Retiramos do solo a maior parte dos alimentos que consumimos todos os dias. No entanto, essa dependência, muitas vezes estabelecida de maneira imprudente, provoca uma série de impactos no planeta, como desmatamento, exaustão da terra e alto consumo de água.
A descoberta de novas tecnologias que visam melhorar os processos de produção, e o empenho de pesquisadores e profissionais preocupados em garantir a produção de alimentos necessária para a nossa sobrevivência nas próximas décadas, têm contribuído com diversos resultados positivos – tanto para o agronegócio quanto para o ambiente. Entenda como essa relação tem se estreitado e aperfeiçoado ao longo dos anos.
Em 2050, estima-se que a população global seja de 9,6 bilhões de pessoas. São quase 10 bilhões de bocas humanas para alimentar. Isso impõe um grande desafio: alimentar a população humana sem afetar a sustentabilidade e a renovação dos recursos naturais. O desmatamento das áreas verdes e o constante aumento dos índices de urbanização também são pontos que preocupam. Por isso, a ordem é produzir mais utilizando menos recursos – entre eles, terras e mão de obra.
Assim a aplicação de novas tecnologias no campo serem tão importantes. Ao melhorar os processos de produção, elas nos permitem produzir mais utilizando menos área e impactando menos os recursos naturais. “Há uma mudança de paradigma na agricultura. Os agricultores estão percebendo que a única forma de sobreviver é com o uso da tecnologia. Sem ela, não há futuro”, diz o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas.
Também é preciso ampliar as áreas agrícolas de maneira sustentável. A boa notícia é que o Brasil é o único país que ainda conta com terras agriculturáveis de expansão. Segundo Prof Dr. Carlos Alberto Labate, coordenador do Doutorado em Bioenergia da USP, Unicamp e Unesp, “para expandir as áreas nativas sem precisar usar a Amazônia ou florestas, basta melhorar a eficiência agropecuária”.
O Brasil é o maior produtor de alimentos em zona tropical do mundo, com cerca de 260 milhões de hectares ocupados por lavouras e pastagens. As condições únicas da agricultura brasileira dão uma grande vantagem ao país: poder plantar e colher duas ou três safras por ano em uma mesma área – a soja plantada no verão e o milho no inverno, por exemplo. No entanto, essas mesmas condições propiciam o desenvolvimento de diversas espécies de plantas daninhas. Nas plantações, as ervas daninhas disputam luz solar, água e nutrientes com as lavouras, além de abrigar insetos e vetores de doença. Para combate-las, há tecnologias de controle muito eficientes, como o glifosato. Diferentemente de outros herbicidas, sua atuação inibe uma enzima específica que a planta daninha precisa para crescer e que não é encontrada em humanos nem animais.
A biotecnologia, uma subárea das Ciências Biológicas que desenvolve processos e produtos, tem ajudado na redução do uso de agrotóxicos ao gerar culturas geneticamente modificadas ou tolerantes aos herbicidas. Segundo dados do CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia), dentro de 20 anos, poderá ocorrer a diminuição de 37% no uso de defensivos químicos, o aumento de 22% na produtividade e de 68% nos rendimentos dos agricultores. Segundo a bióloga Dra Adriana Brondani, diretora-executiva do CIB:
“A cada ano que passa, os estudos vão deixando mais claro que os organismos geneticamente modificados são uma ferramenta com grande potencial para melhorar a vida e o negócio do produtor rural – o que é bom para todos nós”
No Brasil, o agronegócio representa 25% do PIB (Produto Interno Bruto) e responde por uma receita anual de exportação superior a 100 bilhões de dólares. Além disso, um terço da energia nacional vem do campo – na produção de combustível sólido (lenha e carvão vegetal), líquido (etanol e biodiesel), gasoso (biogás) e elétrico (cogeração de energia elétrica).
E nada menos que 27 milhões de brasileiros estão ligados aos processos de produção agropecuária, segundo a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio). O número equivale a 37% dos empregos do país, incluindo as ocupações urbanas. Ou seja, a saúde da economia brasileira, inclusive para quem vive na cidade e nunca plantou um tomate nem nunca colheu um pé de alface, está intimamente ligada ao trabalho no campo.
É preciso garantir e ampliar os bons resultados da agricultura brasileira. É preciso oferecer condições para que as famílias se mantenham nas zonas rurais, produzindo alimentos. E é preciso diversificar a produção. O bom gerenciamento do agronegócio, aliado às novas tecnologias, podem turbinar a economia do país com duas safras ao ano – e tudo isso usando menos de 10% do território nacional.
Diferente do que acontece na cidade, em que há tecnologias que tornam boa parte da água consumida reutilizável, no campo isso não acontece. Uma vez que a água é empregada, não há como recuperá-la.
Mas uma coisa a cidade e o campo têm em comum: não pode faltar água, e temos que ser cada vez mais inteligentes na utilização desse recurso.
Ainda vivemos no Brasil a maior crise hídrica das últimas décadas, e a biotecnologia contribuiu para uma importante redução do consumo de água pela agricultura. Na próxima década, o uso crescente de tecnologia nas lavouras brasileiras resultará numa economia de 169,3 bilhões de litros de água, volume suficiente para atender uma população de 3,9 milhões de pessoas, segundo estudo publicado pela Abrasem (Associação Brasileira de Sementes e Mudas) em 2014.
Os proprietários rurais têm atuado como protetores do ciclo da água. “Eles utilizam a chuva, e não irrigação artificial, como acontece nos centros urbanos – o que também evita a erosão do solo e o assoreamento dos rios – que é quando as águas mais profundas sobem para os leitos”, diz a Dra. Daniela Mariuzzo, Gerente de Responsabilidade Social Corporativa da Monsanto.
Em suma: não importa se moramos no campo ou na cidade, todos dependemos da agricultura. Garantir práticas mais sustentáveis, capazes de suprir a demanda global por alimentos garantindo a preservação dos recursos naturais, é peça chave para a nossa própria sobrevivência nos próximos anos. Aumentar os ganhos e eliminar as perdas, por meio do uso de mais e melhores tecnologias no campo, é um caminho obrigatório. Nós precisamos da terra. E a terra precisa de nós.