Morei 24 anos na Zona Norte, no condado do Mandaqui. Morei em Londres, depois em Brasília, depois em Campinas, e de volta para São Paulo, agora há quase sete anos na Bela Vista. Trabalhei como jornalista internacional e conheci todos os países da América do Sul, EUA, México e Cuba, todos da Europa Ocidental e a China. Gostei de muitas cidades que conheci, e é impossível não pensar a cada viagem “será que eu poderia morar aqui?”. Mas São Paulo, para o que eu faço, me parece ser o melhor lugar do mundo. Por enquanto.
Quando me perguntam o que faço, tenho dito que sou professor. Sou formado em Jornalismo, mas não me vejo como jornalista faz algum tempo. Também ainda não consigo me definir como empreendedor. Desenvolvo diversos projetos, para mim e para clientes. Tenho uma agência de comunicação, o Liquid Media Laab (lml), com meu sócio, o também ex-pós-jornalista Felipe Lavignatti. Nós dois somos os únicos na empresa, não temos escritório, e estamos bem contentes assim.
Tenho tentado não colocar todos os ovos na mesma cesta — ao contrário do empreendedor tradicional, que aposta pra valer numa ideia, colocando o próprio dinheiro nela inclusive. Nunca coloquei dinheiro numa ideia minha. Acho que a primeira prova de fogo, para ver se a ideia é boa, é outra pessoa acreditar a ponto de investir nela. Entre os pratinhos girando, tenho as aulas, os projetos próprios e os clientes do lml. Agora inventamos mais uma coisa, que tem me levado a conhecer muita gente legal.
Estou fazendo algo que tem a ver com a opção de ficar em São Paulo e em ajudar a cidade a melhorar, em vez de reclamar ou ficar de #mimimi “quero sair do Brasil”
Há pouco mais de três meses, surgiu a chance de inventar um laboratório para criar cidades melhores. E agora estamos a poucos dias de lançar o que estamos chamando de Laboratório da Cidade, com mais de 40 iniciativas conectadas entre São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Goiânia e Porto Alegre, além de Bogotá e Buenos Aires. Mais uma vez sem nenhum planejamento, mas pelo menos dessa vez com alguma experiência. Não quero cometer os mesmos erros: existem muitos erros novos para serem cometidos.
Em dezembro de 2014 fui conversar com o jornalista Gilberto Dimenstein. Tinha encontrado com ele poucas vezes, cerca de um ano antes, quando nos ajudou, eu e meu sócio Lavignatti, com uma promoção no Catraca Livre para divulgar o projeto Arte Fora do Museu, que começou dois anos antes como um site de mapeamento de obras de arte em espaços públicos. No Catraca, fizemos uma promoção para que as pessoas enviassem fotos de grafites, arquiteturas, esculturas ou murais da cidade. Foi um sucesso, tivemos muitas contribuições, e eu voltava lá para apresentar melhor outro projeto parecido, dessa vez um mapeamento de histórias, o Mapas Afetivos. Quem sabe o Catraca também não dava uma mão?
Na conversa nos atualizamos, demos um F5 no que cada um estava fazendo. Eu tinha saído da Casa da Cultura Digital em São Paulo, um lugar que ajudei a montar com um grupo de pessoas interessantíssimas, artistas, designers, fotógrafos, hackers, jornalistas, videomakers, gente criativa, enfim. A experiência na Barra Funda foi de 2009 a 2013, com uma última rodada de oficinas ainda em 2014, que realizamos só para pagar uma dívida de 10 mil reais.
No ano passado eu e o meu sócio também fomos conversar com um amigo nosso, o Armando, que fez a ponte com o Gervásio, do Ateliê do Gervásio, espaço de festas que funcionou durante décadas do lado do Madame Satã. Gervásio queria montar uma espécie de coworking-espaço-cultural, e nós ajudamos a levar para lá uma rede de gente que faz coisas bacanas, entre eles muitos jornalistas independentes (hoje estão lá o Outras Palavras, a Ponte, a revista Fórum e os Actantes, que trabalham com criptografia e análise de redes). E também o Liquid Media Laab.
Dimenstein contou, então, que tinha disponível uma casa na parte de cima de um galpão que estava sendo organizado para ser uma feira de produtores locais de São Paulo (que viria a ser o Armazém da Cidade). Perguntou se eu não queria assumir o espaço e pensar num outro tipo de coworking. Ele queria transformar aquela rua, na Vila Madalena, numa rua criativa, um arranjo criativo local. Juntar vários grupos, inventar coisas, mudar a cidade começando por aquela rua. Fiquei de pensar, mas já estava achando legal.
Nas primeiras conversas com alguns amigos sobre como ocupar aquele espaço surgiu a ideia de um laboratório que investigasse a internet das coisas, algo que ninguém entendeu direito ainda para que serve, mas que tem um potencial incrível. Não desisti dessa ideia. Mas migramos para outra, que nos pareceu ter um timing melhor, mais urgente: um laboratório de cidades melhores, participativas, abertas.
Como disse o Baixo Ribeiro, da galeria Choque Cultural, parecia que essa era uma demanda represada: aproximar os grupos de São Paulo que já estavam criando e realizando ações nas ruas sob esse viés de cidades mais humanas.
O trânsito, o frenesi paulistano, está deixando as pessoas loucas, e em outras metrópoles começam a surgir iniciativas que pensam numa cidade sustentável, onde as pessoas gostem de estar.
Praças, wi-fi aberto, bicicletas, rios. Todo o imaginário de uma cidade mais agradável agora podia ser visto com ações reais, de ativismo muitas vezes. Essas pessoas precisavam conversar umas com as outras, e talvez tivesse aí um jeito inclusive de conectar essa gente com uma rede de patrocinadores interessados também nesses propósitos. Sem contar que seria uma desculpa ótima pra conhecer toda essa gente bacana, que já está tocando seus projetos e negócios. Trabalhar só com gente legal tem sido um dos princípios que tento seguir.
Nessa altura eu já tinha topado criar o Laboratório da Cidade. Uma coisa que pra mim é clara: não é para ser mais um coworking em São Paulo. No final a CCD tinha virado mais ou menos isso, e não foi legal. A sede precisa ser um espaço aberto, um ponto de encontro, um centro de conhecimento livre e compartilhado. E também um lugar de protótipos de tecnologias verdes, um exemplo de uma casa capaz de consumir menos água (cisternas, poço), produzir energia (solar, eólica), devolver água tratada para o sistema de esgoto, ter instalações inteligentes (sensores capazes de desligar equipamentos em stand-by, responsáveis por até 20% do consumo de uma casa, você sabia?) e outras soluções que nem imaginamos ainda.
Não sei ainda como vamos fazer isso, criar um laboratório sustentável, uma rede de pessoas e projetos para melhorar as cidades, conectando iniciativas de cidades e países diversos. Mas el camino se hace al caminar.
Neste sábado, dia 25 de abril, acontece o lançamento oficial do Laboratório da Cidade e do Armazém da Cidade. A partir do meio-dia, o número 270 da rua Medeiros de Albuquerque, na Vila Madalena vamos ter música, apresentações, comida e bebida — tanto na rua como dentro do galpão do Armazém.
Qualquer possibilidade está em aberto. Tenho achado cada vez mais que as coisas já começam a existir de verdade quando colocamos nome nelas. Então, se você tiver alguma ideia, se achar que tem uma iniciativa que pode fazer parte do Laboratório da Cidade, venha tomar um café. É assim que tem funcionado.
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