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“A maior conquista de um cadeirante é a liberdade de ir e vir sem precisar da ajuda de ninguém”

Katya Hemelrijk - 15 dez 2014 Katya Hemelrijk, em ação pelo gruupo de teatro de cadeirantes de que participa, quer ajudar as companhias aéreas a atender melhor os portadores de deficiência física
Katya Hemelrijk, em ação pelo gruupo de teatro de cadeirantes de que participa, quer ajudar as companhias aéreas a atender melhor os portadores de deficiência física
Katya Hemelrijk - 15 dez 2014
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“Quando eu nasci, não parava de chorar. Depois de alguns exames, os médicos descobriram que minhas pernas foram quebradas durante o parto. Isso aconteceu por causa de uma doença conhecida como síndrome dos ossos de cristal, que impede o transporte de cálcio até os ossos e os deixam muito, muito frágeis. Para você ter uma ideia, no meu primeiro aniversário quebrei a perna ao ser carregada para cantar parabéns.

“Com o tempo e a chegada da puberdade, a doença tende a melhorar. Mas preciso até hoje me locomover com cadeira de rodas. Minha mãe, a maior heroína do mundo, me tratava normalmente e nunca me privou de nada. Certa vez até me ‘emprestou’ suas pernas para que eu dançasse quadrilha na festa junina da escola.

“Hoje eu trabalho, dirijo e tenho dois filhos do coração, lindos, de 9 e 10 anos. Também faço parte de um grupo de teatro composto por atores cadeirantes. Claro que, diariamente, me deparo com dificuldades, na locomoção e no trato das pessoas com minha deficiência.

“Há oito anos, viajando para a lua de mel, tive que subir no avião sozinha, como se estivesse me arrastando. Calma, não foi descaso ou má vontade dos tripulantes. No aeroporto em que estava não havia passarelas que dão acesso a aeronave nem elevador móvel. É arriscado me carregar sem preparo, mesmo levantando minha cadeira (uma simples batida pode me machucar).

“Há mais ou menos duas semanas aconteceu de novo. Postei no Facebook e o caso foi parar no jornal. O que impressiona é depois de oito anos nada mudou! Também não havia passarelas e, acredite, o elevador móvel estava com a bateria descarregada. Mais uma vez, os funcionários foram atenciosos, apesar de despreparados, e se espantaram quando decidi subir as escadas sem ajuda.

“A companhia aérea logo entrou em contato. Não pretendo processá-la nem ganhar qualquer coisa que beneficie só a mim. Me ofereci para auxiliá-los a treinar a equipe e pensar em formas de adaptação mais customizadas e menos universais, já que cada deficiência tem uma necessidade. A maior conquista de um deficiente físico é a liberdade de ir e vir sem precisar da ajuda de ninguém.

“O que mais quero depois do episódio é que outros ambientes e empresas também evoluam nesse sentido. A forma de tratar quem tem deficiência física e as soluções para nós são mais simples do que se imagina. A hora é boa: as Paralimpíadas estão aí!”

 

Katya Hemelrijk, 38, é coordenadora de Comunicação da Revista Natura, em São Paulo (SP).

 

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