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Gestão inovadora dá vida a parques esquecidos de SP usando parte do lucro (e da fama) do gigante Ibirapuera

Ruth de Castro - 6 abr 2023
Samuel Lloyd, diretor comercial da Urbia. Foto: Kleber Marques.
Ruth de Castro - 6 abr 2023
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Os parques são uma espécie de oásis para quem vive na dura poesia concreta das esquinas de São Paulo. Eles cuidam de nós, os moradores deste centro urbano, para que possamos ter o mínimo de contato com a natureza e saúde. E quem cuida deles, dos parques? Como este dinheiro é distribuído?

Na cidade de São Paulo, a Urbia ganhou a concessão para administrar seis parques paulistanos – entre eles o gigante Ibirapuera, um dos mais badalados redutos verdes da capital paulista, e um dos dez maiores do mundo. A empresa aposta em um modelo de distribuição de valores interessante: transfere a visibilidade e os lucros do Ibirapuera para parques menores, que estavam quase esquecidos.

“Esse é um projeto que nós chamamos de Robin Hood. Ele se remunera no centro, no parque Ibirapuera, mas compartilha com outros pequenos os mesmos padrões de qualidade de manejo e cuidado com as instalações. Graças a isso, temos visto um aumento das visitações nestes parques menos conhecidos”, conta Samuel Llyod, diretor comercial da Urbia.”

Um dos beneficiados é o parque municipal Jacintho Alberto, no outro canto da cidade, em Pirituba. Como ele ainda não se sustenta sozinho, recebe dinheiro do Ibirapuera – que chega a ter um milhão de visitantes por mês.

A expectativa da Urbia é que o Jacintho e outros parques menos frequentados levem até cinco anos para deixar de gerar prejuízo aos seus cofres. Enquanto isso, a empresa aproveita a influência do Ibirapuera para chamar a atenção a outros empreendimentos. Em março, por exemplo, a Renault anunciou a estruturação e manutenção das quadras de saibro no parque Ibirapuera – e também a revitalização e manutenção das quadras do parque em Pirituba, onde fica a sede do projeto “Raquetes do Futuro”, que ensina tênis a crianças e adolescentes.

MAIS VISITANTES, MENOS DEGRADAÇÃO

Quando o executivo fala sobre manter os padrões adotados no Ibirapuera em parques que ainda dão prejuízo, ele ressalta a preocupação em aumentar as visitas sem degradar o meio ambiente. Na “praia paulistana”, os gramados foram restaurados, e novos jardins instalados. Além disso, as lixeiras foram trocadas para incentivar o descarte correto dos resíduos. A meta da empresa é alcançar “lixo zero”, evitando ao máximo o envio de resíduos para aterros sanitários. Essa iniciativa faz parte do projeto Eco 360, que guia todas as diretrizes de sustentabilidade da empresa.  

Já no Parque da Serra da Cantareira, a Urbia trabalha com projetos de conscientização ambiental e conservação e organização das trilhas.

“Quando você tem um parque com boa sinalização, com trilhas bem feitas, as pessoas interferem menos naquele ambiente. Nosso trabalho é cuidar desse local e orientar. Educamos, por exemplo, sobre a importância de cada espécie dentro daquele ecossistema. Então a gente fala muito sobre não matar uma aranha que apareça no meio do caminho, afinal, é a casa delas – e não nossa”.

Além do meio ambiente, a empresa investe para que mais pessoas frequentem os espaços administrados por eles e possam passar mais tempo por lá. “Queremos melhorar a experiência de ir ao parque, oferecendo também atividades, brinquedos, restaurantes”.

RELAÇÃO PÚBLICO-PRIVADO

A sintonia entre os paulistanos, no entanto, nem sempre foi bem recebida. Logo após o anúncio, a opinião pública criticou a concessão à iniciativa privada. “Foi um começo conturbado, principalmente no Ibirapuera. Houve a disseminação de muitas notícias falsas, como a de que colocaríamos catracas na entrada”, relata. O retorno financeiro do Ibirapuera, no entanto, não vem de nenhuma bilheteria – o parque segue com acesso gratuito –, e sim dos patrocínios e tarifas de estacionamento. 

Cada parque funciona à sua maneira, principalmente quando a jurisdição muda – há concessões de parques estaduais e federais. Dois deles, em São Paulo, são estaduais: o Parque da Serra da Cantareira e o Horto Florestal. Na Cantareira, ao contrário do parque Ibirapuera, apenas uma parte da reserva é administrada pela empresa, e o lucro vem das bilheterias. Em troca, a Urbia investe na melhoria dos espaços abertos ao público.

“Assim como no Horto Florestal, a gente entende como projetos de longo prazo, com um tempo maior de maturação. Mas tratamos esses projetos com muito zelo, afinal, estamos falando da floresta da Cantareira, um bioma preservado da Mata Atlântica”.

Alguns parques federais também são parcialmente administrados pela Urbia. É o caso do Parque das Cataratas do Iguaçu no Paraná, e os Cânions Verdes, que incluem os Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral, nas divisas entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “Em cada um deles temos contratos completamente diferentes, com escopo diferente. Os Cânions, por exemplo, investimos só nas áreas de uso público, e o ICMBio segue como gestor do parque, estamos lá a serviço deles”, explica.

NOVOS INVESTIMENTOS

Segundo Llyod, 2023 deve ser um ano de grandes reformas nos parques administrados pela Urbia. “No Ibirapuera o que as pessoas viram até agora foram as melhorias nas áreas verdes, e melhorias operacionais. Agora temos aprovada a reforma do patrimônio tombado. Depois de um longo processo de diálogo com os órgãos de tombamento conseguimos a aprovação. A grande revolução vai ser levar mais acessibilidade aos equipamentos, que são muito antigos “, conta. 

Nos Cânions Verdes, as estruturas móveis, como banheiros, devem dar lugar a instalações permanentes. O Parque Nacional do Iguaçu vai receber mais de R$ 500 milhões em investimentos nos próximos cinco anos. “Isso é para que as pessoas visitem muito mais do que as Cataratas. O Parque Nacional do Iguaçu é um miolo preservado de Mata Atlântica e as pessoas só conhecem as Cataratas, que é mesmo exuberante. Mas dá para curtir o dia todo no parque”, diz.

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