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Vinte anos atrás, eles compraram uma cafeteria para complementar a renda. Hoje, o Café Cultura tem 45 lojas espalhadas pelo país

Marília Marasciulo - 21 nov 2024
Luciana Melo e Joshua Stevens, o casal de fundadores da rede Café Cultura.
Marília Marasciulo - 21 nov 2024
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Uma pequena cafeteria na Lagoa da Conceição, bairro turístico de Florianópolis, tocada por um jovem casal que havia acabado de se mudar para a cidade. Foi assim que começou, em 2004, a história do Café Cultura.

Vinte anos depois, a marca se transformou em uma rede de franquias com 45 lojas espalhadas por cinco estados: Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e, mais recentemente, São Paulo. O plano agora é expandir para 250 unidades até 2029.

Segundo a administradora mineira Luciana Melo, 46, CEO e cofundadora da rede (com o americano Joshua Stevens, 52):

“Nosso propósito é ecoar o café especial para o mundo. Hoje vemos uma indústria muito mais democrática, mas isso foi resultado de vinte anos de trabalho, não só do Café Cultura, mas de outras marcas também” 

O Café Cultura foi pioneiro no Brasil em servir cafés especiais, aqueles feitos com grãos selecionados que proporcionam uma experiência sensorial diferente. Embora o público, segundo Luciana, tenha estranhado no começo, a evolução da empresa foi rápida. Com um investimento inicial de 200 mil reais, o casal comprou o antigo café que funcionava no local, derrubou toda a estrutura e reconstruiu uma nova. 

Nos três primeiros meses eles já começaram a ter retorno financeiro; um ano depois, dobraram de tamanho. Em 2009, os dois inauguraram a segunda unidade, em um casarão antigo no centro da cidade, onde começaram a fazer torrefação própria — produção que hoje chega a 60 toneladas de grãos por ano. 

A rede vende atualmente mais de 5 milhões de xícaras de café por ano e promete aos franqueados um faturamento médio mensal de 150 mil reais a partir de um investimento de 450 mil reais, com retorno de 24 a 36 meses e prazo de contrato de cinco anos.

O SONHO DE MORAR NA PRAIA FOI O PONTO DE PARTIDA PARA MONTAR O PRÓPRIO NEGÓCIO

Nascida e criada em Andradas, município de 40 mil habitantes (segundo o Censo de 2022) na região de Poços de Caldas, próximo à divisa de Minas com São Paulo, Luciana se mudou para a capital paulista aos 16 anos, para estudar administração na Unip. Durante o curso, fez estágio na área de vendas em multinacionais, até ser efetivada e migrar para o marketing, a verdadeira aspiração dela. 

Depois de sete anos morando na capital paulista, virou gerente de produtos para a América Latina de uma empresa estrangeira e se deparou com uma dificuldade: não falava inglês. “Sempre foi um trauma para mim”, afirma.

Na época com 24 anos, decidiu ir para os Estados Unidos fazer um curso de idiomas focado em negócios na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara. “Fui com a meta de só voltar de lá quando estivesse sonhando em inglês.”

Passou um ano e três meses nos Estados Unidos, estudando e viajando. Até que se apaixonou por Joshua, que trabalhava como gerente de um restaurante. 

“Chegou um momento que falei que ia embora, mas que achava que precisávamos de mais tempo para nos conhecermos. Propus que ele viesse comigo e ele topou” 

De volta ao Brasil no final de 2003, o passo seguinte foi decidir onde morar. Passaram o Natal com a família em Minas Gerais e deram um pulo na capital catarinense. 

“Eu tinha o sonho de morar na praia e sempre olhava para Floripa, procurava trabalho lá. E voltar com um californiano para morar em São Paulo não daria certo”

No novo lar, era preciso encontrar um emprego. Luciana ficou seis meses procurando, até entrar em uma agência de publicidade para cuidar da área de planejamento. Ao mesmo tempo, ingressou em um MBA focado em marketing. E engravidou. 

Pensando no que mais poderiam fazer para complementar a renda, tiveram a ideia de abrir um café para Joshua. “Tinha um na Lagoa para vender. Compramos e fui ajudar a organizar, já que estava grávida. O plano era voltar para o mercado de trabalho depois”, diz Luciana. “Nunca mais voltei.”

DEZ ANOS DEPOIS DA FUNDAÇÃO, ELES ENTENDERAM QUE O MODELO DE FRANQUIA POSSIBILITARIA A EXPANSÃO

Quando o Café Cultura foi inaugurado, o público conhecia pouco desse universo de cafés especiais — tanto que a recepção inicial foi “chocante”, conforme descreve Luciana. 

“Nosso café era mais claro, a gente servia ele curto, e as pessoas falavam que estava faltando bebida na xícara. A gente se adaptou muito ao paladar das pessoas”

Nos primeiros 10 anos, a empresa cresceu com unidades próprias. “Eram bons tempos para se ter um negócio com alta margem”, diz. Desde o início, porém, as pessoas já perguntavam sobre franquias, principalmente durante a temporada de verão, quando Florianópolis recebe muitos turistas. 

Mas Luciana e Joshua só olharam para a possibilidade em 2014. Na época com oito lojas próprias em Santa Catarina, fizeram um mapeamento do potencial de expansão e concluíram que o melhor modelo para continuar crescendo seria o de franquias. 

Hoje, ela comanda a gestão da marca e Joshua é o “coffee hunter”. É ele quem seleciona os grãos, determina os perfis das bebidas e cuida da qualidade. A matriz ainda funciona em Florianópolis; agora há também um segundo escritório, em São Paulo. Na empresa trabalham hoje cerca de 60 pessoas — fora todos os franqueados.

CAUTELA E PLANEJAMENTO FORAM FUNDAMENTAIS PARA SUPERAR DESAFIOS E SEGUIR CRESCENDO

Por causa da formação e da experiência de Luciana com marketing, o Café Cultura nasceu já com uma visão de marca e produto. E assim cresceu e prosperou. 

“O Brasil é o maior exportador de café e ainda não tem uma marca referência. Cada vez que a gente fala em cafeteria, vêm marcas estrangeiras à mente. Mas eu acredito muito no potencial brasileiro de ter marcas. Esse é meu objetivo final para essa rede”

Em toda a trajetória da empresa, Luciana sempre buscou estudar sobre negócios e, principalmente, produtos. 

Ela conta que fez muito benchmarking em cafeterias de outras cidades. Foi para Minas Gerais conhecer as regiões produtoras, entender como é o café na origem. Desenvolveu uma cadeia de suprimentos que hoje tem cinco fábricas. E consolidou toda a experiência e o “DNA” do Café Cultura. “Sempre fomos referência de qualidade. Tanto que, quando abrimos, havia nove cafés na Lagoa. Hoje só sobraram dois.”

Por isso a expansão, assim como a migração para o modelo de franquias, é cautelosa e muito bem planejada — o que ajudou a empresa a superar alguns desafios. 

Um exemplo foi em 2019, quando o novo aeroporto de Florianópolis estava para ser inaugurado. Com o contrato fechado para a abertura de uma unidade do Café Cultura, Luciana recebeu a notícia de que a Starbucks teria três lojas no local, em pontos melhores. Imediatamente interrompeu a obra e rescindiu o contrato. 

“Há muitas decisões difíceis no meio do caminho. Só não podemos desistir. É a tal da resiliência do empreendedor”

O foco atual está em cumprir o plano de aumentar o número de lojas até 2029 e consolidar a presença no estado de São Paulo. A meta de abrir dez lojas até março 2025 é promissora. “Fomos tão bem recebidos em São Paulo que não estou vendo muitos desafios ainda. A gente projetou uma loja e hoje ela vende três vezes o projetado.”

Pensando na visão para o futuro da marca, é de se esperar que o passo seguinte seja internacionalizar. Mas esse não é um plano concreto ainda. 

“Temos um Brasil todo para desbravar. Mas estamos sempre olhando lá fora, e temos um ‘pézinho’ forte na Califórnia. Quem sabe a nossa primeira loja [internacional] não seja lá?”

Por enquanto, o casal prefere manter suas raízes — casa, filhos, gato — na Lagoa da Conceição, onde tudo começou.

 

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