Como tornar realidade o sonho de empreendedorismo de alguém que vive em uma comunidade remota no meio da Amazônia? A Hydro é uma gigante mineradora que está sediada ali pertinho destes jovens, no Pará, e percebeu a importância de fomentar estes sonhos. Mais que isso: notou que fazer brotar (e florescer) negócios locais seria bom para todo mundo – inclusive para a própria empresa.
Foi assim que nasceu o programa Embarca Amazônia, que, com a metodologia do design thinking, oferece oficinas de empreendedorismo sustentável, apoio à criação de ideias de negócios sustentáveis e incentivo à criação de redes de empreendedores locais. Já foram beneficiadas mais de 1.200 jovens de 18 a 29 anos, dos municípios de Abaetetuba, Barcarena, Moju, Acará, Tomé-Açu, Ipixuna do Pará e Paragominas.
Segundo Milene Maués, gerente de parcerias da Hydro, a partir do momento em que a empresa identificou as demandas das populações, entendeu que desenvolver habilidades locais também seria vantajoso para a própria cadeia produtiva, além de gerar impacto positivo territorial.
“É preciso que os moradores se desenvolvam a partir da economia local e não fiquem dependendo apenas de empregos na indústria. Não conseguimos absorver toda mão-de-obra. E, quando incentivamos o empreendedorismo, despertamos a visão que há outras oportunidades, que o próprio território oferece outras oportunidades”.
COMO FUNCIONA
O Embarca Amazônia nasceu em 2018 e conta com diversas etapas, tais como visitas de campo a cadeias produtivas dos municípios, oficinas, consultoria, treinamento de pitch e inteligência emocional, além de realização de eventos locais para apresentação dos negócios. No total, até agora 35 novas empresas chegaram na fase final, sendo que 26 delas têm participação de jovens da zona rural ou região das ilhas. Além disso, 75% são liderados por mulheres e 105 participantes tem negócios que contemplam 11 cadeias produtivas. São várias áreas de interesse, como turismo, gastronomia, artesanato, agricultura familiar. “Havia agricultores, por exemplo, que queriam saber como colocar sua farinha numa embalagem, como conseguir imprimir tabelas, certificações, de que forma vender? Nós ajudamos a desenvolver e comercializar estes produtos”.
Algumas pequenas empresas já alçaram vôo e estão independentes da Hydro, totalmente autônomas. Outras já pensam inclusive em como expandir e criar uma rede de distribuição.
“Nossa equipe técnica trabalha diretamente com eles, para orientar de que forma podem seguir por conta própria. O interessante é que muitos destes novos empreendedores passam a ser nossos fornecedores: compramos seus produtos, pois temos esta demanda e sabemos que são produtos de qualidade”.
Milene aponta que esta preparação técnica é fundamental para que eles estejam preparados a utilizar melhores práticas para manter a floresta em pé, tais como o uso de bioinsumos, como produzir sem fogo. “O importante é mostrar que os recursos naturais são fonte de renda, portanto devem ficar lá”.
Entretanto, a população local guarda diversos saberes ancestrais – que o projeto procura preservar.
“Os técnicos e agrônomos aprendem muito com eles também. O que acontece neste projeto é uma troca de experiências”.
O bagaço de malte e a borra do café são mais valiosos do que você imagina. A cientista de alimentos Natasha Pádua fundou com o marido a Upcycling Solutions, consultoria dedicada a descobrir como transformar resíduos em novos produtos.
O descarte incorreto de redes de pesca ameaça a vida marinha. Cofundada pela oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo, a Marulho mobiliza redeiras e costureiras caiçaras para converter esse resíduo de nylon em sacolas, fruteiras e outros produtos.
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