Quero te contar uma história que, olhando agora, parece coisa de livro — mas aconteceu mesmo.
Você tem acompanhado o crescimento do setor de cuidados no Brasil? Com o envelhecimento da população e a sobrecarga dos sistemas de saúde, surgiu uma demanda enorme por serviços mais humanizados, principalmente no cuidado domiciliar.
Foi nesse cenário que a Acuidar cresceu e se tornou a maior franquia de cuidadores da América Latina. Mas antes de tudo isso, minha vida era completamente diferente.
Minha trajetória profissional começou cedo. Aos 15 anos, consegui meu primeiro emprego como digitador do cartão SUS, em João Pessoa, capital da Paraíba.
Na época, eu ainda não sabia muito bem o que queria fazer da vida, mas aquela rotina me deu uma primeira noção de responsabilidade.
Depois de um ano nessa função, comecei a prestar vestibulares — e, como acontece com muita gente, a primeira leva de tentativas trouxe mais negativas do que aprovações.
Diante disso, decidi acompanhar meu pai, que era caminhoneiro, em algumas viagens. Foi uma experiência que me ensinou bastante sobre o valor do esforço, mas que também reforçou a sensação de que eu precisava construir outro caminho para mim
Com a maioridade, queria ganhar dinheiro e não depender sempre dos pais para qualquer necessidade financeira. Foi aí que aceitei o trabalho como frentista em um posto de combustível.
O salário ajudava a reduzir as despesas da casa, custeadas pelos meus pais.
O trabalho como frentista era digno, mas puxado; e eu sabia que seria temporário. Acabei sendo demitido e, logo depois, me tornei soldado no Exército Brasileiro.
Foi durante esse período que comecei a namorar a Jéssica Ramalho, que mais tarde se tornaria minha sócia na vida e nos negócios.
O quartel foi um divisor de águas. As experiências ali, a hierarquia rígida e os desafios físicos e emocionais me fizeram refletir sobre meu futuro. Comecei a me perguntar se queria passar a vida inteira apenas seguindo ordens ou se queria liderar algo com propósito
Quando terminei o serviço militar, tomei a decisão de voltar a estudar com foco total. Passei no vestibular e me formei em fisioterapia na Universidade Federal da Paraíba. No final do curso, Jéssica me incentivou a prestar vestibular para medicina.
Fiquei na lista de espera e como tudo acontece no momento certo, fui aprovado para ingressar em medicina quando faltava apenas uma semana para concluir a fisioterapia.
Foi um dos momentos mais desafiadores da minha vida. Eu precisava conciliar trabalhos como fisioterapeuta e o curso integral de medicina
Eu chegava a trabalhar entre 15 e 20 horas por dia de segunda a sexta, e mais seis horas no sábado. Algumas vezes, ainda atendia pacientes domiciliares aos domingos pela manhã.
Não foi fácil, mas foi nessa rotina intensa que a ideia da Acuidar começou a germinar.
Jéssica também realizava atendimento domiciliar como fisioterapeuta e víamos de perto a dificuldade que muitas famílias tinham em conseguir cuidadores preparados, de confiança, para seus entes queridos.
Em vez de só reclamar, decidimos agir. Ainda durante minha graduação em medicina, fundamos em 2016 uma pequena empresa de cuidadores de pessoas, onde os clientes poderiam contratar para ter o serviço de cuidados na própria residência ou em acompanhamentos hospitalares
Começamos devagar, com poucos clientes, cuidando de tudo pessoalmente em João Pessoa, onde Jéssica ficava à frente das maiores demandas. O objetivo era claro: oferecer um atendimento técnico, humano e personalizado.
No começo, a estrutura era mínima. Um pequeno escritório, sem funcionários fixos. Nós dois fazíamos de tudo: desde montar escalas até prestar assistência direta aos clientes.
Cada atendimento era uma nova responsabilidade, e cada família atendida nos trazia uma nova lição.
Tínhamos pouco dinheiro, nenhum investidor, nenhum “colchão” para imprevistos. A única certeza era a vontade de fazer dar certo. Apesar de muitas incertezas, desistir nunca foi uma opção
Demoraram exatos 30 dias para fecharmos contrato com a primeira cliente. Inicialmente uma alegria grande e após uma semana voltamos à estaca zero, pois era uma paciente em estágio terminal e veio a óbito em poucos dias… Em vez de desanimar, sabíamos que era a primeira de muitas.
Essa multiplicação começou a acontecer aos poucos. Fomos ganhando espaço, reconhecimento local e, principalmente, a confiança de quem precisava dos nossos serviços.
Com o crescimento da demanda, percebemos que era possível replicar nosso modelo em outras regiões. E, em 2020, formalizamos nossa entrada no mercado de franquias, com o objetivo de levar a Acuidar a outros cantos do país.
Hoje, a Acuidar tem mais de 280 unidades, cerca de 12 mil cuidadores e já realizou mais de 3 milhões de atendimentos.
Fechamos 2024 com faturamento de 177 milhões de reais, crescimento de mais de 100% em relação ao ano anterior e 83 novas franquias vendidas.
Ainda assim, o que mais me emociona não são os números — mas os relatos. Histórias de famílias que conseguiram viver com mais tranquilidade. Franqueados que recomeçaram ou impulsionaram suas vidas. Profissionais que se sentiram valorizados. Saber que ajudamos a gerar impacto real é o que mais me motiva
Claro que empreender nesse setor tem seus desafios. Cuidar de pessoas exige responsabilidade, empatia e preparo. E fazer isso em escala, com unidades espalhadas pelo país inteiro, exige um nível alto de organização, padronização e suporte.
Mantemos uma estrutura rigorosa de seleção, capacitação e acompanhamento dos cuidadores. Investimos pesado em tecnologia, suporte aos franqueados e escuta ativa aos clientes. A saúde é um setor em que cada detalhe importa — e não dá para errar.
Apesar de tudo que conquistamos, ainda temos muitos planos pela frente. Queremos fechar 2025 com 350 unidades e iniciar nossa expansão internacional. Mais do que crescer em números, queremos crescer em impacto – e continuar sendo referência de qualidade, ética e humanidade no cuidado.
Se tem algo que aprendi nessa jornada, é que não existe atalho. Tudo é construído com consistência, humildade e trabalho duro. E que não importa onde você começa. O que importa é como você segue, o que você aprende e o que está disposto a construir
Comecei digitando cartões do SUS, depois fui frentista, soldado, fisioterapeuta, estudante dedicado e empreendedor cheio de dúvida. Hoje, sou CEO da maior franquia de cuidadores da América Latina. Mas continuo sendo alguém que acredita que a melhor forma de crescer é cuidando.
Vitor Hugo de Oliveira é fundador da Acuidar.
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