O empreendedor social Alex dos Santos, mais conhecido como Lemaestro, tem uma meta simples e ao mesmo tempo ousada: tornar-se um líder global. “Não por vaidade, mas por necessidade”.
O paulistano, de 37 anos, acredita que o mundo precisa de líderes que estão buscando, como lucro final, nada menos do que a transformação de um país. E isso se dá, dentre outros caminhos, pela transformação da favela, um ambiente onde ele nasceu e cresceu.
Para alcançar esse propósito, Lemaestro se juntou em 2011 a Edu Lyra, acompanhando-o em uma série de palestras em escolas das comunidades — uma das primeiras iniciativas do que viria a ser a Rede Gerando Falcões.
Cofundador da rede, juntamente com Amanda Boliarini, Edu e Mayara Lyra, Lemaestro hoje atua como COO do denominado “ecossistema de desenvolvimento social que nasceu na favela”.
Sua trajetória é tema da série “Meu, Seu, Nosso”, um projeto que mostra a jornada sobre a cultura da doação no Brasil, seus atores, práticas, efeitos e consequências. Trata-se da primeira série brasileira da Aquarius, plataforma de streaming dedicada exclusivamente a conteúdo audiovisual sobre temas como saúde, bem-estar, meio ambiente, arte, ciência, tecnologia, psicologia e sociedade.
Quem vê o depoimento de Lemaestro na série não imagina que falar em público costumava deixá-lo desconfortável. Para mudar isso, ele contou com um empurrãozinho de um amigo e mentor.
Muito antes da fundação da Gerando Falcões, Lemaestro passou por momentos difíceis, como a lesão que o impediu de seguir uma carreira profissional como skatista, a depressão e a dependência química.
Foi numa casa de recuperação que ele pôde não só lidar com a adicção, mas descobrir um novo talento: o rap.
Para ele, que sempre foi mais introvertido, a música tornou-se uma forma potente de expressar-se e de resgatar a sua autoestima.
“Antes de ter o entendimento que tenho hoje, me considerava um aluno desinteressado ou não muito inteligente; mas, depois, percebi que, na verdade, minha forma de aprender é outra. Eu percebi que aprendo as coisas rapidamente, tanto que aprendi a produzir minhas músicas sozinho, fiz um disco sozinho…”
Foi graças a esse perfil autodidata que, ao longo dos últimos anos, o empreendedor transitou entre diferentes papéis dentro da Gerando Falcões, sendo o primeiro deles como uma espécie de “rapper inspiracional”.
É que, logo após que saiu da reabilitação, Lemaestro reencontrou Edu Lyra, a quem conhecia dos tempos de infância, e fez uma letra para ele por conta da ocasião do lançamento do seu primeiro livro, “Jovens Falcões”. Era uma forma de homenagem e de passar a mensagem da obra de uma maneira cantada.
Impactado com o rap, Edu o convidou para acompanhá-lo nas suas andanças pelas escolas, conversando com estudantes sobre como a educação poderia mudar o futuro delas. A esses encontros foi acrescentado, digamos, um toque especial: batidas da “educação ostentação” — um trocadilho com o nome do estilo musical “funk ostentação”.
Com essa nova estrutura, os eventos passaram a consistir em uma palestra do Edu Lyra e uma apresentação musical de Lemaestro, ambos focados na mesma mensagem.
“Íamos para as escolas falar que eles tinham que estudar, só que usávamos uma linguagem que nos aproximasse mais desses adolescentes e jovens, como o rap. A mensagem era que ostentação de verdade é estudar”
Certa vez, a fim de incentivar o desenvolvimento e autoconfiança de Lemaestro, Edu fez uma surpresa.
“Como forma de exercício, ele sempre pedia para preparar a minha própria palestra e apresentar para ele antes de irmos para a escola. Até que, uma vez, ele me deixou na porta e disse que não poderia conduzir a palestra naquele dia, que eu iria falar com os estudantes daquela vez.”
Ele lembra que o receio de falar em público quase o paralisou:
“Fui morrendo de medo e, quando percebi que as pessoas estavam em silêncio, me escutando atentas e, no final da palestra, batendo palmas, aí eu destravei”
De lá para cá, Lemaestro expandiu o alcance da sua voz para além da música e do público jovem.
Já escreveu artigos para veículos jornalísticos como Estadão, palestrou na The London School of Economics and Political Science (LSE), uma das principais universidades dedicadas às ciências sociais da Europa, e colaborou com a capacitação de 2 mil líderes em todos os estados brasileiros por meio da Falcons University — uma das soluções oferecidas pela Gerando Falcões.
Tal desenvoltura como orador e educador foi adquirida não só por conta do seu autodidatismo, mas pelo investimento que o empreendedor fez na sua educação formal.
“O Edu também teve um papel de me trazer um pouco esses despertar para o estudo”, diz Lemaestro. “Quando eu o conheci, ele tinha estudado e estava escrevendo um livro, então ele sempre reforçava a importância de estudar.”
Se na adolescência Lemaestro era o aluno que jogava bolinha de papel nos colegas, hoje ele é um empreendedor social que se especializou em diferentes campos de conhecimento, investindo na educação formal para isso.
Dentre os cursos de especialização que fez, estão o de Administração e de Gestão de Franquias.
“A minha relação com a educação se tornou uma busca por aprender para ensinar. Meu objetivo final é sempre compartilhar o conhecimento”
Foi com essa mentalidade que o COO ajudou a desenvolver diferentes projetos dentro da Gerando Falcões, como o Favela 3D — neste caso, ele fez um trabalho de benchmark em Medellín, na Colômbia, para adquirir repertório e ajudar a estruturar o projeto.
Trata-se de uma parceria da Gerando Falcões com diferentes stakeholders para redesenhar as favelas do Brasil, transformando-as em um ambiente digno, digital e desenvolvido.
“Construímos uma metodologia para levar uma solução multidimensional, já que a pobreza é isso, é composta por vários fatores”
Dessa forma, a Gerando Falcões se aproxima de instituições públicas e privadas para unir forças, ajudando esdas organizações a realizar ações de impacto em uma das oito frentes que compõem o programa: moradia digna; acesso à saúde; cidadania e cultura da paz; direito à educação; primeira infância; autonomia da mulher; cultura, esporte e lazer; e geração de renda.
Recentemente, o projeto piloto da Favela 3D já começou a dar frutos. No final de setembro deste ano, foram entregues 239 moradias definitivas para os moradores da antiga Favela Marte, no município de São José do Rio Preto.
A conquista foi alcançada por meio da união de forças com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SDUH) e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), ambas do Governo do Estado de São Paulo.
O próximo passo é expandir o programa para outras regiões e potencializar essa transformação. Já no caso de Lemaestro, além dos diferentes projetos na Gerando Falcões, o futuro reserva o lançamento do seu primeiro livro, que deve chegar às livrarias em fevereiro de 2025.
“Eu quero utilizar esse livro para abordar temas como aprendizagem socioemocional, compartilhando a minha jornada. Além de falar sobre questões ligadas às habilidades empreendedoras”
Para isso, o processo do empreendedor social continua o mesmo: aprender para ensinar. “Estou estudando muito, muito, muito para poder complementar meu livro e trazer não só a minha experiência de vida, mas informações técnicas.”
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