Jornalista de formação, empreendedora de coração. Aos 39 anos, a canadense Amber Mac mantém uma história de amor com a internet desde o final dos anos 1990, época do grande boom das empresas “ponto com”. Logo após sair da universidade, onde se especializou em jornalismo digital — uma novidade para a época — em 1999, Amber mudou-se da Nova Escócia (Canadá) para São Francisco (EUA). Lá, começou sua carreira como estrategista de mídia digital na agência Razorfish. Depois de passar alguns anos no efervescente mundo das startups do início dos anos 2000, foi convidada pela Microsoft para desenvolver um dos primeiros portais de estilo de vida totalmente voltado para mulheres.
“Como parte do curso de jornalismo, recebemos uma câmera para desenvolver pequenos filmes para a internet. Na hora, a ideia de que uma pessoa poderia fazer um vídeo e atingir públicos ao redor do mundo me deixou fascinada e com uma grande vontade de descobrir até onde ia esse potencial”, ela conta. Daí por diante, o espírito empreendedor começou a falar mais alto. Em 2006, ela abriu junto com o irmão sua própria agência de marketing digital — a Konnect — que hoje atende nomes como Microsoft Xbox, Ford Motor Company, Canada Goose, Fast Company e PayPal.
Além da própria empresa, Amber é autora do livro Power Friending, consultora de mídias sociais para vários programas de rádio, TV e especialista em inovação, falando em diversos eventos sobre sua visão sobre a evolução das mídias sociais e como as empresas precisam estar preparadas para se adaptar e crescer, sem medo de errar e experimentar o novo.
Ela esteve no Brasil pela primeira vez, há alguns dias, e veio falar a um grupo de mais de 160 executivos de 130 empresas na edição de agosto do KES (Knowledge Exchange Sessions). Em uma apresentação com mais de uma hora, ela falou sobre a necessidade de adaptação contínua das empresas na nova economia, os passos necessários para manter sua relevância neste mercado em constante mutação e também sobre as tendências que ela enxerga para um futuro próximo. A discussão e a reflexão proposta aos participantes foi a valorização exagerada da necessidade de inovação. “Mais do que inovar, hoje as empresas precisam aprender com os erros, entender o seu mercado e se adaptar rapidamente aos novos tempos.”
Amber conversou a sós com o Draft e explicou como vê as principais dificuldades que as empresas têm enfrentado para desenvolver projetos estratégicos com as mídias digitais. Falou, também, sobre o que alguém como ela, que é considerada uma “guru digital” faz para manter-se atualizada:
Você tem diversos projetos acontecendo ao mesmo tempo. Qual a estratégia para gerenciar sua agenda?
A melhor coisa do meu trabalho é a falta de rotina e a grande possibilidade de adaptar meus horários e acho que por isso consigo fazer diversas coisas ao mesmo tempo. Tenho um filho seis anos e, desde que ele nasceu, aprendi a ter uma relação muito mais saudável com meus horários. Quero sempre passar mais tempo com ele e, para isso, quando estou trabalhando, preciso estar realmente focada. Um dia posso trabalhar durante 12 horas, mas no seguinte tenho a possibilidade de passar a manhã em casa. Adoro a liberdade decidir fazer o que estou fazendo, quando estou fazendo e para onde estou indo. Esse “caos organizado”, de muitas viagens, projetos diferentes e mudanças constantes de ambiente me deixa aberta a novas possibilidades e estimula a criatividade para o desenvolvimento de novas ideias.
A flexibilidade de horários tem se tornado mais popular em algumas empresas. Como você enxerga isso?
É uma tendência do mercado. Algumas empresas estão enxergando que, ao permitir que as pessoas gerenciem seu próprio tempo, elas podem se tornar mais produtivas e criativas. Claro que isso ainda é uma exceção e temos um longo caminho a percorrer. Mas, se olharmos de forma global, principalmente com a crescente preocupação com o meio ambiente, já podemos ver uma mudança.
Imagino que a geração de hoje – nascida já na era da internet – terá uma relação diferente com o trabalho e na busca pela flexibilidade. Uma coisa boa para as pessoas e para o planeta.
E qual o papel da internet nisso?
A internet nos conecta. Não há limites. Você só precisa estar atento para saber usar da melhor forma possível as conexões e facilidades que ela oferece. Claro que isso não é uma regra, algumas pessoas adoram rotina e se dão bem com isso. Mas essa liberdade que a internet no dá traz com ela a oportunidade de as pessoas saírem da caixa e irem atrás daquilo que realmente acreditam que seja o melhor pra elas. Isso não existia há 20 anos, mas é um poder de escolha que tem se tornado possível e real hoje em dia.
O que um empreendedor deve fazer para se manter atualizado neste mundo de constantes mudanças?Sou uma grande fã das mídias sociais e tomo conhecimento de grande parte das novidades do mercado pelo Twitter, Instagram e Facebook. Sigo muita gente que me interessa no Twitter, como Bryan Kramer, William Barnett, BJ Smith, Tim Cook e estou constantemente buscando informações sobre as novas tendências por meio delas. Isso me ajuda a saber o que é importante e qual o caminho a seguir. Escrevi sobre isso em meu livro, lançado há três anos, porque as pessoas precisavam ter essa informação por algum meio com mais palpável do que a internet. É um livro com informações diretas e passos específicos sobre como colocar sua marca na mídia social. Algumas coisas lá ainda são relevantes, mas o cenário mudou muito e hoje quase não dá tempo de escrever sobre uma inovação antes da chegada da próxima.
Como as mídias sociais ajudam as organizações a se comunicar com seu público?
Tem sido uma experiência fascinante observar a evolução das mídias sociais. O Twitter, por exemplo, já tem quase 20 anos e, nos seus primeiros dias, só reunia comunidades de tecnologia. Hoje, tudo o que é mainstream está lá e todas as pessoas relevantes, independentemente da área de atuação, estão lá. Algumas pessoas ainda pensam que era melhor nos velhos tempos, quando a comunidade de usuários era menor, mas eu discordo. Agora, se você tem algum interesse, pode encontrá-lo em qualquer lugar. De muitas maneiras, a internet evoluiu ao ponto onde não importa o que você gosta, há uma comunidade lá para você. E é muito emocionante ver isso.
As empresas e marca já aprenderam a usar essa ferramenta?
Quando comecei com minhas palestras, há oito anos, percebia que as pessoas me ouviam com um pouco de incredulidade. Posso dizer que elas pareciam até entediadas, achando que aquilo que eu estava falando era um desperdício de tempo. Isso mudou há uns cinco anos mais ou menos, quando os usuários começaram a perceber o alcance das redes sociais e as empresas se deram conta de que sua atuação nessa área poderia trazer impactos positivos e negativos para os negócios, especialmente do ponto de vista do cliente – e foi quando os investimentos começaram. Hoje, todos levam a sério o poder das redes sociais e acreditam no seu valor para a reputação e o crescimento de uma empresa. O problema é que as coisas mudam rápido demais e, muitas vezes, quando as pessoas começam a investir em uma certa ferramenta, ela já não é a mais adequada para o seu perfil. Por isso a necessidade de adaptação constante, sem o medo de experimentar o novo ou errar.
Mas então, como adaptar e crescer neste ambiente em rápida mutação?
Você precisa ser tão ágil quanto possível. Precisa ser capaz de mudar rapidamente.
Se você investiu muito tempo e dinheiro em uma ferramenta de mídia social que hoje não dá tanto retorno, precisa saber o momento de dar um passo para trás e repensar a estratégia. É preciso estar seguro e aberto a novas experiências, sabendo que a possibilidade do erro faz parte do jogo e que hoje isso já não é tão grave como no passado. De outra forma, você nunca será capaz de se adaptar e, consequentemente, inovar
Quais são as principais tendências nessa área hoje?
Uma das principais vertentes agora é o live streaming, com aplicativos como o Periscope e Meerkat. É uma boa idéia as empresas começarem a entender e experimentar o que acontece por lá para já ter uma ideia do que vem por aí e preparar sua capacidade de adaptação. Outra tendência interessante que tenho visto muito em minha empresa é a volta do website, mas com um foco maior na geração de conteúdo – ou branded content. Temos percebido que as empresas querem se tornar referência em certos assuntos e para isso buscam trazer o fluxo das redes sociais para seus sites, construindo suas próprias comunidades online.
A internet é um grande equalizador de oportunidades. Você não precisa ser grande. Você precisa ser criativo, focado e entregar o seu melhor.
Também, quando se trata de conteúdo de marca, o desenvolvimento de vídeos é uma tendência. Mas não estamos falando de materiais longos e sim de conteúdos focados, com até 15 segundos, para serem transmitidos via Instagram ou Vine. O segredo hoje é descobrir qual o conteúdo apropriado para cada plataforma e com o foco certo para manter a relevância da marca.
Em suas palestras, você fala muito sobre os passos para uma adaptação contínua. Como isso funciona?A inovação é algo excelente, mas não podemos fazer isso 100% do tempo. Hoje, toda a empresa deve estar preparada para se adaptar às mudanças de forma rápida e para isso precisa entender cinco etapas simples – mas indispensáveis – para o mercado de hoje: construir uma missão social, estar atento aos sinais da mudança, lutar contra o darwinismo digital (hoje os indivíduos se adaptam rapidamente, as empresas nem tanto), pensar em parcerias antes improváveis (não existem mais barreiras) e com isso se manter relevante (mas sem parecer desesperado). Essa é a estrada para o futuro, um futuro que já está aqui, mas ainda não igualmente distribuído.
Isso funciona para qualquer tipo de empresa?
A regra é a mesma. Quando você tem um conteúdo de qualidade, não importa o tamanho do negócio, o segredo é descobrir como se conectar com as pessoas da melhor forma. Hoje vemos uma mudança, especialmente nos Estados Unidos, onde as empresas estão dando preferência para agências menores, mais especializadas e que podem criar um conteúdo focado de forma rápida e eficiente. As companhias estão à procura de soluções mais ágeis e as pequenas agências podem fazer isso. Eles procuram proximidade, alguém que você ache facilmente para uma conversa, criando uma relação de confiança. Com equipamentos e plataformas mais acessíveis, o que vemos hoje é a volta da criatividade. É totalmente caótico, mas é emocionante!
A nossa atenção determina a forma como experimentamos o tempo e a realidade. Por que, então, deixamos que as empresas tratem um recurso tão vital como mera mercadoria? Kim Loeb alerta para os perigos da Economia Extrativista da Atenção.