De que forma abordar a importância da sustentabilidade com donos de pequenos comércios, como aqueles tradicionais mercadinhos de bairro? Este é um desafio que a ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados), sob a liderança de Paulo Pompilio, vem enfrentando com sagacidade. O segredo, como sempre, é a linguagem. O jeito de falar.
“Tem uma palavra que usamos para nosso setor e que funciona perfeitamente: prosperidade. Explicamos o seguinte: se você não for sustentável, não será próspero. Simples assim”, explicou o 1º vice-presidente da ABRAS e responsável por coordenar o trabalho de criação do primeiro guia ESG do setor. “Preparamos um material fácil para qualquer varejista entender”.
Uma pesquisa recente do Sebrae aponta que o Brasil tem mais de 400 mil mercadinhos registrados. A ABRAS compreende mais de 94 mil lojas – de grandes hipermercados a bazares de vizinhança e de conveniência, até mesmo contêineres em condomínios. Eles foram responsáveis por um faturamento de R$ 695,7 bilhões em 2022.
Na entrevista a seguir, Pompilio explica pontos importantes do ESG que vem trabalhando junto aos associados, como chegar lá, as metas, os gargalos e o papel fundamental do consumidor em todo este processo.
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NETZERO: Como a ABRAS costuma abordar o setor supermercadista sobre o ESG?
PAULO POMPILIO: Em primeiro lugar, precisamos equalizar o conhecimento. Tenho hoje associados muito preparados para o ESG, como os hipermercados de abrangência nacional. Mas preciso falar também com os pequenos, aqueles comércios regionais e familiares. Eles são muitos: temos mais de 94 mil associados sendo que 95% deles são de bairro ou regionais. A ABRAS tem um papel fundamental com eles: dar as diretrizes para a continuidade do negócio. Como ensino sua empresa a ter lucro e seguir adiante? Então para chegar no ESG vou falar de eficiência operacional.
Em primeiro lugar, precisamos equalizar o conhecimento. Tenho hoje associados muito preparados para o ESG, como os hipermercados de abrangência nacional. Mas preciso falar também com os pequenos, aqueles comércios regionais e familiares. Eles são muitos. E a ABRAS tem um papel fundamental com eles: dar as diretrizes para a continuidade do negócio. Como ensino sua empresa a ter lucro e seguir adiante? Então para chegar no ESG vou falar de eficiência operacional.
É preciso aterrissar este assunto. Ao encontrar formas mais práticas de falar, você ganha aderência. Por exemplo: se você fizer uma gestão elétrica melhor, vai ganhar na competitividade. Se tiver uma melhor gestão de embalagens, vai diminuir seu custo. No fim das contas, a questão ambiental aparece como benefício ao longo das ações – mas não como objetivo primário.
Mas o impacto ambiental surge na pauta.
Sem dúvida. E de de diversas maneiras. Por exemplo. Quando falo em ambiente, falo em gestão de resíduos. Promovemos ações claras com estações de reciclagem, locais para o consumidor depositar seus produtos, etc. Em São Paulo, temos uma parceria coma Cetesb, em que via ABRAS, distribuímos 200 pontos de coletas que serão geridos pela indústria. Ainda no caso dos resíduos temos a questão sa sacola plástica. Em cidades como São Paulo, Estado do Rio, Brasília e Salvador, funciona um modelo que usa material de fonte renovável e posso cobrar um custo operacional desta sacola.
Por incrível que pareça quando o consumidor percebe que terá que gastar R$ 0,10 a mais numa compra se quiser levar a sacola, ele não leva. Esta ação alcançou uma redução de 80% do uso de sacola. Precificar a sacola faz com que o consumidor pense na real necessidade deste objeto. A verdade é que ninguém precisa de tanta sacola assim.
Reduzir resíduos é uma urgência, afinal.
Não apenas os resíduos. É preciso reduzir também, por exemplo, energia. Trabalhamos muito com uma geração eficiente de gases de refrigeração, que representa nosso principal gasto. Outro ponto é a eficiência hídrica: precisamos entender que sem água vamos parar. Eu sou bem claro: se não houver água, sua loja vai fechar. Quando eu falo sobre estes temas, estou falando de economia.
E também de lucro?
Eficiência gera lucro. Se sou mais eficiente operacionalmente, chego a economizar, dependendo do negócio, de 18% a 25%. A eficiência operacional traz um preço operacional melhor na ponta. E quem se beneficia no final é o consumidor. Na verdade, tudo volta para o consumidor: se eu melhoro as operações, o consumidor ganha. Se eu amplio a validade dos meus produtos para diminuir o desperdício, o consumidor também ganha.
Como assim?
Um dos principais desafios do setor de supermercados é o desperdício. Temos 2% de desperdício dentro da cadeia produtiva – parece pouco, mas pense isso dentro do nosso faturamento, que é gigantesco: quase R$ 700 bilhões. Tem uma frente de alimentos que a gente chama de produtos com data de validade ampliada, aqueles com selo “melhor consumir até”. Posso ampliar a validade sem prejudicar a saúde do consumidor. Por exemplo, o sal, alguns queijos. O governo abriu esta discussão e a própria Anvisa tirou a validade de frutas e legumes. Estamos avançando nesta discussão. Ao diminuir o desperdício consigo oferecer um produto mais barato ao consumidor. De toda forma, o que não estiver bom para a venda, é doado: 70% dos associados fazem esta doação – a ideia é chegar a 100%.
Você considera a adesão a práticas ESG um desafio ao setor de supermercados?
De acordo com a pesquisa publicada em nosso guia ESG, que foi analisada pela KPMG, o setor supermercadista brasileiro apresenta razoável estágio de conhecimento, iniciativas e maturidade na perspectiva ambiental (E), e muito bom conhecimento e iniciativas e razoável maturidade na perspectiva social (S) e razoável avanço geral na perspectiva de governança (G). Em geral, podemos dizer que o setor apresenta razoável avanço em ESG. Acredito que estamos indo bem – não quando falamos do termo em si, mas na prática. Quando falo no que significa a sigla, tudo fica mais fácil. E então dá para perceber que o ESG não é um mistério, pelo contrário. Nós já estamos atrás dele faz tempo.
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