A atitude sustentável mora nos mínimos detalhes – inclusive no simples ato de pagar uma conta, pouco antes de responder à pergunta que já se tornou clássica: “Vai passar no crédito ou débito?”. As maquininhas de cartão, quando não estão em uso, se unem a pilhas e pilhas de celulares, computadores e outros aparelhos eletroeletrônicos que, quando descartados, somam cerca de 2 milhões de toneladas de resíduos – só no Brasil.
A Getnet, empresa de tecnologia e soluções de pagamento, decidiu iniciar um processo para dar conta desta questão: lançou a primeira máquina de cartão fabricada com resíduos plásticos e componentes eletrônicos reaproveitados.
A iniciativa é pioneira no país e já disponibilizou 80 mil unidades do modelo POS 3G com Wi-Fi, o que resultou na reciclagem de 42% dos equipamentos da Getnet que iriam para descarte. De acordo com Luciano Ferrari, vice-presidente de Relações com Investidores e ESG da Getnet, a meta é que 200 mil máquinas sejam produzidas até o fim de 2022.
Quando o assunto é reaproveitamento, os números são mais altos: no primeiro trimestre deste ano, a empresa conseguiu reaproveitar mais de 235 mil máquinas de pagamentos que voltaram ao mercado em boas condições de funcionamento, evitando assim o descarte de 10 toneladas de materiais eletrônicos.
“Nossos próximos passos serão aumentar a quantidade de peças recicladas no processo de fabricação e expandir a nossa escala incluindo outros modelos de terminais”, projeta.
COMO FAZER ISSO NA PRÁTICA
Ferrari conta que após o retorno das máquinas usadas para o estoque da Getnet, elas são encaminhadas para um laboratório técnico e estético conduzido pela Paytec, operadora logística para produtos e serviços de meios de pagamento da América Latina.
Durante esse procedimento, os equipamentos que não estão em bom estado são levados à recicladora técnica BrasilReverso, que é responsável pela desmontagem, separação de peças, reciclagem e pelo descarte correto dos resíduos. Por fim, uma terceira empresa, a NewLand, fabrica as máquinas a partir do plástico reciclado que compõe as peças de um novo terminal. “Nenhuma etapa deste processo interfere no funcionamento e na qualidade do produto”, garante Ferrari.
Ele chama a atenção para a necessidade de uma cultura de circularidade e sustentabilidade para que toda esta jornada seja bem sucedida.
“Não queremos que os nossos equipamentos sejam descartados de qualquer forma. Assim como eles entraram para impactar positivamente a sociedade, queremos que a saída deles leve em consideração as preocupações ambientais do mundo”.
CHAMADO PARA O SETOR
O executivo concorda que as maquininhas de cartão estão cada vez mais populares e cada vez mais numerosas – gerando, desta forma, mais e mais lixo eletrônico. Entretanto, é preciso chamar todo o mercado para a responsabilidade de resolver a questão.
“Temos como responsabilidade social influenciar o mercado. Ele precisa ser atraído ao ponto de que todos do nosso setor, concorrentes, fabricantes e parceiros que fazem parte dessa cadeia entendam que a circularidade é fundamental para o futuro”.
Um ponto importante para atrair o investimento de todo um setor em economia circular é mostrar que é possível alinhar sustentabilidade com rentabilidade.
Um exemplo citado por Ferrari é o “Get Renova”, máquinas usadas oferecidas pela empresa, que estão aptas ao funcionamento pleno e com qualidade, por um preço mais atrativo. Atualmente a ação atende 82 mil clientes ativos.
“Entendemos nosso papel de impulsionar a transformação e construção social necessárias para os dias de hoje. Além da questão ambiental, precisamos ainda garantir que a nossa força de trabalho reflita a diversidade na composição demográfica da sociedade em que atuamos”
O bagaço de malte e a borra do café são mais valiosos do que você imagina. A cientista de alimentos Natasha Pádua fundou com o marido a Upcycling Solutions, consultoria dedicada a descobrir como transformar resíduos em novos produtos.
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Aos 16, Fernanda Stefani ficou impactada por uma reportagem sobre biopirataria. Hoje, ela lidera a 100% Amazonia, que transforma ativos produzidos por comunidades tradicionais em matéria-prima para as indústrias alimentícia e de cosméticos.