Se eu disser que Luis Novo é um empreendedor que bebeu na fonte do Vale do Silício e, de volta, pegou o conhecimento e o desdobrou em um trabalho de consultoria, talvez você diga: “ihhhh, lá vem mais um desses”.
E se eu disser que Luis Novo morou três anos no Vale, onde trabalhou como vice-presidente da empresa norte-americana Playphone, de conteúdo mobile, e comandou de lá um time de 100 pessoas espalhadas por Londres, China, Brasil, Argentina e Estados Unidos?
Tudo muda. Afinal, essas são credenciais e tanto em um momento de spinoffs dos ensinamentos do Silicon Valley pelas palestras, consultorias e ambientes próprios para startups mundo afora. Luis é sócio-fundador da SuperNova Labs, um laboratório de inovação que atua em duas linhas de frente: 1) Consultoria para startups, fundos de investimento e empresas que visam desenvolver produtos inovadores e 2) criação de startups por meio de uma área dentro da SuperNova chamada de Venture Studio.
Nascida oficialmente em julho de 2012, a SuperNova Labs já atendeu clientes como Ticket, Porto Seguro e Banco Itaú. Para empresas como essas, aplica uma metodologia baseada em um somatório de conceitos, dicas e estratégias criadas para ajudar empreendedores a colocarem suas ideias em ação.
A SuperNova usa uma mistura de táticas de Lean Startup (ou startup enxuta, leia mais na Seleção Draft), Design Thinking (saiba mais na seção Verbete Draft) e Jobs to be done (desenvolvida por Clayton Christensen). “Buscamos tirar a essência, e não as especificidades. Pegamos 80% do que tem valor, colocamos em um framework mais próximo do dia a dia da empresa e que dirija e pragmatize as atividades”, diz Luis. E continua: “O cara está empreendendo, e ele tem muitos desafios, desde o imposto até a contratação, além dos problemas emocionais. O que ele menos precisa é de 800 páginas de livro. A gente o ajuda a ser o super-herói. Criamos um negócio de peso baixo, pouco esforço, mas muito resultado”.
DESDE SEMPRE, VICIADO EM CRIAR
Luis brinca que se você deixá-lo três dias isolado na praia sem computador facilmente sairá dali um produto novo rabiscado em um pedaço de papel. “Se eu não estivesse aqui, estaria procurando um outro problema para resolver ou montando uma empresa”, afirma. Nerd assumido, ele começou a mexer com esse negócio chamado tecnologia ainda adolescente, quando o único passatempo na casa do pai (separado da mãe) era um computador e um disquete de programação. “Não tinha o que fazer, passava a tarde inteira escrevendo código. Me apaixonei.”
Ele montou a primeira empresa aos 17 anos, em 2002, a Delta Tech, desenvolvedora de sites. No início, a clientela era diversificada: buffet, banda caipira, dentista ou “quem pagasse 500 contos”, lembra.
Dois anos depois, o negócio cresceu, mudou, ampliou, mas… “na época eu não entendia que não estava criando valor, que tinham 800 neguinhos fazendo aquilo”. Luis vendeu sua parte na Delta Tech, juntou-se a um primo e lançou outra empresa, a Raja, com um passo a mais – além de sites, a Raja desenvolvia softwares.
É aí que entra na história a Playphone, que o levaria para o Vale do Silício. Inicialmente a Raja prestava serviços para a empresa como desenvolvedora de plataforma – à época, o foco da Playphone eram ringtones. Daí que o cliente gringo cresceu, explodiu, e Luis virou general manager da Playphone Brasil.
Em 2008, Luis foi desafiado pelo chefe no Silício a ir para a Califórnia e encarar a função de VP de produto. Pouco depois, passaria a acumular a cadeira de VP de Estratégia de Plataforma. Tudo isso aos 25 anos. “O CEO era brasileiro, tinha 45 anos e viu uma coisa em mim que nem eu enxergava”, conta ele. “Fui para lá com o desafio de ajudar a empresa a lidar com as ameaças que estavam aparecendo por conta da concorrência.”
A estratégia da Playphone foi um crescimento agressivo e em seis meses a empresa já estava presente em 18 países. Foi quando Luis passou a comandar o time de 100 pessoas no Brasil, EUA, China, Londres e Argentina.
Ali ele começou a ter contato com todas as novas metodologias do setor, que o inspiraram a gerar o embrião da SuperNova. “Eu queria criar produto de maneira científica, usar um processo para criar produtos cada vez melhores”, diz. Três anos depois ele estava pegando a mala, a cuia e o computador para rumar de volta ao Brasil, num processo de rompimento com a Playphone:
“O que aprendi com desenvolvimento de produto e startup seria muito útil no Brasil. Lá eu era mais um brasileiro. Aqui, um brasileiro que foi para o Vale. Eu tinha um poder especial para usar e é claro que isso mudou minha carreira”
No retorno, ele foi trabalhar na Netmovies, empresa de aluguel de filmes. Ficou por lá um ano, até que começou a ser recrutado para atuar como CTO de startups. Na boca do gol, depois de um longo processo seletivo, entendeu que não estava afim deste papel específico. Mas, engatou uma contraproposta que dava um pontapé inicial para o que seria a SuperNova: queria desenvolver e testar sistemas e estratégias que pudessem fazer a roda girar mais rápido em direção à inovação.
Oficialmente a SuperNova Labs surgiu em julho de 2012 e, no terceiro cliente, Luis teve de contratar mais gente para trabalhar com ele. Ao todo, Luis calcula um investimento inicial de 300 mil reais, que veio de suas economias e de sua esposa, Marina Proença Novo, parceira nos primórdios do negócio.
Hoje, a função de Luis na SuperNova é mais de consultoria e estratégia – ele saiu um pouco do dia a dia. Atualmente seu tempo está tomado pelo Skore, primeira startup concebida no Venture Studio, em que atua como CEO. A segunda empresa prestes a nascer de lá é uma empresa de internet das coisas, ainda sem nome e em fase de gestação.
“O grande plano é ter um lugar onde as ideias são criadas e testadas. As que têm potencial são separadas em núcleos para serem desenvolvidas e continuam até spinoffar e virarem empresa”, diz. Luis também é boardmember da Wayra, aceleradora da Telefônica, que já aplicou a metodologia SuperNova em seis turmas.
A SuperNova Labs conta com 10 funcionários e uma cachorrinha, a Bilu, brava, mas só da porta para fora. Depois fica na dela, de boa, circulando livremente pelo escritório. Luis tem um jeitão tranquilão, de fala mansa, mas é sério quando o assunto são estratégias em busca de inovação e empreendedorismo. E ai de quem vier com falsas intenções disruptivas. “Tem empresas que dizem que querem inovar, mas é inovação de teatro. Monta um time, faz uma porção de vento cheio de frufru, mas na real não tem inovação acontecendo”, diz.
O papo com Luis rende um punhado de aprendizados. Parte delas estão também neste vídeo. Abaixo, algumas dicas que podem te ajudar a empreender melhor:
1) Você vai ter que aprender a pescar
A SuperNova traz os conceitos de Lean Startup para dentro do mundo corporativo e pega muito pesado com a ideia de perseguir e entender cada vez mais o que o público está pensando e como prototipar de forma rápida e interativa para resolver as coisas. Nesse trabalho, entendi que não estava oferecendo algo on/off. Era preciso mudar a cultura. Eu precisava fazer esses caras entenderem que a resposta para o desafio daquele negócio estava no consumidor. Eu era cobrado para trazer o insight, a solução, mas não tinha que trazer a solução. Tinha que ensinar esse cara a pescar a solução para, sempre que surgir uma dificuldade aqui, a resposta vai estar ali. Ele tem que aprender só a ir ali buscar a resposta.
2) Encontre e respeite o seu caminho
O maior aprendizado da minha trajetória foi entender que cada um de nós tem um poder especial. Temos que saber qual ele é e respeitá-lo. Nenhum empreendedor vai ser realmente feliz se ele não estiver fazendo aquilo que ele sonha todo dia. Quando eu comecei a SuperNova me questionava muito e muita gente me questionava sobre o futuro de uma empresa tão doida, tão diferente.
3) Empreender é montanha-russa mesmo
Acho que a maturidade de empreender ensina que é uma montanha-russa mesmo. Na segunda-feira eu estou super excitado com uma porrada de coisas que vão acontecer. Na terça, fico super deprimido porque acabei de perder um negócio gigantesco. A gente vai aprendendo um pouco a lidar com isso e a relevar.
4) Você vai ter que saber dizer não
A maior lição dessa jornada do empreendedor é o autoconhecimento. É saber quais são as coisas que você faz fundamentalmente bem, e aprender a focar todo o seu esforço nelas. Isso quer dizer, necessariamente, dizer não para um monte de coisas. É muito fácil dizer não para as coisas que são visivelmente ruins e más opções, mas é muito difícil dizer não para o que parece ser uma ótima opção, quando alguém chega para você com um projeto que pode dar um monte de dinheiro, mas não é exatamente o que você deveria estar fazendo. O que a sua empresa nasceu para fazer. É ali que está a diferença entre uma empresa que cresce consistentemente e uma que fica dando cabeçada na parede. É importante aprender a dizer não para as coisas que a gente não quer dizer não.
5) Não demore para testar uma ideia
A maior dica para quem está querendo empreender é não demorar para testar a sua ideia. A gente tem o hábito de valorizar muito e querer proteger a nossa ideia de outras pessoas que podem roubá-la ou que vão copiá-la. A ideia não tem muito valor na verdade. Todas as empresas que eu vi darem extremamente certo foram variações da ideia original. Então, a ideia original nem sempre é importante. O que é importante mesmo é você aprender rápido o que tem de errado na sua ideia. Inevitavelmente vai ter e quanto mais rápido você aprender, mais perto chegará da ideia polida que vai dar certo.
6) O Brasil não é fácil mesmo
O que o empreendedor brasileiro tem a ensinar para o americano ou do Vale do Silício é a persistência. A gente vive em um país muito difícil de fazer negócio, onde somos extremamente penalizados quando falhamos, seja por conta do governo ou da cultura. As pessoas te olham como um fracassado. cara que empreende aqui passa por poucas e boas. Ele paga muito imposto, vive em um país extremamente corrupto onde as coisas são muito difíceis de fazer de um jeito certo, e ainda assim temos empreendedores e empresas incríveis fazendo a diferença. Então acho que o que a gente tem para ensinar para o pessoal de lá é essa nossa capacidade de cair e levantar, cair e levantar e continuar fazendo até chegar lá.
7) Saiba avaliar se um produto é bom
Há três aspectos fundamentais em um bom produto. O primeiro é gerar o interesse imediato da pessoa que vai ser o seu cliente. Para isso você tem que entender o problema que ela tem. Outra coisa é você conseguir criar um produto que engaje. Estou fazendo uma garrafa térmica incrível. Se eu ligar daqui a um mês, perguntar como foi e a pessoa disser: putz, ela é incrível, faz 20 dias que eu uso essa garrafa e ela me satisfaz completamente, quer dizer que estou no caminho certo. Se eu ligar e a pessoa nem encostou na garrafa, ou encostou uma vez e nunca mais, tenho um problema de produto ali. O meu terceiro desafio é conseguir comunicar isso para o maior número de pessoas possível. Então a gente fala de entender o problema, garantir que eu consigo te dar uma solução de verdade, e aí afinar a comunicação. Só que comunicação, para mim, não é um indicador de um bom produto, as duas primeiras são.
8) Seja seu melhor concorrente
Inovação é um desafio enorme porque força a empresa a pensar, a abrir mão dos conceitos principais antes dela chegar lá. É o dilema do inovador. Você é uma empresa incrível que cresceu pacas de um jeito específico. E esse jeito específico começa a ser questionado. Mas você tem uma crença ali de que você só está onde está pelo que fez nos últimos 20 anos. Por que vai questionar o que fez? Por que um banco vai deixar de ser um banco? Só que se você não questionar o que você fez, alguém vai questionar. Três molequinhos em um apartamento vão questionar e perguntar: por que eu preciso de tudo isso para ser um banco? E se eu fosse um banco que… Esses caras vão começar a roubar clientes seus, eventualmente. Toda empresa tem que entender que ela mesma tem que investir para criar o produto que competirá com o dela antes que alguém da concorrência faça isso. É muito doido.
9) Se o CEO não embarcar, não tem inovação
O fato é que (a inovação) depende muito do líder. Todos os cases que a gente vê de inovação sempre teve CEO que puxou a bandeira. Nunca foi “apesar” do CEO. Às vezes os caras chamam a gente e perguntamos o que o CEO pensa desse projeto. “Ah, ele não sabe”? Então não vai dar certo. Você não muda a cultura da empresa se o cara não estiver dentro. Faltam CEOs com esse perfil no mundo todo. É meio cultural não querer fazer o diferente. Ninguém quer ser fracassado. Para fazer isso você tem que estar disposto. Tem que abrir o peito e correr o risco de fracassar. Muitas empresas chamam a gente para conversar, chegamos lá e percebemos que não tem negócio porque a gestão de verdade, quem toma decisão não está nem aí. Já está lucrando, entregando resultado. Na real a gente sabe que isso tem tempo de validade, mas não sou eu que vou mudar.
10) O Vale do Silício não é tudo o que falam
Foi muito bom estar em um lugar onde as coisas são criadas. Aqui a gente tem acesso ao reflexo da tecnologia. É lá que as coisas acontecem, e (somente) as que ganham escala chegam para cá. Mas tem muito mito de que você vai estar no Vale do Silício, ter um bilhão de oportunidades e estar a cinco minutos de se tornar milionário. Eu vi muito cara incrível desempregado. Era a época que estourou a crise. Lá você disputa emprego com um cara que tem três diplomas de Harvard. É muito difícil. E tem o mito de que o dinheiro brota da árvore. Que é só você ter uma ideia e alguém vai ter dinheiro, não é. É difícil pegar dinheiro ali.
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