O consumo desenfreado pela internet disparou depois da pandemia de Covid-19. Os preços também subiram, assim como o desemprego, a pobreza, e as necessidades básicas das pessoas. Nunca na história recente as doações foram tão necessárias. Seria possível juntar o e-commerce, tão em alta, com uma ajuda financeira a instituições? Três amigos de infância pensaram nisso e assim fundaram a Risü, startup mineira que desenvolveu ferramentas para melhorar a captação de recursos para organizações sociais: seu sistema destina parte do valor que o consumidor gasta em compras online para entidades de auxílio à população carente.
Lucas Borges, CEO e cofundador da startup, conta que a ideia nasceu das experiências de vida dele e dos outros dois sócios.
“A nossa criação, os nossos valores, sempre nos fizeram pensar em fazer algo que fosse bom para a gente e para a sociedade, trazendo retorno real e efetivo para o social. Não simplesmente ter um negócio e a partir daí fazer doações; ou fazer algum tipo de trabalho para alguma organização. Queríamos que, de fato, fosse transformador, que a essência dele fosse do bem não só no CNPJ”.
Na época da criação da startup em 2015, Borges fazia alguns trabalhos voluntários para organizações sociais relacionados a planejamento em comunicação e percebeu a dificuldade que muitas tinham em se comunicar com o público e, portanto, de captar recursos. Foi então que surgiu a ideia de possibilitar o engajamento das pessoas com diversas causas e de fazer a doação sem precisar pagar a mais por isso.
Nascia então o que ele chama de Shopping Online do Bem. “Olhando os modelos de cashback que já existiam no Brasil e em outros lugares do mundo a gente fez uma brincadeira e cunhou o termo ‘cashforward’. O dinheiro não pode andar para trás, ele tem que andar para a frente. No nosso negócio, as pessoas compram online, escolhem uma organização social e, sem que elas paguem a mais por isso, parte da compra vira doação”, explica.
COMO FUNCIONA?
O processo de negociação é simples. A Risü negocia comercialmente com os estabelecimentos, recebe uma comissão, e divide essa comissão com a organização social que a pessoa escolheu no momento da compra. O consumidor paga o mesmo valor que pagaria pelo produto se não fizesse a doação. A diferença, neste caso, é que uma parte do valor vira doação para uma causa na qual o consumidor acredita e defende.
Como explica o executivo, existem estudos sobre a cultura da doação que mostram que o brasileiro tem mais facilidade em doar dinheiro do que dedicar tempo. Sendo assim, as doações feitas por meio do Shopping Online do Bem não representam custos diretos ao consumidor, além de serem rápidas e seguras.
O funcionamento do Shopping do Bem também é feito de forma simplificada. “A pessoa entra no site da Risü e procura as lojas parceiras para realizar a compra. Ou baixa o nosso plugin, que vai alertar o consumidor sempre que ele visitar uma loja do Bem, parte da rede de parceiros. Basta o cliente ativar a doação pelo plugin e realizar a compra normalmente. De forma automática, uma parte do valor da compra se transforma em doação”, explica Lucas Borges.
NEM CARIDADE, NEM FILANTROPIA
No início, a startup estava entre dois setores, o e-commerce e as organizações sociais, servindo de elo para fomentar a captação de recursos. Muitos investidores procurados na época não entendiam a proposta do negócio e questionavam se daria retorno. Borges lembra das dificuldades encontradas nesta época, quando muitos pensavam que o negócio era apenas ligado à caridade e à filantropia. “Foi um grande desafio mostrar que o negócio era viável, com geração de lucro, renda e receita para as empresas, só que em um modelo diferente – e, hoje sabemos, diretamente relacionado ao ESG, tão importante para as companhias. No nosso negócio uma parte dos lucros se tornam valor social de forma imediata”.
Com a implantação do modelo de negócio, a Risü começou a fazer pesquisas com os consumidores que passaram a utilizar o Shopping Online do Bem para saber como havia sido a experiência de doação por meio de uma compra. Lucas afirma que a experiência que os consumidores relatam pode ser considerada maravilhosa e lembra, emocionado, de um consumidor em especial.
“Eu mesmo liguei para uma pessoa que havia comprado um [relógio] monitor para corrida e que havia escolhido a Fundação Sara, aqui de Belo Horizonte mesmo, para receber a doação. Ela me contou que quando estava correndo e começava a dar sinais de cansaço, olhar para o relógio e lembrar da doação servia de incentivo para não desistir e correr mais e melhor. Até hoje eu me emociono quando lembro disso”.
A Fundação Sara acolhe famílias de crianças com neoplasias. Elas vêm do interior de Minas Gerais para a capital e precisam de acomodação, transporte e alimentação, além do tratamento médico. São famílias que não têm recursos financeiros para bancar os custos elevados.
NOVA PLATAFORMA
Para ajudar na captação de recursos, a Risü implantou a plataforma Up, uma estrutura com meio de pagamento integrado – cartão de crédito, boleto, Pix – de forma automatizada, na qual o sistema já cobra do seu doador automaticamente. A organização tem um CRM (Customer Relationship Management) na qual sabe quem são os doadores e qual o contato com cada um deles. Além disso, a plataforma promove o relacionamento com esses doadores. Somente em 2021, a Plataforma Up foi responsável por adicionar mais de R$ 5 milhões em doações recorrentes às organizações sociais.
A partir daí apareceu a necessidade de existir a Universidade Risü para ensinar organizações a utilizarem a plataforma. “Não adianta a gente entregar uma ferramenta incrível, completa, que supre as necessidades das organizações em captação, se elas não souberem utilizar”, explica o CEO, Lucas Borges.
A Universidade Risü tem mais de 100 aulas sobre captação de recursos, que vão desde estratégias para conseguir doações de R$ 30 mensais no cartão de crédito ao desafio de captar R$ 1 mil em dez dias por meio do WhatsApp. Relacionamento com o doador, storytelling, desenvolvimento do trabalho de comunicação, redes sociais que podem ser utilizadas, estratégia de e-mail marketing: tudo isso está à disposição das organizações sociais.
“Nós temos relatos de organizações que começaram conosco precisando captar de alguma forma, ou teriam que fechar. E hoje conseguem captar R$ 40 mil por mês – ou seja, ter uma previsibilidade no volume de doações, o que é uma questão de extrema importância para as organizações”
Boa parte do trabalho da Risü é propiciar que as doações sejam feitas de modo rápido e seguro. “Na nossa plataforma, em 30 segundos, a pessoa vai lá, acessa, paga no cartão de crédito e, automaticamente, todo mês a plataforma já faz a cobrança do valor determinado inicialmente. A pessoa doa pelo tempo que ela quiser doar e, se ela se sentir engajada com a causa, continua doando”, finaliza.
Fundada em Campinas (SP), startup quer levar cidadania financeira a estes agentes ambientais desbancarizados, oferecendo transações e meios de pagamento seguros e acessíveis, além de também engajar novos recicladores.
Em 15 anos, Editora MOL já doou quase R$ 60 milhões de suas vendas para mais de 180 organizações sociais - empresa agora se reposiciona como plataforma e de negócios e lança coleção de livros.
Startup Einhorn produz desde 2015 camisinha que utiliza lubrificante natural feito a partir de plantas, além de adquirir látex extraído de forma ecológica por uma rede de pequenos produtores na Tailândia.