Era uma vez um empreendedor que aprendeu a empreender com vários empreendimentos. Pode parecer um trava-língua, mas não é. Aliás, se você planeja algum dia montar uma startup, pode ser uma boa anotar esse nome: Luiz Candreva. Figura carimbada nos principais encontros de tecnologia e inovação do país, este paulistano se tornou um dos profissionais, digamos, mais polivalentes do universo de empreendedorismo brasileiro. Com uma agenda dividida entre a gestão de algumas empresas, aulas em universidades e a organização de eventos do setor, o empreendedor-professor-mentor, aos 28 anos, tenta explicar o seu talento: “O que eu faço de melhor é conectar pontas”.
Nem sempre foi assim. Antes de se inserir no universo de startups e novos negócios de tecnologia, era só mais uma pessoa tentando se encontrar profissionalmente. Levou um certo tempo para descobrir como poderia aproveitar suas aptidões em algo que realmente gostasse de fazer. Com graduação em Direito, pós-graduação em Marketing & Inovação e outras especializações no exterior, no começo dos estudos ele mal sabia o que era uma startup. “No começo da faculdade, queria prestar concurso para ser promotor de justiça. Que loucura”, lembra aos risos. Após algumas experiências como estagiário em escritórios de advocacia e no Fórum Central de São Paulo, percebeu que essa não era a vida que tinha sonhado para si: “Me cansei da burocracia”.
Por sorte, a carreira dele começou, quase que sem querer, a caminhar para outras direções. “Um dia recebi uma daquelas ligações inesperadas. Tinha sido indicado a uma vaga comercial no WTC Club de São Paulo e, sem nem saber ao certo do que se tratava, acabei conseguindo o emprego”, conta. A tarefa resumia-se em associar empresários e diretores de grandes corporações para dentro do clube. O advogado não somente pegou gosto pelo novo trabalho, como também percebeu quão valioso era aquele leque de contatos que estava fazendo. “Passei a conhecer os executivos mais importantes do país”, lembra. Graças ao bom relacionamento que fizera, depois de lá, ele ainda conseguiu empregos na área de marketing da Apple, Amcham e da consultoria ID Projetos Educacionais. Daí, a vontade de empreender falou mais alto.
“Depois de um tempo, estava me sentido meio sufocado. Não fazia mais sentido trabalhar para os outros. Eu precisava fazer algo que fosse meu”.
Nascia então, em janeiro de 2012, a CoLab. A princípio, a ideia era criar uma agência de tecnologia que desenvolvesse aplicativos mobile para outras empresas. Só tinha um porém: a falta de experiência de Luiz como gestor. “No começo, desperdicei muito tempo e dinheiro. Para se ter uma noção, boa parte do meu investimento inicial foi embora com o aluguel de um escritório bonitão. Eu achava que isso era a coisa mais importante do mundo”, diz. A falta de planejamento também causou um processo judicial já no primeiro contrato com um cliente. “Eu tinha que montar uma rede social de esportes, mas não consegui entregar o produto no prazo”, conta.
COMO SOBREVIVER A UM COMEÇO DESATROSO
O empreendedor de primeira viagem teve de aprender na prática – e também na marra – como reverter este jogo. Uma das primeiras estratégias adotadas foi encontrar uma maneira de valorizar algo que ele já tinha, enquanto tentava correr atrás do que não tinha. No caso de Luiz, significou expandir os serviços prestados pela sua empresa. “Conhecia muitas pessoas e percebi que, para boa parte delas, meu produto não fazia o menor sentido. Decidi que tinha que oferecer algo mais barato, algo que todas elas pudessem comprar”, conta.
O modelo de negócios de sua empresa foi repensado e a cartela de produtos ficou mais ampla. Eles passaram a oferecer também uma ferramenta de gestão de marketing para anúncios em redes sociais. A virada fez efeito e o valioso networking, adquirido até então, ajudou a fazer com que o faturamento da CoLab chegasse, no final daquele primeiro ano, a 400 mil reais. “Cinco meses depois da mudança de estratégia, já tínhamos mais de 70 clientes investindo em mídia com a gente. Como conseguimos isso? Tudo no boca-a-boca.”
Além de conquistar grandes clientes, como o São Paulo Futebol Clube e a rede de supermercados Walmart, a CoLab começou a se especializar no atendimento de outras startups. Luiz decidiu mergulhar de cabeça nesse universo. São comuns muitas viagens pelo país, como a que fez a Belém para participar de mais um Startup Weekend. Com um rosto cada vez mais popular nos eventos de empreendedorismo, aos poucos e de forma natural, a trajetória dele acabou se transformando em uma inspiração para os novatos.
“Errei muito no começo, principalmente, porque não tive ninguém para me instruir. Então me sentia na obrigação de compartilhar meus erros e acertos com todo mundo que eu conhecia. Acabei virando mentor de vários empreendimentos”
Os encontros também eram usados para trocar figurinhas e prospectar novas possibilidades para a sua própria empresa — e, também, para gerar novos empreendimentos. Foi assim que, no início de 2013, ele e Samuel Gondin juntaram forças para lançar o Cama Certa, um aplicativo mobile com o qual o usuário pode encontrar e reservar quartos de motéis. Nessa época, seu envolvimento com os novos negócios acabou gerando um efeito colateral em sua vida pessoal: o rompimento de um noivado de cinco anos. “Eu não tinha mais tempo para a minha namorada. Assumo isso”, diz. No momento, nenhum dos sócios fundadores está à frente da startup. “O aplicativo passou por um período de manutenção e agora colocamos uma terceira pessoa para tocar o barco. Estamos trabalhando em outras coisas e não seria possível fazer tudo ao mesmo tempo”, afirma o empreendedor.
Ao mesmo tempo em que trilhava caminhos menos acidentados no empreendedorismo, ele tratou de estudar. Foi de aluno a professor de Gestão de Negócios na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. Ele não tem uma grade fixa de aulas, mas ministra seminários, palestras e oficinas. Uma vez por mês, em média, ele viaja aos Estados Unidos para cumprir essas agendas.
Hoje em dia, Luiz tem focado 90% do seu tempo no progresso do ezPark: um outro aplicativo mobile, inaugurado recentemente, no qual é possível encontrar lugares disponíveis para estacionar o carro. “Eu tinha essa ideia na cabeça há muito tempo. Se ela não fosse colocada em prática por mim, cedo ou tarde, seria por outra pessoa”, diz ele, repetindo uma verdade neste meio. Uma boa ideia não vale nada se não for colocada em prática.
A ferramenta idealizada por ele mostra as vagas disponíveis próximas ao motorista. Além de estacionamentos tradicionais, os próprios usuários podem criar ofertas e anunciá-las para os demais – sim, você consegue alugar a garagem da sua casa, por exemplo, e ainda receber uma grana por isso. Por questões de segurança, o anunciante precisa autorizar (ou não) todas as solicitações. Depois que a negociação é concretizada, o app retém uma comissão simbólica. Todos os pagamentos são feitos por meio de um sistema eletrônico.
Em julho do ano passado, antes mesmo de ser lançado oficialmente, o projeto do ezPark foi finalista do Demo Brasil – uma das principais conferências de startups do mundo. No último mês, ele acaba de lançar a atualização mais recente do sistema. “Agora, sim, o nosso produto tem a tecnologia que sempre planejamos”, conta.
UMA VIDA SEM FÉRIAS NEM FERIADO
“Para mim, não existem horas de folga, finais de semana e muito menos feriados”, diz Luiz. Além da dedicação ao ezPark, os outros 10% do tempo são preenchidos, principalmente, com os clientes e questões mais delicadas da CoLab. “Também tenho aplicado diversas aulas sobre empreendedorismo em cursos técnicos e em faculdades do Brasil e Estados Unidos. Se depois de tudo isso ainda sobram algumas horinhas, aproveito para fazer mentorias com outras startups”, conta ele.
Entre os dias 29 e 31 de maio, a agenda do empreendedor-mentor também estará comprometida com o programa Startup Weekend Mobilidade Urbana, do qual é um dos organizadores – uma ótima oportunidade para quem quer conhecê-lo. “É um evento no qual os participantes terão que criar um novo modelo de negócio, em menos de 54 horas, com alguma solução para mobilidade urbana”, conta. Qualquer pessoa interessada pode se inscrever e os ingressos custam em torno de 150 reais.
Mesmo com a atenção distribuída em vários focos, Luiz admite que não é fácil dar conta de tudo a que se propõe. “Algumas pessoas falam que é loucura e até burrice querer administrar tanta coisa ao mesmo tempo. Acontece que todo esse processo se retroalimenta. Tudo está conectado. Conforme a roda gira, novos parceiros e possibilidades surgem. Não posso abraçar o mundo, mas também não posso ignorar as oportunidades”. Sobre tempo para descansar, ele diz: “Durmo apenas quarto ou cinco horas por dia. Minha vida é empreender”.
Para impulsionar uma carreira, poucas coisas fazem tanta falta quanto uma boa rede de contatos. Saiba como Luiz Lobo fundou a Prosa, uma startup que conecta jovens recém-formados em busca de mentoria e profissionais experientes.
Em um mercado de trabalho cada vez mais complexo, a formação universitária muitas vezes é insuficiente. Saiba como a DNC combina cursos online e parcerias com empresas para aumentar a empregabilidade e a qualidade da mão de obra.
Centenas de executivos prontos para dedicar tempo e conhecimento a empresas querendo tirar projetos do papel. Saiba como a Chiefs Group conecta essas duas pontas e usa o blockchain para qualificar a sua base de talentos.