Por Filipe Callil
Global Creative Leadership Program que, traduzindo para o português (no sentido não-literal), significa: esqueça tudo o que você já aprendeu até hoje, principalmente sobre verdades.
Explico.
Na semana passada, entre os dias 26 e 28 de agosto, a cidade de São Paulo sediou um programa intensivo da THNK – Escola de Liderança Criativa de Amsterdã, cujo principal objetivo é formar novos líderes criativos e promover soluções disruptivas para problemas sociais.
Foi o primeiro curso em terras sul-americanas da conceituada academia que já passou por países como Canadá, Estados Unidos, China e Portugal (além da Holanda, claro, onde está sediada).
O Global Creative Leadership Program teve a missão de resumir, em três dias, parte dos ensinamentos do programa tradicional da THNK (que dura 18 meses e que ainda não tem data pra acontecer por aqui).
O preço não era dos mais acessíveis: 9 420 reais por participante. O Draft participou, a convite das empresas Project Hub e Polifonia, responsáveis pela vinda da holandesa ao Brasil.
Curiosidade.
Antes das aulas começarem, confesso que não sabia muito bem o que me aguardava. Qual o segredo por trás do sucesso da THNK?
Hoje já existem milhares de escolas por aí oferecendo cursos de liderança. E, por mais que o assunto já não seja uma grande novidade, convenhamos: essa não é uma das tarefas mais fáceis de se ensinar. Muito menos de se aprender.
Afinal de contas, seguir um processo “padronizado” para se tornar um líder criativo pode se transformar num desafio paradoxal. E, dependendo do caso, um tiro no próprio pé.
Entretanto, no primeiro dia de aula, as minhas curiosas expectativas já haviam sido superadas. Minha conclusão? Bom… Na verdade são várias. No plural.
UMA PRIMEIRA PARTE DE CONCLUSÕES: A METODOLOGIA
A metodologia adotada pelos professores da THNK (em breve, falarei deles) me convenceu. Por completo. Justamente, porque, em momento algum, alguém tentou me convencer sobre algo.
O método é 100% experiencial. Todas as conclusões que obtive no processo de aprendizado saíram da minha própria cabeça. Ou, como costumávamos dizer por lá, dos meus próprios mindsets.
Durante o curso, eu e os demais participantes fomos submetidos a uma série de experiências práticas, simples e, acima de tudo, divertidas que nos levaram a diferentes questionamentos. Tais como:
1) Qual o melhor caminho para agir com paixão e propósito?
2) Por que, às vezes, o “não” é mais importante que o “sim”?
3) Como enxergar a mesma situação por diferentes pontos de vista?
E por aí vai…
As respostas surgiam em autorreflexões que começavam a aflorar segundos depois de cada uma das brincadeiras. Assim, cada um pôde encontrar as suas próprias verdades – ou até mesmo chegar a conclusão de que verdades não existem (lembra do primeiro parágrafo do texto?).
Paralelamente, grupos de três a quatro pessoas foram formados com o intuito de buscar soluções criativas que pudessem melhorar a mobilidade urbana da cidade de São Paulo. Um exercício também prático, e ao mesmo tempo complexo (e nem por isso menos divertido), que se desenrolou durante os três dias.
As atividades práticas criavam teorias que, por sua vez, eram aproveitadas no desenvolvimento de outras atividades práticas.
Entre uma etapa e outra desse desenvolvimento, adivinhe: pausa para uma das brincadeiras. As respostas autorreflexivas obtidas com elas tornavam-se direcionamentos na concepção das novas ideias que ainda estavam por vir. Quase um ciclo vicioso – só que do bem.
No encerramento do programa, cada uma das equipes fez um pitch de até três minutos (termo que caracteriza um padrão de apresentações utilizado muito, por exemplo, com investidores).
Independentemente da usabilidade social ou técnica de cada um dos projetos apresentados, foi muito interessante ver que todas as ideias puderam evoluir desde sua concepção.
UMA SEGUNDA PARTE DE CONCLUSÕES: OS PROFESSORES
As aulas foram ministradas pelo australiano Robert Wolfe e pelo holandês Berend-Jan Hilberts. Quase um show a parte. Eles não são opostos. Muito menos iguais. Mas, sabem respeitar o momento de liderança do outro.
A cada 20 minutos, mais ou menos, um deles assumia o controle da turma. As mudanças aconteciam com sincronia e organização. E eram tão sutis que, algumas vezes, eu nem percebia que o professor havia trocado.
Credibilidade.
Ficou claro que os dois possuem pleno domínio sobre o assunto “liderança”. E, justamente por não tentarem evidenciar seus pontos de vista, provaram que são bons líderes.
O que aprendi com eles?
Um bom líder não é aquele que tem todas as respostas, mas sim aquele que tem todas as perguntas
UMA TERCEIRA PARTE DE CONCLUSÕES: OS ALUNOS
O programa foi projetado para diferentes perfis de profissionais. Entre eles, executivos de grandes corporações, empreendedores e até mesmo indivíduos à beira de uma transformação pessoal.
De fato, o grupo – composto por, mais ou menos, 25 pessoas – era bem heterogêneo. Homens e mulheres. Vintões e quarentões. Investidores e estudantes. Funcionários e donos do próprio negócio. Brasileiros e até gringos.
Talvez, esse tenha sido um ponto ruim para quem estava à procura de um networking específico. Mas, em contrapartida, muito bom para quem queria compartilhar experiências e crenças completamente distintas. Porque lá, sem dúvida, isso aconteceu.
Graças às atividades práticas, fomos estimulados a interagir com todos. Além de gerar um clima amigável, esse processo colaborativo favoreceu o aprendizado entre colegas.
UMA QUARTA – E FINAL – PARTE DE CONCLUSÕES: A DURAÇÃO
Os três dias foram exaustivos, mas passaram voando. E deixariam um gostinho de quero mais. “Fiquei entusiasmado com os resultados da panela de pressão que foi espremer o programa de 18 meses em três dias. E, ainda assim, gerar um impacto muito forte nos participantes”, disse Daniel Gurgel, fundador da Polifonia, logo após o encerramento do curso.
Agora, se alguém me perguntar: três dias de curso foram suficientes para formar novos líderes criativos? Sinceramente, não sei. Talvez, não tenha sido. Ou talvez, simplesmente, seja cedo demais para responder. Por enquanto, o que posso afirmar é que ainda estou digerindo tudo o que vi e ouvi nos três dias de programa. E a digestão está sendo boa.
Reunir gente brilhante e resolver dilemas complexos em cinco dias: essa é a proposta da Mesa. Barbara Soalheiro conta como a empresa hoje atende big techs nos EUA e lançou recentemente sua própria plataforma de ensino.
Estamos hiperconectados, mas nossos diálogos carecem de profundidade. Saiba como Tipiti Barros empreendeu a FikaConversas, que promove rodas de conversas lúdicas a partir de palavras-chave da atualidade -- e, de quebra, ajuda a humanizar as relações no escritório.