“Eu estava totalmente focada na carreira e tinha acabado de concluir um doutorado em farmacologia quando descobri que estava grávida. Até então, não tinha muitas informações sobre gestação, parto e de como cuidar de bebês. Comprei um livro, grande e caro, sobre o assunto, que pouco me esclareceu. Queria saber, na verdade, como criar meu filho de maneira não-violenta e não-consumista. Quando fui à médica, ela quis agendar o parto, oito meses antes. Logo procurei outro profissional e fui atrás de mais informações.
“Descobri dados alarmantes sobre a violência obstétrica no Brasil. O número de cesarianas é maior do que o recomendado. E muitas mulheres são expostas a situações terríveis na hora do parto. Algumas amigas, inclusive, já haviam passado por momentos assim.
“Logo depois que a Clara nasceu, há quatro anos, fui aprovada em um pós-doutorado, também em farmacologia. Decidi começar o curso, mas continuei amamentando e passando o maior tempo possível com ela, pois sabia da importância do nosso vínculo naquele momento. Em meio às pesquisas, me deparei com um conflito: estava ajudando a desenvolver mais e mais remédios, sendo que sou contra o uso excessivo de medicamentos. Decidi abandonar o curso.
“Em 2011, li uma pesquisa que me chocou: uma a cada quatro parturientes no Brasil sofre algum tipo de violência obstétrica. A esta altura já tinha um blog em que compartilhava minhas experiências, com mais ou menos 400 visualizações por dia. Aproveitei para fazer uma pesquisa informal com as leitoras sobre isso, e vi que ela poderia dar origem à minha segunda tese de doutorado. Já estou no último ano e 1 400 mulheres devem participar das entrevistas (hoje, o site Cientista que Virou Mãe tem cerca de 4 mil acessos diários).
“Também produzi o documentário Violência Obstétrica – A Voz das Brasileiras e escrevi o livro Educar sem Violência. Meu pagamento por esse trabalho é ouvir que ajudei mulheres a superar traumas e, em muitos casos, criar coragem de ter o segundo filho. O objetivo, ao concluir o doutorado, é que os dados coletados sirvam para gerar resultados efetivos, formulando leis de combate à violência obstétrica.”
Ligia Moreiras Sena, 36, bióloga, vive em Florianópolis (SC).
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Diziam que o dendê (fonte do óleo de palma, matéria-prima de alimentos e cosméticos) só podia ser produzido em monocultura. O projeto SAF Dendê, da Natura, com plantio em Sistema Agroflorestal, acaba de romper com esse mito -- melhor para o agricultor e para o ambiente.