Eu acredito que nascemos para viver a imensidão que existe dentro de nós. Para mim, isso significa ter um compromisso inabalável em viver uma vida que representa a totalidade do que somos.
E tudo começa quando queimamos aquelas caixas etiquetadas nas quais, muitas vezes sem perceber, nos apertamos para continuar dentro delas. Foi assim que eu embarquei à procura da minha imensidão e encontrei algo que nunca imaginei que teria coragem de fazer.
Desde pequena, sempre olhei a vida com um olhar curioso. Amo estudar e me aprofundar, entender a vida por diferentes óticas, e tive a sorte de meus pais sempre apoiarem o que eu queria estudar: ballet, vôlei, natação, astrologia, piano, arte, misticismo, religiões, comportamento humano.
Tive também a sorte de, desde pequena, ser exposta a diferentes idiomas e mudanças, muitas mudanças. Meu pai era oficial da Aeronáutica e as mudanças de cidade e de país marcaram a minha infância e adolescência
Nasci no Rio Grande do Norte e minha irmã, no Rio Grande do Sul, embora não tenhamos nenhuma raiz em nenhum desses lugares – foram apenas cidades de passagem temporária da família dentro de uma carreira militar. Morei nos Estados Unidos aos 6 anos de idade e em Roma, na Itália, entre os 16 e os 18, e na Argentina e no México na vida adulta.
Ter sido exposta a outros países, idiomas e formas de pensar desde tão cedo, e a tantas adaptações ao longo do meu crescimento, sem saber, me fez uma expert natural em processos de transformação. Não tinha ideia de quanto isso pautaria minha vida.
De todas as possibilidades que cogitei na hora do vestibular – advocacia, arquitetura, tradução e interpretação, comunicação, turismo –, o teste vocacional saiu “atriz”.
Nem tive coragem de contar para meus pais, achei altamente improvável a possibilidade de seguir uma carreira artística, embora o que mais me brilhava os olhos e a alma era o palco nas peças de teatro escolares, o piano e história da arte.
Decidi estudar comunicação corporativa na USP, e hoje penso que foi o mais “artístico” que poderia encontrar dentro de um frame empresarial. Foi uma caixa confortável e segura que achei
Atingi corporativamente o que buscava. Carreira internacional nos Estados Unidos como executiva de comunicação de uma empresa Fortune 100 vendo o impacto do meu trabalho atingir pessoas em 20 países e em 11 idiomas. Graduei em um dos MBAs Executivos mais prestigiosos do mundo, a escola de negócios IMD, em Lausanne, na Suíça.
Me tornei especialista em comunicação para processos de transformação, liderando comunicação para casos complexos de fusões e aquisições internacionais e reorganizações.
Apesar de estar vivendo uma vida incrível e ter atingido o que eu buscava, eu tinha uma sensação estranha de estar vivendo uma vida meio Plano B. Dentro de mim eu sabia que existia algo diferente que eu deveria estar fazendo. Tinha a sensação de que existia um Plano A que eu deveria estar vivendo
Explorei algumas opções, mas que não se encaixavam. Investi, em paralelo à minha carreira corporativa, em uma startup que apresentou uma ideia de negócios parecida com algo que havia idealizado, no ramo de coaching.
Junto com outros sócios, tentamos por um ano, mas o negócio não decolou. Aprendi que erros de liderança, frequentemente comuns e até inofensivos em grandes empresas – como não trazer a expertise necessária para a mesa e a resistência em delegar tarefas – podem, de fato, levar negócios menores à falência.
Decidi tentar escrever livros de ficção. Me dediquei, contratei coaches, e até acho que tinha uma ideia boa. Mas não sentia que era isso ainda. Precisava de mais. Precisava de algo que tocasse minha alma em um nível que não havia sido tocada antes.
Até que, um dia, decidi fazer aula de canto. Na época eu morava em Boston, nos Estados Unidos, em um apartamento que ficava entre uma das maiores escolas de música do mundo – o Berklee College of Music – e a Orquestra Sinfônica de Boston. Vi que havia um estúdio próximo à minha casa que oferecia aulas de canto e decidi ir lá me inscrever.
Eu cresci tocando piano clássico, com uma mãe soprano sempre cantando maravilhosamente pela casa, um pai chamado Mozart, e uma parte da família que trabalha profissionalmente com música.. A música era parte do meu DNA, mas nunca havia pensado na possibilidade de fazer isso profissionalmente
O professor testou a minha voz e fez uma pergunta que eu nunca vou esquecer: “Você tem certeza de que só quer aprender a cantar por diversão? Você tem um alcance vocal potente, similar ao range das grandes divas da música. Eu acho que você pode alcançar muito mais se quiser e se dedicar”.
Eu fiquei impressionada e um pouco sem reação. Ele então completou: “Por que não definimos que seu objetivo é que o ‘céu seja o limite’?”. Eu concordei. Vamos deixar que o céu seja o limite.
E comecei as aulas de canto. Fiz aula por meses até que um dia meu professor sugeriu que eu escrevesse uma música autoral para trabalhá-la nas aulas. Eu fiquei um pouco reticente porque nunca havia escrito nada. Ele insistiu.
Levei como tarefa. E foi assim, sem querer e sem planejar, e de uma maneira muito fácil, profunda e intuitiva, que eu descobri que a composição existia de forma grandiosa dentro de mim.
Naquele momento tudo fez sentido, tudo preencheu. Eu tive um reconhecimento imediato de que essa era a vida Plano A que estava me esperando. E decidi fazer ela se tornar realidade
O primeiro passo foi mergulhar no aprendizado. Tomar uma decisão de investir em uma nova carreira após ter uma carreira corporativa bem estabelecida e alto cargo de liderança não é fácil.
Saímos da zona de conforto das décadas de experiência que nos ajudam a tomar decisões rápidas, e na maioria das vezes certeiras, para situações em que temos que fazer perguntas muito básicas – e não ter ideia entre diferenciar algo realmente bom de algo ruim. Temos que voltar a fazer tarefas que em geral delegaríamos para a equipe, como aprender a programar um post ou editar um vídeo.
Investi em cursos, procurei os melhores mentores disponíveis no Brasil, Estados Unidos e Europa que eu poderia pagar, li diversos livros… E abri três frentes de aprendizado: o negócio da música, composição e produção musical.
Embora a composição seja a base de tudo e venha de mim, preciso transformar uma música, que começa como um simples voice memo no celular, com voz e piano, em um produto final que seja vendável.
Fiz questão de aprender o básico dos programas de produção musical para saber como melhor direcionar um produtor em estúdio, para saber até onde meu input ajuda e a partir de quando atrapalha. Aprendi uma dinâmica de trabalho interessante para produtos criativos: o respeito pelo insight que não precisa de dados ou pesquisas para saber o que é bom ou pode dar certo. Simplesmente vem. É arte.
E também vi que eu tinha uma vantagem competitiva rara nesse meio: a disciplina de quase 25 anos de vida corporativa, uma ética de trabalho inegociável, a capacidade de liderar e engajar pessoas de todos os níveis, e fazer um time atingir resultados. Tanto que as portas foram se abrindo
Um produtor canadense de altíssimo calibre, Rob Wells, com vários discos de platina e um currículo que inclui trabalhos com Justin Bieber, Ariana Grande e Selena Gomez, topou e adorou trabalhar comigo na minha música “Breathe”.
Um compositor, pianista e produtor de Nova York, Jeff Franzel, com uma indicação ao Grammy e trabalhos com Frank Sinatra, também topou assinar o arranjo e produção da minha música “Melt Into You” depois de ver a qualidade das minhas composições e da minha ética de trabalho.
Foram quatro anos até lançar meu álbum de estreia, 9 Steps to Heal a Broken Heart, no começo de fevereiro, disponível em todas as plataformas de streaming.
Ser artista, compositora e empreendedora de uma startup é conciliar três papéis frequentemente contraditórios.
O compositor precisa de espaço para criar, o que geralmente é um processo não-linear e contemplativo. Já o empreendedor precisa ter um plano claro e pragmático a ser seguido.
E, além disso, ser artista, ser a face das minhas canções e da minha arte, exige um compromisso enorme com cuidado do bem-estar físico e emocional, para estar pronta para performar, conectar com as pessoas e inspirá-las em todos os momentos. Tudo isso acontecendo simultaneamente, todos os dias
O feedback que eu mais escuto é o quanto a minha coragem é inspiradora e injeta motivação para seguir caminhos não explorados.
Nessas horas, eu peço para as pessoas elaborarem um pouco mais e escuto o quanto é contagiante saber que é possível começar algo novo e inusitado após os 40 anos, quando a maioria quer começar a estabilizar na vida e colher os frutos do que construiu.
Também elogiam a minha coragem de expor, através das minhas letras, dilemas internos que nós muitas vezes somos ensinados a falar só para os nossos terapeutas.
Isso confirma que estou no caminho certo: o de ajudar cada vez mais pessoas a viver a imensidão adormecida dentro delas
A arte é mais interessante quando não se resume a puro entretenimento. Tendo liderado processos de transformação em empresas e minha própria reinvenção pessoal, acredito que um artista é mais completo e tem mais impacto na sua audiência quando é capaz de conduzir o ouvinte em uma narrativa que convide à autorreflexão.
Esse é o meu convite para você: viva a sua imensidão.
Radicada em Nova York com 25 anos de carreira internacional em comunicação corporativa e um MBA Executivo pelo IMD na Suíça, Karina Louzada se reinventou como artista, compositora e empreendedora. Seu álbum de estreia, 9 Steps to Heal a Broken Heart, está disponível em todas as plataformas de streaming e no YouTube.
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