numa nova guinada, ela se descobriu como consultora e hoje ajuda empresas a crescer.
Movida pelo lema “siga sua paixão”, Letícia Schwartz foi viver nos EUA e fez sucesso com livros sobre gastronomia. Até que se apaixonou pela educação e fundou uma consultoria que ajuda alunos a ingressar em faculdades americanas.
Frustrados com a carreira, Wesley Klimpel e Patricia Pamplona resolveram cair na estrada e abraçar a vida de viajantes em tempo integral. Hoje, por meio do blog Sem Chaves, eles dividem dicas e histórias de suas andanças pelo mundo.