Uma marca infantil que faz roupas e itens de decoração para crianças — e não para miniadultos — com produção e matéria-prima sustentável. É assim que se apresenta a Iglou, marca lançada em maio deste ano, fruto da parceria entre a designer brasiliense Celina Cabral, 32, com a estilista paulistana Larissa Barbosa, 28. As duas trabalham na indústria da moda, mas estavam cansadas de ver os efeitos nocivos da produção de roupas da maneira tradicional, sempre apressada para dar conta de acompanhar tantas tendências ao custo mais baixo possível.
“Às vezes você tem muitas ideias no seu trabalho, mas falta interesse da empresa nos projetos, o que acaba virando frustração. É isso que nos motivou”, conta Celina. Ela e Larissa trabalharam juntas por cinco anos em uma marca de roupa infantil. Foi lá que se conheceram e tornaram-se amigas. Segundo as duas, a identificação veio de uma série de características em comum, entre elas a tranquilidade e a calma para encarar a vida. Talvez por isso a Iglou tenha demorado tanto para tomar forma e se concretizar: as primeiras conversas sobre a possibilidade de criar uma marca aconteceram em 2011.
O que fez as duas amigas decidirem empreender juntas também foi um sentimento comum: a falta de propósito no trabalho que faziam. “Para mim, a moda não é algo que fica em um pedestal. Meu avô é alfaiate e ensinou isso para a minha mãe”, diz Celina. Ela também acrescenta que não se identifica com o conceito de muita tendência e pouca essência que considera ver nas roupas hoje. Larissa também fala da sua visão sobre moda: “A moda tem muito mais para falar do que o que está acontecendo. É a nossa segunda pele. Muitas vezes você usa algo sem significado que sequer te representa”.
Elas lançaram a Iglou, mas mantiveram seus empregos fixos na indústria da moda. A sociedade na marca infantil é conduzida em paralelo as outras atividades, enquanto elas testam não apenas a viabilidade do novo negócio, mas também a química entre as duas. “Tínhamos receio de juntar amizade e negócios e não dar certo, mas tudo vai bem, em harmonia. A gente reflete muito sobre cada decisão, temos grande respeito uma pela outra. Sempre chegamos a um acordo antes de tomar qualquer atitude”, conta Larissa.
Foi nesse clima de “vamos fazer o que queremos de verdade” que as duas chegaram ao conceito da Iglou. A ideia foi desenvolver uma grife infantil para fazer roupa de brincar: coloridas, com design caprichado e destaque para as estampas. “Queremos algo inocente e divertido, que fuja da história de vestir as crianças como miniadultos”, fala Celina. Inspirada na marca sueca Mini Rodini, a primeira leva de produtos teve como foco as camisetas (as da foto acima custam 69 reais). Mas as sócias também criaram fronhas (28 reais cada), quadros (de 79 e 89 reais) e bonecos de tecido. Elas não querem se limitar a apenas um item ou tipo de peça e, no momento, estudam a possibilidade de fazer itens para bebês e acessórios para mães.
LONGE DO PERFIL DE QUEM FAZ COMPRAS EM MIAMI
Desde o início, a meta de Larissa e Celina era se opor à produção massiva de roupas, o que, normalmente, envolve trabalho em condições precárias, desperdício de matéria-prima e, no caso de peças feitas em algodão não-orgânico, o uso de sementes transgênicas e pesticidas. A produção da Iglou é feita pela parceira Greentee, outra empresa comprometida com a sustentabilidade e que tem o compromisso de, a cada camiseta vendida, destinar uma segunda peça idêntica para ser doada. Celina fala sobre como é aplicar esse conceito na prática:
“Queremos colocar no mercado produtos que tenham um propósito além do comercial, que sejam resultado de relações mais humanas e gentis com a sociedade e o planeta. Abrimos mão de grande parte do custo para que isso fosse possível”
As roupas são feitas no Estado de São Paulo, dentro da política da marca infantil de valorizar o que é produzido localmente. Os pigmentos das estampas são a base de água e os tecidos que sobram da produção dão origem aos saquinhos que servem de embalagem para as roupas. As molduras dos quadros decorativos da marca também são de um parceiro comprometido com sustentabilidade, que reutiliza a madeira.
Celina e Larissa contam que todos os produtos da empresa carregam a preocupação com o consumo consciente e a responsabilidade de levar adiante uma cadeia de fornecedores locais com o mesmo compromisso. Uma das maiores dificuldades da empresa é, justamente, encontrar esses fornecedores, mas elas se divertem no caminho. “A gente acaba fazendo novos amigos tanto com quem fornece para a gente quanto com os clientes, que estão fora do perfil dos pais que vão fazer compras em Miami”, diz Larissa.
O compromisso de fazer roupa infantil de forma consciente se revela em outra característica da Iglou: a marca não faz coleções. “Concluímos que não tinha necessidade de ficarmos presas a nada disso”, conta Celina. A designer questiona o fato de a indústria da moda investir tanto para desenvolver novas coleções que ficarão desatualizadas poucos meses depois. “No caso das roupas infantis isso fica ainda mais evidente porque, além das mudanças nas tendências, as crianças crescem rápido. Às vezes a peça será usada por três ou quatro meses apenas.” Para evitar este desperdício, a Iglou deixa uma mensagem estampada na etiqueta da camiseta, estimulando os clientes a cuidar bem da peça para que ela tenha vida mais longa e possa ser usada por outra criança.
UMA EMPRESA QUE NASCEU SEM PRESSA
Celina e Larissa construíram (ao longo dos quatro anos que levaram entre ter a ideia e a empresa começar a operar) todos os detalhes do empreendimento. As duas pensaram e desenvolveram cada aspecto da marca sozinhas, sendo também as duas únicas funcionárias da empresa: desde o desenho das peças e estampas até o envio delas pelo correio depois que um pedido é fechado. Apesar de trabalhoso, elas garantem que a parte mais difícil já passou. “Precisávamos dedicar mais tempo no começo. Agora não é muito puxado. Conseguimos tocar nas horas vagas. Quando estou em casa sem fazer nada já preparo uma ilustração para um quadro, por exemplo, e deixo como opção para usarmos no futuro”, conta Celina.
Elas acreditam que o propósito da Iglou é um diferencial importante na hora de encontrar parceiros e fornecedores. Entre os exemplos estão as fotos do site. As crianças usadas como modelos são filhos de amigos e conhecidos. As imagens foram feitas por uma fotógrafa, também amiga delas. Com tanto apoio, o investimento inicial no negócio ficou em torno de 10 mil reais.
Além de vender pela internet, as fundadoras levam a marca para feiras com propósito alinhado ao da iniciativa. É neste ambiente que conquistam os melhores resultados. “As pessoas param para ouvir a história, o conceito e ficam interessadas. Isso é muito gratificante”, diz Larissa. Dessa maneira, ela e a sócia venderam cerca de 40% do estoque produzido para essa fase inicial da marca: 290 peças de algodão orgânico (das quais 200 são camisetas) e cerca de 50 itens de decoração (bonecos feitos à mão, pôsteres e quadros).
CUSTA CARO SER SUSTENTÁVEL, E O LUCRO É MENOR
Elas admitem que, por causa do compromisso com o consumo consciente, é natural que a demanda não passe por picos tão grandes. “Nós estimulamos o nosso consumidor a comprar menos, então isso tem um reflexo no negócio também”, destaca Celina. A produção sustentável também afeta a margem de lucro do negócio. Segundo elas, uma camiseta comum feita por uma grande companhia, tem custo em torno de 8 reais. Os modelos da Iglou custam cerca de 35 reais. “Queremos que a marca seja acessível, então não elevamos o preço por causa disso. Vendemos cada peça por 69 reais”, conta Larissa.
Ainda assim, elas afirmam que o negócio caminha bem. Por enquanto, está longe de ser a principal fonte de renda das sócias, mas objetivo é seguir o ritmo tranquilo das empreendedoras até que o projeto ganhe força e conquiste o público. “Já pensamos na possibilidade de lançar algo com propósito semelhante voltado à moda adulta, mas é um plano distante”, conta Celina.
Passado esse período mais livre, de experimentar o que funciona com os consumidores, a grande meta das sócias é fazer a Iglou caminhar com as próprias pernas e se tornar a principal atividade delas. “Queremos provar que é possível fazer moda consciente, unindo design e sustentabilidade sem cair no ecochato”, diz Celina.
Larissa concorda com a sócia, mas lembra que, para aderir ao novo formato, “é preciso abrir mão de algumas coisas”. Uma delas parece ser a margem de lucro tão larga. Um preço razoável a se pagar por uma moda mais justa.
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