A aula de “Inovação para a Geração Valor”, do curso de Pós Graduação em Marketing do Insper, começa às 19h30. Romeo Busarello, VP de Marketing da Tecnisa, é pontual. À sua frente, 28 jovens executivos, entre 25 e 30 anos, perfilados em semicírculo, depois de um longo dia de trabalho. A aula vai até às 22h30. É a primeira de uma série de cinco aulas que essa mesma turma terá com Romeo no semestre. “Não sou um professor profissional – sou um profissional professor”, diz ele.
Busarello, como ele se refere a si mesmo, tem 48 anos. E começa a aula, amparada por slides, que ele vai pinçando de modo não-sequencial enquanto fala, mostrando uma lista de 34 reuniões de que teve que participar, sobre assuntos que não conhecia, e que impactam os negócios que ele administra – de drones a paradas gay, de geolocalização a impressoras 3D, de bitcoins à internet das coisas. “A cada dois anos tudo muda”, diz ele.
Romeo permeia sua fala com três elementos: casos do dia-a-dia corporativo, piadas e frases de efeito, que ele vai depurando ao longo da vida. Uma ou outra anedota às vezes ele deixa escapar num almoço, ou então testa e lapida num encontro executivo para usar em aula – e vice-versa.
Romeo também traz para a aula atualidades, notícias recentes, recortes de jornal. E chama a atenção dos alunos para o fato de eles, em geral, lerem pouco – e do quanto a preguiça em consumir informação, e a falta de apetite para o novo, são elementos incompatíveis com o sonho de uma carreira de ponta ou de uma carreira ligada à inovação. “É preferível uma verdade que dói a uma mentira que ilude. Você prefere um cascudo agora do seu professor ou um murro lá na frente do seu chefe?”, diz.
Romeo é um provocador. E também um curioso. Ele tem essa sede – insaciável – por novidade e conhecimento. E insta as pessoas ao redor a manter esse olhar aceso diante da vida e da carreira. Romeo olha os alunos nos olhos – bem como seus interlocutores em geral. Fica de pé o tempo todo, caminhando de lá para cá. Na sala de aula, ele está no palco. E parece que nenhum outro lugar no mundo o realiza mais. “Eu estudo muito. Leio muito. Me preparo. Às vezes, a família sofre com esse ritmo”, diz.
Suas aulas têm muita interação. Ele conversa com os alunos, que têm seus nomes escritos em placas diante de si. São aulas divertidas e instrutivas, com boa taxa de risadas. Não é fácil manter o brilho nos olhos, a caminho das 22h, em alunos que acordaram às 8h, às vezes antes, para trabalhar.
“Como é que se faz sexo com um gorila?”, pergunta Romeo. E ele mesmo responde: “Simples: do jeito que o gorila quiser”. (Uma alusão a ter, eventualmente, que executar uma ordem do chefe com a qual você não concorda.) Uma aluna levanta a mão e diz, devolvendo uma piscadela ao professor: “a gente já tinha sido avisado sobre você. Estamos preparados”.
Romeo leva suas empreitadas a sério. É um sujeito que faz a lição de casa – inclusive quando o professor é ele. Antes de entrar em classe, faz exercícios de respiração. Come uma maçã, para estimular a salivação. Afirma ter uma coach de “comunicabilidade”. E revela também ter passado por uma fonoaudióloga, para aprender a respirar, quando decidiu dar aulas. Romeo é um perfeccionista. Quer entregar sempre o melhor. E como sabe que excelência não vem de graça nem cai do céu, corre atrás de manter essa sua reputação intacta.
Romeo chama a atenção da turma, ao longo da aula, para paradigmas que estão desaparecendo de nossas vidas – como bancas de revista e centrais de teletáxi. E também para os novos elementos que estão surgindo – como ciclofaixas e parklets. A cada novo tópico, uma história. Ele está dizendo para a rapaziada, jovens executivos da Vivo, da Brasil Foods, do Itaú, da Volkswagen: “o mundo está mudando velozmente. Não fique parado”.
A conclamação de Romeo, a quem cruza com ele, dentro ou fora de uma sala de aula, é que fiquemos ligados, acompanhando os movimentos do mundo, que exercitemos constantemente a conexão de A com B com C – só assim é possível identificar as tendências que alteram as regras que definem o sucesso ou o fracasso em nossas carreiras e em nossos negócios.
“A gente trabalha com tendências em 10% do tempo. O resto, 90%, são pendências. Não dá para abrir mão de nenhuma dessas rotinas em nome da outra”, afirma. E emenda uma citação de seis negócios disruptivos, no ramo de gastronomia, que surgiram nas imediações da sua casa nos últimos meses. “Não sou pago para prever o futuro. Mas para preparar a empresa para um futuro incerto”, diz.
Romeo diz para os alunos: experimentem novos serviços. “Andem nas bicicletas do Itaú. E não só pelas pedaladas. Mas para analisar arquitetura sobre a qual a iniciativa está montada. Como é o aplicativo, o uso do cartão de crédito, as facilidades oferecidas ou não. Da mesma forma, vocês precisam ter uma conta no Paypal. Não pelas compras em si – mas para testar a experiência que eles oferecem, para ver se funciona e o que poderia ser melhorado. Vale o mesmo quando a usar o Uber e checar o modelo de negócios por trás dessa ideia da carona remunerada”.
Romeo chama a atenção para a cultura da conveniência, de “no friction”, de facilitar ao máximo a experiência para o cliente. Eis aí, segundo ele, um atalho para o sucesso – oferecer comodidade ao cliente numa era em que tudo está ao alcance de um toque num botão. “Não use mapas antigos para enfrentar caminhos novos”, diz.
“O Brasil com S é o Brasil de antes da abertura. Da ciranda financeira, das linhas telefônicas tidas como bens declarados no imposto de renda. O Brasil com Z é o da urna eletrônica, o país que exporta aviões. Você prefere gerenciar hospício ou carregar caixão com defunto? Mil vezes esse mundo dinâmico e maluco de hoje do que o Brasil da década perdida que eu vivi”.
Romeo, como eu, tem o raciocínio formado no pensamento dialético e estruturalista do mundo offline. Pertencemos à geração X. O mundo em que nascemos e nos formamos era analógico. Quando a internet surgiu, Romeo já tinha quase 30. Então é tocante o movimento que ele faz para abarcar o caos e o pensamento não-linear em sua vida. E, mais do que meramente conviver com essa nova lógica, colocá-la na vanguarda, como motor da sua trajetória profissional. É um esforço exemplar, digno de aplauso e admiração.
Quem sabe daí, dessa junção de lentes – dos indivíduos da sua geração, que podem tranquilamente se intitular “os últimos cartesianos”, com o pensamento neo pós-moderno da geração Y e dos milennials –, não possa surgir uma luz bacana, mesclando foco com visão holística, e capacidade de análise com energia realizadora, e disciplina com gosto pelo risco?
Romeo também dá aulas na ESPM e na USP. Sempre meia dúzia de classes por semestre em cada instituição. “Grandes professores são atores frustrados”, diz. Quem assiste a uma aula de Romeo percebe que é preciso também ter paixão – e expressá-la. É isso que magnetiza as atenções e que torna uma fala crível. Assim como é preciso ser um bom contador de histórias. Para quem conhece Romeo de mercado, sabe que ele leva para dentro da sala de aula exatamente aquilo que é numa sala de reunião. Talvez isso seja autenticidade. E talvez isso conte um bocado a favor também.
Romeo acaba de indicar o Draft como referência bibliográfica obrigatória para seus alunos. Afirma que os livros não têm velocidade suficiente para abarcar as mudanças que estão acontecendo nesse momento do lado de fora da janela. E que o Draft tem conseguido retratar cases de inovação que são muito mais educativos e inspiradores do que papers acadêmicos. (Quer mais atitude mais disruptiva que essa? A gente está no ar há 50 dias! Outra prova de que Romeo leva para dentro da sala de aula a ousadia que ajudou a fazer da Tecnisa uma das empresas mais inovadoras do país.)
Para finalizar, algumas máximas de Romeo – ou citadas por ele em classe. (Não muitas, para que esse já imenso spoiler não se torne grande demais.)
SOBRE A VIDA
“A vida tem 4Ss. O primeiro S é de Sobrevivência, uma fase dura, de construção, de muita batalha, que vai até os 25, mais ou menos. Dos 25 aos 50, vem o S do Sucesso. Fase de conquistas e de ascensão. Dos 50 aos 75, surge o S do Significado. O sujeito quer dar sentido a tudo que faz e a tudo que adquiriu. Depois dos 75, vem o S do Sossego. É de fundamental importância administrar bem cada uma dessas fases – e se preparar para elas”.
“O tempo executa o executivo”. (Romeo se refere não apenas à disposição física, que vai minguando com o passar dos anos, mas também à velocidade com que o mundo gira e seu poder de nos obsolescer.)
SOBRE TRABALHO & CARREIRA
“Trabalhe mais do pescoço para cima e menos do pescoço para baixo”.
“Este ano eu indiquei ex-alunos, com sucesso, para 72 posições executivas. O pessoal me pede ‘will’ (atitude) e não ‘skill’ (competências).”
“Para os executivos, ler Maquiavel é mais importante do que ler Philip Kotler”. (Várias vezes se refere a Kotler como “Felipão”, para júbilo da galera.)
SOBRE O BRASIL
“O Brasil com S é o Brasil de antes da abertura. Da ciranda financeira, das linhas telefônicas tidas como bens declarados no imposto de renda. O Brasil com Z é o da urna eletrônica, o país que exporta aviões. Você prefere gerenciar hospício ou carregar caixão com defunto? Mil vezes esse mundo dinâmico e maluco de hoje do que o Brasil da década perdida que eu vivi”.
“A maior carência do Brasil hoje são os algoritmos. A Finlândia tem algoritmos – os Angry Birds. A Estônia tem algoritmo – o Skype. E nós? Nenhum”.
“Temos hoje uma leva de executivos precocemente endinheirados – com bônus, stock options e retention plans – que estão formando a primeira geração de angels no Brasil. Isso muda tudo. O sujeito tem condições de chegar antes dos 40 capitalizado para investir em startups promissoras e mandar o chefe para Punta del Leste. Nunca houve esse tipo de cenário no país.”
SOBRE MUDANÇA & INOVAÇÃO
“O número de ideias que surgem todo dia é absurdo. Se você não gere a criatividade, fica louco. O filtro não é ter ideias – mas conseguir executá-las. Inovadores são aqueles que vencem as ideias”.
“As empresas não morrem somente por fazer as coisas erradas. Elas morrem também por fazer as coisas certas por um tempo longo demais”.
“Você não consegue fazer um trabalho significativo em uma empresa sem significado. A busca pelo lucro puro e simples não sustenta uma marca – e nem a capacidade de uma empresa de atrair e reter os melhores talentos”.
“A mudança favorece as mentes melhor preparadas. Os vencedores serão aqueles que melhor responderem ao inesperado”.
Como se vê, Romeo Busarello, além de executivo e professor de primeiro time, está prontinho para ser um dos melhores e mais relevantes palestrantes do país. (Quer o telefone dele? A gente tem!)
Em entrevista ao Draft, Fernando Pfeiffer, diretor de inovação da 99, fala sobre as iniciativas em mobilidade sustentável lideradas pela empresa e explica por que a adoção do carro elétrico em larga escala no Brasil é apenas uma questão de tempo.
À frente do Oracle for Startups para a América Latina, Marie Timoner conta como as conexões geradas pelo programa alavancam a inovação aberta, fala sobre sua jornada de intraempreendedorismo e explica por que, mais do que nunca, a Oracle está na indústria certa.