Marcio Henrique Nigro, 41, sempre acreditou que as melhores ideias surgissem nos momentos mais inusitados. E foi debaixo do chuveiro, em 2009, que o engenheiro naval, formado pela Poli-USP, teve o primeiro clique sobre um site de caronas. “O assunto caronas começou a ficar cada vez mais recorrente e pensei em como criar uma ferramenta inteligente, que integrasse pessoas, para tentar ajudar nessa questão.”
De olho nos altos índices de congestionamento das metrópoles, nos relatórios de sustentabilidade e na cultura “carpool” (como é conhecida a carona em países como a Inglaterra, o Japão e o Canadá), Marcio se deu tempo para, junto com mais quatro amigos da faculdade, desenvolver e implementar o Caronetas: uma solução para ajudar a resolver ao menos parte desse problema.
Eles optaram por começar com criando uma comunidade online de caronas — que, de cara, teve 300 inscritos. “Isso foi em lá em 2009, mas dois anos depois, em 2011, tivemos que dar um passo atrás porque percebemos que o mercado brasileiro ainda não estava preparado para receber algo assim. Ainda era muito complexo por aqui”, diz Marcio, sobre um dos diferenciais de seu serviço: no Caronetas, quem oferece a carona ganha uma espécie de “milhagem” em bônus que podem ser trocados por produtos ou serviços de empresas cadastradas. Ainda este mês, ele pretende lançar o aplicativo Caronetas para smartphones, já que até hoje as caronas são arranjadas do escritório, pelo computador de mesa.
PRIMEIRO UMA COMUNIDADE, DEPOIS UM SITE, AGORA UM APLICATIVO
Na caminhada para desenvolver um produto perfeito, muito se passou pela cabeça de Marcio, que há dois anos resolveu deixar o trabalho, em um projeto de fusão e aquisição de empresas no Grupo Ultra, para dedicar-se 100% ao próprio negócio. Somente em setembro do ano passado a ferramenta online foi lançada da maneira que o engenheiro a vislumbrou. Hoje a base de clientes se concentra na capital paulista (especialmente na região da Av. Berrini), mas as mais de 1 600 empresas cadastradas e 35 mil usuários estão espalhados por quase todo o país — só não há caroneiros no Acre, Amapá, Piauí e Rondônia.
“Empreender é um passo difícil. É algo planejado e ao mesmo tempo algo que você não sabe as consequências. Eu fui mais otimista do que a realidade permitia”
“Como eu também sou programador e já tinha uma empresa de software, fiquei mais à vontade para mergulhar no Caronetas. Mas empreender é um passo difícil. É algo planejado e ao mesmo tempo algo que você não sabe as consequências. Eu fui mais otimista do que a realidade permitia. Foi estressante, eu tinha que dar atenção para os meus três filhos e esposa. Não foi um período facil para mim, nem para o Caronetas. Passamos por altos e baixos. Hoje a empresa ainda tem cara de startup, mas o último ano foi o que mais rendeu frutos”, diz.
O Caronetas tem como principal objetivo incentivar caronas de forma prática e segura. No site, as empresas se cadastram e divulgam o serviço para seus funcionários. Feito isso, os colaboradores interessados (na maioria os que não têm estacionamento como benefício) traçam seus trajetos e recebem informações de caronistas que vão para o mesmo destino.
“O diferencial do Caronetas é que você sabe quem está te dando a carona. Sabe em qual empresa e qual departamento a pessoa trabalha”, diz Marcio. Isso faz toda a diferença já que, segundo ele, para muita gente o grau de confiança em funcionários de uma mesma empresa é semelhante ao de parentes próximos. “É da nossa cultura prezar pela segurança, por isso vimos que o nosso projeto de caronas tinha tudo para dar certo. Só aí lançamos um piloto, depois divulgamos para algumas empresas e fomos procurar o dinheiro para investir”, conta.
Até 2013, Marcio e seus amigos tinham colocado mais de R$ 1 milhão para que a ferramenta funcionasse como o planejado. Além dele, no operacional hoje na empresa trabalham dois programadores, uma atendente, uma administrador, um estagiário e Aline Baptista, uma de suas sócias.
Segundo o empreendedor, a diferença entre o Caronetas e outros aplicativos, como o Uber, e também os de táxi, é justamente o de não ser apenas um serviço, mas sim um sistema de ajuda mútua. E foi pensando neste benefício conjunto que ele criou um esquema que fosse bom para o chamado “caronista” (quem dá a carona) e também para o “caroneteiro” (quem pega): o dinheiro virtual. “A moeda digital foi um dos principais aditivos desde que lançamos o Caronetas. Com ela, o caroneteiro compra ‘dinheiro’ e paga a carona com essa moeda especial. Cada uma milha custa 1 real, mas o caronista pode ajustar esse valor para menos, se quiser”, diz.
Para resgatar o dinheiro das “corridas” realizadas, os caronistas precisam acumular uma quantidade de pontos em um cartão do Caronetas — que tem bandeira MasterCard e pode ser utilizado na troca por produtos na maioria das lojas virtuais. O caronista pode trocar seus pontos por um tablet, uma geladeira, um celular etc.
E é justamente no celular que o Caronetas quer estar, em breve. Nas últimas semanas, Mario e sua equipe estiveram focados em eliminar bugs e melhorar algumas funcionalidades no aplicativo para Android e iOS do Caronetas — que deve ser lançado até a segunda quinzena deste mês. Assim que estiver rodando, o próximo passo será investir mais em divulgação nas redes sociais, onde até hoje eles têm tido atuação discreta.
Com faturamento em 2013 não revelado — quase não houve lucro no ano passado, pois o site ainda se encontrava em estado “pré-operacional” —, o empreendedor do Caronetas se orgulha do reconhecimento que recebeu nos últimos anos. Em 2012, Marcio ganhou o prêmio MobiPrize, organizado pela Universidade de Michigan e pela Fundação Rockefeller (que reconhece iniciativas que ajudam no bem-estar das pessoas), na categoria escolha do público.
“Foi uma injeção de ânimo para continuar com o Caronetas. Pegamos o dinheiro, 5 mil dólares, e patenteamos a ideia. Sabe como é, né? Tem sempre um Google aí que pode ‘pensar’ nisso também”, diz, em tom de brincadeira.
Marcio estima que o ano que vem será de ainda mais trabalho. Além do aplicativo nos celulares, o que deve aumentar a base de usuários, Caronetas quer continuar a estimular as empresas a fazerem o funcionário trocar a vaga no estacionamento pelos benefícios do Caronetas. A ideia é que, em vez de dar uma vaga para o contratado, a corporação ofereça créditos no aplicativo.
Assim, com menos carros nas ruas e mais gente com tempo para interagir durante o ir-e-vir cotidiano, Marcio acredita que sua empresa contribui para uma espiral positiva. Ele conta uma história, que lhe foi relatada por email, e que o emociona até hoje. “Duas mulheres, Lorenza e Tati, trabalhavam na mesma empresa há 10 anos, só que em andares diferentes, e nunca tinham se visto. Pelo Caronetas, elas descobriram que são vizinhas. Lorenza tem um carro grande e já foi assaltada cinco vezes. A Tati é deficiente auditiva e não costuma falar muito, o meio digital fez com que ela se comunicasse. Hoje elas são amigas vão juntas para casa todo dia. É um caso bonito, até mesmo de inclusão social.”
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