Camila Lima, 20, é estudante de Engenharia Agronômica na Esalq, escola de agricultura da USP que fica em Piracicaba, cidade do interior de São Paulo. Pelo menos duas vezes por mês, ela viaja até Ribeirão Preto, a cerca de 200 quilômetros de distância, para visitar os pais e a avó. Até o começo deste ano, quando queria ver a família e não conseguia carona com os amigos, Camila pagava pouco mais de 50 reais numa passagem de ônibus. Foi por causa do preço do bilhete que ela resolveu testar a Tripda, plataforma online de caronas que também funciona como aplicativo de celular. “Na primeira vez em que eu usei o site, encontrei conhecidos de Piracicaba que iam para Ribeirão e me senti segura. Além disso, a viagem saiu quase pela metade do preço”, conta. “Depois disso, conheci um monte de gente legal por causa das caronas.”
A Tripda foi fundada no ano passado pelos paulistas Pedro Meduna, 31, e Eduardo Prota, 32. Pedro tem uma história parecida com a de Camila. Ele nasceu em Campinas e, aos 18, mudou-se para São Paulo para cursar Administração na Fundação Getúlio Vargas. Por isso, apesar de não ter carro, estava sempre na estrada. “Eu precisava ligar para uma dezena de amigos até encontrar alguém que fosse de carro para Campinas no fim de semana e pudesse me levar junto. Era um inferno”, conta.
Ainda durante a faculdade, Pedro fez um intercâmbio de pouco mais de um ano para a Universidade de Mannheim, no sul da Alemanha. Lá, ele também dependia de caronas para viajar. “Sempre que podia, eu visitava uma amiga na cidade de Stuttgart, a 40 minutos de carro”, conta. “Ajudar alguém que ia para o mesmo lugar que eu a pagar o combustível saía muito mais barato que pegar o trem e, além disso, eu treinava alemão.”
A DIFERENÇA QUE FAZ UM GRANDE INVESTIDOR
De volta ao Brasil, Pedro concluiu a faculdade e trabalhou nas consultorias Bain & Company e TMG Capital, entre outras empresas. A iniciativa de criar uma plataforma que conectasse quem precisa de carona para uma cidade próxima a quem pretende viajar para o mesmo destino e tem vagas no carro partiu de Pedro e de Eduardo (formado em Administração pela USP e ex-consultor da companhia de agronegócio Monsanto), mas também contou com o apoio crucial da investidora alemã em e-commerce Rocket Internet. A Rocket é conhecida por ter financiado e ajudado a estruturar empresas brasileiras de internet como a Dafiti (de moda), a Kanui (de artigos esportivos) e a Tricae (de produtos para bebês). No começo deste ano, a Tripda recebeu um aporte de 11 milhões de dólares liderado pela investidora, com a participação de outros investidores menores.
Do ponto de vista do passageiro, a Tripda funciona assim: é preciso preencher um formulário com a data da viagem, a cidade de origem e a de destino. Em seguida, o site mostra uma relação de motoristas que pretendem fazer o mesmo trajeto, quanto a carona deve custar, quantos assentos disponíveis há no carro de cada um deles, que horas eles planejam sair, se gostam de conversar, se permitem fumar dentro do carro, se aceitam levar animais de estimação, se ouvem qualquer tipo de música, se deixam os passageiros comerem e beberem no carro e como foram avaliados pelas pessoas que já pegaram carona com eles.
Na plataforma há um feed com atualização permanente das ofertas de carona disponível. O valor para o trajeto de Campinas a São Paulo varia de 15 a 25 reais. Uma carona da capital paulista para Florianópolis pode custar pouco mais de 100 reais.
A partir daí, é possível solicitar um assento no carro que parecer mais agradável ou entrar em contato com o dono para tirar alguma dúvida. O motorista precisa dar todas essas informações ao cadastrar uma carona. Tanto ele quanto o passageiro precisam se cadastrar pelo Facebook para usar o site. De acordo com Pedro, o modelo de negócio da Tripda é altamente escalável:
“O custo de levar nossos serviços para 200 mil ou 100 milhões de pessoas é quase o mesmo. Não gastamos nada com frota”
Além disso, prossegue, conforme o número de usuários cresce, a qualidade do serviço prestado pelo site melhora. “Quanto mais gente disposta a oferecer e pegar carona se cadastra, mais opções essas pessoas têm.”
A Tripda ainda não tem fonte de receita. Quando os sócios decidirem que a base de usuários já cresceu consideravelmente — hoje, há cerca de 70 000 pessoas cadastradas no Brasil (a empresa não divulga números globais) — eles pretendem escolher entre três modelos possíveis: vender espaços no site para anunciantes, comercializar assinaturas ou cobrar uma taxa sobre cada transação entre passageiro e motorista. “Atualmente, o uso da plataforma é gratuito. O valor que um motorista cobra para dar uma carona fica integralmente com ele”, diz Pedro.
NÃO, NÃO É UM NOVO UBER
São duas as principais diferenças entre a Tripda e o americano Uber, aplicativo que conecta motoristas particulares a passageiros. A primeira é que os condutores da Tripda estão interessados em dividir gastos de viagens que eles pretendem fazer de qualquer forma – e não em fazer novas viagens para ganhar dinheiro. A segunda é que, na maior parte das vezes, os passageiros usam o Uber para percorrer distâncias curtas dentro de um mesmo município e a Tripda para viajar para outras cidades.
Pedro acredita que o uso da Tripda não precisa ser regulamentado (assim como alguns grupos de pessoas defendem que o uso do Uber deve ser). “Muitos governos, inclusive, incentivam as caronas. Os Estados Unidos têm faixas nas estradas destinadas apenas a carros com mais de um ocupante. Na Argentina, alguns pedágios oferecem descontos para carros cheios. Na Índia e no México, há propagandas na TV mostrando os benefícios das caronas. E por aí vai”, diz.
Os sites de caronas se popularizaram primeiro na Europa – e já estão consolidados por lá. ”Hoje, em alguns países europeus, a capacidade das plataformas de caronas já é superior à capacidade dos sistemas de trem”, diz Pedro. Por isso, o plano é conquistar os mercados emergentes: “Já operamos em 13 países, entre eles Índia, Argentina e Colômbia. Nesses lugares, o custo de comprar e manter um carro é alto e a infraestrutura de transporte alternativo não é tão boa. A nossa plataforma possibilita viagens mais baratas”.
A Tripda também está nos Estados Unidos, que, apesar de ser um país com economia mais forte, na época da fundação da empresa tinha pouca oferta de plataformas do tipo. Para Pedro, daqui para frente, o sucesso da empresa dependerá da publicidade boca a boca. Ele conta:
“Nosso maior desafio é fazer as pessoas usarem a plataforma pela primeira vez. Depois disso, fica mais fácil trazer os clientes de volta, porque dificilmente eles não gostam da experiência”
Segundo o empreendedor, as viagens compartilhadas criam relações sociais entre as pessoas e ajudam a diminuir o trânsito e evitar a poluição. “Quanto mais gente dentro de um só carro, menos carros na rua”, diz. No site há uma área destacada para depoimentos dos usuários, que geralmente reproduzem a ideia de uma troca amigável com os caroneiros.
O negócio é novo, a base de usuários cresce organicamente, e é hora de pensar nas próximas etapas. Semanalmente, Pedro, Eduardo e outros empreendedores da Rocket de vários países se reúnem por videoconferência para discutir o futuro de seus negócios. “A intenção da Tripda é se tornar o maior e mais amplo meio de transporte de média e longa distância do mundo”, diz Pedro. “Acreditamos que as pessoas ficarão cada vez mais conscientes da importância do compartilhamento, de usar o que já existe e de otimizar esse uso. Ao mesmo tempo, somos grandes entusiastas dos investimentos em transporte público e estradas.” Este caminho, tudo indica, está livre.
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