Muitas vezes o cinema retrata o hacker como um gênio do mal. Aquele jovem nerd com problemas de socialização que cheio de rancor se esconde atrás de teclado e monitor para cometer os mais elaborados crimes digitais. Pois é, esse tipo de hacker até existe, mas um hacker é muito mais do que isso. Por definição, hacker é um indivíduo que se dedica a conhecer profundamente os aspectos internos de dispositivos, programas e redes de computadores para, então, reprogramar e modificar esses sistemas.
Agora, imagine que a sua vida é um grande sistema e que você pode desenvolver técnicas e processos de autoconhecimento que te tornem capaz de um salto de produtividade e um profundo bem estar a partir de um novo equilíbrio. Esta é a visão que levou o engenheiro mecatrônico paulista Renato Stefani, 25, a criar o HackLife, uma empresa de consultoria e autoconhecimento que ensina, através de um blog, podcasts, cursos online e workshops presenciais, as pessoas a entenderem a vida como um sistema e “hackeá-lo”. “Como recuperar o controle do tempo de uma vez por todas”, por exemplo, é um dos posts escritos por Renato no blog. Especialista em futurismo e tecnologias exponenciais pela Singularity University, na NASA, ele, como empreendedor, intitula-se fundador, escritor, programador, designer, financeiro e marketeiro do HackLife. Na vida pessoal, além de tocar o HackLife, ele pratica corrida, yoga e faz exercícios funcionais.
“Depois de muita pesquisa, de testar em mim mesmo as teorias estudadas e conhecer pessoas notáveis, aprofundando o conhecimento de suas técnicas, ferramentas e rotinas, reuní no HackLife as melhores práticas e os métodos mais interessantes e efetivos para atingir o equilíbrio pleno entre corpo, mente e alma. Meu objetivo é fazer com que as pessoas transcendam suas limitações e vivenciem plenamente o seu potencial”, diz Renato.
A missão de sua empresa é audaciosa, um desafio que esbarra principalmente nas carências e objetivos de cada um. Desde maio deste ano, quando entrou em operação, já aconteceram mais de 10 cursos, com uma média de 30 a 40 alunos por edição. O preço varia um pouco, dependendo da cidade e do local do evento, mas fica entre 600 e 900 reais. Renato está ciente da complexidade do que propõe nos cursos, e admite que não existe fórmula mágica para o sucesso:
“O que existe é experimentar para saber o que funciona melhor para cada um. Nesse contexto, entendendo cada vez mais sobre nós mesmos, que podemos realmente ser hackers da nossa vida”
A empresa de Renato foi lançada este ano e está fazendo sucesso. O apelo é grande e a curiosidade das pessoas também. Afinal, o que se aprenda numa aula de HackLife? Nos encontros, Renato usa técnicas e ferramentas que pretendem deixar o cotidiano mais fácil, simples e fluido. É tudo prático e objetivo. Ele trabalha no entendimento do que chama de “novas habilidades”. Habilidades que só adquirimos pela experimentação pessoal e que permitirão qualquer pessoa chegar a um novo patamar, alcançando uma super performance, gerando mais resultados com menos esforços. Essas habilidades incluem, otimização do tempo, manutenção da energia corporal, qualidade do sono, mindfullness, equilíbrio em nutrição e atividades físicas, processos de ondas cerebrais e até o uso de sonhos lúcidos como recurso criativo e na solução de problemas como medos e fobias.
“A ideia é ajudar a enxergar o mundo por uma nova ótica, entender como otimizar tudo a seu redor, e, com isso estar pronto para os desafios do presente e do futuro”, diz ele. Futuro é algo que o interessa particularmente, por isso o engenheiro foi buscar a especialização em futurismo e tecnologias exponenciais. “Já trabalhei como engenheiro mecânico, mecatrônico, engenheiro de software, programação web, designer, e hoje me considero um empreendedor e especialista em growth hacking. Tudo que fiz, em cada passo da minha vida profissional, me trouxe os conhecimentos que uso hoje”, conta.
Além do conhecimento técnico e da vontade de empreender, há também o carisma, a presença de palco para manter interessados e entretidos os seus alunos. Renato é um expoente dos empreendedores criativos, gente que está repensando a forma de se relacionar com o mundo e no trabalho. Ele fala sobre a velocidade com que as coisas acontecem hoje em dia e como isso causa angústia: “Tudo muda muito rápido, sem parar, e precisamos continuar a fazer o que a humanidade tem feito tão brilhantemente até hoje: nos adaptar. Entrar no modo piloto automático e perder o controle das nossas vidas é comum. O mundo tá cheio de informações inúteis e distrações e a gente acaba perdendo o contato com a nossa essência, gerando lentidão e confusão mental. A culpa não é nossa”, diz, e complementa:
“O mundo está passando por uma transformação enorme e ninguém parou para nos ensinar como viver bem nessa nova realidade”
Os workshops do HackLife não têm contra-indicação, falam para profissionais, estudantes, workaholics, curiosos, enfim, qualquer pessoa interessada em métodos não convencionais e eficazes para atingir seu potencial nos três pilares: corpo, mente e alma. Na montagem das aulas, Renato foi beber na água de empresas e instituições que admira e conhece bem. Ele mostra técnicas e usa exemplos do Cirque du Soleil, Singularity University, Disney, Tesla, Wait but Why, Perestroika, e Antigymnastique. Além de citar o neurocientista Miguel Nicolelis (considerado um dos 20 maiores cientistas do mundo), Tiago Mattos da Perestroika e Bruno Dreher do Fora da Caixa como inspiração e Steve Jobs, Elon Musk e Leonardo da Vinci como seus maiores ídolos.
As três primeiras edições do curso “Você está no controle?” (duas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro) tiveram lotação máxima. No próximo dia 10, o curso acontece em Porto Alegre e ainda há algumas vagas restantes (a inscrição custa 547 reais).
Enquanto se organiza para estabelecer uma rotina com os cursos e como palestrante, Renato colocou uma novidade no site: acaba de disponibilizar um curso online gratuito do HackLife sobre Futurismo. Serão sete episódios, uma espécie de vídeo-aulas, lançados sempre aos domingos à noite. Alguns dos temas já abordados são:
1) Um dia no futuro: tecnologias que já existem, mas você ainda não sabe…
2) Burning Man: o que um festival com uma estrutura arcaica pode nos ensinar sobre a cultura do futuro?
3) Singularity University: “A universidade do futuro”
4) Alcançando a Singularidade: Homem X Máquina ou Homem + Máquina?
5) Organizações Exponenciais: o futuro das empresas
Renato tatuou um astronauta no braço direito. No Facebook, explicou o motivo: “Para me lembrar todos os dias de sonhar absurdamente alto, trabalhar duro, e nunca esquecer de olhar para trás para poder fazer sentido de tudo na minha vida e com isso ter certeza dos desafios que posso encarar”, escreveu. Hackear a própria vida significa, também, o exercício de lembrar do seu potencial todos os dias.
Descubro, então, que um “hacker da vida” é um indivíduo que se utiliza de todo o poder e conhecimento da tecnologia para encontrar soluções menos óbvias e mais práticas. Dá trabalho, mas com esse conhecimento profundo sobre si mesmo e o mundo ao seu redor, é possível navegar mais pleno e feliz — aqui e para além da estratosfera.
Lívia Müller tinha estabilidade financeira, mas faltava felicidade em sua vida. Ela pediu a separação e se encontrou no empreendedorismo, produzindo as peças e amuletos da Freya Joias, que celebram divindades femininas.
Como erguer um “espaço transcultural” numa das menores capitais do país? E sem nenhum aporte público? Josué Mattos insistiu nesse sonho e hoje dirige o Centro Cultural Veras, em Florianópolis, criado e mantido por uma associação de artistas.
Com uma longa carreira na indústria do cinema (ele é fundador da Downtown Filmes), Bruno Wainer fala sobre saúde mental e os bastidores da criação de Aquarius, sua plataforma de streaming que acaba de chegar ao catálogo da Amazon Prime Video.