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Uma nova editora em busca de novos autores para escrever sobre novos temas

Bruno Leuzinger - 21 ago 2015 Equipe da Casa do Código, editora sedenta por um best-seller do mundo da computação que pode estar hoje dentro da sua gaveta ou da sua cabeça, caro leitor do Draft: Paulo é o de camiseta azul
Equipe da Casa do Código, editora sedenta por um best-seller do mundo da computação que pode estar hoje dentro da sua gaveta ou da sua cabeça, caro leitor do Draft: Paulo é o de camiseta azul
Bruno Leuzinger - 21 ago 2015
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“O pensamento voa e as palavras andam a pé”, assim definiu Julien Green o drama de todo escritor. Quando fala de trabalho, o paulistano Paulo Silveira, de 35 anos, adota um discurso veloz, impondo às palavras o ritmo acelerado de seu pensamento. Fã de Hermann Hesse, Camus e Dostoiévski, ele se arriscou num gênero de literatura diferente, um terreno onde nenhum de seus ídolos jamais sonharia em se aventurar. A obra de Paulo se chama Introdução à Arquitetura e Design de Software – Uma Visão sobre a Plataforma Java. Foi escrita a doze mãos, junto com o irmão Guilherme e mais quatro autores, e publicada em 2011 pela Elsevier. Vendeu 5 753 exemplares até junho de 2015.

A experiência foi positiva, mas a turma viu várias brechas para melhorias no processo de edição, que incluiu um vaivém desnorteante de arquivos por e-mail. A comunicação truncada gerava situações dignas de Sísifo (aquele do mito, que se esfalfava empurrando morro acima um pedregulho que logo depois rolava morro abaixo). Um revisor alterou o que não devia, a correção foi desfeita e o texto caiu na mão de outro revisor que mexeu no que tinha sido consertado. Como em outras editoras tradicionais, o grosso do trabalho era feito em Word, uma ferramenta precária quando se precisa colar gráficos ou digitar códigos de programação (o livro é recheado deles). Foi então que Paulo começou a especular se não dava para fazer as coisas de outro jeito. Começava a nascer aí a Casa do Código.

COMPUTAÇÃO COMEÇA EM CASA

Filhos de um ex-padre que virou professor e de uma assistente social, Paulo e Guilherme cresceram em São Paulo, perto da estação Ana Rosa. “Meu pai comprou um CP400 quando eu tinha dez anos e meu irmão, oito”, diz Paulo, lembrando o primeiro computador da sua vida. “Lemos o manual e começamos a programar em Basic e Logo.” Na faculdade, entre as aulas de ciência da computação no IME-USP, Paulo participava com Guilherme de maratonas de programação, um campeonato entre universidades pelo Brasil – chegaram a ganhar medalha, e o caçula disputou mundiais no Canadá e no Japão. Com colegas da faculdade, o primogênito montou o GUJ, o primeiro fórum em português para usuários da plataforma Java. “Digo que foi o maior feito da minha vida”. Dois milhões de mensagens já foram postadas na página que hoje engloba outras linguagens de computação.

Entre 2002 e 2004, Paulo trabalhou como instrutor na Sun Microsystems (a empresa de software que lançou o Java em 1995 e foi adquirida pela Oracle em 2010). Guilherme voltara de um período de dois anos na Alemanha e sondou o irmão para conseguir um emprego, mas não rolou. Então eles se juntaram e montaram a Caelum, uma empresa de ensino de tecnologia. Paulo tinha 24 e Guilherme, 22. A ideia vingou: em 11 anos, mais de 40 mil alunos passaram pelas três unidades em São Paulo, Rio e Brasília, sem contar mais de 90 cidades para onde a Caelum – que hoje tem cerca de 100 funcionários – já enviou seus instrutores. Metade da demanda é corporativa, ou seja, os alunos chegam com o curso pago pela empresa ou este é ministrado no local de trabalho do próprio. Entre os clientes, marcas como Bradesco, Samsung, Volkswagen e Petrobras.

COLOCANDO A CASA EM PÉ

Adriano Almeida era um desses instrutores da Caelum. Foi também revisor técnico do livro que os chefes escreveram com mais quatro autores, e viu de perto os gargalos da edição. Paulo cogitava um modelo de editora mais enxuta, com processos mais fluidos, e aproveitando o know-how no mercado de ensino de tecnologia começou a esboçar o rascunho de uma nova empresa. Em janeiro de 2012, convidou Adriano para tocar com ele a ideia. Existiam boas referências lá fora, editoras que eles estudaram a fundo, como Lean Pub, Lulu e Pragmatic Programmers. Algumas soluções iam ficando claras: Paulo e Adriano adotaram o uso do formato markdown – que funciona como um arquivo de texto simples, mas que permite total controle do design – e a edição simultânea à escrita por meio de compartilhamento no Dropbox. Ficou decidido que o foco seriam os e-books – livros físicos só com impressão sob demanda, para eliminar os custos exorbitantes com estoque.

Em julho daquele ano, subia o site da Casa do Código com cinco livros à venda – entre os títulos, obras como HTML5 e CSS3: Domine a Web do Futuro, escrito por Lucas Mazza, e Google Android: Crie Aplicações para Celulares e Tablets, de João Bosco Monteiro. O investimento foi de R$ 100 mil. “Esse custo foi diluído nos sete meses até lançarmos os cinco primeiros livros e começarmos a recuperar o investimento”, diz Paulo. Os gastos mais significativos foram os salários de três desenvolvedores, mas também havia o custo com a sala, no mesmo prédio comercial que abriga a Caelum, na Vila Mariana. O break even foi rápido. Dez meses após a criação da editora e apenas quatro meses após o lançamento dos livros, a empresa estava estabilizada.

 

Algumas das obras da Casa do Código: mais de 80 títulos no catálogo. E o próximo pode ser o seu!

Algumas das obras da Casa do Código: mais de 80 títulos no catálogo. E o próximo pode ser o seu!

 

Atualmente, a Casa do Código tem 11 funcionários e 80 títulos no catálogo. As vendas sobem a cada ano: foram 3 mil unidades vendidas em 2012 (de julho em diante), 18 mil em 2013 e 31 mil em 2014. Para este ano, a projeção é vender 40 mil. O preço de capa é fixo. Todos os ebooks custam R$ 29,90 e são disponíveis em PDF, .mobi (para Kindle) e .epub (para iPad). Os livros impressos saem por R$ 59,90 e respondem por 19% das vendas. Em tiragens de 20 ou 30 unidades, a impressão sob demanda diminui a margem de lucro, mas traz vantagens: elimina a necessidade de um espaço físico para estocagem e de uma logística de redistribuição do encalhe, além de permitir agilidade para eventuais correções. “Um preceito nosso foi: o autor tem que ser dono do texto inteiro e do resultado final”, diz Paulo. “Eu posso pegar um livro qualquer agora, editá-lo aqui e em dez minutos, no Kindle, no celular e na versão PDF ele está corrigido.”

A CASA ABERTA A NOVOS AUTORES

Agilidade é a palavra-chave. Hoje, o ritmo de lançamento é de quase um título por semana. Cada editor acompanha simultaneamente a produção de até dez livros – e cada livro leva apenas três meses e meio para vir à luz, contra até um ano e meio ou mais numa editora tradicional. Outro diferencial é um benefício direto para os autores. “A gente paga acima de vinte por cento de royalties. Para você ter uma ideia, uma editora tradicional vai te pagar oito por cento – dez se você tiver nome e conseguir uma negociação boa”, diz Paulo. Além disso, ele chama atenção para o fato de que as grandes editoras pagam semestralmente, porque levam uma eternidade para consolidar os dados de vendas. Na Casa do Código, o autor fica sabendo na hora que o livro foi vendido – e os royalties são pagos bimestralmente, a cada dia cinco do mês ímpar. “Então, se vendeu ontem e já estiver perto da data, o autor já vai receber. O que é uma diferença brutal.”

Entre esses autores estão nomes como Diego Eis, Front-End developer na Locaweb, palestrante e fundador do Tableless, criado com a missão de “disseminar os padrões web no Brasil”, e Murilo Gun, apresentador do República do Stand-Up, da Comedy Central, e também palestrante. O objetivo da editora agora é abrir o leque de temas. A Casa do Código quer dar as boas-vindas a autores estreantes que estejam a fim de escrever sobre os novos conceitos e ferramentas da economia criativa, como Design Thinking e Business Model Canvas. “Eu queria dar uma mensagem para o profissional da área de economia digital que nunca pensou em ser autor, mas que está sugando aquele conhecimento da internet, dos cursos, da prática…”, diz Paulo. “Escrever um livro é uma forma excelente de ele organizar e consolidar as ideias, se inserir na comunidade e ainda ganhar dinheiro com isso!”

E aí, se interessou? Está esperando o quê? Escreva agora!

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