Todo empreendedor criativo deveria conhecer o psicólogo Lucas Foster, 30 anos. Ele está no centro de uma grande rede de colaboradores e desenvolve iniciativas muito diversas, ainda que sempre conectadas por características como inovação e ousadia. De maneira pausada e tranquila, Lucas não se perde ao falar de cada uma de suas frentes de atuação. “Em um determinado momento da minha vida, eu virei o ProjectHub”, diz, tentando explicar o surgimento da consultoria criativa que teve um faturamento de mais de 1 milhão de reais em 2013 – receita que segue crescendo.
Lucas convive grande parte do tempo com criativos que, para ele, têm duas características principais em comum: grande insatisfação e enorme desejo de mudança. Foi nesse estado de espírito que ele voltou de um ano de estudos na Dinamarca, em 2010.
Juntamente a outros 34 jovens do mundo todo, ele foi estudar a importância da criatividade para o desenvolvimento humano. “Voltei em crise. Sempre tinha trabalhado com políticas públicas e o conceito corrente do termo não fazia mais sentido para mim. Tentei encontrar meu propósito, o que me faria gastar tempo e inteligência com uma iniciativa, e percebi que sempre fui interessado em criar experiências de vida para as pessoas. Isso me motivou a vida inteira”, explica.
“Sempre tinha trabalhado com políticas públicas e o conceito corrente do termo não fazia mais sentido para mim. Tentei encontrar meu propósito, o que me faria gastar tempo e inteligência com uma iniciativa, e percebi que sempre fui interessado em criar experiências de vida para as pessoas”
Lucas enfim decidiu o que queria fazer da vida: agregar mais qualidade à experiência de vida das pessoas. Para isso, embarcou em uma longa reflexão sobre o que considera serem as seis dimensões de experiência do ser humano: tempo, espaço, energia, sentidos, emoções e propósito. A partir daí, ele pensou sobre suas aptidões. “Vi que tinha acumulado um bom conhecimento em gestão de projetos. Pensei: vou colocar à disposição do mundo esse conjunto de competências que adquiri. Quem se interessaria? As pessoas criativas”, diz.
Uma característica comum aos criativos é não saber como engatar a mudança de vida que eles percebem necessária. Frequentemente, eles têm uma ideia excelente, mas uma dificuldade grande de enxergar formas de torná-la real. Todas as dificuldades parecem intransponíveis: elaborar um orçamento, fazer um cronograma de atividades e preparar planos para captação de recursos. Lucas sempre achou que não fosse tão criativo quanto esses empreendedores, então resolveu dar apoio a eles, prestando consultoria prática aos projetos que acreditava que poderiam dar certo.
“Foi interessante porque a taxa de sucesso dos projetos com que eu colaborava começou a aumentar muito. Conseguíamos implementar novos negócios. Ajudei no início da Escola São Paulo, do Catraca Livre, da Mostra Internacional de Cinema. Comecei a montar o meu negócio: fazer conexão entre as pessoas e aconselhá-las a montar seus próprios negócios”, afirma Lucas.
Em 2010, quando estava partindo da Dinamarca, Lucas registrou o domínio do ProjectHub e foi assim que a empresa nasceu. De investimento inicial, então, não foram mais de 10 dólares. Já de volta ao Brasil, passou a entrar no risco com os empreendedores: só seria remunerado se a empresa desse certo. Mas ainda havia entraves ao processo, pois os jovens empresários brasileiros eram muito pouco ousados em comparação aos dinamarqueses. “Antes de mais nada, seria preciso reconhecer o valor da criatividade, historicamente negligenciada no Brasil. Criativos são diagnosticados com déficit de atenção nas escolas, e não estimulados a desenvolver e explorar essa característica”, diz ele.
“É preciso reconhecer o valor da criatividade, historicamente negligenciada no Brasil. Criativos são diagnosticados com déficit de atenção nas escolas, e não estimulados a desenvolver e explorar essa característica”
Foi assim que Lucas teve a ideia de lançar um prêmio que pudesse fortalecer e incentivar a rede de empreendedores criativos brasileiros, até mesmo para que eles pudessem servir como luz no fim do túnel aos outros criativos espalhados pelo país. Surgia então, em 2012, o Prêmio Brasil Criativo – cujas inscrições para a edição 2014 terminam nesta sexta-feira 3 de outubro, ainda dá tempo de correr. Hoje, o Ministério da Cultura apoia a iniciativa como a premiação oficial da criatividade no Brasil.
Lucas construiu sua empresa apoiado em pessoas que já conhecia e que acreditavam no mesmo propósito que ele: aumentar a qualidade das experiências de vida. Hoje, a Project Hub tem 16 funcionários e sua sede fica na Rua Oscar Freire em São Paulo – não junto às lojas de moda, mas na parte descolada, junto ao bairro de Pinheiros. Diz não estar interessado em gente que tenha mestrado ou MBA, mas sim que possua desejo de aprender, compromisso com a sociedade e muita atitude.
“Tem gente do mercado vindo trabalhar comigo agora, e eles sentem a diferença. Todo mundo tem acesso a mim para falar de novas ideias, todos podem tomar decisões por conta própria e arriscar muito mais do que estavam acostumados. É uma liberdade muito maior, acreditamos em mudança a partir de atitude e proatividade”, diz Lucas.
DA IDEIA AO RESULTADO PRÁTICO, UM CAMINHO SOCIAL
Ao Prêmio se seguiu a Creative Business Cup – iniciativa do governo dinamarquês em que o ProjectHub atua como parceiro do instituto empreendedor Endeavor para a realização da etapa brasileira. A partir daí veio a chancela do Ministério da Cultura, que hoje é patrocinador do Prêmio Brasil Criativo. “Percebemos que o objetivo de reconhecer o valor da criatividade havia sido atingido; agora, precisávamos captar recursos para os criativos.”
Com a lei do cabo de incentivo à programação brasileira nos canais da TV paga, vários audiovisuastas que haviam começado a carreira no YouTube procuraram Lucas para pedir ajuda de modo a viabilizar recursos para uma ida à TV. “Não achava isso coerente com os novos tempos. Fazia muito mais sentido ajudar o YouTube a manter seus talentos em sua própria plataforma”, diz Lucas. Seguiu-se uma reunião com o Google, onde Lucas levou a proposta de fomento à produção audiovisual independente. Era o início de novos tempos: o ProjectHub passava a orientar grandes investidores além de ajudar pequenos empreendedores.
O primeiro resultado deste novo modelo de negócios foi chamado Narrativas do Brasil. Eram esperadas 200 inscrições ao concurso promovido pelo YouTube, mas chegaram 380 candidaturas. Os cinco vencedores serão anunciados no próximo dia 6, e ganharão 50 mil reais cada um para produzir seu canal na internet.
O ProjectHub cresceu muito a partir desse momento, que marcou o mês de julho de 2013 e o futuro da consultoria. Hoje, a receita da empresa se divide entre consultorias criativas para grandes empresas (já teve como clientes 3M Brasil, Chilli Beans, Trifil, Sebrae e Instituto Criar), consultorias criativas para novos empreendedores e financiamentos para novos projetos criativos – neste caso, o ProjectHub recebe uma porcentagem caso o negócio dê certo e cobra o valor do serviço de encontrar o melhor financiamento disponível.
Recentemente, Lucas esteve em Londres numa viagem de turismo. Por lá, marcou um bate-papo com John Howkins, o maior especialista do mundo em economia criativa – foi quem cunhou o termo, em livro homônimo publicado em 2001. Lucas é parceiro da BOP Consulting, consultoria criativa de que Howkins é presidente.
“Ser recebido na casa de John Howkins e ouvir de sua boca que eu era a pessoa no Brasil com quem ele queria trabalhar é uma baita mudança de perspectiva”, conta Lucas. Howkins virá ao Brasil dia 17 de dezembro abrir a exposição do Prêmio Brasil Criativo e fazer uma palestra para celebrar a data – dia mundial da criatividade.
Em sua trajetória, Lucas estabeleceu uma ampla rede de contatos, que lhe rende apoio e parcerias, mas também muita história para contar. Ele acredita que o criativo é aquela pessoa que observa a realidade e diz: “e se a gente fizesse de outro jeito?” Essas pessoas têm, eventualmente, um percurso que envolve rompimentos e libertação. Muitas vêm de cidades pequenas e precisam encontrar seu lugar no mundo.
“O criativo é um resistente, porque ele não abre mão do que é e acredita para se enquadrar. Não é raro alguém vir falar comigo e começar a chorar, dizendo que ninguém nunca tinha ouvido sua ideia antes. É bizarro, isso. Como não se dá valor ao potencial transformador de uma ideia?”
“Isso mostra que o criativo é um resistente, porque ele não abre mão do que é e acredita para se enquadrar. Essas pessoas merecem apoio, pois são elas que vão nos ajudar a superar as cinco grandes crises. Não é raro alguém vir falar comigo e eu ouvir, por interesse e paixão, e a pessoa começar a chorar, dizendo que ninguém nunca tinha ouvido sua ideia antes. É bizarro, isso. Como não se dá valor ao potencial transformador de uma ideia?”, questiona.
Mas, muitas vezes, é preciso ajustar as ideias, e confrontá-las aos limites de custos que a realidade apresenta. O ProjectHub dá essa assistência, além de financiar alguns projetos e entrar em contato com fundos de investimento de impacto ou pessoas físicas que poderiam se interessar em ser sócias. Muitas vezes, a melhor saída para uma ideia é o crowdfunding, por exemplo. “Uma boa ideia sempre terá investimento, a gente só precisa achar o mais certeiro”, diz Lucas.
Uma rede formada por empreendedores criativos e investidores de impacto para qualificar a experiência de vida das pessoas: aí está a ideia milionária de um dos mais inovadores entusiastas da criatividade do Brasil. O segredo? “Muito risco, muita força de vontade e muitas noites sem dormir”, diz Lucas. Mas, segundo ele, tem valido a pena. Os debutantes criativos agradecem.
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