O Design for Change é um movimento global de educação que aplica os princípios do design thinking na sala de aula para formar jovens com potencial de transformar o mundo. Começou na Índia, em 2006, e cresceu para alcançar 25 milhões de crianças em 35 países. Foi criado por Kiran Bir Sethi, uma designer que hoje está com 49 anos e se tornou educadora a partir de uma demanda muito pessoal: em 1999, seu filho de seis anos levou zero em uma redação porque escreveu sua própria versão, e não a cópia da versão do livro, sobre o tema — a vaca. O garoto voltou para casa com a certeza de que era um fracasso. Kiran o retirou da escola no mesmo dia e abraçou o problema.
Problema este que também era uma semente: levou três anos para germinar na forma da Riverside School, escola inaugurada em 2001 às margens do rio Sabarmati, na cidade de Ahmedabad, noroeste da Índia. A Riverside cresceu e se tornou referência mundial, mas em 2001 Kiran ainda era apenas uma mãe motivada a inventar uma nova forma de educar seus filhos, uma educação baseada na perspectiva do “eu posso”, diferente do “eu não posso” que as escolas tradicionais ainda propõem.
Ela esteve no Brasil em setembro para divulgar o Design for Change e também as Escolas Transformadoras, projeto da Ashoka que busca amplificar experiências de sucesso na educação. Dez escolas brasileiras estão neste programa, que também apoia a Riverside e dezenas de outras pelo mundo todo. “A competência das crianças é tão evidente que não há como você ficar alheio. Elas não são o futuro do país. Elas, e nós, somos o agora, somos tudo que temos”, disse, e revisitou a máxima de Gandhi, dando um sorriso orgulhoso pelo jogo de palavras que criou:
“Seja a mudança que você quer ver no mundo não apenas every day (todo dia), mas every today (todo hoje)”
Kiran, que nasceu em Bangalore, se mudou para Ahmedabad no começo dos anos 1980 para estudar design. A cidade é uma referência em ensino superior do país, possui uma série de instituições de ponta, parte da herança britânica que, ao colonizar a Índia, também deixou uma forte industria têxtil por ali. É lugar quente e poeirento, com pouco verde e muito concreto, onde no verão as temperaturas passam de 40 graus.
A cidade carrega mais uma grande herança cultural: foi ali que Mahatma Gandhi fundou o Sabarmati Ashran, às margens do mesmo rio. O templo, que também era local de filosofia e política, foi uma das bases de onde ele partiu para derrubar a ocupação britânica em seu país. Kiran cita Gandhi com frequência, é uma de suas grandes inspirações: “’Seja a mudança que você quer ver no mundo’, que sentença profunda, simples e poderosa. Em um momento onde já estávamos resignados com a presença britânica, como se fosse algo natural, ele se levantou e nos lembrou que podemos mudar”, diz ela. E prossegue para apontar que sempre enxergou o líder da independência de seu país como um grande designer:
“Gandhi desenhou toda uma nova sociedade, impossível antes dele. Quer mais inovação e design do que isso?”
A Riverside fica fora da cidade e, à beira do rio, ainda possui mata preservada, diferente do restante de Ahmedabad. Além das matérias tradicionais, o currículo traz questões como habilidades visuais, espaciais, corporais, música, dança, espiritualidade e inteligência interpessoal. Já no jardim de infância há exercícios de identidade, onde os pequenos são estimulados a descobrir quem são e onde são únicos, em relação aos outros e ao ambiente ao redor.
FELL, IMAGINE, DO, SHARE
A aplicação deste currículo é baseada em experiências de envolvimento e transformação comunitária, tirando as crianças do papel de receptores vazios — que esperam o conhecimento que lhes será despejado por um mestre — para trazê-las ao centro do processo de atuação no mundo. “As escolas tradicionais reduzem o mundo dos jovens a quatro paredes, onde passamos 15 anos dizendo que eles não têm outra escolha a não ser se enquadrar. Aqui não, levamos os alunos a encontrar a vida real, todos os dias”.
A Riverside é uma escola particular, que cobra uma mensalidade de cerca de 1 200 reais. Tem 405 alunos, 25% destes tem bolsa integral. Sua proposta é estruturada ao redor da metodologia FIDS: Feel, Imagine, Do, Share, que quer dizer Sinta, Imagine, Faça, Compartilhe.
Aprofundando, temos que o primeiro momento é sentir, identificar as situações do entorno que os tocam e, se não são eles os diretamente afetados, tentar se colocar no lugar destas pessoas para entender o que sentem. É o momento da empatia, de encontrar onde o mundo está coçando tanto que eles precisarão fazer algumas coisa a respeito. E para isso vem a etapa do imaginar, uma investigação sobre a situação, exercitando observação, escuta, pesquisa e criatividade para encontrar uma possibilidade prática real dentro de seu potencial.
Fazer é a mão na massa, o momento de colocar em prática as ideias imaginadas. Aqui, se tudo der certo, os participantes perceberão sua própria capacidade de produzir mudanças reais em suas comunidades. Compartilhar é o momento de divulgar o projeto, celebrar o esforço de todos os envolvidos e os resultados alcançados, comprovando a todos a possibilidade de transformação e ação efetiva realizada por jovens.
A proposta de tudo isso é demonstrar aos participantes que eles também são cidadãos responsáveis e capazes de atuação social. A primeira grande ação do Design for Change aconteceu em 2007, quando os alunos saíram da bucólica Riverside e se dirigiram ao centro de Ahmedabad, sujo, populoso, cheio de concreto e asfalto. Tinham o desejo de transformar a cidade em uma experiência mais amigável para crianças e assim começaram um movimento para mobilizar a população.
Deu certo e, até hoje, uma vez por mês a cidade fecha uma de suas vias mais movimentadas para transformá-la em um grande espaço para as crianças brincarem.
DA ÍNDIA PARA O MUNDO, PARA O BRASIL
A ideia se espalhou para outras cidades e rendeu a Kiran um convite para participar do TEDx India, em 2009, experiência que mudaria sua trajetória. A partir daí, a visibilidade da Riverside e do Design for Change explodiu e Kiran começou a receber um fluxo muito maior de convites e contatos de todo o mundo.
Assim, seu projeto foi ganhando escala e reconhecimento internacional, alcançando os 35 países e 25 milhões de crianças citados no começo deste texto. No Brasil, o programa é executado pelo Instituto Alana com o nome de Criativos na Escola, que busca estimular a aplicação dessa tecnologia pelo país — e está com um desafio aberto, um concurso que irá premiar com 3 000 reais cinco experiências que façam uso da proposta.
Estes foram os projetos que Kiram veio ao Brasil divulgar e foi neste contexto que me encontrei com ela. Conversamos rapidamente, ela estava com calendário apertado e sendo muito tietada, mas se sentou comigo e contou parte de sua história. Levei para casa a certeza renovada de que crianças não podem ser tratadas como seres humanos passivos, como se não tivessem vontade ou não soubessem o que querem para si e para o mundo ao redor. Uma aula.
“Nerd da favela”, João Souza sempre fugiu dos estereótipos. Hoje ele lidera a ONG FA.VELA, com foco em educação digital e empreendedorismo nas periferias, e a Futuros Inclusivos, agência de consultoria que atende empresas e governos.
Praticar a fala é essencial para o domínio de qualquer idioma. A plataforma da ChatClass analisa áudios enviados pelos alunos e dá feedbacks instantâneos para estimular o aprendizado do inglês – tudo via WhatsApp.
Fundada em 2012 com a proposta de coletar dados para apoiar políticas públicas, a startup pivotou e foca agora em “cutucões” de reforço positivo para melhorar indicadores escolares (na África, inclusive) e reduzir a inadimplência por meio do estímulo à educação financeira.