Imagine-se numa cidade onde todos, independentemente da classe social, se unem em uma mesma missão: a de construir um ambiente perfeito para o desenvolvimento educacional e econômico de seus moradores. Essa cidade existe, e fica no Brasil. Santa Rita do Sapucaí, ao sul de Minas Gerais, é também conhecida como o Vale da Eletrônica brasileiro e conta com a ajuda do movimento Cidade Criativa, Cidade Feliz para melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos através do diálogo e da colaboração. Uma trajetória inspiradora e replicável.
Santa Rita do Sapucaí, 220 quilômetros distante de São Paulo e 430 quilômetros de Belo Horizonte, tem uma história de amor com a tecnologia e a eletrônica quem vem de longe. A cidade começou a se desenvolver neste sentido graças a Luiza Rennó Moreira, mais conhecida como Sinhá Moreira que, em 1959, criou no local a primeira escola técnica de eletrônica da América Latina. Filha de um banqueiro e fazendeiro, ela casou-se com um embaixador e foi morar no Japão.
“Ela rodou o mundo vendo coisas interessantes e teve a oportunidade de, na Europa, assistir a uma palestra do Einstein em que ele dizia que o futuro do mundo era a eletrônica. Preocupada com a juventude de Santa Rita, decidiu bancar a abertura da escola”, conta o Professor Wander Wilson Chaves, um dos curadores do movimento Cidade Criativa, Cidade Feliz.
Neste movimento, ela teve que convencer Juscelino Kubitschek, o então Presidente da República, a criar por decreto o curso técnico em eletrônica, algo que não existia no país. Quando faleceu, em 1963, Sinhá deixou todo o seu patrimônio para a instituição.
Santa Rita não estagnou após a morte de sua mais ovacionada colaboradora. Pelo contrário: só cresceu e manteve seu pioneirismo nesta área. Em 1965, inaugurou o Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL), a primeira faculdade de engenharia específica na área de telecomunicações do país. Alguns anos depois, também inaugurou a FAI, que oferecia cursos de Administração de Empresas e Informática.
Com uma tradição de ensino e a cultura eletrônica em seu DNA, a cidade já atraía tanto estrangeiros interessados na qualidade do aprendizado, quanto novas empresas do ramo da tecnologia. Ainda não era, porém, chamada de Vale da Eletrônica.
O QUE FAZ UMA CIDADE TER UM TÍTULO? PODE SER UMA SACADA
Carlos Henrique Vilela, que atua buscando parcerias com externas para o movimento Cidade Criativa e também cuida da comunicação, conta como foi preciso um toque da publicidade para tornar algo que era factual em uma marca reconhecida: “Nos anos 80, um vice-prefeito chamado Paulo Frederico Toledo viu que toda cidade que ele visitava carregava uma espécie de título e que Santa Rita não tinha nenhum. Então, foi atrás de um amigo publicitário, o Sérgio Graciotti, sócio da MPM, com o desafio de auxiliar na atração de empresas para o lugar. E aí eles criaram a marca ‘Vale da Eletrônica’, divulgada em vários jornais do país e isso começou a atrair cada vez mais pessoas pra cá”.
Antes dessa sacada, o vice-prefeito, conhecido como Paulinho, tinha tido uma má experiência com o desenvolvimento de Santa Rita: vira uma multinacional sair da cidade, deixando milhares de moradores desempregados. Isso o fez ter como meta que, a partir dali, queria que os donos das empresas fossem morar na cidade. Só assim eles tratariam Santa Rita como a casa deles. Ele também gostava de dizer que preferia uma empresa de dez funcionários do que uma de mil.
Este pensamento guia até hoje o modelo de crescimento local. Hoje, fazem parte do Vale da Eletrônica 150 empresas de base tecnológica, além de algumas outras que dão suporte a elas. A maioria, veja só, não “chegou” à cidade, e sim “surgiu” nela. São ao todo 10 mil pessoas empregadas, que ajudaram as instituições a faturar 2,7 bilhões de reais somente em 2014. Santa Rita do Sapucaí tem pouco mais de 40 mil habitantes.
“Hoje em dia, 80% das empresas têm pelo menos um sócio que passou pela escola técnica ou pela faculdade de comunicações. O nosso diferencial é esse. Normalmente, o desenvolvimento das cidades era uma empresa chegar e desenvolver a educação necessária para formar seu recursos humanos. Em Santa Rita é ao contrário. Primeiro veio a educação e, depois, as pessoas formadas começaram a gerar seus próprios negócios na área tecnológica”, conta Wander.
HORA DE ATUALIZAR UM CONCEITO
O movimento Cidade Criativa, Cidade Feliz surgiria em 2013, depois de empresários e voluntários da cidade chegarem à conclusão de que precisavam dar um boom na economia local. Como? Fomentando ainda mais a criatividade e a cooperação entre instituições e voluntários.
“O que a gente pensou e levou para as lideranças da cidade foi que precisávamos conectar forças. A cidade tem dois pólos muito importantes: tecnologia e empreendedorismo. Também tínhamos o campo de cultura forte, com ações dispersas nas áreas de teatro, música e gastronomia. Sem contar que a cidade tem um espírito de cidadania muito intenso”, diz Wander. Carlos complementa a ideia:
“Quando a gente criou uma conexão toda entre essas áreas, coisas interessantes começam a acontecer”
De acordo com os idealizadores do Cidade Criativa, Cidade Feliz, o primeiro festival do movimento, em 2013, unia todas as forças da cidade em prol do desenvolvimento, e começou a despertar pessoas que estavam “entocadas”. Em uma semana, Santa Rita reuniu arte, música, gastronomia e empreendedorismo. Tudo isso feito de pessoas para pessoas. No ano seguinte, em 2014, o festival já tinha tantas atividades que durou um mês inteiro.
As coisas de fato começaram a acontecer. Hoje em dia, os eventos de entretenimento, cultura, tecnologia e inovação dominam Santa Rita do Sapucaí: a cidade é palco de um dos principais carnavais de Minas, com o Bloco do Urso, além de sediar festivais de música como o Vale Music Festival, o Showrrasco e o Festival de Gastronomia. Isso na ponta do entretenimento. Na ponta do empreededorismo e criatividade, a cidade atrai palestras e eventos, como o TEDxInatel, o Startup Weekend Inatel e o The International Workshop on Telecommunications.
FORÇA MESMO NA ADVERSIDADE
Santa Rita é um case de sucesso de mobilização para um fim, e de modernização de um conceito para se manter relevante. Isso é inspirador, mesmo que o momento do empreendedorismo em Minas Gerais não seja dos melhores. Em março deste ano, o escritório do SEED, o mais importante programa de apoio a startups criado pelo governo daquele estado, foi fechado. O motivo seria a falta de interesse do poder público depois da troca de gestão. Isso, no entanto, não preocupa Carlos e Wander. Como idealizadores do movimento de Santa Rita, eles acreditam que a atmosfera já criada envolve tanto diálogo com as pessoas da cidade que isso a blindaria, de certa forma, das mudanças de gestão pública.
“A organização é um coletivo de instituições e voluntários. É a academia, o meio empresarial, o poder público, que colabora com parte do capital, e obviamente as pessoas. Esse coletivo é misturado justamente para criar um arranjo de cooperação entre todas as áreas, que nos ajuda a desenvolvermos economicamente e nos blindarmos”, lembra Wander.
Atualmente, 15 pessoas lideram, com tarefas diferentes, o movimento Cidade Criativa, Cidade Feliz. Não há escritório, nem salário. Apenas a boa vontade e a criatividade de uma cidade inteiro, que é o que mais importa para Carlos: “Sem criatividade, a gente é triste, por isso o movimento tem esse nome”.
Tem dias em que as vendas vão mal. E se fosse possível oferecer esse estoque de outro modo, para um novo público? Saiba como a XporY facilita permutas de produtos e serviços entre empresas e indivíduos, de forma multilateral.
Cozinhar é mais fácil com receitas na palma da mão, e mais gostoso quando enche a barriga e o bolso. Conheça o DeliRec, rede em que chefs e cozinheiros amadores (e profissionais) trocam dicas culinárias e faturam como criadores de conteúdo.
A escolha do endereço pode ser decisiva para o sucesso ou o fracasso do seu empreendimento. Saiba como a Space Hunters usa tecnologia para mapear tendências e padrões na busca do lugar perfeito para você abrir o seu negócio.