• LOGO_DRAFTERS_NEGATIVO
  • VBT_LOGO_NEGATIVO
  • Logo

Tania Cosentino, CEO da Microsoft Brasil: “Se não equiparmos as mulheres desde cedo, elas nunca vão desejar sentar nessa cadeira”

Aline Scherer - 19 set 2024
Tania Cosentino, CEO da Microsoft Brasil.
Aline Scherer - 19 set 2024
COMPARTILHAR

Como muitas empresas, a Microsoft firmou o compromisso de reduzir e zerar suas emissões líquidas de carbono até 2030, na ocasião do Acordo de Paris há quase 10 anos. 

No entanto, nos últimos anos, o avanço da inteligência artificial generativa a responsabilidade de cumprir essa meta ainda mais difícil, pois a tecnologia consome muita energia elétrica e água para funcionar.

Detalhe nada trivial: a Microsoft, gigante de softwares, nuvem e computadores, se tornou sócia da Open AI, a criadora do Chat GPT, em 2019, e vem aumentando sua participação acionária desde então. 

“São várias ações acontecendo na mesma velocidade que estamos falando para garantir que em 2030 a Microsoft vai atingir o compromisso [de zerar as emissões]”, afirmou Tania Cosentino, presidente da Microsoft Brasil desde 2019, em entrevista* ao Draft.

Engenheira de formação, Tania se tornou, ao longo da carreira, referência em liderança para sustentabilidade. Por quase 20 anos, ela trabalhou na Schneider Electric, multinacional alemã de equipamentos para gestão de energia, metade desse tempo como CEO da companhia no Brasil e na América do Sul.

Representante de uma minoria feminina em cargo de presidente de empresa (e no mercado de tecnologia em geral), Tania determinou novas políticas de inclusão ao assumir a liderança da Microsoft. 

Uma de suas decisões foi encerrar o Corporate Venture Capital da empresa – que, ao longo de dez anos, investira somente em startups fundadas e geridas por homens – e criar em seu lugar um novo VC exclusivo para negócios capitaneados por mulheres. 

“A velocidade da mudança está muito aquém do que queremos. Precisamos do esforço da intencionalidade. Eu tenho pressa”, diz Tania sobre as mudanças ambientais, sociais e de governança (ESG) necessárias. Leia na entrevista a seguir:

 

Há quase uma década, a Microsoft e outras empresas assinaram o Acordo de Paris se comprometendo a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Nos últimos anos, a IA generativa despontou, com oportunidades de ganho de produtividade e inovação, mas aumentando consideravelmente o impacto ambiental negativo. Como conciliar essas duas demandas?
Eu falo de sustentabilidade ambiental há mais de 15 anos. Não se usava a sigla ESG, se falava no tripé de sustentabilidade: financeiro, social e ambiental. 

Na Microsoft, a sustentabilidade ambiental não é algo que você implementa através de PowerPoint; passa por uma jornada. Em 2009, a empresa fez um manifesto e assumiu seu compromisso com metas de redução de carbono. Ao longo dos anos, vem aprendendo, implementando e melhorando uma série de ações. 

Mais recentemente o advento da IA generativa, baseada em modelos de linguagem que exigem uma alta capacidade computacional, traz uma discussão importante: a gente não ia ser todo mundo Net Zero até 2030? Mas eu estou aumentando minhas emissões porque os modelos exigem mais. Como concilio isso? 

Temos programas e todos os anos os revisitamos para checar o que está nos aproximando das nossas metas de Net Zero e o que está nos distanciando 

Por exemplo, a IA generativa cria algo desconhecido, algo novo: temos que ter ações adicionais para manter a meta de Net Zero. Se cria mais uma camada de necessidade de ação rápida, porque senão a gente não vai chegar em 2030.

A Microsoft tem três compromissos básicos: o de carbono, que é ser Net Zero até 2030 e negativar emissões históricas até 2050; o de água, ser Net Positivo em água; e o de ser Zero Waste, que é a reciclagem de tudo – não só os componentes de embalagem de produto, mas também a reciclagem de todos os produtos que passam pelos nossos data centers. 

Trabalhamos com projetos de desenvolvimento de tecnologia, investimento em startups de fundo temático, como gerenciamento de energia. Energia renovável é um outro pilar que a gente investe bastante. Até 2025, 100% das nossas operações de data centers no mundo serão alimentadas por energia renovável. 

No Brasil, nós contratamos uma parceria com a AES, agora a Auren, onde nos próximos 15 anos teremos fornecimentos de energia renovável de um parque eólico construído para a Microsoft. 

Mais legal ainda é que juntamos os pilares, o social [e o ambiental], e esse parque eólico em Cajuína, no Rio Grande do Norte, será operado por mulheres, uma população extremamente vulnerável 

No Brasil já temos garantido 100% dos nossos data center, os atuais e os futuros, alimentados pelos nossos projetos de energia renovável. 

Mas isso não é suficiente para ser net zero, considerando as nossas aplicações de AI. Estamos trabalhando com outros tipos de modelos de refrigeração dos nossos data centers, investindo em startups para tratar a remoção de carbono e nós compramos alguns milhões de dólares de crédito de carbono por meio de parceria com startups aqui no Brasil. 

São várias ações acontecendo na mesma velocidade que estamos falando para garantir que em 2030 vamos atingir o compromisso 

A Microsoft lança um produto por dia. Ao longo do ano, são 365 novos produtos. Inovação está no nosso DNA, assim como buscar inovar para a mitigação de carbono e projetos de benefício energético. 

Criamos uma Cloud for Sustainability [ferramentas e recursos com IA para gestão e inteligência de dados ESG] porque o grande desafio de gerenciar as emissões é se você não sabe exatamente o quanto você emite. Você tem que olhar a sua cadeia de fornecimento ponta-a-ponta, e esses são dados que, se dentro da sua empresa já são fragmentados em silos, imagina considerar toda a sua cadeia? 

Com a nuvem e a IA, levamos dados importantes para uma camada onde se consegue entendê-los, registrá-los e monitorá-los – e consequentemente, montar programas de correção 

Então, a IA consome mais energia, mas, ao mesmo tempo, traz ferramentas que não tinha antes para controlar as emissões. Tem os dois lados da moeda. 

No outro lado, também temos investido em Small Language Models. Não precisamos de Large Language Models [modelos de linguagem de IA com mais parâmetros, uso de grande volume de dados e por isso mais cara, e com mais emissões de GEE] para todas as aplicações. A Microsoft pode ser olhada como uma conselheira que fala de IA e qual o modelo que você precisa para resolver o seu problema de negócio. 

Outra coisa que estamos fazendo é otimizar o algoritmo. Entre os nossos últimos lançamentos, o GPT 4.0 é um algoritmo que entrega mais com menos capacidade computacional e com menos custo, consequentemente 

O nosso desenvolvimento é mesmo uma otimização do algoritmo: você vai continuar usando o melhor dessa ferramenta, mas ela vai ser mais eficiente do ponto de vista computacional. Trabalhamos também no desenvolvimento de chips com vários parceiros – Intel, Nvidia, AMD – para que os processadores também levem a questão de eficiência energética no seu desenvolvimento. 

É uma busca constante por eficiência, de fazer mais com menos, entregar mais capacidade computacional com menos potência elétrica, um impacto menor.

Algumas empresas estão de fato revisando essas metas e dizendo que, com a IA generativa, não vai dar para cumpri-las. A Microsoft chegou a anunciar, em 2020, planos para se tornar carbono negativo, ou seja, remover mais carbono da atmosfera do que emite. Esses planos se mantêm?
Sim, continua em nossos planos, para 2050, mitigar as emissões históricas [remover do ambiente todo o carbono que a empresa emitiu diretamente ou por consumo elétrico desde que foi fundada em 1975]. 

Algumas empresas estão dizendo: “Ah, mas meu negócio cresceu acima da média…”. Mas isso não está em questão. Os recursos do planeta estão sendo exauridos! É preciso ter a meta [de redução e neutralização] e buscar atingir a meta. 

Se o seu negócio cresceu mais do que a média do seu setor, você vai ter que fazer um esforço maior para mitigar as emissões. Vai ter que investir mais – comprar mais energia de fontes renováveis, comprar mais créditos de carbono – para garantir que naquela data limite você esteja entregando seus compromissos. 

É assim que a Microsoft está fazendo. Não apenas otimizando nossos desenvolvimentos, mas buscando investir em tecnologia de remoção de carbono que a gente ainda não tem 

Parar de crescer para não emitir mais carbono é injusto com a sociedade: ainda temos mais de 700 milhões de pessoas sem acesso à energia. Precisamos de métodos e processos de eficiência energética nos países que mais consomem e mais emitem – uma busca constante com a tecnologia de novas formas produtivas e construtivas. 

Temos que revolucionar a engenharia civil, a indústria de siderurgia, a indústria de cimento para garantir processos produtivos mais eficientes para a sociedade.

A construção e uso da IA passam por decisões éticas, assim como são as decisões de sustentabilidade. Como a Microsoft garante que está no caminho certo, eticamente falando?
O tema tem que estar inserido na cultura da empresa. O AI Act, na Europa [regulamentação de Inteligência Artificial], classifica o risco em “inaceitável”, “alto”, “médio” e “propósito geral de aplicação”. O inaceitável não é negociável. Para os outros criamos plano de mitigação. 

A ética entra nos riscos inegociáveis e isso é uma mantra da Microsoft, faz parte da cultura, do valor fundamental da companhia. Para fazer negócio com qualquer pessoa, com qualquer empresa, eu preciso ser um parceiro confiável. 

Estabelecemos padrões de ética, de cultura, de comportamento super elevados. E isso mantém os nossos negócios. Monitoramos internamente, com ações simples de controle de fraude, controle de corrupção 

Temos muita educação sobre o que é certo e o que não é, o que é assédio moral, o que é assédio sexual, quais são as ferramentas e canais de reporte e denúncia, que também são abertas ao público externo. 

Tem muito treinamento e o tema está presente em todas as nossas reuniões de liderança. Temos auditorias internas que controlam os processos de forma muito rígida, e somos medidos e remunerados pela nossa performance na auditoria interna. 

Temos o que a gente chama de core priorities [prioridades do negócio], a primeira e transversal da companhia é compliance [conformidade] e a segunda, diversidade e inclusão. 

Em 2017, a gente percebeu que a IA poderia tomar decisões baseadas no que ela aprendeu que não fossem legais, porque todos nós temos preconceitos. E aí fomos trabalhar para treinar esse algoritmo de forma diferente

Criamos um Comitê de Ética bem amplo no aspecto diversidade e inclusão, com homens, mulheres, pretos, amarelos, brancos, instituições diferentes, grupos culturais diferentes, porque tem coisas no Brasil que estão Ok e não são Ok nos Estados Unidos, ou na Europa – ou são na China e não são no Brasil. 

E aí passamos a trazer esse comitê de ética para avaliar e orientar sobre o nosso desenvolvimento da IA. Como estamos numa empresa de engenheiros, criamos um framework [estrutura de diretrizes] para garantir justiça na implementação da IA, que seja inclusiva, que uma pessoa com deficiência seja empoderada por IA. 

Para garantir que a IA seja responsável, respeite a privacidade de dados, a segurança cibernética, a segurança física – porque tem o carro autônomo… A IA está aqui para amplificar a engenhosidade humana, não para competir com o humano

Esse framework tem perguntas e desenvolvemos IA baseada nelas. Lançamos o Copilot, e você pode criar sua própria IA, então estamos construindo o framework para o cliente poder desenvolver sua própria IA responsável, tendo a Microsoft como parceiro. 

A jornada da IA responsável é de aprendizado, é contínua, todo dia a gente aprende coisa nova e refina esse framework. Estamos discutindo muito isso com parceiros, com academia e com o cliente, e temos contribuído para a construção das leis e regulamentações necessárias. 

Agora, o que NÃO fazemos é tentar segurar o avanço tecnológico, porque seria como queimar livros na Idade Média. Temos que continuar disseminando conhecimento, entendendo seu potencial, e seus principais riscos para trabalhar na mitigação deles 

É um trabalho contínuo – e temos investido bastante.

A Microsoft tem um fundo de investimentos no Brasil direcionado exclusivamente a mulheres em tecnologia. Como funciona? E que outras iniciativas de fomento à inclusão no setor de tecnologia a empresa mantém?
Dentro da nossa pegada social e dentre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o ODS 4 – Educação de Qualidade é o nosso ODS mais forte. Direcionamos uma série de ações para atendê-lo. 

Hoje se fala que mais de 80 milhões de postos de trabalho serão eliminados por causa da IA e mais de 90 milhões de postos de trabalho serão criados por causa da IA. Só que as pessoas que vão perder seus trabalhos podem não estar equipadas para os novos postos. 

Vamos ter um problema ainda maior de falta de pessoas capacitadas e qualificadas, o que vai trazer um atraso econômico; e vamos ter um monte de gente que precisa de assistência financeira para subsistir nesse novo mundo. Como empresa, nos sentimos responsáveis em capacitar o máximo de pessoas

Criamos uma série de treinamentos em parceria com governos, academia e nossos parceiros de negócio, para que cada pessoa possa escolher a trilha [de cursos] que pode impactar na sua profissão e te deixar mais produtiva, te trazer um trabalho mais prazeroso, mais analítico. 

Desde 2020, mais de 13 milhões de brasileiros entraram nessa plataforma – e quase 3 milhões fizeram pelo menos um curso completo. Vários começam e alguns acabam. É aberto para qualquer pessoa. 

Criamos o Microsoft Mais Brasil, o nosso programa de ações ambientais e sociais. Desde 2020, em parceria com ONGs, fizemos chamadas para as mulheres. Lançamos um curso com a WoMakersCode para mulheres, criamos o curso Black Women in Tech, o curso Trans in Tech, o Women in Cybersecurity

Queremos treinar 100 mil mulheres em tecnologia no Brasil. Oferecemos treinamento, mentoria e postos de trabalho. Temos parcerias com ONGs que trabalham com pessoas com deficiência, de diferentes tipos. A IA ajuda demais esse grupo a ser super produtivo 

Tudo isso para realmente falar: “ei, você, mulher, vem com a gente que vamos te equipar, te dar treinamento e te conectar com um posto de trabalho!”

Trazemos os nossos parceiros de negócios e sempre tem alguém contratando. E todos buscam diversidade e inclusão porque entendem a equação econômica por trás: os melhores resultados financeiros e engajamento dos funcionários, a maior capacidade de inovação. 

O empreendedorismo em tech é muito masculino. Nós fomos fazer uma análise de um Corporate Venture Capital brasileiro constituído há mais de 10 anos pela Microsoft, e vimos que ele só investiu em startup de homens… 

Quando fomos renovar esse VC em 2019, perguntei pro meu diretor de inovação: cadê as mulheres? “Ah, não sei cadê as mulheres. Não tem mulheres em startup”. Eu falei: “Sério? Será que não tem? Eu só apoio um programa que tenha a intencionalidade de trazer mulheres” 

Encerramos aquele fundo e abrimos outro só para mulheres, o Women Entrepreneurship, ou WE Ventures [que foi pauta aqui no Draft]. É um fundo de investimento corporativo com outras empresas, em que a gente só investe em startups fundadas ou gerenciadas por mulheres: a CEO tem que ser uma mulher, ou a CTO, ou ter uma chairwoman [presidente do conselho]. 

Lançamos isso em 2020, com muito orgulho. Desde então, mais de 2 mil startups de mulheres tiveram alguma interação com esse programa. Hoje nós temos 5 investidas, é um fundo semente. 

Uma das nossas investidas, por exemplo, faz o desenvolvimento de negócios em estágio muito inicial – aquela startup que [ainda] não está nem pronta para fazer o pitch – e forma mulheres para se preparar para fazer o pitch e construir um business case

Isso reforça a necessidade de ser intencional. Porque o natural seria montar o fundo de investimentos, abrir a chamada, e viriam só perfis de startups fundadas por homens. Não é errado ou certo, mas é o que acontece. Quando você coloca a intencionalidade e avalia somente startups de mulheres nesse ciclo, você cria uma dinâmica diferente 

E é assim que agimos nesse fundo de startups. Por isso criamos recortes exclusivamente femininos, ou para pessoas pretas, ou para pessoas trans nos nossos cursos de capacitação. É assim que a gente trabalha para trazer líderes mais diversas. 

Estou super feliz porque neste ano, em fevereiro, contratei quatro executivas para o meu time de liderança, hoje formado por quase 70% de mulheres, algo que também não é provável. Deu muito trabalho, mas com bastante intencionalidade consegui trazer mulheres incríveis para a minha liderança. 

Fizemos projetos para mudar a partir do topo e também formamos – desde a base – mulheres, pessoas com deficiência, pessoas pretas e pardas. Vamos às escolas, equipamos as pessoas, fazemos mentoria. Criamos várias posições de entrada para pessoas pretas e pardas. Buscamos, intencionalmente, trazer esses grupos para dentro. 

Qual é o nosso dever agora? Precisamos garantir o sucesso delas. Garantir que o “sistema imunológico não mate” essas pessoas diferentes. Essa é uma atenção constante que as empresas têm que ter 

Diversidade é uma coisa, mas como você cria mecanismos para que todos tenham as mesmas oportunidades? Você equipa e abre oportunidades para que todos possam brigar por elas de forma igualitária. É o que buscamos. 

Diante dessas mudanças, que mensagem você gostaria de dizer aos homens, hoje?
No mundo, somos só 20% de mulheres trabalhando em tecnologia. O que queremos? E é aí que eu acho que tem um equívoco no entendimento. 

Não queremos pegar duas posições abertas, mandar um homem embora para assumir uma mulher no lugar. O que estamos buscando é um mundo mais inclusivo, porque 52% da população mundial é de mulheres. 

Com mais mulheres entrando no mercado de trabalho, mais mulheres gerando renda, eliminando o gap salarial, teremos maior geração de PIB, maior capacidade de consumo, maior produção de bens, consequentemente, mais empregos. 

Eu não estou falando em tomar o emprego do homem; estou falando em aumentar o mercado, aumentar o tamanho do PIB mundial. É disso que falamos quando abordamos a inclusão. E aí é justo ter o mesmo número de mulheres e homens em qualquer posição 

E é a coisa mais injusta do mundo ter um homem e uma mulher fazendo exatamente a mesma coisa e a mulher ganhando 30% a menos. Mas é isso que acontece na vida real. 

O gap salarial global é 30%. Então, em uma maratona, vou correr 42 quilômetros e ganhar bem menos que o atleta masculino, só porque ele vai chegar 20 minutos antes do que eu. 

Vivemos num mundo onde as pessoas não param pra pensar nesse nível de detalhe. Um homem se sente ameaçado, ele acha que a mulher “já está chegando tarde e ainda vai querer sentar naquela cadeira que por direito é minha…”. Sendo que é uma cadeira que está lá pra pessoa que tiver a melhor condição de ocupá-la. Pode ser um homem, pode ser uma mulher.

Só que se não equiparmos as mulheres desde jovens – e não tratarmos da ambição delas –, elas nunca vão desejar sentar nessa cadeira. Quando tratamos do tema de diversidade, vamos mostrar para as meninas, lá atrás, que elas têm sim o direito de sentar à mesa, têm o direito de ser escutadas

E elas têm sobretudo o direito de ganhar o mesmo salário que o colega que teve o privilégio de nascer homem, ou homem branco, porque aí você começa a entrar nas interseccionalidades, e vai ver que o homem preto ganha menos que a mulher branca. A mulher preta tem uma disparidade salarial maior ainda. Isso não é ético. 

Temos que entender que o objetivo é construir um ambiente de trabalho maior, gerando mais empregos que pagam bem. 

Então, quero convidar os homens para essa reflexão, para serem embaixadores das mulheres e desenvolverem um olhar sobre por que aquela mulher avança menos rápido que o colega dela…? O que estamos fazendo inconscientemente que provoca a não tão veloz ascensão da mulher? São ações nossas que expelem a mulher do mercado de trabalho. 

Muitos homens estão refletindo sobre isso porque não querem que as filhas deles passem pelo que as mulheres passam. E acho isso ótimo 

Construir um mundo melhor para as mulheres, as pessoas com deficiência, pessoas neurodiversas, pessoas autistas… É um orgulho que você traz para a pessoa que achou que seria dependente por toda a vida. 

Ela descobre que pode ter um emprego bacana, bem remunerado, que gera impacto com a capacidade que talvez só ela tem… Somos todos únicos, e queremos aproveitar melhor esse mundo, aproveitar ao máximo o potencial de cada indivíduo.

A velocidade da mudança está muito aquém do que queremos. Precisamos do esforço da intencionalidade. Eu tenho pressa, estou ficando velha, quero daqui a alguns anos olhar pra trás e ver uma sociedade melhor, mais inclusiva, uma sociedade com certeza mais rica 

Estamos tendo as conversas certas. Mas o senso de urgência ainda não está do jeito que eu gostaria, do jeito que precisa.

 

* Entrevista realizada durante o IT Forum Praia do Forte 2024. A repórter viajou a convite da organização do evento.

 

COMPARTILHAR

Confira Também: